Os olhos de Maria brilharam com a confissão repentina, depois de alguns minutos me encarando completamente perplexa, me puxou para dentro com um sorriso de orelha a orelha.
- vamos! conte me tudo... e com detalhes.
Sorri, e me sentei na poltrona roxa com cheiro de camomila.
- bom... eu meio que me joguei do prédio de Megan, e de repente estava voando! foi tudo bem rápido na verdade. - continuei - achei que estava morta, então senti minhas asas e... meu Deus Maria! são tão lindas.
- Ok Analu... não vou nem perguntar sobre o fato do prédio, mas se puder contar eu agradeceria, já que me deixou curiosa e tudo mais.
- talvez outra hora Maria. - suspirei - estou feliz de mais para lembrar disso...
- ih... já tive noticias ruins esse ano para uma vida, então é melhor nem dizer mesmo.
- é... mas e você? como está... ai dentro?
O pior de ser sempre a pessoa desorientada e confusa não é o que as pessoas pensam ou dizem. Não é ficar perplexa quando as outras pessoas já sabiam da história, não é a distante, mas de algum modo sempre perceptível cara de assustada. Não é nem o fato de quase todo mundo achar que você é assim por que não tem inteligência o bastante para ser diferente disso. O pior é o fato de que, quando acontece alguma coisa realmente improvável, não há como escapar do estado de choque, ou do medo avassalador que te invade. Nicole desapareceu como o de costume, e me deixou agachada em posição fetal no fim do corredor. Com medo de mais para me mover, ou fazer qualquer outra coisa que não fosse chorar. Eu esperava que de alguma forma Mariana fosse aparecer e me tirar dali, mas o tempo foi passando e percebi que, imperdoavelmente, eu estava sozinha. Não ousei mover um músculo, mal respirava... Pode ter sido
Corri para abraça-los, nada mais parecia importar, eles estavam ali e isso já era o suficiente. Os dois se levantaram para um abraço, três corpos unidos e um alivio evidente para todos nós. - oi Analu! linda como sempre... - Dominic disse sorrindo. - Dominic seu idiota! onde esteve? -perguntei. - nem eu sei... essa é a pior parte, mas ta tudo bem, - ele me deu um leve soco no braço - então sentiu a minha falta... bom saber. - não senti sua falta... - menti. Mariana estava maravilhada, os olhos fixados em Dominic e um sorriso que parecia não querer desaparecer. - Analu... - John interrompeu - precisamos conversar, se não se importa. - Hoje não. - falei - só... me deixe esquecer um pouco tudo isso e ficar feliz como uma pessoa normal, está bem? - quem é esse cara ai? - Dominic perguntou.
Não dá pra explicar o quanto dormir na minha cama foi reconfortante, era como a sútil porém real sensação de estar deitada em uma nuvem. Acordei às dez horas da manhã, a casa estava silenciosa como o de costume, Edwart e mamãe já estavam no trabalho e eu teria um dia inteiro para curtir preguiça. Eu estava precisando disso. A primeira coisa que fiz foi desligar o celular, não queria ser incomodada de forma alguma. Tomei banho, comi panquecas e depois me dei conta que não havia nada mais para se fazer. Comecei limpando o pó da estante da sala, em seguida fui para o meu quarto e organizei minhas coisas, mas isso ocupou menos de uma hora de meu abundante tempo livre. Resolvi dar um banho em Hans, mas mesmo com muito esforço, acabei toda arranhada e Hans continuou sem banho. Procurei em minha estante algo que eu quisesse ler, mas nada me chamou muita atenção. De repente me vi sentada revendo a matéria que estava
beijo pareceu ter durado apenas alguns míseros segundos, estávamos o mais perto que conseguíamos estar um do outro e mesmo assim ainda não era o suficiente. Possivelmente eu nunca estaria completamente satisfeita. Notei que Leinad me analisava, havia um sorriso microscópico surgindo em sua boca. - O que foi? - perguntei. - Pode me explicar tudo isso? não que eu não tenha gostado... só... me pegou completamente de surpresa... Fitei o chão por um momento, sentindo minhas bochechas queimarem sem que eu pudesse impedir. - Hey... - ele disse enquanto pegava minha mão delicadamente - não se preocupe com isso está bem? deixa pra lá, acho que... se explicar perde a graça. Sorri. - Você disse a mesma frase que Daniel me disse uma vez... exatamente a mesma frase... me diga Leinad, você é o Daniel? -
Estava na porta da casa de Lucy, tentando me convencer de que era o certo a fazer... por que sem ela, sinceramente? não estava dando. Uma semana havia se passado após o meu pequeno contra tempo com Leinad, não havíamos nos visto desde então, e eu preferia que fosse assim. Bati na porta, antes que meu cérebro tivesse tempo para desistir. Por sorte, foi Lucy quem atendeu. - O que você quer? - ela disse séria, mas notei que ela estava feliz por me ver. - quero minha amiga de volta... - pensei que não fosse dizer nunca! -Disse, meio séria e meio brincalhona. - amigas de novo? - perguntei? - fazer o que né? Abri os braços e a puxei para um abraço, o cheiro de Lucy me invadiu, e eu senti um alivio imenso por tê-la comigo. De repente, eu já não estava mais sozinha. Eu tinha Lucy,
Dirigir até Brighton foi mais difícil que pensei... eu não funciono muito bem sob pressão. Mary permaneceu calada durante toda a viagem, não ousei olhar pelo retrovisor para vê-la, não que eu estivesse com medo do que ela poderia fazer... eu estava com medo do que eu poderia fazer e das consequências disso. Tentei me concentrar na ideia de que um tiro não me mataria, e que afinal de contas, eu era forte o bastante para deter Mary se quisesse... Esses pensamentos foram interrompidos por um baque metálico, o barulho ensurdecedor de dois carros se chocando. Meu corpo foi lançado para frente, percebendo tarde demais que estava sem cinto de segurança. Os dois carros giraram na pista. Dizem que, quando você está a beira da morte, você consegue ver toda a sua vida passar como um flash em sua mente... mas tudo em que consegui pensar foi em Daniel. O cheiro de fumaça me invadiu
Passei pela grande porta de entrada, Leinad se jogou no sofá e acenou para que eu fechasse a porta, a casa parecia vazia, já que um silêncio pairava por lá. - onde está sua família? - perguntei. - estão viajando, voltam logo. - logo quando? Ele revirou os olhos e sorriu. - logo... não vai se sentar? - quero ir para casa. - respondi de imediato. - ok... que tal fazermos um acordo? - Qual acordo? - Você se senta aqui e fica quietinha até que seja seguro sair, e eu lhe conto coisas sobre mim. - que tipo de coisas sobre você? - perguntei, tentando parecer desinteressada. - o que você quiser saber... - disse ele sorrindo. - Dominic e John estão em perigo? - nem perto disso.
Leinad pediu a pizza, como havia dito que faria. De repente eu já não me sentia mais tão segura naquela casa. Não com ele. Fingir que estava tudo bem foi mais difícil que eu esperava, eu simplesmente não sabia mentir. Quer dizer, mentir era fácil, o difícil era lidar com a culpa que aumentava a cada sorriso falso e forçado que eu cedia a ele. Enquanto comíamos em silêncio, deixei que meus pensamentos navegassem até Dominic... Ele estaria me procurando nesse momento? Mary talvez o tivesse pego. Ou quem sabe, John e ele estivessem em perigo... e eu ali. Sem fazer nada para ajudar. - Quero procurar meus amigos. - falei no tom mais casual possível. - Como? - Quero ir atrás de Dominic e John. Agora. - Eles não sabem com o quê estão lidando, é mais seguro que você fique comigo... Mas não se preocupe, eles estão bem. - Desde quando passou a d