Parte 95...AlejandroO som da minha própria respiração ficou distante enquanto empurrei a porta, entrando devagar. A cena à minha frente era patética.Diego estava encostado em uma mesa velha e empoeirada, o corpo rígido, uma pistola tremendo em sua mão suada. Ele tentava parecer firme, mas seus olhos estavam arregalados, a pele pálida como se o sangue já soubesse que logo deixaria seu corpo. Ao lado dele, dois homens. Armados, mas sem coragem. Sem confiança. Apenas esperando o inevitável. Mortos em pé. Eu os ignorei. Eles não eram nada.— Conversar? - minha voz saiu baixa, arrastada, impregnada de ameaça. — Como você conversou com Camila quando atirou nela? Mesmo ela sendo uma menina? Como quando mandou aqueles vermes atrás dela de novo? - vi o medo em seus olhos — É sobre isso, Diego?Ele engoliu seco, as mãos trêmulas.— Eu... Eu não posso mais mudar o passado... Ela não deveria existir... Foi uma afronta pra mim o que a mãe dela fez! E dessa vez, eu estava apenas seguindo ordens!
Parte 96... Alejandro— Não seja tonto, Ricardo - ela levantou.— Tonto? Isso é desrespeito, madre.— E falta de amor também - Gabriel completou — Você agiu pelas costas de seu filho.— Como soube? - minha voz era grave, um trovão prestes a desabar. Não queria perder meu controle com ela.Ela ergueu a sobrancelha com desdém, levando a taça aos lábios.— Sei de muitas coisas, meu filho. Coisas que você deveria ter me contado. Mas não contou, então precisei descobrir por conta própria. - voltou a sentar.Eu me inclinei para frente, apoiando as mãos nos braços da poltrona dela, obrigando-a a encarar seus olhos furiosos.— Como soube que Camila não pode ter filhos? - cuspi as palavras, os olhos queimando de raiva.Ela soltou um riso baixo e sem humor, inclinando a cabeça para o lado.— Eu fui até o médico que a acompanhava desde o início. Dinheiro sempre compra verdades inconvenientes. - deu de ombro — E o que ele me contou apenas confirmou o que eu já imaginava: essa garota não pode te
Parte 97...SantiagoPela manhãTer uma mulher doce e inocente em minha cama não era nada bom. Pra mim, no caso. Eu quase não dormi pensando no que fazer. Quando entrei no quarto para dar o medicamento a Sofia, ela estava dormindo em uma posição estranha, acho que a melhor que encontrou para que suas costelas não doessem tanto. Eu deitei ao seu lado e aos poucos consegui ajeitar seu corpo para que ficasse apoiada em mim e ela suspirou parecendo aliviada.Não consegui mais sair da cama. Fiquei com medo dela acordar e sentir dor novamente. Tirei os sapatos, abri um pouco a calça e fiquei quieto, observando sua respiração tranquila e pensando no que tinha que fazer, até que o sono chegou pra mim também.Quando acordei, quase fiz a besteira de me levantar de vez, mas percebi a tempo que não estava sozinho e que o peso quente em cima de meu peito era Sofia.Com muito cuidado eu a movi para o lado e examinei seu rosto de perto. E a raiva brotou em mim com força. O rosto dela estava muito i
Parte 98...SantiagoDepois de ler a mensagem de Alejandro me sinto mais aliviado. Pelo menos agora já não temos que ficar preocupados com mais um ataque daquele canalha do Diego. Demorou um pouco, mas ele não vai mais incomodar ninguém e Camila vai poder ficar tranquila pra ir e vir sem ter que ficar com medo de sofrer um ataque. O problema é que Alejandro disse que tem uma pessoa a mais nesse caso do ataque recente a Camila. Minha tia Celeste.Não consigo acreditar que ela chegou a esse ponto, só pra ver Alejandro casado com quem ela quer. Um absurdo isso.E no final da mensagem, ele me questionava se eu já tinha me resolvido com Sofia. Respirei fundo ao ler aquilo. Ele não esqueceu mesmo.Preparei a bandeja com um pequeno lanche para Sofia, não quero forçar. O médico disse que seria melhor que comesse em pequenas porções, divididas ao longo do dia. Depois faço um pedido maior e de acordo, pra que se alimente bem enquanto estiver se recuperando.— Como está agora depois de comer? S
Parte 99...CamilaO telefone vibrou sobre o móvel ao meu lado, arrancando-me dos pensamentos que se embolavam em minha mente desde que acordei. Estendi a mão com um suspiro pesado e peguei o aparelho. Número desconhecido. Apertei para atender, levando-o ao ouvido.— Alô? - minha voz saiu um pouco hesitante e curiosa.— Camila Calderón? - a voz masculina do outro lado era formal, mas carregava um tom solícito.— Sim. Quem está falando?— Aqui é Dr. Estevão, fisioterapeuta. Fui indicado para acompanhar seu tratamento. Podemos marcar sua primeira sessão para amanhã? Além disso, seu médico solicitou uma série de exames para avaliarmos melhor a sua condição.Engoli em seco. Mesmo sabendo que esse momento chegaria, a confirmação da necessidade dos exames e do tratamento fez meu estômago revirar. Tudo isso definiria se eu poderia ter filhos normalmente ou não. Senti uma onda de nervosismo subir pelo meu peito.— Claro. Que horas pode ser?— Às dez da manhã está bom para você? - perguntou el
Parte 100..AlejandroEu invadi a mansão de minha mãe como uma tempestade anunciada. Ricardo e Gabriel vieram comigo, em silêncio, mas prontos para me apoiar o que fosse necessário. Eles também acharam um absurdo o que nossa mãe fez.Eu sentia o sangue ferver dentro de mim, uma corrente de fúria fria que mantinha meus passos firmes e calculados. Pensei muito antes de tomar essa atitude, afinal, ela é minha mãe.Ela estava sentada em uma poltrona de veludo creme, com um copo de conhaque na mão, como se não tivesse destruído o pouco de paz que eu vinha tentando construir.— Alejandro - ela sorriu, mas o sorriso desapareceu ao ver meu olhar. — Você veio sozinho ou trouxe seu acessório defeituoso?O som do tapa que dei na mesa de centro reverberou pelo cômodo. Ricardo e Gabriel ficaram tensos, mas não interferiram.— Se você falar da minha esposa desse jeito de novo, Celeste, eu juro por Deus que esqueço que você me colocou no mundo - rosnei, minha voz carregada de veneno.Ela estreitou o
Parte 101...AlejandroCamila levou as mãos à boca, os olhos arregalados.— Meu Deus...Meu maxilar estava travado. A verdade estava ali, nua e crua, e eu esperava qualquer reação dela. Raiva, medo, lágrimas. Mas o que mais me incomodava era a dor silenciosa em seu olhar.— Você sabia? - sua voz era apenas um sussurro.A pergunta me atingiu como um soco.— Claro que não! - soltei, ríspido. — Acha mesmo que eu deixaria isso acontecer? Que eu permitiria que alguém encostasse um dedo em você sabendo disso? Não sou um filho da puta, Camila. Você ainda acredita apenas no que falam por aí, sem nem mesmo me dar o benefício da dúvida.Ela abaixou a cabeça, os ombros tremendo levemente. Então, exalou devagar.— Você... A expulsou. - ergueu os olhos para mim novamente. — Ela é sua mãe.Assenti.— Ela não tem mais permissão para ficar na cidade. Ricardo e Gabriel concordaram. Se voltar antes de um ano, não serei tão misericordioso.Ela ficou em silêncio, me observando como se tentasse compreende
Parte 102... GabrielEu fiquei pensando muito antes de conseguir pegar no sono de vez. Estou entre Alejandro e Ricardo com suas relações. Um já se casou e está tentando engatar o casamento da forma certa, embora ele tenha começado isso com um peso e depois uma atração. O outro se sente atraído pela garota mas acha que resolve apenas se impor a ela sem ter o menor jeito de lidar com a atração que ambos sentem.Já eu, me sinto curioso e atraído por Malena. Não é só pela aparência dela, machucada pela loucura de um pai velho que não tem limites. Isso me chamou atenção de início, mas foi bem mais pelo jeito dela.Percebi que Malena tem um jeitinho bonito e mostrou ter caráter quando quis ajudar a amiga, apesar de ter sido um plano meia boca e que no final só foi prejudicial para ambas. Mas ao menos ela tentou tirar a amiga do que elas acreditavam ser uma situação ruim.Ela está abalada pelo que o pai fez e com medo do futuro. Estar aqui na casa de Alejandro não é de todo um sinal de segu