Parte 56...Camila— Eu não controlo você, Camila... Mas não vou deixar você fugir de mim.. Você me deve obediência - sussurrou, e foi mais ameaçador do que se tivesse gritado.— Me solta! - ordenei, minha voz firme apesar do turbilhão dentro de mim.Ele hesitou por um momento e então, lentamente, afrouxou o aperto. Eu recuei imediatamente, colocando uma distância entre nós.— Eu não vou dormir ao seu lado esta noite - eu disse com firmeza. — E talvez nunca mais durma. - ameacei.A tensão no rosto de Alejandro se intensificou, mas ele não continuou a falar porque uma batida firme na porta o distraiu. Meu coração disparou, ainda tomado pela raiva, enquanto Alejandro cerrava os punhos ao lado do corpo.— Senhor, me desculpe interromper, mas... Toda a casa está ouvindo vocês - a voz grave de Trajano ressoou do outro lado.Alejandro fechou os olhos, os músculos do pescoço pulsando com tensão. Ele se virou para mim, os olhos pegando fogo, e apontou um dedo na minha direção.— Você está fe
Parte 57...Ricardo— Pelo amor de Deus, Alejandro. Por que estava brigando com sua mulher a essa hora?— Porque eu relaxei e fui precipitado.— Como assim? - sentei no braço da poltrona — O que você fez agora?— Agora não... É uma coisa do passado. - eu franzi a testa curiosos — Já faz tempo, ok? Foi quando eu ainda tinha contato com Diego.— Ah! Já entendi - abri as mãos — De quando o Diego enchia você com mentiras sobre nossos concorrentes.— É... Dessa fase aí - ele abanou a mão fazendo uma cara feia — Aquele filho da puta me fez acreditar que Hector estava tentando sabotar nossas entregas e ainda por cima, me colocar em uma posição delicada... Eu fui estúpido - ele coça o nariz com irritação.— Bom, mas isso foi há muito tempo, você era mais jovem... Diego sempre esteve envolvido com nossos acordos antes... O pai o mantinha por perto dentro da medida.— Exato - ele bateu na perna — Dentro da medida... Eu me passei, querendo tomar conta de tudo o mais rápido possível, achando que
Parte 58...Ricardo— Bem, agora você já abriu a boca, já contou a ela de sua participação... Não tem muito o que fazer, irmão.— É só deixar o tempo passar - Gabriel comentou — Ela vai entender que isso no fundo, não tem a ver com você e sim com aquele cafajeste do Diego.— Eu sei... Mas eu queria que ela entendesse que apesar de meu estilo de vida, eu nunca faria esse tipo de coisa.— Dê tempo a ela. Camila ainda não conhece você de verdade - eu o incentivei — Por que não faz algo que sabe que ela vai ficar feliz?— E tipo o quê?— Não sei... - dei de ombros — As duas irmãs que a ajudaram a escapar vão embora amanhã. O pai delas vem aí e quer falar com você.— Pois é... Você pode liberar que ela fale com as duas, isso vai dar um pouco mais de confiança em você - Gabriel continuou — Por que não tenta?— É, pode ser que dê certo - Alejandro levantou — Eu vou para um dos quartos, já que agora minha esposa me deixou trancado pelo lado de fora.— Vai passar - levantei e bati em seu ombro
Parte 59...Ricardo— Você é muito babaca, sabia? Típico macho que pensa que toda mulher quer dar pra ele.— E você não quer dar pra mim? - perguntei segurando a risada.— Eu vou voltar com meu pai, é óbvio!Pela cara dela, eu realmente dei uma bola fora, mas precisava tentar. Eu achei mesmo que ela tinha ficado interessada em mim. Foi o que me pareceu quando as trouxemos para cá.— Você ficou com raiva de mim porque fui eu quem prendeu vocês aqui?— Isso também - ela ergueu o rosto.— Isso também? Então tem outra coisa?— Não é da sua conta.— Você tem namorado? Um ficante?— Não tenho que responder.— Só quero saber. É difícil dizer sim ou não? Eu sou curioso.— É, eu sei... Você encheu a gente com trocentas perguntas.— Faz parte do meu trabalho - pisquei rápido — Eu preciso entender as coisas.— Bem, não me interessa a sua proposta. Aliás, achei ridícula.Ergui as mãos em gesto de paz.— Ok, ok... Assim que seu pai chegar, vocês podem seguir com ele.— Ai, nossa... Muito obrigada
Parte 60...SofiaÉ muito difícil pra mim estar fora do convento, em uma realidade nova e totalmente diferente do que eu já estava acostumada. Agora eu vou ter que me virar, arranjar um emprego, cuidar de uma casa. Que por sinal, é o que mais me preocupa. Como vou pagar por um lugar só meu, se eu não tenho dinheiro?Depois de tudo o que aconteceu, ninguém nunca me procurou, além de Santiago, para me dizer se eu tenho direito a alguma coisa que foi de meus pais. A Madre nunca me falou nada sobre isso, então penso que não tenho nada, nem um centavo sequer. O que me deixa mais preocupada, porque eu não vou poder me virar sem ter o mínimo.Pensar em meus pais agora me dá vontade de chorar. Foi tudo tão de repente, tão forte e brusco. Faz anos que estou sozinha, sem parentes. As pessoas próximas de mim são as freiras e a figura materna é apenas a Madre.Eu não tenho mais muitas memórias de meus pais. Quando olho minha imagem no espelho, essa cicatriz já não me incomoda, mas fico sem saber
Parte 61...Sofia— Aqui está também para você - ele me entregou uma caixa — É seu.Eu abri e dentro tinha um celular muito bonito. Eu nunca tive um.— Eu nem sei como agradecer e...— Esse é seu cartão provisório - ele me entregou um cartão azul — Por enquanto está como provisório, mas na semana que vem você já vai receber o seu. A sua conta está aberta desde que... Bem, desde que você perdeu seus pais.— Mas... Eu não entendo...— O que não entende, Sofia?— O que você devia ao meu pai, para ficar depositando em uma conta por todos esses anos? - inclinei a cabeça de lado.— Assuntos pessoais - ele me pareceu desconversar — Quando eu soube do ocorrido, sabia que tinha que fazer algo e por isso achei melhor cuidar de você... Dentro do que me era possível... - ele pigarreou.— Então, deve ter um bom valor na conta?— Com certeza. Por que?— Eu estava pensando em como me virar até arranjar um emprego - gesticulei — Agora posso ter calma e procurar algo que eu goste.— É... Pode sim - el
Parte 62...CamilaA sala do doutor Portela era iluminada e organizada, mas nada disso diminuía o aperto que eu sentia no peito. Ele folheava meu prontuário, enquanto eu apertava as mãos contra o colo, esperando pelo veredito. Ele suspirou e fechou a pasta, me encarando.— Camila, sua recuperação tem sido boa, considerando tudo pelo que você passou. Seu corpo está respondendo bem aos tratamentos e à fisioterapia.— Mas? - cruzei os braços, já esperando o golpe. Estou nervosa.— Mas você precisa entender que sua condição não é estável. O dano que você sofreu não foi apenas superficial. O projétil afetou músculos e nervos essenciais para sua mobilidade. Estresse e esforço físico em excesso podem piorar a situação e acelerar a degeneração - ele me olhou firme. — Você sabe do que estou falando.A boca secou. Eu sabia. Eu sempre soube. Mas não queria ouvir isso de novo.— E você deveria contar isso para sua família. Ainda mais agora, que está casada.— Doutor, eu estou bem. Não sinto dores
Parte 63...AlejandroO silêncio aqui dentro é denso, sufocante. Minha mãe estava sentada em sua poltrona favorita, a postura rígida, o olhar cravado em mim como se pudesse arrancar verdades que eu mesmo não conseguia entender. Eu andava de um lado para o outro, os pensamentos atropelando uns aos outros, a raiva fervendo sob minha pele. Queria ir até Camila e continuar nossa conversa. Eu precisava falar. Precisava que ela entendesse.— Eu sou culpado - cuspi as palavras, sentindo o amargo delas na boca. — Ninguém precisa me lembrar disso, porque eu sei. Se eu não tivesse sido um maldito imbecil querendo mostrar serviço, Diego nunca teria chegado tão perto.Apertei os punhos, o peito subindo e descendo em um ritmo acelerado. O ódio por aquele desgraçado era tão grande que quase me sufocava. Minha mãe não desviou os olhos. Nem mesmo piscou.— Ele te enganou — disse simplesmente.Eu soltei um riso seco, sem humor. Até me sinto cansado.— Enganou - admiti. — Mas o que isso muda? No fim d