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5. Zuke, a humana sobrevivente

— Está bem, me encarregarei de enviar suas parceiras e filhos para um lugar mais seguro. Mas vocês ficarão comigo e nos prepararemos para a batalha que dizem temer tanto — ao dizer isso, Casius observa com espanto que seu povo volta a se ajoelhar diante dele, demonstrando que fariam o que seu líder estava dizendo.

— Oh, obrigado, meu Alpha!... Faremos o que for necessário para protegê-lo e proteger nossa matilha — mencionou um dos homens que estavam atrás de Laurent. Estava claro que fariam qualquer coisa para proteger suas famílias.

Casius, assim como sua irmã, ainda não havia encontrado sua companheira de vida. No caso de Casius, ele esperava não encontrá-la; não desejava se enfraquecer por esse sentimento. Para Arabella, era o contrário; ela pensava que encontrar sua parceira só a fortaleceria mais. Desejava experimentar esse sentimento que não era apenas amor, mas um vínculo que toda loba ansiava ter.

Tanto Arabella quanto Casius eram rewops, e ninguém naquela matilha suspeitava da verdadeira identidade dos irmãos lobos. Ambos sabiam como ocultar suas verdadeiras naturezas. Seu poder, o fogo, mais do que uma bênção, era uma maldição, pois Casius aborrecia tudo relacionado a esses dons devido à sua incapacidade de controlá-los.

Normalmente, os rewops nasciam com dois poderes, manifestados em olhos de diferentes cores. No entanto, Casius tinha ambos os olhos do mesmo tom vermelho ardente que se acendia cada vez que se alterava. Ele precisava usar um limitador de poder, um brinco que lhe permitia se controlar, pelo menos enquanto pudesse aguentar, pois havia quebrado várias dezenas deles ao perder o controle ou se enfurecer. O que ele usava agora havia durado mais tempo do que os anteriores, um recorde para ele.

Seu poder havia impedido que ele crescesse como um lobo normal, com limitações extremas, treinamentos exaustivos e encarceramentos que moldaram seu caráter, tornando-o incapaz de sentir afeto por nada nem ninguém. Ele nem sequer considerava seus companheiros de grupo como amigos; para ele, eram simplesmente lobos que o serviam. No entanto, ninguém deveria pensar em tirá-los dele. Talvez por isso, apesar dos esforços de sua irmã para se aproximar, Casius era incapaz de mostrar apreço por ela.

Arabella media alguns centímetros a mais que Casius e também era mais branca que ele. Ela sempre se vestia como um homem, usando trajes e jeans ajustados com camisas. Se a vissem de costas, poderiam pensar que realmente se tratava de um homem. Mesmo em lugares mais informais, ela mantinha uma aura de seriedade e formalidade.

Seu cabelo negro era a única coisa que diferenciava desse aspecto, usando-o tão longo que chegava à metade de suas costas, sempre preso por um laço mais escuro que a cor da camisa que usava naquele dia. Por outro lado, Casius usava um traje negro com uma camisa azul. Raramente usava gravata, e quando o fazia, sempre era branca. Ele gostava de destacar o que não usava para que os outros notassem.

Casius sempre refletia seus poderes através de seus olhos, que eram vermelhos, como o fogo ou a lava. Ele controlava perfeitamente o poder do fogo; apenas precisava estalar os dedos para incendiar tudo ao seu redor. Em contraste, Arabella tinha um olho verde, tão claro quanto um prado verdejante na plena primavera, o que lhe permitia controlar a terra e as plantas. No outro olho, predominava o azul, concedendo-lhe o poder de dominar o vento. Diferente de Casius, ela era mais aberta e empática com os outros. Tratava a todos de maneira igual, fossem rewops, lobos comuns ou simples humanos. Sempre buscava garantir a harmonia e o bem-estar de seu povo, embora em algumas ocasiões parecesse quase impossível.

— ¡Darién!... Encárgate de assegurar as vidas das famílias de nossa matilha. Só espero que Arabella volte muito em breve. — bufou Casius com voz baixa, enquanto Darién permanecia ao seu lado. O jovem lobo sabia que a presença de Arabella era de suma importância na matilha, assim como a do Alpha.

A alguns quilômetros dali, vivia uma pequena aldeia cujos habitantes se dedicavam ao cultivo de ervas medicinais e vinhedos de uvas. Eram simples humanos, alguns dos poucos que conheciam a existência de homens-lobo naquelas terras compartilhadas. Enquanto realizavam suas tarefas matinais, foram atacados de maneira surpreendente por seres que se moviam incrivelmente rápido.

Ao perceber o desastre no vinhedo, alguns tentaram fugir desesperadamente. Gritos, choros e uma clara desesperação enchiam o ar enquanto tentavam se esconder, mas nada podia salvá-los daqueles seres estranhos sedentos de sangue.

A aldeia ficou devastada, e uma jovem mulher conseguiu sobreviver com uma ferida quase mortal, enfraquecendo-a ao ponto de acelerar seu coração. Enquanto fugia, caiu em um poço cheio de água. Com um arranhão que a fazia sangrar lentamente, tentou se esconder sob a água. Apesar do risco de se afogar, preferia morrer submersa a se tornar presa daqueles monstros.

Zuke esperou até onde pôde, e quando sentiu que não podia mais se conter, nadou até a superfície do poço. Respirou profundamente enquanto levava ar aos seus pulmões. De sua posição, não podia ouvir mais gritos; era evidente que todos haviam morrido, incluindo seus irmãos e pais que trabalhavam ali junto com muitos outros. Embora não gostasse de pedir ajuda aos lobos que viviam perto, eles eram os únicos que poderiam ajudá-la naquele momento.

Nadando em direção às paredes do poço, Zuke tentava escalar por elas. Lentamente e com muito esforço, conseguiu subir, agarrando-se às raízes e ao lodo. No entanto, quando pensou que conseguiria, caiu novamente na água. A saída parecia impossível, o que perturbava a jovem humana. Sabia que, se não conseguisse sair dali, corria o risco de morrer afogada ou por infecção, pois as águas do poço estavam contaminadas com resíduos do vinhedo.

Zuke era persistente e sempre se esforçava para alcançar seus objetivos. Não queria morrer em um poço cheio de resíduos, então tentou escalar as paredes novamente. Depois de resistir o máximo que pôde, finalmente saiu daquele lugar horrendo.

Mas o que viu a deixou ainda mais perplexa. Ver todos os seus amigos estendidos no chão, massacrados, doía mais do que sua própria ferida. Naquele momento, lembrou-se de seus pais e irmãos. Avançou com dificuldade, procurando-os entre o desastre. Crianças e mulheres sem vida jaziam diante dela, dando uma ideia do que tiveram que enfrentar. Era quase impossível encontrar sua família com vida, mas mesmo assim, a buscava. A mínima esperança de encontrá-los resistia a desaparecer, e Zuke não queria aceitar que poderia ter perdido toda a sua família.

Enquanto caminhava entre aqueles corpos, uma dor a atravessava lentamente, como um ferro quente. Ver cada um de seus amigos sem vida lhe provocava lágrimas que escorriam pelo seu rosto machucado, cheio de arranhões.

Um ruído a alertou, e rapidamente se escondeu. Felizmente, encontrou um bom esconderijo de onde pôde observar um daqueles monstros. Quanto mais se aproximava da fresta dos arbustos, mais perplexa ficava. O que presenciava era desagradável: o monstro desmembrava um cadáver, revirando-lhe o estômago. Fechou os olhos para tentar reprimir suas emoções, sentindo que lhe faltava o ar e com a respiração acelerada.

O monstro parou, desviou o rosto e olhou para o lugar onde Zuke estava. Ela levou as mãos à boca para evitar ser ouvida. Ao observar com atenção, percebeu que o corpo pertencia ao seu irmão. A desesperação e a impotência a assombravam, assim como aqueles seres que os atacaram sem contemplações. Um rosnado agudo ressoou, e os monstros correram em direção àquele som aterrador.

Depois de esperar o tempo suficiente em seu esconderijo, Zuke saiu e se aproximou do corpo de seu irmão. As lágrimas eram visíveis em seus olhos enquanto segurava as mãos de quem fora seu irmão, desabafando como qualquer humano faria. A dor a oprimia, parecia que era o fim para ela, embora ainda estivesse viva. A dor não lhe permitia ter pensamentos claros. O que deveria fazer agora? Uma pergunta que uma humana como ela deveria formular, mas no estado em que se encontrava, nada disso importava.

Zuke secou as lágrimas para levantar a vista e observar ao redor. Era uma verdadeira catástrofe. Não era seguro ficar ali, pois logo escureceria e ela não sabia se aqueles seres voltariam. A única opção era dirigir-se à aldeia mais próxima para buscar refúgio e alertar seus habitantes. Com sorte, a receberiam e ela poderia garantir sua vida.

No meio do nada, essa humana que, por uma espécie de sorte divina, conseguiu sobreviver aos ataques daqueles seres desalmados. A ferida que lhe fizeram estava avançando, e a dor era tão intensa que, de vez em quando, ela se via obrigada a parar de caminhar para descansar. Mesmo assim, persistia em seu caminho, sem saber por quanto tempo havia estado vagando por aqueles bosques. Lentamente, a escuridão da noite se abatia sobre as terras.

Um uivo captou sua atenção, e ela parou para dirigir seu rosto naquela direção. Estava certa de que era para lá que deveria ir. Caminhou naquela direção sem hesitar, mas um galho a atingiu na bochecha, deixando-lhe mais um arranhão. À medida que avançava, sua visão se tornava turva, evidência da febre que a estava afetando. Parecia que não conseguiria chegar à aldeia, ou era o que ela pensava.

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