– Lia? – Chamei da porta. – Estou na cozinha. – Sua voz vinda do outro cômodo imediatamente me reconfortou. Suspirei aliviada. – Por que veio tão cedo? – Também não sei, devo estar envelhecendo. Hum torradas. – Disse ao roubar uma antes que Lia chegasse a tempo para me impedir. – Idiota. – Vai fazer o que hoje? – Ir à festa do Rafael? – Comentou como se fosse óbvio. – Antes disso, meu anjo. Quer dar uma volta? – Eu marquei com a Isa. – Avisou sem jeito. – Você quer ir conosco? – Nah, deixa para lá. – Peguei mais uma torrada e coloquei-a na boca tentando disfarçar a inquietação em minha barriga por imaginar estar sozinha novamente. – Você pode parar com isso? – Cum quo? – Disse inocente ainda com minha boca cheia. – Você é tão irritante. – Soltou levemente irritada. – Você é tão irritante. – Repeti imitando-a fazendo seus olhos se revirarem. – Você acha que eu tenho que levar algum presente? Não é aniversário dele nem nada. O que a gente dá quando alguém consegue passar em
Ouvir as pessoas rindo e se divertindo ao meu redor conseguia afastar meus pensamentos ruins por alguns instantes. Era um momento feliz, todos nós estávamos ali para celebrar a conquista de Rafael juntos, e isso tornava o presente mais interessante do que qualquer outro período maluco da minha vida. – Um, dois, três...– Pronunciava Rafael à medida que contava cada um de nós. – Por que só tem quatro pessoas aqui? Eu falei que era para vocês convidarem todo mundo que vocês conhecessem. – Rafael olhou para Thiago em acusação. – Eu convidei a Belle. Rafael, por sua vez, voltou sua atenção para mim e para Lia. – Cadê o Nathan e o Nicolas? – Nathan já vai chegar. – Nicolas não pode vir, mas ele mandou parabéns. – Ai, gente, eu nunca faço festa, não deixem isso flopar. – Ele olhou preocupado para as diversas pessoas que dançavam mais adiante. – Está cheio de gente aqui, meu amor. Vem, vamos beber para você relaxar um pouco. – Thiago dizia conforme puxava o homem para a cozinha. – Eu
– Desculpe. – Disse uma mulher atrás trazendo minha mente de volta à festa. As pessoas riam e dançavam próximo a mim como se nada tivesse acontecido. O sorriso que anteriormente estava em minha boca, desapareceu deixando apenas um gosto amargo. Dei um sorriso forçado e saí do círculo abrindo espaço para alguém incentivar outra pessoa a dançar. Caminhei para a porta, o oxigênio da casa já não parecia o suficiente para mim. – Está tudo bem? – Lia surgiu ao meu lado. – Uhum. Só cansei. Vou tomar um ar. – A garota me olhou desconfiada. – Ok. Eu vou com você. Assenti aliviada abrindo a porta e sentando na fachada da casa. Peguei meu celular novamente para ver se Nathan havia chegado. Não havia nenhuma mensagem, mas eu sabia que ele tinha visualizado. Suspirei. – Vai me contar o que está acontecendo? – Hoje não. – Olhei para ela. – É um dia feliz. – Tudo bem. Repousei minha cabeça em seu ombro e permanecemos ali em silêncio por alguns minutos apenas observando as estrelas brilharem
– Eu não sabia que você fumava. – Eu não fumo, quer dizer, eu parei. Às vezes eu fumo. O que foi? – Eu não queria ser a pessoa chata, mas minha expressão de desagrado assumiu involuntariamente por meu rosto. – Você está com uma expressão de julgamento. – Não estou julgando, eu só... como você pode consumir essa porcaria? Nathan pareceu surpreso com a forma que eu despejei aquilo. – Você se importa? – Por que eu não deveria? Isso mata. – Os hambúrgueres que você vive comendo também. – Ele deu de ombros, mas sua voz assumiu um tom um pouco mais impaciente. – Tanto faz. Nathan respirou fundo e aproximou mais seu corpo do meu tomando cuidado para não deixar inutilmente o cigarro perto de mim, porém o cheiro estava impregnado nele. – Isso é um problema para você? – Não, quer dizer... – As palavras estavam ficando confusas conforme eu ficava nervosa. – Eu só fiquei surpresa. É que você é todo certinho, eu só não imaginei... Eu não vou mentir, eu odeio essa coisa. – Confessei enoja
Eu costumava achar que quando eu crescesse minha vida seria como nos filmes. Que ao fim, tudo ficaria bem, que eu era uma heroína que venceria no final. Entretanto, as coisas não são tão simples assim, e nem sempre o que você quer que aconteça realmente acontece. Eu só não tinha ideia de que eu precisaria me acostumar com isso tão cedo. Tudo estava indo tão bem. Quando foi que começou a dar tão errado? Não importava o quanto eu tentasse, algo sempre me puxava para baixo me deixando afundar em um vazio solitário que ninguém mais compreendia. Por dentro eu estava gritando, embora meus lábios continuassem imóveis. Nada adiantava. Nada mudaria. Nada voltaria a ser como antes e não importa o quanto eu lutasse ou o quanto eu desejasse aquilo, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Minhas pernas trêmulas não conseguiam mais suportar o cansaço do meu corpo, eu havia chegado ao meu limite. Eu estava tão cansada. Eu não aguentava mais. Minha visão agora embaçada pelas lágrimas insistentes q
Sem pressão. Respirei fundo. Peguei meu celular para mandar uma mensagem para Nathan, mas ao abrir sua conversa mudei de ideia. Talvez eu devesse fazer uma surpresa. Com certeza ele não me esperaria encontrar lá, e ao mesmo tempo não sobraria tempo de pensar sobre conhecer seus pais. Parecia mais sensato. Um pouco covarde, talvez, mas quem precisava ter coragem agora? Bufei. Belle que vergonha. Desisti da ideia, logo abrindo na conversa com Nathan novamente. Belle: Hey | Adivinha onde eu vou trabalhar hoje... | – Belle, eu vou a minha casa me arrumar. Encontramo-nos na porta da casa dos Midas às 18 horas, pode ser? – Pode, sim. Apresentável. – Imitei a voz de Sabrina fazendo a mulher rir baixo antes de certificar-se de que Sabrina não poderia nos ouvir. Olhei para a tela novamente esperando alguma resposta, mas Nathan não havia nem visualizado o que eu havia mandado mais cedo, portanto deixei de lado e decidi avisar Thiago. Belle: Adivinha quem não vai olhar minhoca, otário
– O que você está fazendo aqui? – Disse. – Oi para você também, Bass. Eu sou fotógrafa, lembra? Não entrei de penetra ou algo do tipo. – Respondi irritada. Nathan parecia pálido, enquanto olhava nervoso para os lados como se ele não quisesse que soubessem quem eu era. – Vamos sair daqui. – Sugeriu. – O quê? Eu estou trabalhando, eu não posso sair. Qual é o problema? Acalme-se, eu não vou chegar aos seus pais nem nada. – Não é isso, eu... a gente pode só conversar um pouco lá fora? – Pediu quase implorando. – Por favor, é importante. – Nathan, vamos. – Falou uma mulher cujo rosto eu havia visto na internet mais cedo. Ela o puxou para longe de mim me deixando sozinha sem entender o que era tão importante. O que foi que acabou de acontecer aqui? Por que ele reagiu dessa forma? Será que minha roupa não estava boa ou será que ele apenas estava nervoso da mesma forma que eu estava? Ok, eu sou linda. O problema não era a roupa. Mas então qual era? Seja lá o que tenha acontecido, minha
– Um, dois, três. Lá vou eu. Assim que terminei de contar, saí correndo prestando atenção em cada movimento ao meu redor. Sabia onde encontrar Arthur porque ele sempre se escondia atrás do carro do senhor do doce, mas Alana era mais difícil, ela era muito esperta. Fui em direção ao carro do doce, ao mesmo tempo em que examinava atentamente todos os lugares possíveis, até os mais incomuns, como o bueiro. Eu precisava ganhar daquela garota um dia. – Te peguei! – Disse ao saltar por trás do carro. – Ué. No mesmo instante os dois saltaram de cima da árvore, e correram em direção à parede em que eu havia contado. – Há, há você é uma bobona! – Caçoou Alana triunfante. – Sabia que você iria para o carro. – Continuou Arthur rindo, me deixando irritada. – Bobos! – Bufei. – Olha lá. – Comentou a garota ao apontar para um carro estacionando ao lado da minha casa. – Acho que os novos vizinhos chegaram. Nesse momento um casal desceu do transporte acompanhado de uma garota pequena. Ela and