Cinco anos se passaram desde a noite que mudou para sempre a vida de Sarah. A fuga desesperada da casa de campo em chamas e os eventos que se seguiram deixaram cicatrizes invisíveis, marcas profundas que ela carregava com resiliência. O passado não foi apagado, mas transformado em força e determinação.Nos Estados Unidos, Sarah encontrou uma nova versão de si mesma. Completou seus estudos em medicina com excelência, destacando-se em especializações que a tornaram única. Acupuntura, fitoterapia, terapias integrativas — cada prática que dominava era como uma peça de um mosaico que combinava precisão científica com intuição quase artística.Reconhecida em congressos internacionais, recebeu convites para atuar em hospitais renomados. Contudo, jamais esqueceu sua missão principal: voltar mais forte, enfrentar seu passado e reencontrar sua filha.Ao desembarcar discretamente em seu país natal, Sarah usava um vestido sóbrio e elegante, seu andar firme e decidido. Carregava um brilho no olhar
Sarah entrou correndo na sala, atraída pelo tom intenso das vozes de seus pais. Ambos estavam sentados, imersos em uma discussão acalorada. Algo nas expressões frias e calculadas de seus rostos a fez parar no meio do caminho.— Filha, venha aqui — disse seu pai. A voz fria, como de costume, agora carregava uma gravidade incomum.Sarah se aproximou, hesitante. Antes que pudesse perguntar, ele disparou:— Hoje é um dia decisivo para nossa família. Você vai comparecer no lugar de sua irmã na cerimônia de casamento dela.Os olhos de Sarah se arregalaram, incrédulos.— O quê? — exclamou. — Isso não é possível! É o casamento da Anna! Ela precisa estar lá, não eu.Seu pai cruzou os braços e franziu o cenho.— Anna desapareceu. Resolveu nos abandonar no pior momento. Este casamento é um acordo comercial firmado há anos, e não podemos arcar com os custos da quebra do contrato.Sarah balançou a cabeça, tentando processar a situação.— Papai, isso não faz sentido! Vocês podem conversar com o noi
Sarah foi empurrada para o banco de trás de um carro que arrancou em alta velocidade. Cada solavanco na estrada era um lembrete cruel da situação em que ela havia sido colocada. Tudo parecia um pesadelo do qual não conseguia despertar.Ela perdeu a noção do tempo. Sempre que tentava erguer o véu para ver onde estava, uma mão pesada a impedia. Quando tentava falar, uma voz áspera cortava o silêncio com um:— Cala a boca!Aquelas palavras ecoavam em sua mente como uma ameaça constante.Seus dedos tremiam, e as palmas estavam encharcadas de suor.— "Como isso aconteceu? Como cheguei a esse ponto?" — pensou.Aquele dia deveria ser especial — era o seu aniversário de 18 anos. Em vez disso, ela estava sendo arrastada para um destino incerto. Nem mesmo seu pai, que sempre prometera protegê-la, parecia se lembrar disso.— "Papai disse que me buscaria depois da cerimônia..." — pensou Sarah, sentindo o desespero crescer. — "Então, por que me deixou com esse homem horrível?"O carro finalmente p
Acordei com o coração disparado, o corpo latejando em cada centímetro. Cada fibra do meu ser parecia gritar em dor, mas não sabia dizer se a dor física superava o peso esmagador no peito.Ao abrir os olhos, vi rastros de sangue pelo chão. Eles começavam na cama e terminavam onde eu estava caída. O sangue — seco e fresco — era um lembrete cruel do que eu havia suportado. A cabeça latejava, e o ar parecia denso, carregado de desespero.— O que restou de mim depois disso? — perguntei a mim mesma, tentando encontrar uma fagulha de força dentro do caos.O menor movimento fazia a dor aumentar. Meu corpo inteiro parecia prestes a ceder, mas a mente estava em frenético alerta, dividida entre a necessidade de sobreviver e a tentação de desistir.— Se nem mesmo minha família é capaz de me amar, quem mais poderia? Talvez essa dor seja tudo o que me resta agora.Com um suspiro derrotado, apoiei-me nos braços trêmulos e me obriguei a levantar. Cada passo era como um golpe contra a exaustão, mas eu
No hotel onde passei a noite, fiquei horas encarando o teto, incapaz de dormir. Meus pensamentos estavam presos aos acontecimentos da noite anterior.Não havia como escapar da verdade: eu havia ultrapassado todos os limites.O arrependimento queimava em meu peito. Descontei minha frustração, minha raiva e meus ressentimentos naquela mulher — uma completa estranha que não fazia ideia da extensão dos meus problemas.Deixei o álcool comandar minhas ações, entorpecendo minha mente e destruindo qualquer resquício de racionalidade.Levantei-me com um suspiro pesado e decidi voltar para casa. Não era apenas para verificar se o portão estava destravado — o que de repente passou a me incomodar — mas para confrontar as consequências das minhas ações.Sabia que precisava pedir desculpas; meu comportamento havia sido inaceitável, mesmo que eu quisesse justificar para mim mesmo que ela era parte de um jogo que nunca pedi para jogar.Quando estacionei, algo estranho chamou minha atenção: uma corda
Após os eventos traumáticos que marcaram seu "casamento", Sarah foi encontrada desmaiada em uma rua deserta, próxima a um hospital.Estava à beira de um colapso, com o corpo frágil e ensanguentado mal reagindo aos estímulos. Ao ser levada às pressas para a emergência, os médicos logo perceberam que sua sobrevivência seria um verdadeiro milagre.Sem documentos ou identificação, Sarah foi registrada como "Senhorita NoName".Seu estado crítico exigia cuidados intensivos, mas a falta de um responsável para arcar com os custos fez com que fosse transferida para a Central Geral de Atendimento Voluntário — uma ala especial destinada a pacientes carentes, criada pelo próprio Dr. Thomas Lewantys.A Central de Atendimento Voluntário era o projeto mais ambicioso de Thomas, fruto de sua paixão por ajudar quem não tinha recursos.Ele idealizou a ala como uma forma de retribuir à sociedade, oferecendo tratamento digno a quem mais precisava. No entanto, apesar de ter salvado muitas vidas, a ala enfr
Os meses seguintes foram uma verdadeira batalha para Sarah.Seu corpo, enfraquecido pela violência e pela intensa hemorragia, reagia aos tratamentos de forma lenta e incerta.Durante semanas, ela oscilou entre a vida e a morte, alternando pequenos progressos com retrocessos devastadores.Arthur dedicou-se incansavelmente ao caso de Sarah, fazendo tudo ao seu alcance para estabilizá-la. Ele sabia que a recuperação não seria apenas física. Os traumas que ela carregava estavam marcados em sua alma, e a jornada rumo à cura completa seria longa e repleta de incertezas.Nos raros momentos de lucidez, Sarah evitava qualquer interação.Seu silêncio era como um grito sufocado, mas Arthur sabia que apressá-la seria um erro.Cada pequeno avanço — um gesto tímido, um olhar perdido, uma resposta hesitante — era uma vitória significativa.Com sua abordagem empática, ele se tornou a única figura de confiança para Sarah naquele ambiente frio e impessoal.Quase três meses depois, Sarah começou a emerg
Dias atrás, Anna deslizava distraidamente pelas redes sociais quando seus olhos captaram uma imagem que a fez congelar. Era uma foto de um evento beneficente promovido pelo Hospital Lewantys. Ao fundo, quase imperceptível, estava Sarah. Ela parecia diferente – pálida, frágil, mas sem dúvidas, era ela.— Achei você... — murmurou Anna, apertando o telefone com força.A legenda informava que o evento beneficiava a ala de voluntariado do hospital, destinada a pessoas sem recursos. Um sorriso frio curvou os lábios de Anna. — Vulnerável. Sozinha. Perfeita para o que eu preciso.As lembranças invadiram Anna como um turbilhão, trazendo à tona sentimentos enterrados.Nos primeiros anos, ela adorava Sarah, chamando-a de "minha bonequinha" enquanto penteava seus cabelos ruivos e criava histórias para entretê-la.Anna tinha sete anos quando seu pai trouxe Sarah, ainda bebê, para casa. Apesar da diferença de idade, elas foram inseparáveis por um tempo, vivendo aventuras em um mundo que criaram ju