Parte 46...CamilaNão sei como me sentir agora. Depois que Alejandro terminou, ele simplesmente saiu e me deixou ali na sala, sozinha.Fiquei tremendo, não só de raiva, mas pelo gozo rápido que ele me deu e isso também me deu raiva. Eu não queria me envolver dessa forma, mas acho que cada dia que passa, vou ficando mais e mais enrolada.Ele já sabe que eu tenho algo mais do que apenas um problema na perna. Só não sabe o que é, realmente. Eu tenho que voltar e procurar doutor Portella. Quero saber como está minha situação. E saber como fazer também para evitar ficar grávida, se é que já não estou.Eu não pensei direito sobre essa parte e fiquei desligada por conta de tudo o que aconteceu. É muita coisa uma atrás da outra.Ouvi quando ele falou sobre as irmãs. Tenho que dar um jeito de ajudar as duas e também entrar em contato com Malena.Não tendo o que fazer, andei até o quarto devagar, pensando em como falar com ele sobre o ocorrido na praia. Espero que não tenha consequências desag
Parte 47...SantiagoA viagem até o convento foi silenciosa, apenas o ronco do motor preenchia o espaço. Mantive os olhos fixos na estrada, a mente girando com pensamentos sobre o que encontraria. Nove anos. Nove anos desde que deixei Sofia naquele lugar, garantindo que estaria protegida. Agora, ela era uma mulher, e eu não sabia o que esperar. Na verdade, eu até acabei me esquecendo dela depois de um tempo de preocupação inicial. Quando senti que a Madre era uma pessoa de confiança e que cuidaria com mais atenção da menina, me voltei para meus assuntos na família e o tempo passou. Depressa até.Quando cheguei, a Madre Superiora já me aguardava nos portões. O olhar dela era calmo, mas havia um peso ali, um aviso silencioso. Desci do carro, ajeitei o terno e caminhei com passos firmes até ela.— Santiago Calderón - a Madre cumprimentou, inclinando a cabeça levemente. — Imaginei que você viria pessoalmente.Assenti, sem rodeios. É claro que eu viria. Não poderia mandar outra pessoa, n
Parte 48...SantiagoO sol ainda estava alto no céu quando saímos do caminho de acesso ao convento. Passamos pelos portões de ferro.Sofia estava ao meu lado, as mãos pousadas sobre a bolsa no colo, os dedos entrelaçados, apertando um ao outro como se aquilo fosse o único ponto de apoio na realidade que mudava.Merda! Eu não sei como agir com ela agora. Deixei passar o tempo e empurrei esse assunto para baixo do tapete, como se já estivesse resolvido. Não estava.Ela não olhava para mim. Mantinha o olhar fixo na estrada de terra à nossa frente, os olhos grandes e atentos, como se absorvesse cada detalhe do lugar.Eu também não queria olhar pra ela. Quer dizer, queria, mas não que a deixasse nervosa. Era melhor evitar. A cada quilômetro que nos afastávamos do convento, o peso dentro do meu peito se tornava mais denso.Ela suspirou. Baixo, quase imperceptível, mas eu ouvi.— Está nervosa? Com medo? - questionei com a voz mais áspera do que deveria.Ela se encolheu ligeiramente, como se
Parte 49...Santiago— Porque aqui é o seu lugar, Sofia.A mentira saiu fria, mas firme. Seus olhos brilharam com algo que eu não cheguei a decifrar.— Meu lugar? - ela apertou de leve os olhos, repetindo quase como um sussurro.— Sim... Agora descanse um pouco - desviei o olhar e dei um passo para longe — Daqui a pouco vamos ter nosso jantar. Poderemos conversar aí.— Sim, sen... Sim, Santiago.Meu Deus! Nunca meu nome foi pronunciado de uma forma assim tão quente. O que vou fazer? Eu não posso esconder a verdade para sempre. Ou posso?Meu celular vibrou no bolso da camisa. Eu queria continuar aqui, falando com ela, mas sei que é algo importante.— O quarto é seu, fique à vontade e se prepare para nosso jantar, está bem?Ela apenas assentiu com a cabeça e eu saí, fechando a porta. Peguei o celular. Sabia que era importante. Alejandro.— Alô! - fui andando pelo corredor.— Por onde você andava que não conseguia falar? Seu celular só dava fora de área.— É que tive um assunto pessoal p
Parte 50...SofiaMe sinto cansada. Depois de tantos anos acostumada a dormir cedo no convento, estar aqui me deixa um pouco estressada e dormir em uma cama que não é minha adiciona mais ansiedade. O resultado é que estou cansada mais do que deveria. A viagem não foi ruim.O silêncio do quarto é estranho pra mim. Não é como no convento. A luz fraca do abajur mal iluminava o espaço, lançando sombras nas paredes. Me virei na cama, observei o teto, o coração ainda acelerado depois do jantar. Santiago tem uma presença forte. Queria entender porque ele me trouxe para cá.Notei que algumas vezes ele apertou os punhos. Parecia estar incomodado com a minha presença. Ele não queria que eu estivesse ali. Isso estava claro.Mas havia algo mais. Algo que ele não dizia. Mesmo ele afirmando que foi amigo de meu pai, somente ele assumiu os custos de minha vida, de minha educação.Às vezes a Madre falava sobre ele, sobre como ele cuidava para que eu tivesse a melhor educação e os melhores cuidados.
Parte 51...Camila— Você ainda está tomando os remédios?— Sim - apertei os lábios.— E até quando terá que tomar?— Não sei, Alejandro... Meu médico é quem vai decidir - mexi o ombro.Eu sabia que ele estava desconfiado. Parou bem ao meu lado.— E você ainda faz a fisioterapia?Fechei os olhos por um segundo, antes de responder.— Não mais.Ele demorou a falar e eu ergui o rosto.— Por que parou?— Porque o médico disse que eu já tinha feito o suficiente.— E você acreditou?Senti que tinha um pouco de raiva por trás de sua pergunta e isso fez meu coração acelerar.— Alejandro, eu não sou uma inválida. Eu ando, corro, faço tudo normalmente.— Normalmente? - ele deu um passo mais perto, me obrigando a erguer mais o rosto — E por que seu pai a chama de aleijada? Por que então, estava se contorcendo de dor agora há pouco? - ele inclinou a cabeça de lado.— Eu não estava me...— Estava sim! Eu vi! - sua voz saiu alta demais para meu gosto — Você acha que eu sou cego, Camila? Acha que nã
Parte 52...CamilaO avião já estava em processo de descida quando olhei para Alejandro ao meu lado. Seu rosto estava sereno, mas sua mão segurava um copo com uísque, girando o líquido âmbar distraidamente. Respirei fundo, juntando coragem antes de falar.— Quando chegarmos, quero ver Malena.Os dedos dele pararam de girar o copo, e seu olhar se voltou para mim, sério demais.— Não é uma boa ideia.Cruzei os braços, sentindo um aperto no peito. Eu não tinha mais falado com Malena desde que Alejandro tinha ido atrás de mim.— Por quê? Não sei nada dela desde que viajamos. Ela foi castigada pelo pai por minha causa, você disse isso.— Exatamente. - ele apoiou o cotovelo no braço da poltrona, analisando-me como se eu fosse uma criança teimosa. — Se o pai dela a puniu, acha que ele quer você por perto? Que vai deixar que fale com Malena depois de ter me dado tanto trabalho?— Eu só quero saber se ela está bem.— E eu estou dizendo que não é o momento, Camila. Dê um tempo para as coisas se
Parte 53...CamilaMe pareceu que a mãe de Alejandro não foi com minha cara, mas isso não me admira. Ela como certeza tinha outros planos para o filho mais velho. Geralmente é assim na máfia. Cada um já nasce com seu papel.— Como foi a viagem, Camila? Gostou de Formentera?Trajano parou na porta, segurando minhas malas. Quando fui levei quase nada, mas ao voltar, trouxe muita coisa. Aproveitei os passeios que dei com Alejandro e como ele mesmo ficou me empurrando para comprar roupas e outras coisas, eu só deixei ir.— A viagem foi boa - sentei na cama — E a praia é muito bonita. Eu não conhecia.— Gostou da casa?— Sim, é maravilhosa.— Está cansada?Eu ergui as sobrancelhas e suspirei.— Você vai ficar me enchendo de perguntas, Trajano?— Só estou sendo agradável e interessado - ele fez um gesto com a cabeça e sorriu de leve.— Sei... Você está é querendo tirar a má impressão que eu tive antes.— E você teve uma má impressão de mim? - franziu os olhos — Nossa, que pena. E eu achand