Para começar, eu confesso que me deixou profundamente irritada o fato dele não se lembrar de mim. Isso é um paradoxo, porque eu sei que estragaria tudo se ele descobrisse toda a verdade agora. Mas eu tinha uma pontinha de esperança de que ele ligasse o beijo de hoje a quando me beijou na tarde de autógrafos. Até porque foi tão real quanto naquele dia. Sei que preciso parar de ficar me enganando assim. Antes, eu insistia na desculpa do beijo técnico, como se isso fosse um motivo plausível para ele não se recordar. Porém agora, não posso mais me sabotar. Ele realmente não se lembra e ponto!
Julian tem um dom de estragar tudo com muita facilidade e rapidez. Agora me sinto estúpida por ter correspondido com tanta veemência ao seu carinho. Era simples, eu podia ter me afastado, ou até lhe dado um bofet
Eu não queria parecer clichê, mas tudo que pesquisei só me direcionava para esse caminho. Passei algumas horas planejando, pegando ideias de sites, vendo fotos para me inspirar, mas queria que fosse mais peculiar. Comecei pegando as cifras de uma música brasileira, que gosto muito, do Roberto Carlos, depois ensaiei algumas vezes; cheguei até a gravar um vídeo cantando para ver como estava o meu português. Apesar de ter alguma proximidade com o meu idioma, ainda sim é bem difícil para mim. Fui dormir bem tarde, mas empolgado com tudo que decidi fazer para ela. Nem quando adolescente tinha pensado em algo assim. Eu sempre fui de presentear, mas com roupas de marca, bolsas, joias… O meu lado mais “fofinho” é o que todo homem geralmente faz, intercala flores e chocolate junto com os presentes. Contudo, conhecendo Manuela, sei que nada disso chamaria sua atenç&ati
Após a mensagem de Julian, fiquei inerte por uns segundos. Não posso negar que o vídeo me abalou, mas o pior foi ele ter aguçado a minha curiosidade, ainda mais terminando a mensagem com: “Seu Julian”. Como assim meu? Não me contive e liguei para Rafael. Precisava saber o que ele quis dizer com tudo aquilo. Mas, para minha surpresa, ele estava totalmente por fora e ficou perplexo quando falei do vídeo. Pediu para que eu lhe encaminhasse e ficou me fazendo perguntas. Claro que me neguei a enviar e não contei mais detalhes. Entretanto, o sentimento de culpa foi inevitável. Me senti meio boba por ter ligado, afinal, era tudo muito íntimo e, por mais que fôssemos amigos, pareceu que eu estava traindo a confiança de Julian. Não dormi bem aquela noite, fiquei rolando de um lado para o outro da cama tentando encontrar uma posição favorável, mas
A semana passou em um piscar de olhos. O fato de estar namorando não alterou a minha rotina, pelo contrário, eu respeitei bastante o espaço de Manuela. Me esforcei para não ser o namorado pegajoso e incompreensível logo de cara. Mas admito que, por minha vontade, eu teria a arrastado para o meu apartamento logo após o nosso primeiro jantar e não teria desgrudado dela nem por um segundo. Não estou me referindo a sexo. Claro que penso nisso, penso muito até. Porém vai muito além. Ter Manuela por perto melhora o meu humor, me arranca sorrisos espontâneos. Acho que só o fato de olhar para ela e saber que estamos juntos, de fato, já me faz bem! Depois de meses desejando-a e tendo que conter os sentimentos, sonhando e não podendo contar a ninguém, finalmente ela é minha namorada, sem ninguém para atrapalhar. Exceto pelo contrate
Foi uma semana de altos e baixos, emocionalmente falando. Isso não é sobre Julian, amo estar com ele. De fato é um homem incrível! Os seus carinhos me fazem um bem absurdo. Extremamentecompanheiro, cavalheiro... Enfim, estou feliz demais em ser sua namorada. O problema sou eu! Parece até desculpa de término de namoro, mas não é. Repito, o caos da minha vida sou eu mesma e as mentiras que criei, ou melhor, que aceitei para mim. Não estou sabendo dar conta de conviver com tantas farsas, estão me atormentando. Me tornei o que eu sempre temi, uma grande mentirosa. Eu sou uma fraude! Não estou dormindo direito, não consigo encarar Julian como gostaria e me sinto mal o tempo todo. Não que isso não me perturbasse antes, mas era diferente. Agora ele é meu namorado! Devo a ele, no mínimo, minha honestidade. Além disso, a saudade de
De fato a gravação acabou mais tarde do que o normal. A festa que planejei para a despedida da Manu, atrasou toda a programação. Quando estava entrando no carro, já matutando o que faria quando chegasse em casa. Rafael me chamou:— Julian, você está indo para o restaurante. Certo?— Restaurante? — Falei sem graça.— Sim. Esqueceu que precisa assinar o contrato do comercial de relógios?— Hã... Ah! Sim. Claro que não esqueci. Estava indo para lá agora… Ah! Rafael. Odeio mentiras! Não vou insistir nisso. Esqueci! Esqueci totalmente! Me perdoe — disse, chateado com a minha própria falta de atençã
Apertei o botão do elevador inúmeras vezes. Não que isso fosse adiantar o processo, mas precisava extravasar toda a angústia que me acelerava. Minha vista já estava embaçada de tanto chorar. Foi quase instantâneo. Assim que fechei a porta do apartamento, toda lágrima que contive na frente dela, dominou os meus olhos. Foi ainda pior quando me olhei no espelho dentro do elevador, sorte que estava sozinha ali. Mas do porteiro eu não consegui esconder o meu semblante de decepção. Assim que me viu, tentou me acalmar, até água com açúcar me ofereceu. Claro que não aceitei! O medo de encontrar Julian foi maior. Pelo tempo que permaneci em seu apartamento, com toda certeza ele logo estaria de volta. Eu tremia. Acho que não teve uma parte do meu corpo que não reagiu àquela situação. A cabeça latejava e eu mal
A espera mais amarga da minha vida. Sem notícias, sem explicação! Manuela me deixou um dia inteiro plantado, sem qualquer esclarecimento sobre suas atitudes. Fui para meu apartamento, mas ao contrário do que planejei, não consegui pensar em nada. Fiquei inquieto, andando de um lado para o outro da casa. Admito que chorei ali, em silêncio, sozinho, pensando na gente. Estava confuso, triste e com raiva. Um misto de sensações que não me deram um momento de paz. Liguei inúmeras vezes para Rafael, que insistiu em não me atender. Mas por fim, eu venci:— Julian, desculpa! Não vi suas ligações. — ele disse, assim que me atendeu.— Onde ela está?— Ela não está no hotel.
Comprovado! Posso dizer com muita propriedade que a síndrome do regresso, de fato, existe. Pensei que me sentiria em casa ao retornar para o Brasil, porém, a sensação foi avessa. Me senti desamparada, como um “peixe fora d'água”. Não julgo meus amigos por acharem isso frescura ou esnobismo meu. Mas a verdade é que a sensação de não pertencer mais ao meu Rio de Janeiro, de não me encaixar mais aqui, é muito real! Cheguei a pesquisar sobre isso — uma pessoa leva em média seis meses para se adaptar a uma nova cultura, e até dois anos para se readaptar ao seu próprio país. Foi estranho, desde que pisei no aeroporto. Coloquei meu chip antigo no celular e liguei para Kate à cobrar:— Como você está me ligando desse número? — ela per