Sarah estava organizando os materiais em seu consultório quando a porta se abriu com um som firme. Surpresa, ela ergueu os olhos e encontrou Thomas Lewantys parado na entrada. Sua presença imponente estava diferente — os ombros antes eretos estavam curvados sob o peso de uma dor invisível, e seus olhos, sempre tão frios e calculistas, agora mostravam um desespero que a fez hesitar por um instante.— Dra. Campbell — ele começou, com uma formalidade que não escondia a vulnerabilidade em sua voz — Eu preciso da sua ajuda.Sarah endireitou-se, recuperando sua postura profissional.— Claro, Dr. Lewantys. Em que posso ajudar?Thomas hesitou, como se as palavras fossem difíceis de pronunciar.— Adrian... meu filho — ele disse, e sua voz falhou por um breve momento. Ele respirou fundo, lutando para manter a compostura. — A doença está avançando. Os médicos disseram que... o transplante de medula óssea é a única solução.Sarah franziu a testa, sentindo o peso daquela revelação.— Já testaram t
Adrian estava sentado em uma cadeira confortável na sala de terapias, brincando com os dedos enquanto Sarah ajustava cuidadosamente as agulhas de acupuntura. O menino demonstrava uma coragem admirável para alguém tão jovem. Desde que começaram as sessões, seu semblante havia mudado. O brilho em seus olhos e o sorriso tímido que surgia com mais frequência eram sinais de que ele estava respondendo bem ao tratamento.— Você é um bom menino e também é muito corajoso, sabia disso? — disse Sarah com um sorriso suave.Adrian segurou seu brinquedo favorito com carinho e respondeu:— Quando eu ficar melhor, eu vou brincar muito. Vou poder correr pelo jardim e brincar com Aurora.A inocência em sua voz fez o coração de Sarah apertar.Ela o observou por um instante, sentindo um afeto profundo crescer. Era impossível não se apegar ao garoto. Ele tinha o rosto sério e os olhos cinzas de Thomas, mas sua vulnerabilidade e doçura o tornavam único.— “Será que Anna é mesmo sua mãe?” — Sarah pensou, en
Quando Thomas sugeriu que Sarah continuasse o tratamento de Adrian em casa, ela aceitou sem hesitar. Não apenas porque seria mais confortável para o menino, mas também porque lhe daria a oportunidade de estar mais próxima de Aurora e formar um vínculo com a menina. No entanto, ao chegar ao endereço fornecido, Sarah sentiu o chão desaparecer sob seus pés.Era a mesma casa... A mansão para onde Thomas a levara após o casamento, o lugar onde seu mundo desmoronou...O carro parou lentamente na entrada da propriedade. A fachada majestosa era exatamente como Sarah se lembrava. O jardim impecavelmente cuidado, as árvores perfeitamente alinhadas ao longo do caminho, a porta imponente. Tudo estava intocado, como se os últimos cinco anos não tivessem passado.— Está tudo bem? — perguntou Thomas, enquanto abria a porta do carro para ela. Sua voz carregava um tom de preocupação genuína.Sarah forçou um sorriso e assentiu.— Sim... É só que... Sua casa é impressionante.Thomas a observou por um in
Nos dias que se seguiram, a rotina na mansão tornou-se um delicado equilíbrio entre tratamentos, momentos em família e emoções não ditas. Thomas, percebendo a relutância de Sarah em se envolver emocionalmente, começou a encontrar maneiras sutis de aproximá-la não apenas de Adrian, mas também de Aurora.Numa manhã ensolarada, enquanto Adrian terminava seu café da manhã, Thomas sugeriu algo inesperado:— Que tal levarmos as crianças à escola juntos hoje? — perguntou ele a Sarah, com um sorriso quase tímido.Sarah hesitou por um instante. Ela sabia que isso significava mais tempo ao lado de Aurora ― uma oportunidade preciosa.— Claro, — respondeu, tentando soar indiferente.Aurora apareceu na sala de estar com a mochila pendurada em um dos ombros.— Você vai com a gente hoje, doutora Sarah? — perguntou ela, com os olhos verdes brilhando de expectativa.— Sim, — respondeu Sarah com um sorriso caloroso. — Mas pode me chamar só de Sarah.Aurora sorriu com timidez, e Thomas observou a intera
O dia estava calmo na mansão. Sarah estava no jardim com Aurora e Adrian, ajudando-os a plantar algumas flores. O sol brilhava alto, e o riso das crianças preenchia o ar com uma alegria contagiante. Por um breve momento, tudo parecia perfeito.O estrondo da porta da frente ecoou como um trovão distante, quebrando a fragilidade do momento. Sarah sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Era ela...Anna surgiu na entrada do jardim, a figura esguia e elegante transformada pela fúria. Seus olhos, normalmente cor de mel, agora eram obsidiana, faiscando ódio. Aurora e Adrian, como passarinhos assustados, correram para trás de Sarah, buscando refúgio.— Então é verdade, — a voz de Anna cortou o ar, fria e precisa como uma lâmina afiada.Sarah ergueu o olhar, o coração pulsando forte no peito. Aquele jardim, que momentos antes parecia um refúgio, agora se tornara um palco para um confronto inevitável.— Anna, — Sarah respondeu, tentando manter a voz calma, apesar da adrenalina correndo em suas
A falsidade de Anna era quase palpável, Sarah se sentia ainda pior ao ver Anna atuando como se não se lembrasse de nada... Elas iam mesmo fingir que não eram irmãs?Sarah respirou fundo, aceitando o jogo, engoliu a amargura, adiando o confronto. No fundo, ela também era especialista em esconder cicatrizes, em sorrir enquanto o sangue escorria.O campo de batalha estava formado. Mas agora, Sarah estava pronta para lutar.Enquanto as crianças descansavam, Sarah tentou ligar para Arthur, mesmo sabendo que ele ainda estava fora do país. Mas, também desta vez ela não conseguiu falar com ele. Ela precisava da presença dele para lutar por Aurora. Ele era sua testemunha. Sarah sabia que devia se preparar para o pior.Naquela noite, Thomas chegou em casa exausto. Havia uma sombra de cansaço em seus olhos, mas também uma leveza rara — o alívio trazido pelos recentes sinais de melhora de Adrian. Ele se sentia, ainda que por um instante, um pouco mais esperançoso.Ao virar o corredor, encontrou S
Thomas não conseguia tirar Sarah da cabeça. Desde que ela começara a frequentar a mansão diariamente, sua presença tornara-se uma constante em sua vida — um ponto de conforto que ele não sabia mais ignorar. As interações dela com Adrian e Aurora eram tão naturais que formavam um cenário de família perfeito, algo que ele nunca experimentara verdadeiramente com Anna.Mais do que isso, Sarah o cativava. Ela possuía uma força serena, uma compaixão inabalável e uma determinação que o desafiava. Ele percebia, a cada dia, que não queria perdê-la.Naquela noite, sentado em seu escritório, Thomas encarava o vazio, lutando com um dilema que crescia dentro de si. Ele sabia que precisava proteger as crianças da instabilidade de Anna, mas, além disso, sabia que não queria afastar Sarah. Depois de um longo suspiro, tomou uma decisão. Pegou o telefone e discou.— Dra. Campbell, — ele começou, tentando manter a formalidade. — Gostaria de conversar com você pessoalmente amanhã, aqui na mansão. É impor
Sarah passou a noite em claro, ponderando sobre o convite de Thomas. A proposta mexera com ela de formas que não queria admitir. Por um lado, sabia que aceitar significava abrir mão da distância emocional que vinha tentando manter. Por outro, uma voz interior sussurrava que essa era a oportunidade perfeita.— Se ele realmente quer que eu esteja tão perto, então que seja, — murmurou enquanto observava a luz da madrugada pela janela. — Vou conquistar sua confiança, fazer com que se apaixone... e depois vou destruí-lo. Será minha doce vingança.A ideia de usar o próprio desejo de Thomas como arma parecia cruelmente justa. Sarah não queria machucá-lo fisicamente. Não. Seu objetivo era atingir onde mais doía: o coração. Ela queria deixá-lo devastado. E se, ao mesmo tempo, pudesse atingir Anna, seria ainda melhor. Uma vingança dupla — precisa e implacável.Na manhã seguinte, pegou o telefone e ligou para Thomas.— Thomas, — começou, a voz firme e decidida. — Pensei sobre sua proposta e deci