Todo mundo conhecia Gustavo. Mas, naquele momento, não era hora de trocas de gentileza.Com exceção de Viviane, ninguém sequer se deu ao trabalho de cumprimentá-lo.— Guto…Viviane estendeu a mão, a voz doce e manhosa, quase implorando por uma reação.Gustavo franziu a testa na mesma hora. Um brilho de repulsa atravessou seus olhos antes que ele desse um passo para trás, evitando o toque.O rosto de Viviane congelou.— Srta. Viviane, por favor, mantenha o respeito.A frase, dita com frieza cirúrgica, pegou todos de surpresa, inclusive Juliana.Todos sabiam que existia algo entre eles, mesmo que nunca tivesse sido falado abertamente. E como Gustavo sempre teve status, ninguém ousava comentar.Ele costumava chamá-la de Vivi, num tom suave, quase íntimo.Mas agora… Srta. Viviane?Na hora, todo mundo pensou a mesma coisa: “brigaram feio”.Viviane olhava para ele como se não reconhecesse mais a pessoa diante de si.— Guto...Pouco antes, ela tinha mandado uma mensagem, chamando-o para vir r
Juliana lançou um olhar sarcástico e malicioso na direção de Viviane, exatamente aquele olhar que aprendera com ela mesma.Maia fez o mesmo.Por um instante, o rosto de Viviane oscilava entre o vermelho e o pálido, tomada por uma vergonha tão profunda que tudo o que queria era desaparecer da face da Terra.Jamais poderia imaginar que algo tão íntimo tivesse chegado aos ouvidos de Gustavo!Juliana!Só podia ter sido ela.Viviane tinha certeza disso: Juliana estava morrendo de inveja por ela ter ocupado o lugar que antes era seu na família Rodrigues. Era inveja, pura e simples. Juliana não suportava vê-la bem, livre, no auge da vida.Os olhos de Viviane pareciam faiscar de raiva.Sentia-se tonta, o corpo inteiro tremia de ódio.— Guto, não acredita na Juliana! Não foi assim… Deixa eu te explicar… — Disse ela, tentando manter a calma, desesperada por uma chance de se justificar.Mas o rosto de Gustavo permanecia impassível, frio como mármore. Seu olhar, gélido, cortava Viviane como lâmina
— Guto… Me desculpa… Se eu fiz alguma coisa errada… Eu peço perdão… Mas, por favor, não faz isso comigo… As lágrimas de Viviane escorriam com ainda mais força.Desde que reinventara sua imagem, ela investia pesado no visual de mulher fatal, exuberante, sedutora, poderosa.Mas agora, depois de levar um tapa e ter chá jogado na cara, chorar daquele jeito… Só a fazia parecer patética.Um traço de desprezo passou rapidamente pelos olhos de Gustavo.— Srta. Viviane… Com tanta gente aqui… Tem certeza de que quer mesmo que eu conte tudo o que você andou aprontando? A voz dele, grave como uma montanha, caiu sobre ela com o peso de uma avalanche.Viviane havia mandado uma mensagem pedindo apoio.Mas ele apareceu foi para acabar com tudo.Desesperada, ela começou a tremer, chorando ainda mais, até sair correndo dali, feito uma criança assustada.Com a protagonista fora do palco, todos os olhares se voltaram naturalmente para Larissa.Durante toda a confusão, Larissa tomou uma decisão.Ela enxu
— Sua pirralha insolente! Aqui é meu território, entendeu?!— Família Mendes? Grande coisa! Vai correr pra choramingar pra eles? Quero ver se você chega lá inteira! NÃO FOGE!A gritaria caótica vinha do outro lado da linha.Juliana lançou um olhar rápido para o visor do celular, e franziu a testa na hora.— Helena?Ninguém respondeu.O que se ouvia era só o som confuso de vozes e passos apressados ao fundo.Ela não desligou. Em vez disso, deu meia-volta e saiu em disparada, à procura de Bruno.Sua chegada foi tão repentina que o pegou de surpresa.Ele estava com o celular na mão, prestes a mandar uma mensagem para ela.Nem chegou a apertar “enviar”, Juliana já estava ali, na frente dele.Naquele momento, Bruno era o único no quarto.— Amor… — Ele disse, surpreso.Mas Juliana cortou sem cerimônia, a voz carregada de urgência:— Sr. Bruno, você tem o contato do Sr. Fábio?Se ela estava certa, Fábio era especialista em invasões digitais, um verdadeiro gênio da computação.E agora, era dis
— Liga pra polícia. Agora. — Disse Juliana, firme, ignorando a pergunta de Fábio.— O Bruno já ligou. — Respondeu ele rapidamente. — E ainda chamou reforços por conta própria.Tomara que Helena aguentasse até a ajuda chegar.Mas… Por que justo aquele lugar?Fábio conhecia bem aquela fábrica.Foi lá que, anos atrás, seu irmão mais velho teve o pior destino possível.Naquele dia, ele foi atacado com uma barra de ferro.Perfuraram o peito dele.Mesmo sendo levado ao hospital às pressas… Não resistiu.Aquele foi o dia em que o céu desabou sobre a família Gomes.Enquanto o irmão estava vivo, Fábio podia levar a vida do jeito que quisesse. Sem pressa, sem pressão.Mas, com a morte dele, tudo mudou. Os pais envelheceram da noite pro dia.A família precisava de alguém para assumir o comando.E esse alguém… Só podia ser ele.Fábio abandonou os próprios sonhos e mergulhou de cabeça nos negócios da família.Helena estava naquele galpão.O que exatamente estava acontecendo, ninguém sabia ao certo
Fábio levantou as mãos, com a expressão mais inocente possível, e sussurrou com os lábios:— Não fui eu.Ele nem tinha se mexido.— Quem... Quem tá aí?! — Gritou uma voz hostil, cheia de ameaça. — Sua pirralha! Quero ver até quando vai conseguir se esconder! Aqui, pode gritar à vontade que ninguém vai vir te salvar!Juliana afastou lentamente os olhos da fresta, o coração batendo forte.Apertou com mais força a barra de ferro em sua mão.Fábio fez o mesmo.Ambos prenderam a respiração.Os feixes das lanternas começaram a varrer a direção onde estavam escondidos.As sombras projetadas no chão vinham se aproximando.Fábio respirou fundo. A palma da mão já estava úmida de suor.No momento em que pensava em atacar, o grito de um dos capangas ecoou pelo galpão:— Chefe! Achei ela! Tá escondida aqui dentro!O som de um baque metálico estrondou no ar, fazendo o couro cabeludo arrepiar.Helena estava encolhida dentro de um tubo de aço enorme.As pernas dobradas, o corpo inteiro comprimido, ten
Com o ronco do motor, a paisagem do lado de fora parecia correr em alta velocidade, como se o tempo quisesse escapar pelas janelas.Fábio virou ligeiramente o rosto em direção à janela. Seu semblante estava visivelmente perturbado.Juliana conectou o celular no carregador e perguntou:— E sobre a Helena... Você sabe de alguma coisa?Desde o momento em que entrou na fábrica, Juliana percebeu de cara que havia algo estranho com Fábio.Os dedos dele se fecharam devagar, os nós brancos pela tensão.Ele forçou um sorriso, tentando parecer despreocupado.— Na verdade, não é nada demais. É que... Meu irmão. Ele foi assassinado aqui.A imagem de João sendo esfaqueado por um criminoso era um pesadelo que ainda assombrava Fábio.Durante aquele ano, ele só conseguiu seguir em frente à base de remédios.Quando o sono não vinha, recorria a comprimidos, melatonina...Levou tempo até começar a melhorar um pouco.Juliana apenas disse um “sinto muito”, sem insistir no assunto.Quando a gente toca, sem
Bianca e Helena eram o que se chamava de amigas de plástico.Desde a última vez que se viram no hospital, algo entre elas havia mudado de forma sutil, mas definitiva.Mesmo estudando na mesma turma, as duas passaram a se evitar num acordo silencioso, quase involuntário.A verdade é que Bianca não queria perder Helena como amiga.Dentro do círculo social em que viviam, só Helena era alguém com quem ela conseguia se abrir de verdade. E, o mais importante: Helena gostava de garotas!Com orientações sexuais diferentes, nunca correriam o risco de se apaixonar pelo mesmo cara e isso era um alívio.Foi por isso que, ao saber que Helena tinha se machucado e estava internada, Bianca nem passou pela escola no dia seguinte. Foi direto ao hospital.Levava uma cesta de frutas e alguns presentes nas mãos. No começo, o clima estava até agradável, mas uma frase dita sem maldade acabou virando o estopim.Helena explodiu.Bianca encarou os cacos de vidro espalhados aos seus pés, o rosto rígido.Como fil