O cheiro metálico de sangue impregnava o interior do carro enquanto Marco dirigia em alta velocidade pelas ruas escuras da cidade. Meu coração ainda martelava no peito, o eco dos tiros ainda pulsando nos meus ouvidos. Eu olhava para Leonardo ao meu lado, pálido, sujo de sangue, a respiração irregular.— Aguente firme, Leo — murmurei, pressionando um pano improvisado contra o ferimento em seu abdômen.Ele abriu os olhos por um momento, fracos e enevoados, um meio sorriso brincando em seus lábios rachados.— Você... nunca me escuta, não é?Uma risada trêmula escapou da minha garganta.— Nunca.Lorenzo, sentado à frente, virou-se para olhar para nós, sua expressão uma mistura de frustração e preocupação.— Ele está perdendo muito sangue. Não temos tempo de levá-lo ao hospital.— Então para onde vamos? — perguntei, minha voz falhando com o desespero crescente.— Eu conheço alguém. Um médico que não faz perguntas.Assenti, sem questionar. Confiava em Lorenzo, pelo menos nisso.O carro derr
O silêncio dentro da casa era denso, quebrado apenas pela respiração ritmada de Leonardo. Ele ainda estava desacordado, o peito subindo e descendo lentamente sob os cobertores que o cobriam. Eu observava cada movimento seu, cada mínima contração em sua expressão, procurando por qualquer sinal de que ele estava melhorando.O alívio de saber que ele estava vivo ainda pesava sobre mim, mas não conseguia me livrar do medo. Leonardo não era apenas um homem comum. Ele era um líder, um alvo constante. Sobreviver a um ataque significava apenas uma coisa: outro logo viria.Lorenzo entrou no quarto em silêncio, carregando duas xícaras de café fumegante. Ele estendeu uma para mim e eu aceitei sem dizer nada.— Você precisa descansar — disse ele, puxando uma cadeira e se sentando ao meu lado.Soltei uma risada curta e sem humor.— Acho que não consigo.Ele me estudou por um momento antes de suspirar.— Sei que está assustada.Balancei a cabeça, apertando a xícara entre os dedos frios.— Não estou
A mansão estava mais silenciosa do que o normal naquela noite. Um silêncio carregado de tensão, como a calma antes de uma tempestade. Sentada em um dos sofás da sala principal, eu observava Leonardo enquanto ele terminava de dar ordens a Lorenzo e Marco.Eles estavam planejando cada detalhe do contra-ataque, estudando os movimentos de Salvatore, tentando antecipar o próximo golpe. Mas, por mais que falassem de estratégias e vantagens, eu sabia a verdade: essa guerra não terminaria sem sangue.E eu já estava envolvida demais para sair.Leonardo desligou o telefone e passou a mão pelos cabelos, visivelmente tenso. Seu olhar encontrou o meu e, por um breve momento, ele pareceu hesitar antes de caminhar até mim.— Você está preocupada — disse ele, sentando-se ao meu lado.Cruzei os braços, encarando-o.— Você não?Ele soltou um suspiro pesado.— Claro que estou. Mas não tenho escolha.— Sempre há uma escolha, Leonardo.Ele soltou um riso curto, sem humor.— Não no meu mundo.Engoli em sec
O som dos tiros ainda ecoava nos meus ouvidos. O galpão estava um caos absoluto—estilhaços voavam, gritos preenchiam o espaço, e a fumaça dos disparos criava uma névoa densa ao redor. Eu sentia meu coração batendo tão forte que parecia que ia explodir.Leonardo me puxava com firmeza para trás de uma das caixas metálicas que serviam de cobertura. Seu olhar estava afiado, focado, determinado.— Fique abaixada! — ele ordenou, recarregando a arma rapidamente.— E você? — retruquei, a adrenalina pulsando dentro de mim.— Eu não posso parar.E ele não parou.Lorenzo e Marco estavam próximos, disparando contra os homens de Hector, que tinham a vantagem numérica. Mas a vantagem era só essa. Leonardo e seus homens eram mais rápidos, mais precisos, mais brutais.Eu me encolhi quando um dos capangas de Hector caiu a poucos metros de mim, sua arma deslizando pelo chão. O instinto me dizia para correr, mas minha razão gritava que eu precisava ficar.Leonardo se movimentou rápido, atirando e se esq
Se você me perguntasse como eu imaginava que minha vida mudaria, eu diria algo clichê, como ganhar na loteria ou talvez encontrar o amor da minha vida em um café charmant enquanto eu derrubo café na camisa dele. Nunca, nem nos meus sonhos mais loucos, eu pensei que tudo mudaria porque eu fui burra o suficiente para cortar caminho por um beco escuro no fim do meu expediente.Meu nome é Beatriz. Tenho 25 anos e, para ser honesta, até hoje minha maior conquista foi não queimar meu apartamento fazendo macarrão instantâneo. Eu sou o que minha mãe chama de "um espírito livre" – o que, traduzindo, significa que eu sou uma desastrada que ainda não encontrou um rumo na vida. Trabalho em um café pequeno, o tipo de lugar onde as pessoas vão para reclamar do mundo enquanto bebem um café aguado. Não é glamour, mas paga as contas – ou quase.Naquela noite, tudo parecia normal. O expediente tinha sido cheio de clientes irritantes que insistem em pedir capuccino sem espuma ou reclamar da temperatura
Quando o carro parou em frente a uma casa que parecia ter saído diretamente de um filme de máfia, minha mente ainda estava a mil. A mansão era imensa, com colunas imponentes e luzes quentes iluminando a fachada, mas não havia como ignorar os seguranças estrategicamente posicionados. Eles estavam às claras, como se quisessem lembrar a todos que aquele lugar não era para ser invadido. Cada detalhe exalava poder, mas também perigo.Leonardo – sim, foi assim que descobri o nome dele – desceu do carro com uma calma que fazia meu estômago revirar. Ele não era apenas um homem de terno; ele era uma força da natureza, e parecia saber exatamente o impacto que causava em qualquer ambiente. Enquanto eu lutava para não tropeçar ao descer do carro, ele me lançou um olhar curioso, quase divertido, como se estivesse esperando algo de mim.— Bem-vinda à minha casa, Beatriz — ele disse, com um leve sorriso nos lábios. — Espero que você se sinta… segura aqui.Segura? Não havia nada naquele cenário que g
Não sei dizer exatamente em que momento as coisas começaram a mudar. Talvez tenha sido naquela noite em que Leonardo entrou no meu quarto e deixou suas intenções claras: ele não toleraria traições. Ou talvez tenha sido o simples fato de eu estar convivendo com ele diariamente, mesmo que a maioria das nossas interações fossem cercadas por um misto de mistério e intenções não ditas. O fato é que, aos poucos, eu percebia que minha vida nunca mais seria a mesma.Nos dias que se seguiram àquela conversa, minha "rotina" na mansão começou a se tornar, de certo modo, previsível. Acordava com o som suave de batidas na porta; um dos funcionários da casa trazia meu café da manhã, sempre impecável, em uma bandeja de prata. Passei a explorar o quarto em busca de algo que me fizesse sentir menos sufocada. Encontrei livros antigos em uma prateleira no canto, romances clássicos e alguns textos sobre filosofia. Era melhor do que ficar encarando as grades da janela.Leonardo, no entanto, continuava a s
Os dias passaram, e minha convivência com Leonardo tornou-se um jogo silencioso de provocações e mistérios. Eu sabia que ele estava tentando me estudar, me entender, como se eu fosse um quebra-cabeça que ele queria resolver. Mas a verdade era que eu também o observava. E quanto mais eu o fazia, mais percebia que, por trás da fachada de poder e controle, havia algo mais profundo, mais sombrio.Naquela noite, o silêncio da mansão foi quebrado por uma movimentação incomum. Eu estava deitada, olhando para o teto, quando ouvi passos apressados do lado de fora do quarto. Levantei-me imediatamente e fui até a porta, abrindo-a apenas o suficiente para ver o corredor. Três homens passaram por ali, armados, suas expressões tensas.Meu coração acelerou. Algo estava acontecendo.Antes que eu pudesse pensar no que fazer, Leonardo apareceu ao final do corredor. Diferente de sua postura habitual, ele parecia sério, determinado, como se estivesse prestes a entrar em uma batalha. Quando nossos olhares