Parte 59...Ricardo— Você é muito babaca, sabia? Típico macho que pensa que toda mulher quer dar pra ele.— E você não quer dar pra mim? - perguntei segurando a risada.— Eu vou voltar com meu pai, é óbvio!Pela cara dela, eu realmente dei uma bola fora, mas precisava tentar. Eu achei mesmo que ela tinha ficado interessada em mim. Foi o que me pareceu quando as trouxemos para cá.— Você ficou com raiva de mim porque fui eu quem prendeu vocês aqui?— Isso também - ela ergueu o rosto.— Isso também? Então tem outra coisa?— Não é da sua conta.— Você tem namorado? Um ficante?— Não tenho que responder.— Só quero saber. É difícil dizer sim ou não? Eu sou curioso.— É, eu sei... Você encheu a gente com trocentas perguntas.— Faz parte do meu trabalho - pisquei rápido — Eu preciso entender as coisas.— Bem, não me interessa a sua proposta. Aliás, achei ridícula.Ergui as mãos em gesto de paz.— Ok, ok... Assim que seu pai chegar, vocês podem seguir com ele.— Ai, nossa... Muito obrigada
Parte 60...SofiaÉ muito difícil pra mim estar fora do convento, em uma realidade nova e totalmente diferente do que eu já estava acostumada. Agora eu vou ter que me virar, arranjar um emprego, cuidar de uma casa. Que por sinal, é o que mais me preocupa. Como vou pagar por um lugar só meu, se eu não tenho dinheiro?Depois de tudo o que aconteceu, ninguém nunca me procurou, além de Santiago, para me dizer se eu tenho direito a alguma coisa que foi de meus pais. A Madre nunca me falou nada sobre isso, então penso que não tenho nada, nem um centavo sequer. O que me deixa mais preocupada, porque eu não vou poder me virar sem ter o mínimo.Pensar em meus pais agora me dá vontade de chorar. Foi tudo tão de repente, tão forte e brusco. Faz anos que estou sozinha, sem parentes. As pessoas próximas de mim são as freiras e a figura materna é apenas a Madre.Eu não tenho mais muitas memórias de meus pais. Quando olho minha imagem no espelho, essa cicatriz já não me incomoda, mas fico sem saber
Parte 61...Sofia— Aqui está também para você - ele me entregou uma caixa — É seu.Eu abri e dentro tinha um celular muito bonito. Eu nunca tive um.— Eu nem sei como agradecer e...— Esse é seu cartão provisório - ele me entregou um cartão azul — Por enquanto está como provisório, mas na semana que vem você já vai receber o seu. A sua conta está aberta desde que... Bem, desde que você perdeu seus pais.— Mas... Eu não entendo...— O que não entende, Sofia?— O que você devia ao meu pai, para ficar depositando em uma conta por todos esses anos? - inclinei a cabeça de lado.— Assuntos pessoais - ele me pareceu desconversar — Quando eu soube do ocorrido, sabia que tinha que fazer algo e por isso achei melhor cuidar de você... Dentro do que me era possível... - ele pigarreou.— Então, deve ter um bom valor na conta?— Com certeza. Por que?— Eu estava pensando em como me virar até arranjar um emprego - gesticulei — Agora posso ter calma e procurar algo que eu goste.— É... Pode sim - el
Parte 62...CamilaA sala do doutor Portela era iluminada e organizada, mas nada disso diminuía o aperto que eu sentia no peito. Ele folheava meu prontuário, enquanto eu apertava as mãos contra o colo, esperando pelo veredito. Ele suspirou e fechou a pasta, me encarando.— Camila, sua recuperação tem sido boa, considerando tudo pelo que você passou. Seu corpo está respondendo bem aos tratamentos e à fisioterapia.— Mas? - cruzei os braços, já esperando o golpe. Estou nervosa.— Mas você precisa entender que sua condição não é estável. O dano que você sofreu não foi apenas superficial. O projétil afetou músculos e nervos essenciais para sua mobilidade. Estresse e esforço físico em excesso podem piorar a situação e acelerar a degeneração - ele me olhou firme. — Você sabe do que estou falando.A boca secou. Eu sabia. Eu sempre soube. Mas não queria ouvir isso de novo.— E você deveria contar isso para sua família. Ainda mais agora, que está casada.— Doutor, eu estou bem. Não sinto dores
Parte 63...AlejandroO silêncio aqui dentro é denso, sufocante. Minha mãe estava sentada em sua poltrona favorita, a postura rígida, o olhar cravado em mim como se pudesse arrancar verdades que eu mesmo não conseguia entender. Eu andava de um lado para o outro, os pensamentos atropelando uns aos outros, a raiva fervendo sob minha pele. Queria ir até Camila e continuar nossa conversa. Eu precisava falar. Precisava que ela entendesse.— Eu sou culpado - cuspi as palavras, sentindo o amargo delas na boca. — Ninguém precisa me lembrar disso, porque eu sei. Se eu não tivesse sido um maldito imbecil querendo mostrar serviço, Diego nunca teria chegado tão perto.Apertei os punhos, o peito subindo e descendo em um ritmo acelerado. O ódio por aquele desgraçado era tão grande que quase me sufocava. Minha mãe não desviou os olhos. Nem mesmo piscou.— Ele te enganou — disse simplesmente.Eu soltei um riso seco, sem humor. Até me sinto cansado.— Enganou - admiti. — Mas o que isso muda? No fim d
Parte 64...AlejandroAs palavras de minha mãe estavam pesando em minha cabeça. Ela tem razão. Se eu me impor demais agora, só vou afastar Camila.Apesar de querer tudo do meu jeito, nesse sentido, eu vou ter que ceder, mas será por um bom motivo. E por pouco tempo.— ZEUS! PARA, ZEUS! VOLTA AQUI, MALDITO!Me virei a tempo de ver meu homem correndo atrás da bola de músculos preto e castanho que disparava como um míssil pelo jardim. Zeus não estava fugindo... Estava caçando alguma coisa. Ele já fez isso outras vezes e agora ele iria me ajudar.— Zeus... Vem aqui! - bati na perna.Ele parou de imediato e olhou para trás, depois voltou correndo na minha direção, com meu empregado atrás.— Me desculpe, senhor, ele escapou quando eu fui lavar o canil dele.— Tudo bem, deixe ele comigo. Pode ir.Ele saiu ainda reclamando de Zeus e eu estalei os dedos, para que ele me seguisse até dentro de casa.Bati na porta e claro que ela não respondeu. Eu aproveitei e abri a porta de fininho, colocando
Parte 65...Camila— É... Uma pena mesmo - eu fiquei sem jeito. Ver Malena dessa forma era muito ruim pra mim — Lena... Você me perdoa por ter colocado você nessa situação?— Você não tem culpa disso , amiga.. - ela abaixou a cabeça — Meu pai sempre foi assim...— Eu não sabia...Me doía muito ver o que o pai dela tinha feito. Agora entendo porque Alejandro não queria que eu falasse com ela.O cabelo de Malena era tão bonito. Agora ela estava quase careca. Seu pai cortara seu cabelo com raiva. As mechas longas e onduladas haviam sido cortadas de forma cruel e irregular, como se tivessem sido arrancadas sem cuidado.— Você tem que me contar agora - eu apertei sua mão — Eu sempre confiei em você, tem que fazer o mesmo comigo, Lena.Ela suspirou e levantou a cabeça. Seus olhos estavam tristes e sei que ela segurava o choro. Malena sempre queria mostrar que estava bem e agora vejo que eu não lhe dei atenção suficiente.— Foi a minha punição - Malena disse, a voz rouca, sem emoção. — Ele q
Parte 66...Camila— Você esquece de quem eu sou, Alejandro? - fez uma cara de irritação.— Não, mas me parece que você esqueceu quem eu sou.Nossa, até me arrepiei com a resposta de meu marido. Gostei de como ele me defendeu.— Você é o pai de Malena, tem seu direito de castigar a garota de acordo com sua vontade, mas não pode ser cruel - Alejandro inclinou a cabeça de lado — Você sabe que temos regras para esse tipo de coisa.A expressão do homem mudou. E eu gostei disso. O tom dele era cortante e acho que isso fez o velho repensar.— Eu posso ter exagerado...— Exagerado? - me meti de novo — Ela está muito machucada, tem até cortes na cabeça.— Camila... Deixe comigo - Alejandro falou mais pesado — Você não vai forçar a garota a se casar contra a vontade dela.Era até irônico. Justo ele, que se casou comigo porque meu pai me forçou.— Ela não pode continuar solteira. Precisa de um marido para guiar a vida ela, deixar de ser irresponsável e não...— Ela não vai se casar contra a von