Assim que chegamos no Hotel, simples mas que parecia confortável, subimos para o segundo andar, onde ficavam nossos quartos. Artemis escolheu um ao lado do meu.- Vou tomar um banho de talvez cinco horas. – Brinquei, enquanto abria a porta.- Jantamos juntos?- Claro! Oito horas?- Combinado. Pego você aqui. E fique linda! – Riu.- Vou contar tudo para Irlanda. – Brinquei.Ele piscou e entrou no quarto. Fiz o mesmo. Eu teria muito que agradecer a Artemis por ter deixado a esposa e vir me socorrer, já que eu estava completamente perdida “em que pé” estava o mundo fora da Síria naquele tempo todo que passei longe.O quarto não era grande, mas tinha tudo que eu precisava: um banheiro com água quente, uma cama grande, confortável e limpa e um frigobar.Abri o frigobar e peguei uma lata de Coca-cola gelada. O som do anel abrindo a lata e o gás saindo foi melhor que ouvir Ramones tocando “I Wanna be you Boyfrind”. Bebi o líquido doce quase sem respirar, até que não restasse mais uma gota se
- O que fez com o seu dinheiro?Abaixei a cabeça:- Investi em causas nas quais eu acreditava...- Não acredito que gastou tudo que tinha na Síria.- E não foi com roupas, sapatos, tampouco chocolates...- Clara... Você é louca. Eu já lhe disse isto?- Umas mil vezes.- Mas você não recebia pelo seu trabalho?- Sim. Mas mal dava para viver. Talvez eu tenha patrocinado uns grupos rebeldes com o dinheiro de Patrick... E outros com o que eu tinha guardado.Artemis balançou a cabeça, incrédulo:- Não pode comprar passagem antes de sábado. Ou seja, somente poderá sair de Washington no domingo, independente de ser para Laranjeiras ou Ilhas Seychelles.- Por quê?- Porque você receberá um prêmio pelas suas fotos tiradas na Síria.- O quê?- Não me pergunte como acharam o meu contato, mas foi por aqui que lhe encontraram. Haverá uma cerimônia de homenagem a você e seus colegas que trabalharam na Síria. E todos serão premiados. Será transmitido ao vivo para todo o país, pela CNB.- Eu... Não p
Pus a mão na maçaneta da porta, tentando abri-la, mas estava trancada.- Eu quero sair. – Minha voz soou trêmula, enquanto eu tentava me impor e não demonstrar medo.Patrick alisou minha coxa sob o vestido de tecido fluido, fazendo meu corpo arrepiar-se de pânico e temor. Senti as pernas tremerem de pavor e a respiração ficar acelerada.Olhei para a rua e só via as luzes dos postes iluminando o caminho coberto de chuva intensa, que fazia com que todos procurassem abrigo em algum lugar assim como a visibilidade ficava praticamente nula de fora para dentro, o que me impossibilitava de ser socorrida por alguém.- O que quer de mim, Patrick?- Faz quantos anos que fugiu de mim? Oito?- Queria o que? Que eu ficasse presa para o resto da vida no alto de uma montanha na Austrália?- Achei que éramos felizes.- Nunca fomos. Eu fingi... Por 11 anos eu menti... Eu nunca fui feliz ao seu lado. Mas cumpri com o prometido. Você pegou toda a sua herança. O que quer mais?- Não é sobre o dinheiro, C
Fui até a lateral da pista onde ambos estavam e peguei uma pedra grande que encontrei e não pensei duas vezes, segurando-a com força e mirando na cabeça de Patrick, atingindo-o com um golpe certeiro, que ao gemer de forma forte caiu desacordado no chão.Fiquei em estado de choque, vendo o sangue na pedra, que começava a escorrer pela água da chuva. Artemis levantou-se com dificuldade e foi até Patrick e tocou seu pescoço.- Ele... Não está respirando... Está... Morto. – Me olhou, com os olhos arregalados, em pânico.Fiquei do mesmo jeito que estava, sem me mover, segurando a pedra com a qual havia o golpeado.Artemis veio até mim e pegou-me no colo, levando-me em direção ao seu carro. Me pôs sentada no banco pelo lado do motorista, ainda com a pedra na mão e sentou-se ao volante, dando a partida.Eu olhava para frente, sem dizer nada, sentindo todo meu corpo tremer, como se Artemis dirigisse em câmera lenta.- Respire fundo... Respire fundo, Clara... Estamos vivos... Então está tudo b
- Oi, mãe! – Sorri, não impedindo as lágrimas.Naquele momento chorar não era sinal de fraqueza e sim de alegria... Alegria pelo reencontro, depois de tantos anos.Minha mãe veio até o portão e o abriu e ficamos nos olhando, como se antes de matarmos a saudade através de um abraço precisássemos viver aquele momento de reconhecimento.Josephine em 19 anos não tinha envelhecido e sim remoçado. Foi como se ela tivesse voltado dez anos antes desde o momento que parti.- Você... Está linda, mãe! – Sorri.Ela veio lentamente até mim e me abraçou com tanta força que chegou a doer meus ossos. Senti suas lágrimas mornas molhando meu ombro enquanto não conteve um gemido de talvez surpresa por estarmos novamente juntas.Assim que me soltou, pegou-me pelos ombros e beijou minha testa, descendo pelo nariz, queixo, bochechas e cada um dos olhos.- Eu quero me certificar... De que isto é verdade! Que não é um sonho! – Falou, num fio de voz.Toquei com minhas duas mãos suas maçãs do rosto, quentes e
- Claro. – Ele foi em direção ao telefone.- Irei junto.- Se não se importa... Eu gostaria de fazer isto sozinha. – Pedi – Podemos combinar de irmos juntas amanhã. O que acha?- Claro... Pode ser. Mas você acabou de chegar. E já vai sair?- Preciso ir, mãe. Voltarei melhor, acredite.Ela me deu um beijo na testa e fomos para a frente da casa esperar o táxi, que chegou em menos de cinco minutos.Enquanto eu me dirigia para o lugar onde reclamei a vida toda de morar e nunca fiz nada para mudar o que tanto me incomodava, pensei em Pedro e no nosso encontro no aeroporto.Por mais que eu quisesse pensar que pudesse ter visto errado, que ele naquela fila fosse somente uma imagem projetada da minha cabeça, sabia que era verdade. Pedro sequer olhou nos meus olhos. Fingiu que eu não existia, que nunca me viu em toda sua vida.Como eu conseguiria fazê-lo me ouvir?Sim, eu tinha muito a lhe dizer, porém não poderia obrigá-lo a me escutar. Já havia mandado uma mensagem com boa parte do que queri
- Pai? – Ouvi a voz infantil e o menino abrindo a porta do quarto, deparando-se com dois marmanjos chorando.Renan levantou-se e pegou a mão do filho, orgulhoso:- Clara, quero que conheça Junior, seu sobrinho. Filho, esta é a minha irmã Clara, da qual lhe falei.Observei o menino de cabelos castanho-claro e olhos azuis. Tinha o sorriso do pai, assim como o formato dos olhos e corte de cabelos. Era bem alto para a idade.- Oi, Junior. É um prazer conhecê-lo! Eu acho que sou... Sua tia. – Limpei uma lágrima boba que fugiu dos meus olhos.O menino me deu um abraço, sem que eu pedisse. Alisei seus cabelos fininhos e macios e senti o cheiro adocicado que me remeteu à infância.Meu irmão havia engravidado Flora no passado e ela, por sua vez, fez um aborto sem consultá-lo. Ele havia mencionado que mesmo que ela tivesse pedido sua opinião, teria concordado com a ação da garota. Mas não tinha como saber se Renan realmente aceitaria caso os dois tivessem sentado e conversado sobre o assunto. E
- Vi um vídeo no YouTube dia destes, de propaganda enquanto assistia o seu canal.- Eu aposto que este LP era algo de valor inestimável.- Certo que sim... – Sorri, acariciando as bochechas quentes do garoto.Junior desligou o celular e deitou virado para mim:- Boa noite, tia Clara.- Boa noite, Junior.- Boa noite, papai.- Boa noite, meu anjo. – Renan deu um beijo na testa dele e deitou-se ao seu lado, pondo o braço sobre seu corpinho.- Vocês sempre dormem juntos? – Perguntei baixinho, para não quebrar o clima de sono.- Sim... Sempre! – O menino sorriu.Na manhã seguinte, assim que levantamos, organizamos nossas coisas, pegamos alguns itens que gostaríamos de guardar de recordação e Renan nos deixou na casa de minha mãe. Quando vi que ele sairia com o carro novamente, perguntei:- Onde vai?- Vou buscar um pote de sorvetes. Junior adora comer de sobremesa.- Acho que ele puxou a tia. – Brinquei.- Quer ir junto?- Não! Quero evitar um encontro... Sem planejar. Acho que eu não agu