Assim que a figura luminosa desapareceu, uma nova sensação invadiu o grupo. O ar ao redor deles parecia vibrar, como se o próprio tempo estivesse os envolvendo. Celina olhou para Elias, que analisava o ambiente com olhos atentos.— Estamos fora do fluxo normal do tempo — disse ele, com um tom de fascínio. — Este lugar não é apenas um espaço entre universos. É um elo direto com o início de tudo.Lira, sempre impaciente, se aproximou do centro do terreno cristalizado.— Se isso é verdade, onde está o próximo passo? O Véu nos trouxe aqui por uma razão.Antes que alguém pudesse responder, uma voz grave ecoou pelo ambiente, como o som de mil relógios batendo ao mesmo tempo.— Vocês foram longe demais.Todos se viraram para a origem da voz. Uma figura alta e imponente surgiu do brilho estelar, envolta em um manto que parecia feito de fragmentos de galáxias. Seus olhos brilhavam como estrelas antigas, e uma coroa de luz pairava sobre sua cabeça.— Quem é você? — perguntou Celina, com a voz f
O portal diante dos guardiões brilhava com uma intensidade jamais vista. A energia pulsante parecia atravessar seus corpos, como se cada batida fosse um lembrete do compromisso que haviam assumido.Elias foi o primeiro a falar, seus olhos fixos na entrada luminosa.— Este não é um portal comum. Ele está nos chamando... mas também nos testando.Celina, ainda com o peso da experiência no portal anterior, assentiu.— O Guardião disse que o Véu exige equilíbrio. Talvez esse portal seja a última barreira antes de entendermos o que isso realmente significa.Sem mais hesitação, o grupo atravessou juntos, seus passos sincronizados. Assim que entraram, o mundo ao redor mudou completamente. Estavam em um vasto campo, onde o céu parecia ser um oceano invertido, repleto de estrelas que se moviam como ondas.No centro daquele campo, uma árvore gigantesca se erguia, suas raízes brilhando com luzes douradas e azuis que pareciam pulsar como o coração de um ser vivo.— Essa é a Árvore do Véu — murmuro
O silêncio que se seguiu à revelação da Árvore do Véu era denso e carregado de peso. O campo, antes iluminado pelas estrelas que dançavam no céu invertido, parecia agora um espaço suspenso entre o tempo e o vazio. Cada um dos guardiões sentia o fardo da decisão, e suas palavras, antes confiantes, agora se tornavam fragmentos de dúvidas.Celina foi a primeira a quebrar o silêncio, seus olhos fixos na esfera luminosa no centro da Árvore.— Não é justo. Não deveríamos ter que escolher entre salvar o Véu ou sacrificar uma parte de nós mesmos. Não deveria haver essa necessidade de renúncia.Kael olhou para ela, seu rosto marcado pela tensão, mas com uma expressão de compreensão.— Talvez o que o Véu nos ensina é que todo equilíbrio exige uma troca. Como no mundo que conhecemos, onde tudo se mantém na harmonia pela constante dança entre o dar e o receber. Não podemos esperar que a luz se mantenha sem a sombra.Lira estava ao lado de Kael, tocando levemente a raiz que se estendia para ela, c
O amanhecer trouxe consigo uma nova alvorada, mais suave e cheia de promessas do que todas as que haviam precedido. O campo onde antes havia repousado a Árvore do Véu agora estava vazio, mas seu espírito permanecia impregnado na brisa que percorria a terra. A energia que emanava do local ainda estava viva, vibrando com uma força renovada, como se a própria terra estivesse respirando, renovada pela escolha feita.Kael, Lira e Elias estavam em silêncio, mas não havia tristeza em seus corações. O sacrifício de Celina havia transformado a paisagem e, com ela, o destino de todos. Eles sabiam que a luz de Celina continuaria a brilhar, não como uma chama efêmera, mas como uma estrela em um novo céu, eternamente conectada ao Véu.Lira, com o olhar distante, foi a primeira a falar.— Eu a sinto... Não fisicamente, mas na brisa, no movimento das folhas. Ela se tornou parte de tudo. O Véu não a perdeu, apenas a incorporou, como ele sempre faz com todos que se entregam ao seu propósito.Kael asse
Os ventos continuaram a soprar com mais intensidade, mas agora, em vez de trazerem o peso de uma tragédia, como nas jornadas passadas, eles pareciam carregar algo mais. Algo novo. Algo que não podia ser entendido completamente, mas que estava prestes a ser revelado. O Véu, agora restaurado, ressoava em um ritmo mais suave, mas a sua energia era palpável, como uma pulsação em todo o cosmos. A paz, embora presente, ainda estava sendo forjada, como uma obra que precisava de tempo para ser apreciada.Kael, Lira e Elias haviam seguido até um lugar onde o Véu se tornava visível, uma luz dourada que envolvia tudo ao seu redor. Era como se a própria essência da criação estivesse ao seu redor, e cada movimento deles alterasse o tecido do que os cercava. Ali, onde o Véu se tornava tangível, uma presença aguardava. Mas não era uma presença familiar.Quando chegaram, encontraram uma figura de costas, envolta em um manto escuro, quase como uma sombra que não se integrava à luz ao seu redor. O ar p
O desafio havia sido lançado. O Véu, agora mais do que nunca, tornara-se um reflexo profundo do que havia dentro de cada um deles. O Guardião das Sombras, com sua presença enigmática, os havia empurrado para um caminho que não era mais apenas sobre o equilíbrio entre mundos, mas sobre o equilíbrio interior. A verdadeira batalha que enfrentariam não seria contra forças externas, mas contra suas próprias sombras.Kael sentiu a pressão em seu peito. As sombras que surgiam diante dele não eram mais aquelas que ele via no exterior, mas aquelas que ele sempre tentara esconder de si mesmo. Medos antigos, falhas que ele não aceitava, e inseguranças que o acompanhavam desde sua infância começaram a se materializar diante de seus olhos. Ele viu a si mesmo falhando onde mais desejava triunfar. Sentiu o peso de suas decisões erradas, e por um momento, pensou que não seria capaz de seguir em frente.Lira, por outro lado, estava sendo confrontada com o oposto. As sombras dentro dela não eram falhas
Era uma noite sem lua quando Daniel observava o céu. A vastidão negra parecia um manto infinito, salpicado com minúsculas estrelas, como cicatrizes luminosas no tecido do universo. Ele sempre se perguntava o que existia além do que os olhos podiam ver, além da luz das estrelas que já estavam mortas, mas continuavam a brilhar.Daniel, um jovem astrofísico em ascensão, dedicara sua vida a estudar os mistérios do cosmos. Seu fascínio por buracos negros começou cedo, uma curiosidade alimentada por teorias e especulações. Para muitos, os buracos negros eram ameaças silenciosas no universo; para ele, eram portais para algo maior.Naquela noite, algo mudou.Em meio às observações rotineiras, seus monitores começaram a registrar flutuações que desafiavam qualquer explicação conhecida. Um sinal incomum, vindo de um ponto distante, onde apenas um buraco negro colossal reinava. O nome da região era SG-103, um dos buracos negros mais antigos já descobertos, um verdadeiro monstro cósmico.— O que
As luzes do laboratório piscavam intermitentemente, refletindo o estado caótico da mente de Daniel. Ele mal havia dormido nas últimas quarenta e oito horas, obcecado pela ideia de que o buraco negro SG- cento e três estava escondendo algo que os cálculos e modelos não conseguiam prever. Era como se todo o seu treinamento científico fosse insuficiente para lidar com o que estava diante dele.O buraco negro, que antes era uma ameaça distante e misteriosa, agora parecia um convite tentador. As flutuações eletromagnéticas, os sinais enigmáticos que ele captara, ainda ressoavam em sua cabeça. Mas, estranhamente, não havia pânico em seu coração. Havia uma curiosidade insaciável, quase como se aquilo estivesse destinado a acontecer.Naquela manhã, ele se sentou com Clara, sua parceira de pesquisa e a única pessoa que parecia compartilhar, ao menos em parte, de seu entusiasmo. Clara, uma jovem cosmóloga com uma mente afiada, estava mais cautelosa. Enquanto Daniel via as evidências como um cam