Parte 91...Santiago— Ok, digamos que seja tudo isso junto. Mas e daí? Como vou falar para ela o que eu fiz?— Não tem que ser de todo honesto - ele deu de ombros — Apenas continue com a mesma conversa de que você tinha uma promessa feita ao pai dela, use isso e pronto. A peça em casamento - ele abriu as mãos.— Não é tão simples assim, Ramiro. Ela pode simplesmente dizer que não - andei para o outro lado — A garota passou a vida dentro de uma prisão. Agora que está livre, vai querer se prender de novo?— Depois do que aconteceu a ela? - ele ergueu a sobrancelha — Tenho certeza de que ela deve estar sonhando com a segurança dos muros daquele convento.— É, talvez você tenha razão mesmo. - cocei o queixo — Mas vai se um choque pra ela. E se ela disser que não, mesmo com Alejandro reclamando ou até querendo briga comigo, eu não vou forçá-la a isso.— Não, claro que não. Aí já seria demais. Mas acho que deve usar o mesmo de antes, comece daí e deixe que ela pense.— É - puxei o ar fundo
Parte 92...Camila— Ela não está machucada a esse ponto, mãe. Basta um dia ou dois de descanso e pronto. Camila estará pronta para começar a fisioterapia.— Ah! - ela mexeu a cabeça para trás e continuou com o sorriso falso de simpatia — Você vai ter que fazer mais terapia... Que coisa, não? Parece que seu problema é grave mesmo, mais do que eu imaginava.Eu franzi a testa. Achei estranho esse modo dela falar comigo, até porque, antes ela estava sendo tão educada e gentil. Não entendi.— Mãe...— É bom que você se dedique muito a essa terapia, já que vão se casar na igreja e vai precisar entrar andando, não é? - ela soltou uma risadinha abafada, como se fosse só uma piada inocente.Senti meu estômago apertar, mas antes que eu questionasse ou comentasse algo, Alejandro se adiantou, com uma expressão de raiva se formando no rosto dele.— Madre, esse não é o momento para um comentário desse tipo. Camila está bem depois do susto e vai se recuperar. É o que importa.— Sim, claro... Mas só
Parte 93...AlejandroEu encostei a porta atrás de mim devagar, deixando que o silêncio se acomodasse no quarto por um instante. Camila ainda me olhava, surpresa, como se não soubesse ao certo o que dizer. Malena desviou o olhar entre nós dois, claramente sentindo o peso no ar.— Malena, pode nos deixar um momento? - minha voz saiu firme, mas sem dureza.Ela hesitou por um segundo, mas então assentiu e saiu, fechando a porta atrás de si. O silêncio que se seguiu foi ainda mais pesado. Camila desviou o olhar, como se quisesse fugir, mas não tinha para onde ir.— Você ouviu o que falei e não acreditou - falei, dando um passo à frente. — E agora? Vai fugir de novo, Camila?Ela piscou algumas vezes e cruzou os braços, um gesto defensivo, mas não respondeu de imediato. Seu olhar me analisava, como se tentasse entender o que eu queria dizer.— Eu não estou fugindo de você, Alejandro - murmurou. — Estamos casados, esqueceu?Soltei uma risada baixa, seca. — Não? Então me diga o que tem feito
Parte 94...Alejandro.Diego escolheu bem o esconderijo. Passamos mais de uma hora dentro do carro até chegarmos ao local, mas isso foi bom porque me deu tempo para pensar e mais raiva ainda para acabar com ele de vez, sem perder tempo.Não deu para sair mais cedo porque precisava antes organizar bem. Ricardo fez o que mandei e acabou com quase toda a turma dele, separando Diego de seus poucos homens. Agora ele não teria mais como revidar nosso ataque. E Ricardo nesse ponto, foi muito eficiente.Não era tão tarde quando chegamos ao esconderijo dele, mas a noite estava espessa, um breu sufocante que se agarrava à pele como um presságio de morte. O vento úmido trazia consigo o cheiro azedo da cidade. Só Diego mesmo para vir parar em um lugar como esse, esquecido pelo mundo, quase abandonado. Mas, para ele, era o ideal. Não lhe restaram muitas opções.Os faróis cortaram a escuridão quando os carros pararam de maneira abrupta na rua deserta. O galpão abandonado se erguia diante de nós com
Parte 95...AlejandroO som da minha própria respiração ficou distante enquanto empurrei a porta, entrando devagar. A cena à minha frente era patética.Diego estava encostado em uma mesa velha e empoeirada, o corpo rígido, uma pistola tremendo em sua mão suada. Ele tentava parecer firme, mas seus olhos estavam arregalados, a pele pálida como se o sangue já soubesse que logo deixaria seu corpo. Ao lado dele, dois homens. Armados, mas sem coragem. Sem confiança. Apenas esperando o inevitável. Mortos em pé. Eu os ignorei. Eles não eram nada.— Conversar? - minha voz saiu baixa, arrastada, impregnada de ameaça. — Como você conversou com Camila quando atirou nela? Mesmo ela sendo uma menina? Como quando mandou aqueles vermes atrás dela de novo? - vi o medo em seus olhos — É sobre isso, Diego?Ele engoliu seco, as mãos trêmulas.— Eu... Eu não posso mais mudar o passado... Ela não deveria existir... Foi uma afronta pra mim o que a mãe dela fez! E dessa vez, eu estava apenas seguindo ordens!
Parte 96... Alejandro— Não seja tonto, Ricardo - ela levantou.— Tonto? Isso é desrespeito, madre.— E falta de amor também - Gabriel completou — Você agiu pelas costas de seu filho.— Como soube? - minha voz era grave, um trovão prestes a desabar. Não queria perder meu controle com ela.Ela ergueu a sobrancelha com desdém, levando a taça aos lábios.— Sei de muitas coisas, meu filho. Coisas que você deveria ter me contado. Mas não contou, então precisei descobrir por conta própria. - voltou a sentar.Eu me inclinei para frente, apoiando as mãos nos braços da poltrona dela, obrigando-a a encarar seus olhos furiosos.— Como soube que Camila não pode ter filhos? - cuspi as palavras, os olhos queimando de raiva.Ela soltou um riso baixo e sem humor, inclinando a cabeça para o lado.— Eu fui até o médico que a acompanhava desde o início. Dinheiro sempre compra verdades inconvenientes. - deu de ombro — E o que ele me contou apenas confirmou o que eu já imaginava: essa garota não pode te
Parte 97...SantiagoPela manhãTer uma mulher doce e inocente em minha cama não era nada bom. Pra mim, no caso. Eu quase não dormi pensando no que fazer. Quando entrei no quarto para dar o medicamento a Sofia, ela estava dormindo em uma posição estranha, acho que a melhor que encontrou para que suas costelas não doessem tanto. Eu deitei ao seu lado e aos poucos consegui ajeitar seu corpo para que ficasse apoiada em mim e ela suspirou parecendo aliviada.Não consegui mais sair da cama. Fiquei com medo dela acordar e sentir dor novamente. Tirei os sapatos, abri um pouco a calça e fiquei quieto, observando sua respiração tranquila e pensando no que tinha que fazer, até que o sono chegou pra mim também.Quando acordei, quase fiz a besteira de me levantar de vez, mas percebi a tempo que não estava sozinho e que o peso quente em cima de meu peito era Sofia.Com muito cuidado eu a movi para o lado e examinei seu rosto de perto. E a raiva brotou em mim com força. O rosto dela estava muito i
Parte 98...SantiagoDepois de ler a mensagem de Alejandro me sinto mais aliviado. Pelo menos agora já não temos que ficar preocupados com mais um ataque daquele canalha do Diego. Demorou um pouco, mas ele não vai mais incomodar ninguém e Camila vai poder ficar tranquila pra ir e vir sem ter que ficar com medo de sofrer um ataque. O problema é que Alejandro disse que tem uma pessoa a mais nesse caso do ataque recente a Camila. Minha tia Celeste.Não consigo acreditar que ela chegou a esse ponto, só pra ver Alejandro casado com quem ela quer. Um absurdo isso.E no final da mensagem, ele me questionava se eu já tinha me resolvido com Sofia. Respirei fundo ao ler aquilo. Ele não esqueceu mesmo.Preparei a bandeja com um pequeno lanche para Sofia, não quero forçar. O médico disse que seria melhor que comesse em pequenas porções, divididas ao longo do dia. Depois faço um pedido maior e de acordo, pra que se alimente bem enquanto estiver se recuperando.— Como está agora depois de comer? S