Confesso que a travessia por terra fosse bem mais atraente do que a marítima... Mesmo que levasse quase um mês e não houvesse trégua para outra coisa que não dormir até a próxima troca de cavalos. Parcas refeições em refúgios improvisados. Celeiros, tavernas, nunca saberei em quantos pontos diferentes eu dormi, ainda que Edmund sempre velasse meu sono e me aninhasse em seus braços. Eu não reclamava, não haveria dificuldade maior no mundo do que viver longe dele, e era disso que eu fugia... Que me apavorava mais do que a visão de Victor.
Já estávamos há quinze dias nessa rotina, quando ele intercedeu por um prolongamento da parada, nos trancando durante um dia inteiro dentro do quarto da es
— Milady — eu o ouvi me chamar ao longe. As feições mal delineadas por mais que eu tentasse focá-las. — Elise, o que houve? — a voz dele demonstrava urgência e preocupação quando eu senti as mãos dele sobre as minhas.— Eu... — Meus olhos turvaram ao lembrar-me das palavras do meu tio. — Você estava ca&
Eu não vi András pelas seis horas seguintes até que o jantar fosse servido. Ele entrou em silêncio, como sempre fazia, sentando-se na cabeceira da mesa e me dirigindo um solene “boa noite”. Serviu-se de sua fruta predileta, maçã, e degustou o líquido na sua taça. Somente o som dos talheres nos envolvia, mas eu achava que havia ficado muito tempo remoendo o episódio daquela tarde. Se ele conseguia se manter impassível por dias, o mesmo não se dava comigo. Eu precisava de respostas e já.— Achei que estava com saudade de Pietro — arrisquei sem fitá-lo, cortando o brócolis delicadamente. — Todavia...
— Bună dimineaţa, dragi1 . — Beijou-me o topo da cabeça.— Bom dia. — Sorri-lhe, vendo-o sentar no seu lugar de sempre.— Onde está Pietro
— Conte-me — murmurei com meus lábios nos dele, meu corpo deitado sobre o seu, nu. A mão passeava em minhas costas num toque leve, nos verdes cerrados.— O quê? — respondeu baixo, beijando-me, enfim, e deixando jades abertos nos meus castanhos.— Você não teria se livrado de Victor facilmente se já não soubesse o que encontraria ao confrontá-lo — ele me fitou demoradamente em silêncio, deixando que eu pros
A valsa continuava inundando o salão e eu agora estava nos braços de András. Os verdes intensos nos meus castanhos, mas que eu sabia também atento a vários outros detalhes da festa.— Ainda não conseguiu apreciar completamente a notícia que lhe dei. — Está errada. — Sorriu-me gentilmente enquanto volteava comigo. — Penso nela a cada segundo, e nada me deu mais alegria hoje. Eu ajeitava o penteado no alto de minha cabeça, aquela manhã, quando senti a presença dele no quarto. Inquieta.— O que o incomoda? — o vi se aproximar pelo reflexo no espelho.— Muitas coisas, Lise. — Fixou seus olhos verdes em mim. — A falta de notícias de Augustus e sua nova posição, e de Inês, como filhas de Dimitri.Pousei a escova sobre o tampo de mármore da penteadeira, desviando O Tabuleiro
O vento frio da madrugada entrava pela janela aberta, agitando as cortinas e meu sonho. A cama ainda me parecia enorme, e, sobressaltada, abri os olhos, fitando o quarto escuro. A janela recomeçou a bater e os clarões rasgavam o céu, que em breve deitaria chuva por terra. Afastei as cobertas e me ergui da cama, já estava próxima às cortinas quando ouvi um barulho sobre o assoalho. Seria um rato ou algo do tipo? Com passadas mais suaves, escorreguei para mais perto do lugar de onde viera o som. Num balé ensaiado, minha boca foi tampada por uma mão masculina no mesmo instante em que a sai entre meus dedos se alinhava ao seu pescoço.— O dia se ergueu ensolarado, e eu me vi ajeitando uma cesta de guloseimas para uma manhã nos jardins em companhia de Lady Ellen e Lucas. Há dois dias que ela não colocava os pés para além da varanda da sala de leitura, e não faria bem ao menino, o ar viciado daquela casa cheia de adultos eternos. Ele precisava de espaço para correr. Nada melhor, então, do que um piquenique. Eu, por outro lado, ansiava por notícias da França que n&aO Cavalo