Marina
Eu não sabia o que era pior, passar toda a noite num desconforto sem fim, ou acordar e perceber que ele não estava ali. Era assustador como depois de apenas uma noite em seus braços — no qual apenas dormimos —, ficar tão dependente do seu calor.
Tomei um café reforçado para espantar o sono. E fui chamar o Edu. Estávamos atrasados, ele nem tinha dado as caras. Bati e entrei. Estava deitado na cama, com os braços cobrindo os olhos. Levantou a cabeça e sentou.
— Já está na hora?
Assenti, ele pegou a mochila passando por mim num desânimo enlouquecedor. Na noite anterior ele estava estranho, desde que veio da casa da Cibele. Será que aconteceu alguma coisa?
Fomos andando devagar. Então ele soltou:
— Eu contei pra Cibele sobre a Tatiana. — Arregalei os olhos e ele continuou: — Ela n
TheoNão podia acreditar no que estava acontecendo. Minha irmã ter aparecido foi a pior das notícias. Marina tinha gravado em seu rosto o desgosto evidente. Olhei para Tatiana e decidi enfrentá-la logo de cara.— O que está acontecendo, Tatiana? Por que você veio para cá de verdade?Ela titubeou e fez uma careta irritada.— Me encontra depois da aula, em particular. Que eu te conto tudo.Assenti a contragosto e varri meu olhar pelo pátio à procura por Marina, não a encontrei em lugar algum. Droga! Agora que tudo estava indo tão bem.— Ok, te encontro no café ao lado do campus. Assim que acabarem as aulas, não se atrase.Ela balançou a cabeça e foi em direção ao segundo andar do prédio.Eu tinha que ir para a aula, já estava atrasado. Na sala, Marina estava sentada na
MarinaAcordei no meio da noite de um pesadelo terrível. A chegada de Tatiana fez toda a minha insegurança voltar. O meu medo de perdê-lo estava me sufocando. E se ela conseguisse afastá-lo de mim outra vez? Se ele percebesse que eu não era boa o suficiente?Não consegui mais dormir, minha cabeça dava voltas. Fiquei olhando para o teto com a cabeça cheia de abobrinhas. Vi o dia amanhecer pela janela aberta, mas nem reparei na beleza de um nascer do sol. Levantei muito cedo e fui tomar banho. Deixei a água lavar minha alma. E quem sabe as dúvidas.Depois de horas debaixo do chuveiro, me senti mais animada. Fui para o quarto escolher a roupa. Não estava com ânimo de me arrumar toda, então decidi por um jeans gasto e uma bata indiana.Estava me sentindo como se flutuasse, me observando do alto, tamanha minha tristeza, por uma coisa que ainda nem aconteceu.
TheoPercebi que Marina ficou chateada, mas não podia deixar Tatiana ir sozinha a essa hora da noite. Não contava que ela fosse começar tão cedo na oficina, mas o Sr. Silva a encheu de trabalho logo de cara. Parecia que tinha um monte de contas e arquivos para organizar.Estava louco para sair do trabalho e poder ficar nem que fossem alguns minutos com Marina. Esses dois dias foi um caos, não consegui dar atenção a ela o suficiente.No caminho de casa, Tatiana não disse nada. Estava com uma expressão pensativa no rosto. Eu senti falta de conversar com ela, quando crianças nos dávamos muito bem. Ter uma irmã gêmea era estranho, por ser tão iguais e ao mesmo tempo diferentes. Nós não éramos muito parecidos fisicamente, mas podia identificar semelhanças gritantes.Paramos em frente a um prédio modesto, fiquei surpr
MarinaMais animada, acordei disposta a deixar minha insegurança de lado e engolir a nova adição da faculdade, mesmo sendo tão incômoda. Não via Edu há dois dias, chegava tarde e saia cedo. Não queria conversa, aparentemente.Me arrumei com um pouco mais de cuidado. Coloquei uma calça legging preta e uma batinha azul até o meio das coxas. Fiz maquiagem leve, mas que marcou minhas características.A caminho da faculdade mandei uma mensagem para Cibele, queria que me encontrasse do lado de fora da universidade, precisava saber o que estava acontecendo. Cheguei à esquina e a vi em pé ao lado do portão. Ela estava acabada. Tinha círculos escuros em volta de seus olhos e sua testa parecia ter sido franzida constantemente. Parei ao seu lado e Cibele olhou para cima, seus olhos estavam vermelhos, parecia ter chorado a noite toda.&
TheoLogo cedo recebi uma mensagem de Tatiana, dizendo que iria à boate também e se eu a pegaria para acompanhá-la, tive que frisar que eu iria com a Marina. Ela parecia não entender o que isso significava, minha irmã estava precisando de um namorado. Urgente!Cadu estava chateado comigo, não gostou nada de eu ter empurrado Tati para ele. Disse que comprovou o mau gênio dela em primeira mão. Para completar tive sonhos quentes com uma ruiva muito gostosa, porém minha cama estava fria e solitária. Por consequência do meu sonho molhado, fui para um banho gelado.Me vesti e fui para a faculdade. Teria balada à noite e, provavelmente, muito animação em nosso grupo. Como previ estavam todos conversando sobre a ida à boate, as meninas falando sobre roupas, unhas... Uma lista interminável. Os caras apostavam entre si com quantas garotas
MarinaSaí de casa com a intenção de provocá-lo, minha vontade em tê-lo crescia cada vez mais. E quando rebati sua provocação sobre o meu sonho, ele me olhou ferozmente como se quisesse me devorar. Fiquei um pouco na defensiva porque ainda estava insegura quanto aos sentimentos novos que me assolavam. Porém, estava decidida a ir até o fim. Apesar de pouco tempo como namorados, eu o amava há tantos anos, que era natural como respirar querer que me fizesse sua em todos os sentidos.A manhã passou depressa, com nenhum infortúnio para atrapalhar meu dia. Na piscina, dei tudo de mim. A competição estava marcada para a próxima semana, teria que treinar todos os dias. Cibele estava dando seu melhor, suas braçadas eram furiosas. Despedi-me e fui para casa me arrumar para a noite, pois queria arrasar.Quando pisei na sala, o que vi me deixou arrasa
TheoEu a vi correndo em direção à porta e chamei seu nome, mas Mari não escutou. Em seu rosto havia uma expressão magoada, dilacerada. Não pensei duas vezes, corri em seu encalço. Estava caindo o mundo do lado de fora, o que antes era uma chuvinha se transformou em uma tormenta.Marina estava atravessando a rua em meio àquela chuva torrencial. Entrei na água fria e agarrei-a pelo braço antes que chegasse ao outro lado. Ela virou e me olhou assustada. Mas não foi isso que me surpreendeu e sim o ódio em seus olhos direcionado a mim, como eu já conhecia bem.— Mari, ficou louca? O que está fazendo aqui fora nessa chuva? — gritei.— Eu vou embora e nunca mais quero te ver, seu estúpido!— O que está acontecendo? Por que está falando assim comigo?Ela estreitou os olhos e disse quase hist&ea
MarinaSaímos daquele dilúvio e fomos para o meu apartamento. Theo disse que ainda tínhamos o que conversar, não queria deixar nenhuma ponta solta. Encharcados pisamos dentro de casa, que estava em absoluto silêncio. Verifiquei se Edu estava em seu quarto, mas estava vazio. Entrei e peguei uma roupa seca para o Theo.Ele estava encostado no batente da janela do meu quarto, observando a noite do lado de fora. Sentindo minha presença, virou e caminhou em minha direção. Colocou as mãos espalmadas em meu rosto e com o polegar acariciou meus lábios.— Me desculpe por tudo que te fiz passar, Mari. Por toda dor e sofrimento. Eu sempre te amei, fui um tolo total. Não quero te ver sofrendo nunca mais, principalmente se for eu o causador.Olhei nos olhos desse homem que conhecia muito bem: meu amigo, namorado, o amor da minha vida.— Foi a pior tortura que a