No dia seguinte acordei com a cabeça pesando uma tonelada, sentia que se mexesse muito colocaria pra fora qualquer coisa que ainda estivesse em meu estômago. Mas já passava das dez horas, eu precisava me levantar. Me arrastei até o banheiro e tomei um banho, demorando de mais em baixo da água morna, que me deixou mais mole ainda. Antes que terminasse de me vestir senti uma vontade enorme de mandar enviar uma mensagem para Guilherme, quem sabe se ele já não estivesse mais calmo e pudesse vir aqui, aproveitaríamos o dia que estava começando. Podíamos almoçar juntos e conversar sobre a noite passada. Mas eu desisti rápido de mais da ideia, pois ele não tinha motivo para ficar todo irritado, deveria ter acreditado em mim. Então ele que me procurasse quando seus neurônios voltassem a funcionar normalmente. Meu corpo implorava para que eu apenas tomasse um analgésico e voltasse para a cama confortável. Mas eu precisava ir até a loja, então me limitei a apenas tomar um remédio e me arrum
Pra falar a verdade eu estava realmente cansada. Só de estar ali discutindo sobre o assunto com ele eu me sentia estúpida. Não devíamos nem estar aqui tentando entender, aquele episodio ridículo de ontem nem deveria ter acontecido. — Eu não sei o que me deu, quando vi já estávamos brigando. — ele tentou se explicar e eu respirei fundo. Eu não precisava passar por aquilo, porque me torturar desse jeito? Perguntei em pensamento e respondi internamente que era só para não me dar ao trabalho, de ter que colocar outra pessoa em minha vida. — Eu não sei mais o que pensar, esse é o problema, nós queremos uma coisa e fazemos outra, não vê? Isso está fora do nosso controle. Ele se aproximou me tentando com seu cheiro, meu corpo respondia aquilo, como uma flor a água. E eu queria me bater por aquilo, não deveria ceder tão fácil a ele. — Me desculpa. Eu não deveria ter pensado aquilo de você. — Guilherme disse me encarando com os olhos grandes, como o do gato de botas. — E eu não concordo
Quando cheguei em casa avistei Caio na sala, sentado no chão em frente a mesa de centro rodeado por vários papéis, pastas e o notebook de novo.— Você tem dois minutos para tirar tudo isso da mesa, antes que eu coloque fogo. — o repreendi atirando minha bolsa e sapatos em qualquer lugar no chão.Não podia acreditar que ele tinha passado o dia inteiro enfiado novamente nos livros.Eu sabia que a apresentação dele na reunião seria maravilhosa e ele conseguiria o trabalho logo de cara. Porque ele parecia ser o único a não dar crédito ao próprio potencial?— Opa, nem tente. Você sabe que preciso dar um jeito de estudar o máximo que eu puder. É uma oportunidade muito importante.— E você vai arrasar, como se você não estivesse se preparando pra essa vaga há anos, fora que eu já te dei o dia inteiro livre. — expliquei o ajudando a pegar um por um por dos papéis e guardá-los novamente. — Outra coisa, você me prometeu que seria meu até lá, então não me faça te odiar. — chantagem sempre funcio
— Ela tinha uns oito anos, a mãe dela ainda tem fotos do buraco enorme que ficou na cabeça dela e da Jenny. — e essa foi minha deixa para sair do transe. Respirei fundo, recuperando minhas forças e a postura.— Lindo ficar falando de duas pessoas quando elas não estão no lugar pra se defender. — resmunguei entrando e colocando a pizza na mesa.Encarei bem os dois homens a mesa, desconfiada, pois aqueles dois podiam acabar comigo até o fim da noite.Um contando meus segredos e o outro me afastando por completo.— Agora você está aqui. Se defenda e diga que você é Jenny não brincaram de salão e ela terminou com uma franja de um dedo e você com um buraco no meio do cabelo.Era verdade, ele tinha sorte de nossa mãe ter nos pego antes de continuar a brincadeira, ou teria sobrado para ele e para Cris também.— Agora você já o envenenou contra nós.— Jamais. — Guilherme disse sorrindo. — Estou adorando saber o quão virada no capeta você era.— Ei, em minha defesa todas as crianças já fizeram
Acordei no outro dia com o sol entrando no quarto e batendo bem no meu rosto, quando tentei me mexer percebi que meu braço estava preso por baixo de Guilherme. Em algum momento durante a noite ele tinha se virado e se aconchegado contra meu corpo.— Guilherme... — eu o chamei já sacudindo seu corpo adormecido.— Hmmm. — seu resmungo saiu, mas ele não se mexeu um centímetro. — Guilherme, meu braço. Acorda! — falei mais alto e o empurrei com mais força para ele acordar. — Desculpa. — ele murmurou finalmente se virando e liberando meu braço.Enquanto massageava o braço dormente eu comecei a perceber que o dia já tinha clareado, o sol já estava forte do lado de fora. Droga, eu tinha perdido a hora de novo, aquilo estava virando rotina.— Que horas são?— Pouco mais de dez horas. Porque?— Droga, queria ter falado com Caio antes de ele sair para a entrevista.— Ele sabe que você queria, mas que estava ocupada de mais. — ele disse com um sorrisinho cínico crescendo.— Claro, com você deit
Não podia ser, eu não queria pensar, não queria acreditar naquilo! Minha cabeça continuava a repetir o mesmo mantra sem parar.— Isso é... Essa é a última coisa que eu esperava de você. — sussurrei puxando ainda mais o lençol tentando me cobrir da melhor maneira possível.— É a última coisa que eu esperava também. — ele murmurou e senti a cama afundar quando ele se sentou atrás de mim, meu corpo endureceu no mesmo instante, apenas em sentir sua proximidade.Porque ele tinha que estragar tudo? Estávamos aproveitando tanto, estava tudo ótimo.— Você não percebeu? — Guilherme perguntou e eu apenas balancei a cabeça negando. — Eu também não, na verdade não sei bem quando notei que me sentia assim sobre você. Mas então fez sentido, aquela cena ridícula na boate, o fato de você estar na minha cabeça o dia todo.Não respondi nada e pareceu se passar uma eternidade naquele silêncio constrangedor.Meu cérebro se recusava a funcionar e processar essas informações. Ele se negava a acreditar que
Chegamos ao shopping rapidamente e Guilherme andava apressado na frente, como se já soubesse onde a irmã estava, então surgiu no meu campo de visão uma loira alta e linda, que correu em sua direção o abraçando apertado no momento que o alcançou.Eu parei a uma curta distância, não querendo atrapalhar o momento dos dois e assisti a conversa olho no olho, enquanto ela chorava ele secava suas lágrimas.Apesar das pessoas em volta e os olhares curiosos, não era como se eles se importassem, e pela primeira vez eu vi o lado "irmão super protetor" de Guilherme, o lado que eu só tinha ouvido falar.Não devia ter sido nada fácil para ele criar uma criança e administrar uma empresa, ao mesmo tempo em que tinha que lidar com a dor da perda da mãe.A mãe... a mesma que morreu com câncer, que parou o tratamento para seguir com a gravidez, de sacrificando pela filha.Imagino que se eu estivesse em sua situação talvez fizesse o mesmo, não sei, mas não consigo parar de pensar.Senti como se minha gar
Um homem alto, cabelos grisalhos e olhos pretos, acompanhava Guilherme, ele era bonito, logo se via que os filhos tinham a quem puxar. Ele me cumprimentou com um sorriso, um sorriso familiar.Ali estava o dono do sorriso maravilhoso que o filho tinha, um sorriso largo, elegante e sedutor.— George Monteiro, ao seu dispor. — ele falou antes de pegar minha mão e beijá-la.— Emma Souza, e o senhor é um verdadeiro gentleman.— Você, me chame de você. E espero que meu filho também seja assim. — ele murmurou me dando o braço e caminhando comigo até o sofá.— Ele tenta. — respondi sorrindo quando olhei para Guilherme, que nos observava com verdadeiro interesse agora.Talvez já estivesse se arrependendo de ter me trazido para conhecer sua família. Eu torcia pra isso, quem sabe assim ele não tirava as ideias doidas sobre sentimentos da cabeça.— Vou ver se o almoço está pronto. — ele deu dois passos e parou se voltando para nós. — Não a espante, pai.Ele saiu sem mais nenhuma palavra, me deixa