Parte 49...Santiago— Porque aqui é o seu lugar, Sofia.A mentira saiu fria, mas firme. Seus olhos brilharam com algo que eu não cheguei a decifrar.— Meu lugar? - ela apertou de leve os olhos, repetindo quase como um sussurro.— Sim... Agora descanse um pouco - desviei o olhar e dei um passo para longe — Daqui a pouco vamos ter nosso jantar. Poderemos conversar aí.— Sim, sen... Sim, Santiago.Meu Deus! Nunca meu nome foi pronunciado de uma forma assim tão quente. O que vou fazer? Eu não posso esconder a verdade para sempre. Ou posso?Meu celular vibrou no bolso da camisa. Eu queria continuar aqui, falando com ela, mas sei que é algo importante.— O quarto é seu, fique à vontade e se prepare para nosso jantar, está bem?Ela apenas assentiu com a cabeça e eu saí, fechando a porta. Peguei o celular. Sabia que era importante. Alejandro.— Alô! - fui andando pelo corredor.— Por onde você andava que não conseguia falar? Seu celular só dava fora de área.— É que tive um assunto pessoal p
Parte 50...SofiaMe sinto cansada. Depois de tantos anos acostumada a dormir cedo no convento, estar aqui me deixa um pouco estressada e dormir em uma cama que não é minha adiciona mais ansiedade. O resultado é que estou cansada mais do que deveria. A viagem não foi ruim.O silêncio do quarto é estranho pra mim. Não é como no convento. A luz fraca do abajur mal iluminava o espaço, lançando sombras nas paredes. Me virei na cama, observei o teto, o coração ainda acelerado depois do jantar. Santiago tem uma presença forte. Queria entender porque ele me trouxe para cá.Notei que algumas vezes ele apertou os punhos. Parecia estar incomodado com a minha presença. Ele não queria que eu estivesse ali. Isso estava claro.Mas havia algo mais. Algo que ele não dizia. Mesmo ele afirmando que foi amigo de meu pai, somente ele assumiu os custos de minha vida, de minha educação.Às vezes a Madre falava sobre ele, sobre como ele cuidava para que eu tivesse a melhor educação e os melhores cuidados.
Parte 51...Camila— Você ainda está tomando os remédios?— Sim - apertei os lábios.— E até quando terá que tomar?— Não sei, Alejandro... Meu médico é quem vai decidir - mexi o ombro.Eu sabia que ele estava desconfiado. Parou bem ao meu lado.— E você ainda faz a fisioterapia?Fechei os olhos por um segundo, antes de responder.— Não mais.Ele demorou a falar e eu ergui o rosto.— Por que parou?— Porque o médico disse que eu já tinha feito o suficiente.— E você acreditou?Senti que tinha um pouco de raiva por trás de sua pergunta e isso fez meu coração acelerar.— Alejandro, eu não sou uma inválida. Eu ando, corro, faço tudo normalmente.— Normalmente? - ele deu um passo mais perto, me obrigando a erguer mais o rosto — E por que seu pai a chama de aleijada? Por que então, estava se contorcendo de dor agora há pouco? - ele inclinou a cabeça de lado.— Eu não estava me...— Estava sim! Eu vi! - sua voz saiu alta demais para meu gosto — Você acha que eu sou cego, Camila? Acha que nã
Parte 52...CamilaO avião já estava em processo de descida quando olhei para Alejandro ao meu lado. Seu rosto estava sereno, mas sua mão segurava um copo com uísque, girando o líquido âmbar distraidamente. Respirei fundo, juntando coragem antes de falar.— Quando chegarmos, quero ver Malena.Os dedos dele pararam de girar o copo, e seu olhar se voltou para mim, sério demais.— Não é uma boa ideia.Cruzei os braços, sentindo um aperto no peito. Eu não tinha mais falado com Malena desde que Alejandro tinha ido atrás de mim.— Por quê? Não sei nada dela desde que viajamos. Ela foi castigada pelo pai por minha causa, você disse isso.— Exatamente. - ele apoiou o cotovelo no braço da poltrona, analisando-me como se eu fosse uma criança teimosa. — Se o pai dela a puniu, acha que ele quer você por perto? Que vai deixar que fale com Malena depois de ter me dado tanto trabalho?— Eu só quero saber se ela está bem.— E eu estou dizendo que não é o momento, Camila. Dê um tempo para as coisas se
Parte 53...CamilaMe pareceu que a mãe de Alejandro não foi com minha cara, mas isso não me admira. Ela como certeza tinha outros planos para o filho mais velho. Geralmente é assim na máfia. Cada um já nasce com seu papel.— Como foi a viagem, Camila? Gostou de Formentera?Trajano parou na porta, segurando minhas malas. Quando fui levei quase nada, mas ao voltar, trouxe muita coisa. Aproveitei os passeios que dei com Alejandro e como ele mesmo ficou me empurrando para comprar roupas e outras coisas, eu só deixei ir.— A viagem foi boa - sentei na cama — E a praia é muito bonita. Eu não conhecia.— Gostou da casa?— Sim, é maravilhosa.— Está cansada?Eu ergui as sobrancelhas e suspirei.— Você vai ficar me enchendo de perguntas, Trajano?— Só estou sendo agradável e interessado - ele fez um gesto com a cabeça e sorriu de leve.— Sei... Você está é querendo tirar a má impressão que eu tive antes.— E você teve uma má impressão de mim? - franziu os olhos — Nossa, que pena. E eu achand
Parte 54...CamilaAlejandro continuava com a postura descontraída, mesmo com todas as perguntas que a mãe dele me faz. Só que do anda, ela descansa os talheres e me encara.— Eu vi que você manca, Camila. Isso me preocupou.Eu fiquei tensa na hora. Alejandro parou com a taça de vinho quase na boca.— Madre, não tem que se preocupar.— Bem, mas eu me preocupei - ela deu um sorriso que achei cínico — Qual sua situação?— Como seu filho disse, não tem que se preocupar - fingi calma — Eu tenho um leve problema que às vezes me incomoda.— Sei... - Celeste ergueu uma sobrancelha, avaliando minha resposta — Bem querida, é que em nossa família, força é algo muito importante. É preciso ser forte para estar entre nós... Em todos os sentidos.Vi a expressão de Alejandro mudar. Ainda bem que parece não estar gostando da conversa, tanto quanto eu.— E principalmente no seu caso, que está aqui para produzir herdeiros fortes e saudáveis para meu filho. Você entende o que eu quero dizer, não entende
Parte 55...CamilaEle estreitou os olhos, a mandíbula travada, mas permaneceu em silêncio. Um silêncio que só me fez perder ainda mais o controle.— Você tem culpa no que ele fez comigo! — gritei, batendo a mão contra o peito dele, empurrando-o para trás. — Você destruiu minha família! Você é um monstro, Alejandro!Ele agarrou meu pulso no meio do próximo golpe, sua respiração pesada. Seu olhar estava carregado, mas não me importa.— Eu fiz o que precisava fazer, Camila. Eu não me responsabilizo pela insanidade de Diego... Não foi isso que combinamos - sua voz era grave, como um trovão prestes a cair sobre mim. — Seu pai não era um homem inocente, e você sabe disso.— Eu sei disso? - cobri o rosto com as mãos e respirei fundo umas duas vezes — Eu era uma criança, Alejandro... Você é idiota?Eu o encarei, o peito subindo e descendo descontroladamente. Meu pai podia não ser um santo, mas era meu pai. Meu sangue. E Alejandro tinha ajudado a quase destruí-lo.— Você esperou por mim todos
Parte 56...Camila— Eu não controlo você, Camila... Mas não vou deixar você fugir de mim.. Você me deve obediência - sussurrou, e foi mais ameaçador do que se tivesse gritado.— Me solta! - ordenei, minha voz firme apesar do turbilhão dentro de mim.Ele hesitou por um momento e então, lentamente, afrouxou o aperto. Eu recuei imediatamente, colocando uma distância entre nós.— Eu não vou dormir ao seu lado esta noite - eu disse com firmeza. — E talvez nunca mais durma. - ameacei.A tensão no rosto de Alejandro se intensificou, mas ele não continuou a falar porque uma batida firme na porta o distraiu. Meu coração disparou, ainda tomado pela raiva, enquanto Alejandro cerrava os punhos ao lado do corpo.— Senhor, me desculpe interromper, mas... Toda a casa está ouvindo vocês - a voz grave de Trajano ressoou do outro lado.Alejandro fechou os olhos, os músculos do pescoço pulsando com tensão. Ele se virou para mim, os olhos pegando fogo, e apontou um dedo na minha direção.— Você está fe