Raila SalimA noite estava silenciosa, e a única luz que iluminava a sala era a fraca lâmpada sobre a mesa. Sentada ali, com a cabeça entre as mãos, eu sentia como se o peso do mundo estivesse sobre meus ombros. Naquela noite me bateu uma tristeza. Como eu tinha me deixado enganar por Miguel, aquele homem que um dia chamei de noivo, o homem que jurou me amar e ao qual entreguei a minha confiança e meu coração.Tudo o que ele fez... eu ainda não conseguia processar. Ele roubou tudo o que eu construí, destruiu minha vida sem ao menos olhar para trás. E o pior de tudo era que, até agora, não havia provas suficientes para colocá-lo atrás das grades. Não tinha como provar que ele forjou a minha assinatura, que ele arquitetou toda aquela farsa. O processo estava parado, a investigação estagnada. Cada dia que passava parecia que a esperança se esvaía um pouco mais.— Não é justo. — murmurei para mim mesma, olhando para o vazio. — Eu sei o que ele fez, mas ninguém parece acreditar. Não tem co
Marcio MelloEra uma tarde quente, o sol já começava a se despedir, lançando uma luz suave sobre o campo. Eu estava no sítio de novo, mas algo estava diferente. Raila, que sempre tinha um sorriso fácil, parecia distante, pensativa. Seu olhar estava perdido em algum lugar, como se estivesse longe de tudo ao seu redor. Percebi isso imediatamente, como se houvesse algo em sua energia que havia mudado, e embora eu fosse um tanto reticente, não podia simplesmente ignorar.— Ei, Raila. — falei, tentando parecer despreocupado, mas o tom da minha voz traía o que eu realmente estava sentindo. Queria saber o que se passava, mas não me atrevia a perguntar diretamente. Em vez disso, puxei uma conversa qualquer. — O dia está tão bonito, não acha?Ela olhou para mim por um momento, um breve sorriso esboçado, mas os olhos continuavam sem brilho. Isso me incomodou, mas não quis forçar. Decidi fazer algo mais, talvez levá-la a se distrair, a esquecer o que a estava afligindo.Comecei a falar sobre coi
Raila SalimEra uma manhã ensolarada no sítio, e eu estava de calça jeans, botas e uma blusa velha que minha tia Marta insistiu que eu usasse. "Pra não estragar roupa boa, menina!" ela disse, com aquele tom de autoridade que só tias têm. A missão do dia era alimentar os porcos. Não era exatamente o que eu chamaria de "programa ideal", mas eu estava animada. Afinal, quando você está no sítio, tudo vira aventura.Minha tia liderava o caminho com um balde cheio de comida para os porcos. Eu a seguia com outro balde, mais pesado do que eu imaginava. Os porcos já estavam fazendo a maior algazarra no cercado, como se soubessem que o almoço estava a caminho.— Esses bichos comem mais que o meu pai! — comentei, tentando equilibrar o balde sem cair.Ela soltou uma gargalhada. — E fazem menos sujeira que ele, se quer saber!Chegamos ao cercado, e os porcos começaram a grunhir ainda mais alto. Eles se amontoaram perto da cerca, empurrando uns aos outros como se fosse Black Friday. Minha tia abri
Sentei no sofá da sala com o coração pesado, segurando uma caneca de chá que tia Marta havia feito para mim. Ela estava sentada na poltrona de frente, com aquele olhar acolhedor que só ela tinha. Ela era minha confidente, mas, dessa vez, parecia que nem as palavras queriam sair. Eu olhava para o chão, tentando organizar meus pensamentos, enquanto ela esperava pacientemente.— Você está me preocupando, Raila. O que está acontecendo? — perguntou tia Marta, com a voz firme, mas carinhosa.Respirei fundo, tentando juntar coragem. Meu peito parecia estar cheio de pedras.— É sobre o Marcio... — murmurei, quase em um sussurro.Ela arqueou uma sobrancelha e inclinou-se um pouco para frente, como se quisesse ouvir melhor.— Marcio? O que tem ele? Vocês brigaram?Balancei a cabeça, negando. Na verdade, o problema era o oposto. A confusão estava dentro de mim, e não sabia como lidar com isso. Apertei a caneca em minhas mãos, sentindo o calor atravessar a cerâmica, e finalmente soltei:— Eu acho
Eu estava ansiosa, esperando ansiosamente pela oportunidade de conversar finalmente com o Marcio. Eu sabia que aquele momento seria importante para mim, para nós. De manhã não tinha feito quase nada direito no sítio por causa de toda minha ansiedade e durante toda a tarde, me peguei imaginando o que diria, como começaria, o que ele pensaria de mim. Mas quando finalmente consegui ligar para ele, a resposta não foi o que eu esperava.— Alô? — a voz dele do outro lado da linha me soou distante, como se já estivesse em outro lugar.— Oi, Marcio. É a Raila. Eu queria te convidar para conversar, dar uma passada aqui no sítio, se você puder. — minha voz saiu mais hesitante do que eu gostaria, mas a ansiedade me fez perder o controle.— Olá, Raila! Que bom receber sua ligação. Mas, olha, eu não estou na cidade agora. Precisei viajar para a cidade vizinha. Assim que eu voltar, vou te ver, pode deixar, vou até o sítio, a gente se encontra e conversa com calma. — ele falou com tanta naturalidade
Marcio MelloA noite estava tranquila. O céu limpo, com as estrelas brilhando como se quisessem testemunhar o momento que se desenrolava. A brisa suave parecia beijar a pele, e o som das árvores balançando ao vento dava um toque de serenidade ao lugar. O sítio, com seus contornos conhecidos, nunca me pareceu tão diferente. Nunca imaginei que uma noite simples pudesse se transformar em algo tão marcante.Eu estava ali, parado, olhando para o horizonte, tentando processar tudo o que havia acontecido durante a viagem. Bom, não consegui não ir diretamente para o sítio encontrar Raila, confesso que estava com saudades dela. Mesmo exausto de ter acabado de chegar de viagem e ido diretamente para o sítio, estava empolgado. Quando Raila se aproximou, algo mudou. Eu podia sentir sua presença antes mesmo de ouvir seus passos. Ela tinha essa forma de ocupar o espaço, quase como se a terra ao redor se curvasse para recebê-la. Respirei fundo e soltei um suspiro inesperado, seguido de um largo sor
Raila SalimAcordei naquela manhã com o coração acelerado. O que aconteceu com Marcio na noite passada ainda estava fresco na minha mente, como se fosse um sonho. Eu tentei ignorar, tentar deixar o peso das palavras não ditas e daquilo que não foi falado ocupar menos espaço, mas não conseguia. O beijo... aquela sensação de estar completamente perdida entre o que o corpo queria e o que a razão dizia ser certo. Não sei o que aconteceu, mas não podia ignorar. Foi real. E agora eu tinha que lidar com as consequências.Saí do meu quarto e entrei na cozinha onde minha tia Marta estava, sentada à mesa, tomando seu café. Ela me olhou com um sorriso, como sempre fazia, e um tipo de carinho que só uma tia pode ter. Mas hoje o sorriso dela me parecia diferente, como se ela soubesse que algo havia mudado. E talvez soubesse mesmo.— O que aconteceu ontem, minha filha? — ela perguntou, com uma doçura imensa na voz.Eu hesitei. O que eu diria? Eu tinha que contar. Ela era minha tia, minha amiga, a p
O sol já começava a se esconder atrás das montanhas quando ouvi um som de um carro parando no pátio de pedrinhas do sítio da minha tia. Era o investigador Antônio, ele tinha sido muito recomendado pela minha advogada e la estava ele pronto para me dizer algo. Desde que ele entrou no caso, ele vinha se mostrando mais do que um profissional atento: alguém preocupado com a verdade e com o impacto dela na minha vida. Caminhei até a varanda, o coração pesado. Algo me dizia que aquele encontro traria mais revelações, e nenhuma delas seria fácil de ouvir.— Raila, preciso conversar com você. — disse ele, assim que desceu do carro. Sua expressão era séria, quase sombria. Ele segurava uma pasta de documentos, o que só reforçou minha sensação de que algo importante estava por vir.— Entre, por favor. A tia Marta está na cidade, estamos só nós dois.Conduzi-o à sala de estar, com um sofá de tecido floral e uma mesinha de centro onde repousava uma xícara de chá que eu não conseguira terminar. Sen