Parte 93...AlejandroEu encostei a porta atrás de mim devagar, deixando que o silêncio se acomodasse no quarto por um instante. Camila ainda me olhava, surpresa, como se não soubesse ao certo o que dizer. Malena desviou o olhar entre nós dois, claramente sentindo o peso no ar.— Malena, pode nos deixar um momento? - minha voz saiu firme, mas sem dureza.Ela hesitou por um segundo, mas então assentiu e saiu, fechando a porta atrás de si. O silêncio que se seguiu foi ainda mais pesado. Camila desviou o olhar, como se quisesse fugir, mas não tinha para onde ir.— Você ouviu o que falei e não acreditou - falei, dando um passo à frente. — E agora? Vai fugir de novo, Camila?Ela piscou algumas vezes e cruzou os braços, um gesto defensivo, mas não respondeu de imediato. Seu olhar me analisava, como se tentasse entender o que eu queria dizer.— Eu não estou fugindo de você, Alejandro - murmurou. — Estamos casados, esqueceu?Soltei uma risada baixa, seca. — Não? Então me diga o que tem feito
Parte 94...Alejandro.Diego escolheu bem o esconderijo. Passamos mais de uma hora dentro do carro até chegarmos ao local, mas isso foi bom porque me deu tempo para pensar e mais raiva ainda para acabar com ele de vez, sem perder tempo.Não deu para sair mais cedo porque precisava antes organizar bem. Ricardo fez o que mandei e acabou com quase toda a turma dele, separando Diego de seus poucos homens. Agora ele não teria mais como revidar nosso ataque. E Ricardo nesse ponto, foi muito eficiente.Não era tão tarde quando chegamos ao esconderijo dele, mas a noite estava espessa, um breu sufocante que se agarrava à pele como um presságio de morte. O vento úmido trazia consigo o cheiro azedo da cidade. Só Diego mesmo para vir parar em um lugar como esse, esquecido pelo mundo, quase abandonado. Mas, para ele, era o ideal. Não lhe restaram muitas opções.Os faróis cortaram a escuridão quando os carros pararam de maneira abrupta na rua deserta. O galpão abandonado se erguia diante de nós com
Parte 95...AlejandroO som da minha própria respiração ficou distante enquanto empurrei a porta, entrando devagar. A cena à minha frente era patética.Diego estava encostado em uma mesa velha e empoeirada, o corpo rígido, uma pistola tremendo em sua mão suada. Ele tentava parecer firme, mas seus olhos estavam arregalados, a pele pálida como se o sangue já soubesse que logo deixaria seu corpo. Ao lado dele, dois homens. Armados, mas sem coragem. Sem confiança. Apenas esperando o inevitável. Mortos em pé. Eu os ignorei. Eles não eram nada.— Conversar? - minha voz saiu baixa, arrastada, impregnada de ameaça. — Como você conversou com Camila quando atirou nela? Mesmo ela sendo uma menina? Como quando mandou aqueles vermes atrás dela de novo? - vi o medo em seus olhos — É sobre isso, Diego?Ele engoliu seco, as mãos trêmulas.— Eu... Eu não posso mais mudar o passado... Ela não deveria existir... Foi uma afronta pra mim o que a mãe dela fez! E dessa vez, eu estava apenas seguindo ordens!
Parte 96... Alejandro— Não seja tonto, Ricardo - ela levantou.— Tonto? Isso é desrespeito, madre.— E falta de amor também - Gabriel completou — Você agiu pelas costas de seu filho.— Como soube? - minha voz era grave, um trovão prestes a desabar. Não queria perder meu controle com ela.Ela ergueu a sobrancelha com desdém, levando a taça aos lábios.— Sei de muitas coisas, meu filho. Coisas que você deveria ter me contado. Mas não contou, então precisei descobrir por conta própria. - voltou a sentar.Eu me inclinei para frente, apoiando as mãos nos braços da poltrona dela, obrigando-a a encarar seus olhos furiosos.— Como soube que Camila não pode ter filhos? - cuspi as palavras, os olhos queimando de raiva.Ela soltou um riso baixo e sem humor, inclinando a cabeça para o lado.— Eu fui até o médico que a acompanhava desde o início. Dinheiro sempre compra verdades inconvenientes. - deu de ombro — E o que ele me contou apenas confirmou o que eu já imaginava: essa garota não pode te
Parte 97...SantiagoPela manhãTer uma mulher doce e inocente em minha cama não era nada bom. Pra mim, no caso. Eu quase não dormi pensando no que fazer. Quando entrei no quarto para dar o medicamento a Sofia, ela estava dormindo em uma posição estranha, acho que a melhor que encontrou para que suas costelas não doessem tanto. Eu deitei ao seu lado e aos poucos consegui ajeitar seu corpo para que ficasse apoiada em mim e ela suspirou parecendo aliviada.Não consegui mais sair da cama. Fiquei com medo dela acordar e sentir dor novamente. Tirei os sapatos, abri um pouco a calça e fiquei quieto, observando sua respiração tranquila e pensando no que tinha que fazer, até que o sono chegou pra mim também.Quando acordei, quase fiz a besteira de me levantar de vez, mas percebi a tempo que não estava sozinho e que o peso quente em cima de meu peito era Sofia.Com muito cuidado eu a movi para o lado e examinei seu rosto de perto. E a raiva brotou em mim com força. O rosto dela estava muito i
Parte 98...SantiagoDepois de ler a mensagem de Alejandro me sinto mais aliviado. Pelo menos agora já não temos que ficar preocupados com mais um ataque daquele canalha do Diego. Demorou um pouco, mas ele não vai mais incomodar ninguém e Camila vai poder ficar tranquila pra ir e vir sem ter que ficar com medo de sofrer um ataque. O problema é que Alejandro disse que tem uma pessoa a mais nesse caso do ataque recente a Camila. Minha tia Celeste.Não consigo acreditar que ela chegou a esse ponto, só pra ver Alejandro casado com quem ela quer. Um absurdo isso.E no final da mensagem, ele me questionava se eu já tinha me resolvido com Sofia. Respirei fundo ao ler aquilo. Ele não esqueceu mesmo.Preparei a bandeja com um pequeno lanche para Sofia, não quero forçar. O médico disse que seria melhor que comesse em pequenas porções, divididas ao longo do dia. Depois faço um pedido maior e de acordo, pra que se alimente bem enquanto estiver se recuperando.— Como está agora depois de comer? S
Parte 99...CamilaO telefone vibrou sobre o móvel ao meu lado, arrancando-me dos pensamentos que se embolavam em minha mente desde que acordei. Estendi a mão com um suspiro pesado e peguei o aparelho. Número desconhecido. Apertei para atender, levando-o ao ouvido.— Alô? - minha voz saiu um pouco hesitante e curiosa.— Camila Calderón? - a voz masculina do outro lado era formal, mas carregava um tom solícito.— Sim. Quem está falando?— Aqui é Dr. Estevão, fisioterapeuta. Fui indicado para acompanhar seu tratamento. Podemos marcar sua primeira sessão para amanhã? Além disso, seu médico solicitou uma série de exames para avaliarmos melhor a sua condição.Engoli em seco. Mesmo sabendo que esse momento chegaria, a confirmação da necessidade dos exames e do tratamento fez meu estômago revirar. Tudo isso definiria se eu poderia ter filhos normalmente ou não. Senti uma onda de nervosismo subir pelo meu peito.— Claro. Que horas pode ser?— Às dez da manhã está bom para você? - perguntou el
Parte 100..AlejandroEu invadi a mansão de minha mãe como uma tempestade anunciada. Ricardo e Gabriel vieram comigo, em silêncio, mas prontos para me apoiar o que fosse necessário. Eles também acharam um absurdo o que nossa mãe fez.Eu sentia o sangue ferver dentro de mim, uma corrente de fúria fria que mantinha meus passos firmes e calculados. Pensei muito antes de tomar essa atitude, afinal, ela é minha mãe.Ela estava sentada em uma poltrona de veludo creme, com um copo de conhaque na mão, como se não tivesse destruído o pouco de paz que eu vinha tentando construir.— Alejandro - ela sorriu, mas o sorriso desapareceu ao ver meu olhar. — Você veio sozinho ou trouxe seu acessório defeituoso?O som do tapa que dei na mesa de centro reverberou pelo cômodo. Ricardo e Gabriel ficaram tensos, mas não interferiram.— Se você falar da minha esposa desse jeito de novo, Celeste, eu juro por Deus que esqueço que você me colocou no mundo - rosnei, minha voz carregada de veneno.Ela estreitou o