Alejandro Albeniz Com meu pai era desse jeito, tínhamos que deixar ele falar e falar e falar. Botar para fora todo tipo de asneira megalomaníaca que ele, em sua cabeça, achava mais do que normal. Entretanto, tudo tinha limite, uma linha tênue, e ele começou a cruzar essa linha quando insistiu em atacar a Ximena.— Na minha casa essa aproveitadora sem berço, essa cadela sem pedigree não entra!— A quem o senhor está chamando de cadela? Não me faça esquecer que o senhor é meu pai e fazê-lo engolir seus próprios dentes! — ele arregalou os olhos. — Está perdendo o juízo, a noção.— Não vou aceitar que me ameace dentro da minha própria casa. Exijo respeito!— Respeito não se exige, se conquista. E você perdeu o meu no momento em que ofendeu a mulher por quem eu me apaixonei. — acho que ele nunca pensou que eu diria algo assim, que estava apaixonado e justamente por uma qualquer no dito dele. Afinal, sua expressão não negava sua surpresa. — O senhor está idêntico a puta da sua mulher, porq
Alejandro AlbenizXimena não precisou me pedir duas vezes, apenas pedi para ela repetir, que era para ter certeza que eu ouvia certo. Sem pestanejar ou ter qualquer sombra de dúvidas, acatei com prazer seu pedido de ir morarmos juntos, a euforia tomou conta de mim, que até suportaria olhar para cara da minha família, desde que seja para eu pegar minhas coisas. Enfiei mais uma camiseta na mala e senti o zíper reclamar pelo volume de roupas contido ali dentro, mas não tinha tempo para pensar nisso. Analisei rapidamente ao redor, ódio correndo em minhas veias… Quarto enorme, closet cheirando a lavanda cara, tapete que afundava sob os pés de tão macio, e nada disso tinha gosto de lar. Hoje, menos ainda. Eu só queria meter tudo num saco de lixo, jogar no carro e sumir. Até que, antes que eu tivesse a chance de fazer qualquer outra coisa, atrás de mim surgiu Mercês. Seu salto fazendo clac‑clac no piso me dava nos nervos, parecia que cada passo dela criava eco nos meus ouvidos. Fosse a rai
Ximena Valverde Eram seis da manhã, por conta do inverno, ainda estava um pouco escuro. Acordei com o barulho do despertador, passei a mão por toda a extensão do colchão e Alejandro não estava mais ao meu lado na cama. Tinha um som de alguém fazendo esforço físico vindo do lado de fora e olhei pela janela. Alejandro fazia flexão batendo palma, lavado de suor, vestido com calça de moletom e sem camisa. — O que é isso? Seduzindo a vizinhança? — falei divertida, me aproximando de onde ele estava.— Bom dia… Amor! — me olhou e disse quase sem fôlego, mas continuou fazendo seu exercício.— Muito bom dia! Vou fazer nosso café. Alejandro ainda ficou um bom tempo lá fora se exercitando, deu tempo de fazer o café e me arrumar para o trabalho. Estava arrumando a mesa, quando ele saiu do banheiro de banho tomado, cheirando a sabonete, desodorante masculino e testosterona.— A louça é sua. — avisei.— Justo. Mas vou avisando que vou hoje mesmo comprar uma lava louça para essa casa. — Preguiço
Ximena Valverde No caminho para casa, vim reclamando com Alejandro. Aquele não era o momento de falar isso com meus pais. E o pior foi a reação do meu pai. Quando o senhor Pedro falava, falava e falava era sinal de que em algum momento tudo ia ficar bem. Entretanto, quando ele se calava, era porque ele ficou realmente chateado.Agora, sim, teríamos que ir à casa dos meus pais com mais calma e conversar com eles sobre como as coisas aconteceram. Porque mesmo sendo dona do meu nariz, não gostava de ver a decepção estampada no rosto do senhor Pedro.Alejandro entendeu que foi impulsivo, no entanto, ele estava mais interessado em saber como foi que me acidentei. Eu mesma estava muito confusa, porém, não iria ficar fomentando besteiras, nem eu sabia ao certo o que tinha acontecido. Não falei que achei ter visto o Iker e muito menos que parecia que o carro foi jogado em cima de mim de propósito. Em sua insistência em saber exatamente o que aconteceu, pois aparentemente não se convenceu da
Ximena ValverdeQuando minha mãe insistiu que eu fizesse meu casamento na Basília de San Juan Dios, eu achei um exagero fora do tom. Eu queria uma igreja simples e pequena, não essa exuberante, já na fachada decorada com obras de arte barroca e um monumental de entrada flanqueada por colunas salomônicas. Mas a verdade é que agora me sentia uma princesa, que iria encontrar seu príncipe, que a aguardava ansioso no altar.O motorista trajado como tal, abriu a porta e meu pai e eu descemos da limousine alugada. Meu vestido era o mais simples que consegui convencer a minha mãe a comprar, na verdade, mandamos fazer. Não queria anáguas, ficar parecendo um cupcake, mas da extensa grinalda não consegui fugir. Enquanto puxava metros de pano de dentro do veículo, vi meu irmão e minha mãe descerem as escadas à frente da basílica, eles chamaram meu pai em um canto e cochicharam algo não audível para mim.Já com a grinalda enrolada no braço, me aproximei, querendo saber o que eles falavam. — Volta
ALGUNS DIAS ANTES Alejandro Albeniz Assumir a empresa aérea foi algo que sempre almejei. As exigências do meu pai é que tardaram minha volta à Espanha, mais precisamente à Granada. O senhor Albeniz, como quase todas as pessoas desse país, tinha valores arcaicos, acreditavam fielmente que um homem de sucesso e sério tinha que ter consigo, bem ao seu lado, uma “primeira dama”. Apesar de amar o lugar onde nasci, eu estudei na América e passei boa parte da minha vida por lá, me preparando para assumir o Império Albeniz. Não que aqui eu não conseguiria o preparo necessário para administrar Granafly, o problema é que não queria apenas entender da burocracia, fui atrás das especializações e evolução necessária do nosso produto e serviço, por isso fiz todos os cursos que achei necessário, na Boeing. Na reta final da minha preparação, vim para a Europa, mas não para a Espanha, meu destino foi a França e lá também me dediquei às especializações oferecidas pela poderosa Airbus. E foi na Fr
Ximena Valverde Minha mãe e suas ideias, por mim eu preferia ir em lojas de alugueis de roupa, encontrar o vestido do meu gosto. Ela e suas crenças de que a roupa que eu alugasse poderia ter estigmas ruins de outras pessoas e meu casamento desandar. O bom de fazer com uma costureira, é que tudo saiu como eu queria, até os tecidos pude escolher. Estava na última prova, ao me olhar no espelho, me vi linda. Meu casamento seria um sonho. Daqui a dois dias seria a mulher mais feliz do mundo, ia casar com o homem da minha vida.— Filha, tá parecendo uma princesa! — minha mãe falou com lágrimas nos olhos.— Mãe, para de chorar e pega um pouquinho desse café pra mim. — apontei para a garrafa em cima do bufê na sala de costura.Sem demora, minha mãe pegou o copinho descartável e pôs a dose do líquido fumegante para mim.A costureira, que voltava de outro cômodo, tentou prevenir um acidente, mas o efeito foi o contrário.— Não faça isso, não dê café a ela usando o vestido branco! — Ela gritou.
Alejandro Albeniz O que estava se passando comigo? Acabei de praticamente jogar praga no casamento da mulher mais linda que eu já vi na minha vida. A sorte é que ela não me levou a sério, eu mesmo não estava me entendendo. Fiquei entorpecido pela eletricidade passando por todo o meu corpo, fazendo o meu coração disparar. Ele batia tão rápido, que parecia que daria um salto do meu peito. Sempre quando ficava louco por uma mulher, era uma outra parte do meu corpo que latejava, nunca o peito. Quando a vi seguir com a mãe, tive vontade de ir atrás dela, de falar novamente para ela não se casar. Como se ela devesse se casar comigo, como tivesse sido feita para mim. Eu com certeza não estava bem e olha que pelo café da manhã foi apenas um suco de laranja, não foi um hi-fi. Pensando no estresse desnecessário que o senhor Albeniz tentou me causar essa manhã, seria até aceitável eu batizar o suco, mas não fiz. Meu corpo estava sóbrio, mas minha mente ficou inebriada de um sentimento