Sei que posso ter chocado você, doutor, com minhas últimas revelações, mas preciso que me escute. Se no final de tudo quiser me julgar, me acusar de um destino que simplesmente aconteceu, eu gostaria desde já de lembrá-lo, como religioso que você diz ser, das palavras de Cristo: “Aquele que não tiver pecado que atire a primeira pedra”. Então, se ao fim de meu relato, você se achar inocente, aceitarei que condene, mas, antes, ao menos reflita em minha história e tente me entender.
Em um dos últimos encontros, falei do aniversário de Joana Gabriela que se aproximava. Ela marcara um jantar em um restaurante para comemorar a data junto com familiares e amigos. E fez questão da minha presença.
Naquele dia, tudo deu errado. Precise
Doutor, queria que você entendesse que relembrar todos esses momentos não é uma coisa muito simples. Tenho vontade de sorrir, por ter tido a oportunidade de viver cada um deles, mas tenho vontade de chorar, porque nunca sei o que vai acontecer depois, ou ainda se haverá um depois.Por outro lado, fico sem saber como agir, vivo a complexidade desse relacionamento na pele e sei como isso pode ser intenso. O fato é que tudo é tão complexo que simplesmente lembrar de momentos como esse me fazem chorar. Um choro nostálgico, de quem queria ter a oportunidade de viver tudo de novo ou fazer com que cada momento fosse eterno. Não sei o que aconteceria se tivéssemos a oportunidade de reescrever nossa história, mas sei, doutor, que alguns acontecimentos seriam realizados da mesma forma. Afinal, tudo aconteceu de uma forma tão natura
Veja bem, doutor, alguns momentos são divisores de destinos. E alguns acontecimentos também, por mais simples que possam parecer. E não podia ser diferente conosco. Acho que o destino gosta de brincar na simplicidade, tornando algo tão complexo e indescritível que no fim, nem mesmo nós, que passamos por tudo isso, conseguimos descrever os fatos de forma coesa. Sim, acho que o destino brinca conosco. Lembra o que relatei no último encontro? Um olhar que aconteceu por causa de uma chuva em um dia que não parecia que ia chover. Dois rostos que se encontram, dois lábios que se desejam e, no final, nada acontece. Não é estranho, doutor? Não é o destino brincando com nossas vidas?
Mais uma vez aqui estou, doutor. Hoje quero contar como se desenrolou a nossa aproximação após o apelido que encontrei para a doce Joana Gabriela. Ah, se você estivesse com ela, se ouvisse aquela voz melodiosa que tanto se assemelha aos cantos das mais belas sereias do mar, se olhasse os profundos olhos e se pudesse tocar naquela pele morena como eu pude, entenderia o meu drama e meu desespero. Desde que a chamei de bombom pela primeira vez, comecei a criar situações que envolvesse esta palavra. Frases soltas que, ao cair em seus ouvidos, seriam interpretadas de outra forma. Afinal, queria justificar que ela perguntou qual bombom eu queria provar. Ela, nesse momento, já havia percebido o quão enlouquecido eu estava e o quanto a desejava mais do que o ar que respirava. Pela manh&atild
Doutor, sei que parece uma coisa infantil ter apelidos bobos para se referir um ao outro. Mas a verdade foi que isso funcionou muito bem para ela. Assim que o treinamento voltou, ela chegou e conversava com uma outra colega. Lembro de passar ao lado dela e escutar uma inocente frase:– Bem vi um Papai Noel na rua que queria um bombom.Por mais que não pudesse demonstrar que entendi, eu sabia que ela estava tentando me provocar. Em meio ao treinamento, doutor. Que audácia!Respirei fundo e dei o recado que todos queriam ouvir, menos eu e ela:– Senhores, nosso treinamento entrará em recesso de final de ano. Neste período, avisaremos quem irá para a segunda fase.Senti uma ponta de decepção no olhar de Joana Gabriela. Eu queria já ter comentado com ela sobre isso, mas fui surpreendido com a notícia assim que cheguei no treinamento.O treinamento findou naquele dia com m
Na última vez que aqui estive, contei sobre o dia que ela teve problemas com seu material de trabalho no treinamento. Esse momento foi citado porque tudo que aconteceu depois foi consequência desse dia. Esse momento foi quase um marco zero em nossa história, foi quase um preparativo para tudo que ia acontecer nos dias subsequentes.Hoje e no próximo encontro irei falar sobre o dia que a devolvi o material consertado.Por que dois encontros? Porque foi um dia que muita coisa aconteceu. Foi um dia meio decisivo, o dia onde começamos a definir tudo aquilo que sentíamos um pelo outro. Posso dizer que foi o dia que aquela pequena chama que havia em nosso íntimo resolveu brilhar de uma forma estranha e decidida que é difícil descrever com palavras o que realmente aconteceu. Era uma explosão de sentimentos. Algo mágico. Como se estivesse determinado que ali tudo deveria acontecer.E tudo come&c
Doutor, existe algo mais complexo neste mundo do que a relação de um homem com uma mulher? Me diga, doutor, o que leva um ser humano a se encantar por outro? Quais são os efeitos científicos que acontecem no corpo humano que levam a essa aproximação?Quando conheci Joana Gabriela nunca imaginei tal aproximação. Na verdade, tudo foi acontecendo naturalmente. Conversávamos normalmente, e, de uma forma tão estranha e natural, fomos descobrindo pontos em comum. Tornamo-nos grandes amigos, pessoas que se gostam, que fazem bem um ao outro.E onde chegamos cultivando essa bonita amizade? Na tarde daquele dia tão especial para nossas vidas.Primeiro, doutor, entenda que nunca fui nenhum santo. Sustento um cargo de confiança, de incentivo, de formar pessoas dispostas a crescer intelectualmente. Mas quem eu sou, muitas vezes difere do profissional que eu sou. Afinal, sei separar muito bem
Doutor, quando o procurei, o fiz porque sei de seu largo curriculum e de sua experiência de anos. Por isso, tenho a esperança de que até o final de todos os encontros que teremos que eu possa ao menos definir parte daquilo que eu sinto. Sei que esse não é o principal objetivo de nossos encontros, na verdade nossos objetivos são outros. Mas não tenho como seguir se não conseguir entender o que sinto aqui dentro. E parece que palavras não conseguem definir isso.Mas, me diga, doutor. Na sua juventude, quantas vezes você falou que estava apaixonado? Quantas escutaram de seu lábio um “eu te amo” que parecia tão verdadeiro que até mesmo você acreditou nele? E quantas vezes foram somente palavras jogadas ao vento, que se perderam na linha de sua história, palavras que não devem ser nem lembradas por quem as ouviu?Pois é, doutor. Já
Se me lembro bem, na cronologia da minha história com Joana Gabriela, parei no dia onde conversamos, nos abraçamos, trocamos uns carinhos, mas, por fim, nada aconteceu e ela saiu correndo pelas ruas, me deixando sem saber como agir.Naquele dia, sua última mensagem da noite foi algo parecido com ela falando que achava que quando estivéssemos mais velhos, com cabelos brancos e já sem forças, ainda sentaríamos em um banco de praça, conversaríamos e riríamos dessa situação. Depois disso, recebi um “boa noite, durma bem”.Queria muito que ela estivesse certa e que tudo terminasse naquele dia. Queria que realmente fosse somente um momento engraçado que um dia aconteceu e que nunca se repetiria. Queria que fosse apenas algo momentâneo. Um momento. Um pequeno momento que aconteceu e acabou. Mas não foi.No mesmo dia ainda trocamos diversas mensagens com u