O Sombra do Oceano navegava tranquilamente pelo Mar Nevoento, a fumaça branca que cobre a face das águas dava um ar assustador ao navio.
A calmaria inquietante tornava a viagem chata e fatigada, não havia um só homem no navio que não sentisse falta da emoção e da aventura, proporcionada aos piratas.
— Quanto tempo para aportarmos? — a capitã pergunta ao seu braço direito, Sr. Willians.
— Não muito, já estamos perto do porto, capitã! — ele responde prestativo.
— Ótimo! Acorde esses imprestáveis, temos muito trabalho a fazer. — ela diz antes de se dirigir ao timão.
Sr. Willians corre o máximo que sua perna de pau permite, para o convés.
— Acordem seus preguiçosos! — ele grita respirando pesado.
— Já chegamos? — Monty, um pirata baixinho pergunta.
— Não, mas estamos quase lá. Todos de pé, agora, a Capitã tem um pronunciamento a fazer. — ele diz antes de se voltar para o timão.
— É melhor ela falar logo. — Monty resmunga.
— Quer andar na prancha, marujo? — a capitã pergunta em um tom ameaçador — Ou está querendo dormir com os peixes?
— Não senhora! ─ ele responde.
— Iremos aportar em breve na ilha de Mortuum, devem checar cada gruta, cada caverna, cada lago, cada buraco, até encontrar o baú, o mapa deve estar lá dentro, assim não demorará muito para que tenhamos um destino. — ela diz sorrindo — Marujos, nossas vidas estão prestes a mudar, de uma vez por todas.
— Como vamos saber que é o baú certo? — Oscar, um marujo com uma enorme cicatriz no rosto, pergunta.
—Vocês saberão! E não se esqueçam de serem discretos, não queremos outros piratas fuçando onde não são chamados, entenderam?
— SIM! — todos respondem juntos.
— Ótimo! Se preparem para ancorar, não percam tempo especulando besteiras. — resmunga.
— SIM, CAPITÃ!
No mesmo instante, os marujos começam a se movimentar pelo convés, em sincronia, em pouco tempo o navio atraca no porto mais afastado, onde não possa ser visto.
Rapidamente, cada pirata toma um rumo, para procurar o tal baú.
— Sr. Williams? Quanto tempo acha que levará, para que outros Capitães descubram sobre esse baú? — a capitã questiona caminhando pela floresta escura que cerca a ilha.
— Não muito, Capitã! — ele responde.
A névoa tornava a caminhada mais difícil, as botas de cano alto afundavam na lama, no céu, nuvens negras se agrupavam.
— Vai chover Capitã.
— Um pouco de água não vai nos matar.
— Onde estamos indo? A floresta está ficando mais densa e a lama mais espessa, vamos acabar em um pântano, desse jeito. — o marujo estava receoso.
— Essa é a ideia. Há uma caverna depois do pântano. Eu sabia que nenhum daqueles imprestáveis procuraria por aqui, então nós vamos.
— Mas existem tantas cavernas, por que escolhemos justo essa? — ele perguntou confuso.
— Porque, se meus instintos estiverem certos, o que eu sei que estão, é a caverna certa! — responde pacientemente — Simples, não acha?
— Sim senhora!
Eles caminharam por mais alguns minutos, em silêncio, até avistarem uma área lodosa de cheiro forte. Ao fundo, estendia-se uma enorme projeção rochosa, uma caverna abria-se em seu interior e continuava por muitos metros, porém, a visão deles não era capaz distinguir isso.
— Viu? Eu estava certa.
— Mas ainda não sabemos se o baú realmente está lá!
— Sabemos! Há uma serpente sobre a entrada da caverna nos observando calmamente. — sorriu.
— Sempre há um protetor. — ele diz abismado com a competência de sua Capitã.
— Obviamente, assim é mais divertido.
— E como vamos vencê-lo? — questiona estupefato.
— Não vamos!
— O quê? — ele perguntou assustado.
— Não posso controla-la...
— Mas a senhora já controlou muitas criaturas antes.
— A situação é bem diferente aqui, essa não é uma serpente comum. — ela diz dando de ombros.
— És muito sábia, capitã! — uma voz sibila em seus ouvidos.
— Oh, esqueci-me de dizer... Ela fala!
— Capitã? Acho que deveríamos voltar. — Sr. Williams gagueja.
— Por quê? Acabaram de chegar. — a serpente solta uma risada esganiçada.
— Me dê o baú! — a capitã se aproxima com a expressão séria.
— Como? — a serpente pergunta confusa.
— O baú! Não se faça de desentendida, eu quero o mapa.
A serpente deslizou preguiçosamente até a ela, rodeou-a algumas vezes antes de pronunciar.
— Claro, minha querida!
— Assim? Tão fácil? — Sr. Williams pergunta.
— Se você achou fácil... — a capitã murmura.
A serpente a encara por um tempo olha dentro de seus olhos azuis e entra na caverna, minutos depois retorna, carregando um baú de madeira negra, o entrega a Capitã, junto com uma enorme chave.
— Ele será à sua destruição, não pense que, por ser diferente, terá mais chances de sucesso. — ela sibila antes de voltar à caverna e sumir em seu interior — Não é a primeira a tentar, o baú sempre retorna para mim.
— Eu não gostei disso, Capitã!
— Não se preocupe. — ela diz calmamente — Eu sempre conquisto o que quero, não importa o que aconteça.
Os dois retornaram ao navio para abrirem o baú e olhar o tal mapa.
A partir daquele momento, o destino deles estava traçado, um novo mundo lhes foi aberto, segredos serão descobertos e inúmeras possibilidades de um futuro repleto de aventuras.
O que os espera de tão ruim, para a serpente proferir tais palavras?
No antigo mundo, existiam três reinos: Cristallum (Reino das riquezas), Magicae (Reino da magia habitado por feiticeiros, bruxos e magos) e Bellum (habitado por guerreiros e carrascos sem honra).
Cristallum é o principal deles, sendo o reino da prosperidade, há várias ilhas espalhadas entre os reinos, dentre elas estão: Tereza do Norte, Tereza do Sul, Porto Dourado, Porto da Rocha, Caravela do Oeste e Caravela do Leste.
As ilhas piratas mais conhecidas e temidas são: Porto do medo, Terra Cruz, Turturem, Opala Insula, Mortuum, Immitis Pirate e a Cova da Serpente.
Há seis oceanos que cercam esses reinos e dez mares correspondentes.
1- Oceano de Diamante: possui águas cristalinas e calmas, é o oceano que se estende pelo reino de Cristallum. Há dois mares correspondentes a esse oceano, Mar de Pérola e Mar de Cristal.
2- Oceano Ilusório: possui águas perigosas, são habitadas por sereias, muitos barcos somem nesse oceano. Também é conhecido por confundir os marinheiros e piratas com uma fumaça roxa que cobre suas águas, é o Oceano que se estende pelo reino de Magicae, os mares correspondentes a esse oceano são o Mar Púrpuro e o Mar dos Encantos (ou das sereias).
3- Oceano Lamacento: Suas águas são difíceis de navegar devido às rochas pontudas ao longo do seu trajeto, muitos evitam passar por esse oceano, pois os barcos nem sempre conseguem, a maioria afunda, e quando passam é aos pedaços, é o Oceano que se estende pelo reino de Bellum, os mares correspondentes a esse oceanozão, o Mar de Pedras e o Mar Barroso.
4- Oceano escuro: suas águas, como o próprio nome já diz, são escuras e perigosas, existem vários relatos de criaturas lendárias passeando por essas águas. Todos os anos vários piratas somem sem deixar vestígios, é o Oceano que se estende pelas ilhas piratas, onde eles se refugiam, há dois mares correspondentes a esse oceano, o Mar Sombrio e o Mar Nevoento.
5- Oceano Fantasma: suas águas são desconhecidas, nenhum pirata corsário ou aventureiro se arrisca a navegar por esse oceano, dizem que suas águas são habitadas por criaturas horríveis e fantasmas amaldiçoados, tempestades e ondas gigantescas formam uma barreira natural que nenhum ser em sã consciência se atreve a quebrar, há dois mares correspondentes a esse oceano, Mar assombrado e Mar Turbulento.
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6- Oceano Infernal: Não há registros sobre suas águas, acredita-se que sua existência seja um mito!
PORTO DE BANCROFT - 15 ANOS ATRÁS... O Pesadelo Marinho, navio do capitão Julius Black, ancorou mais uma vez no porto de Bancroft... A manhã encontrava-se fria e cinzenta, uma ótima pedida para um chocolate quente com biscoitos e cobertas fofinhas. Como sempre a tripulação, mesmo que insatisfeita, se mantinha no navio. Não é visto com bons olhos, um romance entre um capitão pirata e uma duquesa. Encontravam-se a sua espera, sua mulher e sua sogra, Angeline e Amélia Bancroft e suas duas filhas pequenas. A menor de olhos azuis, cabelos negros e pele pálida, chamada Alicia e a outra, um pouco mais alta, loira de pele rosada com olhos castanhos, de nome Yasmim... Havia uma grande rixa entre as duas meninas, que possuíam a mesma idade, porém, personalidades totalmente distintas, e estranhamente não eram gêmeas. — Papai, eu estava morrendo de saudades! — Yasmim gruda na cintura do capitão com um sorriso estampado no rosto. Mas claro que a outra menina se enfureceu, sempre fora a prime
Um garoto, na faixa dos sete anos escutava apavorado os gritos desesperados de pessoas ao longe, pela enorme janela. Ele se encontrava confuso diante da situação, sem saber o que acontecia, apenas permanecia imóvel por longos minutos, tentava considerar se saía para fora do quarto ou não. Suas vistas encontravam-se enevoadas... Ao tocar a maçaneta da porta, constata que a mesma se encontra um pouco quente, abre devagar e surge no corredor abafado e vazio. Fumaça tomava conta do ambiente, há alguns metros um quarto queimava com força, e vozes podiam ser ouvidas próximas dali. Adentrando a sala do gabinete de seu pai, encontra sua mãe perto na porta, apavorada, diante de dois homens que apontam espadas já manchadas de sangue para a garganta do pai do garoto. — Mamãe, o que está acontecendo? — pigarreia de cenho franzido. Sobressaltando-se no lugar, a mulher vira para o garoto, visivelmente assombrada. Ela torna a olhar para o marido antes de tomar uma decisão impensada, tomando o g
ILHA DE BELLUM- PORTO DA DISCÓRDIA. Já havia anoitecido, o porto estava fechado, assim como não havia nenhum navio ancorado, salvo dois, pertencentes a Guarda do rei de Bellum. Os contrabandistas eram perigosos, porém não se atreviam a permanecer muito tempo na ilha quando o sol começava a baixar, e esse era o ponto chave para o sucesso da fuga, sem atrasos, nem espiões, teriam melhor desempenho. — Vamos nos dividir em dois grupos, cada um inspeciona um navio, nos encontramos em meia hora aqui, tomem cuidado, não sabemos se há armadilhas nas embarcações. — Robert grita para que todos o possam escutar. Com um aceno, se dividem, sendo Daniel e Robert os líderes de cada grupo. Os navios eram de porte médio, capazes de abrigar muitos homens e mulheres, serviriam para seus propósitos, mas não sabiam se suportariam a todos sem deixar ninguém para trás. Depois de mais ou menos meia hora, as inspeções haviam cessado. — O que acha, Robert? — Daniel questiona pensativo. — É capaz de abri
Ilha de Bellum - Porto da Discórdia. Por longos minutos um grande silêncio pairou sobre o ar, deixando a todos desconfortáveis. — O que querem de nós? — Robert questiona. — Eu procuro um homem chamado Robert, ele possui algo que eu quero e em troca, posso lhes dar passagem livre até onde desejarem. — Kira responde. Seu tom de voz era neutro, porém auto o suficiente para que escutassem. Robert e Daniel ainda desconfiavam do que estava acontecendo, porém era um pouco estranho saber que ali era uma mulher dando ordens a vários homens em um navio. — E o que quer com ele, mulher? — Daniel pergunta. — Kira, eu sou a capitã Kira, não mulher, e o meu interesse nesse senhor é puramente informativo. Por um momento Robert imaginou que soubessem que ele era, mas logo se deu conta de que a tal capitã Kira não podia conhecê-lo, não sem o mesmo ter se apresentado. — Eu sou Robert, — se apresentou — e o que lhes posso oferecer em troca da nossa saída daqui? — Já ouviu falar no capitão Julius
Os últimos suprimentos foram distribuídos entre os recém chegados. Alicia encarava os acontecimentos sem muito interesse aparente, mantinha a “pose” de moça rica diante dos criados que trouxera para ajudar, que iam de um lado para o outro descarregando tudo. — Isso deve ser o suficiente para se manterem durante um tempo. — diz alisando a saia do vestido. Daniel ainda a encarava um pouco confuso, enquanto Robert nem se importava muito, desde que todos os companheiros estivessem bem. As roupas e sapatos, entre outras coisas, eram bem mais do que eles imaginavam, além de perceber que o material em que os mesmos foram produzidos, era de ótima qualidade, e isso os surpreendeu, se tratando de ordens da capitã. — Duquesa — Willians a chama —, acho que devemos ir imediatamente. Ela assente com a cabeça já agradecendo por não precisar permanecer mais naquele local. Fora entediante para ela permanecer no local durante todo aquele tempo, convencer a todos de que ela estava ali apenas como
REINO DE CRISTALLUM No dia seguinte, Alicia acordou cedo. Colocou o vestido mais leve que encontrou e desceu a escada, recepcionada pelo cheiro maravilhoso do café de sua avó. Angeline estava bem melhor e Amélia estava arrumando a mesa do café, Yasmim adentrou em seguida e sentou o mais longe possível da irmã. A família Bancroft costuma acordar demasiado cedo, porém, naquela noite não conseguiram pregar bem os olhos, as três estavam com aparência cansada, enquanto Alicia se encontrava muito bem. — Bom dia mamãe, vovó! — diz pegando uma xícara — Como está, Yasmim? Ela a encarou com um olhar de ódio, mas não respondeu. — Minha própria mãe tecendo planos contra mim, e o pior... Tentando beneficiar alguém que nem se importa com ela. — provoca, falando o mais alto possível. Estava pondo seu plano em pratica, não precisava mais fingir que gostava daquele nobre bobão, ou aguentar seus caprichos. — Eu pensei durante parte da noite e cheguei à conclusão que não sou bem vinda aqui. Irei
MONTANHA ARDENTE – ILHA DO VULCÃOEm questão de poucas horas já estavam em Montanha Ardente ou popularmente conhecida como a ilha do vulcão. É uma ilha pequena, porém muito temida. De vez em quando a montanha que compõe a maior parte da ilha, ou melhor, o vulcão, despeja lava por sua boca destruindo tudo e deixando o ambiente quase insuportável. Todos desceram do navio e ficaram na praia que possuía a areia negra. — Oscar, fique de olhos nos prisioneiros do convés inferior e Pria, não deixe o garoto do mastro fugir. — diz autoritária — Sr. Willians e eu iremos descer, o resto, fiquem de olhos abertos, caso algum navio apareça. Todos assentem de prontidão, ainda um pouco abalados pelo que ocorrera mais cedo. — Capitã, o que estamos fazendo aqui, novamente? — Sr. Willians pergunta engolindo em seco. Kira apenas observava todo o local, enquanto caminhavam, para ter certeza de que nenhum outro pirata havia estado ali desde a sua partida, ou pior ainda, esteja a sua espera. — Tenho
O navio estava cada vez mais veloz, Kira enfeitiçara-o para que o mesmo navegasse mais depressa, em pouco tempo, aportariam em Turturem. — Você está indo rápido demais! — Sr. Willians grita por cima do barulho do mar — Capitã, iremos afundar se continuar assim. Kira o encara por um tempo, com olhar divertido, nem ao menos tinha percebido que a raiva que estava sentindo, colaborou para a velocidade ir aumentando a cada minuto. — Acredito que a conversa não tenha sido boa. — ele comenta. — Realmente... — sussurra, mesmo sabendo que não poderá ser ouvida. Ela começa a respirar profundamente e soltar o ar com calma, aos poucos o navio passou a navegar em uma velocidade mais aceitável. — Capitã, desse jeito, o Sombra do Oceano não vai aguentar. — resmunga respirando rápido. — Se continuar falando assim, ele vai te jogar para fora. — comenta. O velho pirata apenas gargalhou alto. A maioria dos navios são amaldiçoados, eles escolhem os mais cruéis para serem seus capitães, os navios p