Mais uma vez aqui estou, doutor. Hoje quero contar como se desenrolou a nossa aproximação após o apelido que encontrei para a doce Joana Gabriela. Ah, se você estivesse com ela, se ouvisse aquela voz melodiosa que tanto se assemelha aos cantos das mais belas sereias do mar, se olhasse os profundos olhos e se pudesse tocar naquela pele morena como eu pude, entenderia o meu drama e meu desespero.
Desde que a chamei de bombom pela primeira vez, comecei a criar situações que envolvesse esta palavra. Frases soltas que, ao cair em seus ouvidos, seriam interpretadas de outra forma. Afinal, queria justificar que ela perguntou qual bombom eu queria provar. Ela, nesse momento, já havia percebido o quão enlouquecido eu estava e o quanto a desejava mais do que o ar que respirava.
Pela manh&atild
Doutor, sei que parece uma coisa infantil ter apelidos bobos para se referir um ao outro. Mas a verdade foi que isso funcionou muito bem para ela. Assim que o treinamento voltou, ela chegou e conversava com uma outra colega. Lembro de passar ao lado dela e escutar uma inocente frase:– Bem vi um Papai Noel na rua que queria um bombom.Por mais que não pudesse demonstrar que entendi, eu sabia que ela estava tentando me provocar. Em meio ao treinamento, doutor. Que audácia!Respirei fundo e dei o recado que todos queriam ouvir, menos eu e ela:– Senhores, nosso treinamento entrará em recesso de final de ano. Neste período, avisaremos quem irá para a segunda fase.Senti uma ponta de decepção no olhar de Joana Gabriela. Eu queria já ter comentado com ela sobre isso, mas fui surpreendido com a notícia assim que cheguei no treinamento.O treinamento findou naquele dia com m
Na última vez que aqui estive, contei sobre o dia que ela teve problemas com seu material de trabalho no treinamento. Esse momento foi citado porque tudo que aconteceu depois foi consequência desse dia. Esse momento foi quase um marco zero em nossa história, foi quase um preparativo para tudo que ia acontecer nos dias subsequentes.Hoje e no próximo encontro irei falar sobre o dia que a devolvi o material consertado.Por que dois encontros? Porque foi um dia que muita coisa aconteceu. Foi um dia meio decisivo, o dia onde começamos a definir tudo aquilo que sentíamos um pelo outro. Posso dizer que foi o dia que aquela pequena chama que havia em nosso íntimo resolveu brilhar de uma forma estranha e decidida que é difícil descrever com palavras o que realmente aconteceu. Era uma explosão de sentimentos. Algo mágico. Como se estivesse determinado que ali tudo deveria acontecer.E tudo come&c
Doutor, existe algo mais complexo neste mundo do que a relação de um homem com uma mulher? Me diga, doutor, o que leva um ser humano a se encantar por outro? Quais são os efeitos científicos que acontecem no corpo humano que levam a essa aproximação?Quando conheci Joana Gabriela nunca imaginei tal aproximação. Na verdade, tudo foi acontecendo naturalmente. Conversávamos normalmente, e, de uma forma tão estranha e natural, fomos descobrindo pontos em comum. Tornamo-nos grandes amigos, pessoas que se gostam, que fazem bem um ao outro.E onde chegamos cultivando essa bonita amizade? Na tarde daquele dia tão especial para nossas vidas.Primeiro, doutor, entenda que nunca fui nenhum santo. Sustento um cargo de confiança, de incentivo, de formar pessoas dispostas a crescer intelectualmente. Mas quem eu sou, muitas vezes difere do profissional que eu sou. Afinal, sei separar muito bem
Doutor, quando o procurei, o fiz porque sei de seu largo curriculum e de sua experiência de anos. Por isso, tenho a esperança de que até o final de todos os encontros que teremos que eu possa ao menos definir parte daquilo que eu sinto. Sei que esse não é o principal objetivo de nossos encontros, na verdade nossos objetivos são outros. Mas não tenho como seguir se não conseguir entender o que sinto aqui dentro. E parece que palavras não conseguem definir isso.Mas, me diga, doutor. Na sua juventude, quantas vezes você falou que estava apaixonado? Quantas escutaram de seu lábio um “eu te amo” que parecia tão verdadeiro que até mesmo você acreditou nele? E quantas vezes foram somente palavras jogadas ao vento, que se perderam na linha de sua história, palavras que não devem ser nem lembradas por quem as ouviu?Pois é, doutor. Já
Se me lembro bem, na cronologia da minha história com Joana Gabriela, parei no dia onde conversamos, nos abraçamos, trocamos uns carinhos, mas, por fim, nada aconteceu e ela saiu correndo pelas ruas, me deixando sem saber como agir.Naquele dia, sua última mensagem da noite foi algo parecido com ela falando que achava que quando estivéssemos mais velhos, com cabelos brancos e já sem forças, ainda sentaríamos em um banco de praça, conversaríamos e riríamos dessa situação. Depois disso, recebi um “boa noite, durma bem”.Queria muito que ela estivesse certa e que tudo terminasse naquele dia. Queria que realmente fosse somente um momento engraçado que um dia aconteceu e que nunca se repetiria. Queria que fosse apenas algo momentâneo. Um momento. Um pequeno momento que aconteceu e acabou. Mas não foi.No mesmo dia ainda trocamos diversas mensagens com u
Cada amanhecer me reservava uma surpresa. Cada dia passou a ser formado de expectativas, dúvidas, incertezas e o desafio de tentar definir essa loucura que estava acontecendo.Afinal, doutor, iniciou-se em minha vida uma situação tão delicada, tão diferente, tão estranha, tão louca, que mesmo séculos de reflexão seriam poucos para uma conclusão ou uma definição.Comparo esse meu caso ao de crianças que chegam na escola e se apaixonam pela professora. Levam maçã, cartinhas de amor e devaneiam o dia todo por aquele amor impossível.Vai dizer, doutor, que nunca se apaixonou quando criança?A diferença é que, na escola, a professora não nutre um sentimento pela criança apaixonada. Na escola a professora contorna a situação e tudo fica bem.Mas e no meu caso, que não somos mais crian&cced
Doutor, não tenho como esquecer aquela noite. Tão mágica, tão comum, tão cheia de imprevistos. Parecia que o destino estava brincando conosco mais uma vez. Não seria a primeira vez que nossos caminhos tortuosos se cruzariam de uma forma tão estranha. Tudo era arquitetado de forma a ficarmos somente eu e Joana Gabriela.Como relatei, estávamos indo a uma reunião. Mas ela foi cancelada. Juntamos todo o grupo e resolvemos partir para um restaurante com o intuito de comemorar antecipadamente o final do treinamento.O grupo dividiu-se entre carros e ônibus. Eu e Joana Gabriela fomos juntos no grupo que foi de ônibus. Queria recordar dois pontos chaves para esta ida. O primeiro, que dividimos um guarda-chuva até entrar no transporte público. O segundo, que ela estava com frio e meu paletó foi parar em seu corpo.Meus pensamentos neste momento? Ah, doutor, eu queria fugir co
Doutor, não posso dizer que não pensei nas consequências daquela noite. Na verdade, após a euforia inicial, a parte racional de minha mente divagava sobre a loucura que estávamos iniciando.Lógico que estava extremamente feliz em ter beijado aqueles tão desejados lábios. Sabe o quanto tinha sonhado com aquele momento? Era como se fosse algo quase inalcançável e agora... agora era real. Os lábios dela tinham o gosto de paixão, gosto de conquista, gosto doce da loucura que invadia nosso ser.Porém, eu sabia que o nosso próximo encontro poderia se iniciar com ela dizendo que não poderíamos prosseguir com aquilo e que tudo foi apenas um erro. E, por um lado, pensava se seria melhor que ela me dissesse essas palavras. Eu pediria desculpas, e a vida prosseguiria normalmente. Não exatamente “normalmente”, mas fingiria que o beijo não acontec