Quando ela falou “polícia” minhas pernas amoleceram, meu coração quase saiu pela boca, todo mundo na sala se levantou assustado, a Lurdes saiu chorando pra varanda, amparada pela Jéssica, esposa do Zec, que fez questão de estarem presentes e nos ajudarem na procura pela Bia, quando a Luciana disse “polícia” eu já esperei logo pelo pior, caminhei lentamente até o telefone acompanhado pelos olhares de todos.
– Alô?
– Alô, senhor Leonardo Martins Brasil?
– Isso mesmo.
– Gostaríamos que o senhor comparecesse aqui no Décimo Terceiro Distrito policial, encontramos seu automóvel.
– Meu automóvel? Meu carro?
– Sim senhor.
– Eu não quero saber do meu carro, quero saber da minha esposa.
– Por gentileza senhor, queira comparecer na delegacia o mais depressa possível.
– Eu não quero saber de carro nenhum, quero saber é da minha esposa drog
Puxei outra cadeira e me sentei à frente dela, ela continuou me olhando em silêncio, ficamos assim por uns cinco minutos, olho no olho, sem piscar, sem dizer uma só palavra, eu precisava ver com meus próprios olhos que ela pagaria pelo seu crime. – Por quê? – perguntei quase sussurrando, sendo o primeiro a quebrar o silêncio, mas ela nada me respondeu – Não quer falar comigo? Ela continuou muda, olhando pro chão. – Eu não poderia jamais permitir que você continuasse solta depois de tudo o que fez, e mesmo depois de ter presenciado tudo o que aconteceu entre mim e a Daniela não me entra na cabeça a ideia de que eu possa ser culpado, por favor Klísia, eu amava aquela garota. Mas impressionantemente ela continuava muda então eu falei, falei tudo o que eu quis, desde que a vi pela primeira vez, do nojo que eu sentia pela aspereza dela, por se achar demais, que a própria Daniela quando realmente abriu os olhos também
Eu e a Isa decidimos passar um tempo em Lençóis, não foi preciso nem mesmo pedir permissão a minha mãe, bastou um telefonema pra deixa-la radiante de felicidade, levamos cerca de umas duas semanas, pra arrumarmos todas as nossas coisas e transferi os moveis da casa pro apartamento, aluguei a casa e reservei o apartamento pra quando eu fosse a Valparaíso visitar meu filho, o que eu planejava que fosse todo fim de semana. Nosso sonho chamado Mensageiros, as apresentações, os passeios, os amigos, tudo tinha igualmente se acabado pra dor e tristeza de todos, ninguém mais tinha ânimo pra pensar em qualquer coisa do tipo sem a Bianca. Eu ainda sofria muito a falta dela, e só consegui me conformar mais quando, atendendo aos conselhos da Anabelle, decidi “voltar a viver” A Anabelle tornou-se mais do que minha irmã, era agora minha psicóloga particular, minha conselheira; porém minha confidente, aquela que eu contava meus segredos, acr
Um dos alunos daquela turma desistiu das aulas, precisamente o Júlio, o garoto tímido, simplesmente abandonou as aulas, era normal que isso acontecesse mas agora ficamos só eu, a Fernanda a o Gustavo, o garoto gordinho e falante. Só que esse mesmo garotinho também desistiu das aulas e eu só fiquei sabendo disso num dia em que cheguei na sala e a Fernanda estava sozinha: – Onde está o Gustavo, faltou hoje? – Ele ligou pra minha casa e disse que enjoou de violino, não quer mais saber de música. – Poxa que pena, ele era bem inteligente. Então só sobrou você? – É o que parece, né? – Certo, então veja bem, vamos ter que mudar seu horário. – Mas por que? – Por que nós não podemos ministrar aulas individuais ao preço de aulas coletivas. – É mais caro? – Um pouquinho. – Poxa, mas eu fiquei contente por
Era noite quando encostei o carro na calçada de casa, não consegui descer imediatamente, novamente luzes acesas, depois de um toque na buzina do carro e um rosto claro de cabelos curtos apontando na porta e sumindo logo em seguida, fechei os olhos e me pus a pensar, por que eu me ligava tanto àquela garotinha? Seria simpatia pelo seu sofrimento? Dizem que os opostos se atraem e os iguais se repelem, mas eu e ela éramos absolutamente iguais, ambos tínhamos perdido um ente querido quase nas mesas circunstâncias, a música nos unia, as circunstâncias nos unia e o brilho de seus olhos infantis que me remetia a treze anos atrás, de volta aos tempos em que um único ser vivente me arrebatava a alma, foi duro demais superar essa fase, precisei viver três anos ali mesmo em Lençóis Paulista tentando superar as desgraças de minha vida, quando achei que era hora de viver sai da cidade voltando pra capital quando encontrei em Valparaíso uma garota branca de sorriso infa
Minha próxima aula com a Fernanda foi no dia seguinte à tarde, quando ela entrou na sala eu já estava a sua espera, com algumas músicas novas sobre a mesa, cumprimentei-a com um sorriso alegre por rever a aluna que eu mais gostava, mas pra minha decepção ela foi o mais fria que eu já pude imaginar: – Boa tarde professor – entrou de cabeça baixa, sentou-se em uma cadeira próxima, colocou sua bolsa ao lado, abriu o case do instrumento, tomou o arco e pôs-se a passar breu em silêncio sem falar absolutamente nada. Aquela não era a Fernanda que eu conhecia, a “minha” amiga Fernanda só tinha duas faces, uma alegre e extrovertida, que já entrava na sala cantando e falando pelos cotovelos e a outra triste e melancólica, as vezes irada, as vezes chorosa, mas sempre pelo mesmo motivo, seu avô. Essa outra Fernanda eu não conhecia, calada, séria, sem dizer absolutamente nada, aproximou uma estante, colocou algumas partituras em cima, posicionou a espalera n
Ela me olhou assustada antes de perguntar: – Como assim? Conhece de onde? Eu não podia crer que o que estava pra acontecer fosse verdade, até onde eu sabia, a Daniela estava morta, eu sabia até onde era o túmulo dela em São Marco Del Rey, eu não conseguia por meus pés naquela cidade, muito menos rever o túmulo da Danny, pra mim isso era um castigo e uma dor sem fim, quando decidi esquecer tudo e mudar de vida, isso fazia parte, mesmo contra a vontade de uma parte de mim. Só havia um jeito de descobrir o que estava acontecendo: – Precisamos ir na sua casa agora, minha querida. – Mas acho que minha mãe ainda não chegou, professor. – Não importa, me leva no trabalho dela. – Só se o senhor me contar o que tá acontecendo professor Martins, caso contrário eu não saio daqui e o senhor vai ter de descobrir tudo sozinho. –Seu pai se chamava Leonardo Bras
Quando abriu os olhos não estava em sua casa, aquela não era sua cama e nem era por sua janela aberta que entrava o belo sol poente, tingindo o céu azul de vermelho. Ali tudo era branco, as paredes, a cama alta de aço, o colchão, o lençol. Ficou claro que estava no quarto de um hospital, mas o que fazia ali? O que tinha acontecido? Não havia ninguém em volta, embora a janela estivesse escancarada, não dava pra ver ninguém através da vidraça, a porta encostada, a mobília do quarto resumia-se a sua cama, um poltrona no canto do quarto com uma pequena mesa ao lado, outra mesa pequena com uma gaveta ao lado de sua cama, mais nada, tentou sentar-se para olhar pela janela, mas havia algo de errado com seu corpo, doía muito, parecia ter sido esmagado por uma rocha de cem toneladas. Fechou os olhos franzindo o sobrecenho tentou se lembrar de algo, de sua vida, de quem lhe era precioso e aos pouco as lembranças retornaram, a igreja, a despedida, sorrisos
Os dias passaram voando, dia após dia se recuperava, sempre médicos e enfermeiros vinham vê-la todos os dias, nessa hora era bom ter dinheiro, mesmo que não fosse seu, não teria todo esse conforto se fosse num hospital público, mas se pudesse trocar todo esse luxo pra ter seu marido outra vez, mesmo que fosse por poucos minutos... sacudiu a cabeça para os lados tentando espantar esse pensamento, não podia mais viver presa ao passado. Fielmente sua mãe se postava ao seu lado todas as noites, as vezes vinha sua irmã, as vezes algum vizinho, mas nunca estava sozinha e também nunca mais abriu sua boca para falar com ninguém, simplesmente nada, nenhuma palavra, e o mais estranho de tudo é que não vinha ninguém da igreja, ninguém mesmo, absolutamente ninguém, chegou mesmo a pensar que tudo não havia passado de uma conspiração contra eles, uma conspiração na qual o cabeça era seu próprio pai, disso não tinha dúvidas, acusava-o apenas por raiva, mas não tinha prova algu