Cada amanhecer me reservava uma surpresa. Cada dia passou a ser formado de expectativas, dúvidas, incertezas e o desafio de tentar definir essa loucura que estava acontecendo.
Afinal, doutor, iniciou-se em minha vida uma situação tão delicada, tão diferente, tão estranha, tão louca, que mesmo séculos de reflexão seriam poucos para uma conclusão ou uma definição.
Comparo esse meu caso ao de crianças que chegam na escola e se apaixonam pela professora. Levam maçã, cartinhas de amor e devaneiam o dia todo por aquele amor impossível.
Vai dizer, doutor, que nunca se apaixonou quando criança?
A diferença é que, na escola, a professora não nutre um sentimento pela criança apaixonada. Na escola a professora contorna a situação e tudo fica bem.
Mas e no meu caso, que não somos mais crian&cced
Doutor, não tenho como esquecer aquela noite. Tão mágica, tão comum, tão cheia de imprevistos. Parecia que o destino estava brincando conosco mais uma vez. Não seria a primeira vez que nossos caminhos tortuosos se cruzariam de uma forma tão estranha. Tudo era arquitetado de forma a ficarmos somente eu e Joana Gabriela.Como relatei, estávamos indo a uma reunião. Mas ela foi cancelada. Juntamos todo o grupo e resolvemos partir para um restaurante com o intuito de comemorar antecipadamente o final do treinamento.O grupo dividiu-se entre carros e ônibus. Eu e Joana Gabriela fomos juntos no grupo que foi de ônibus. Queria recordar dois pontos chaves para esta ida. O primeiro, que dividimos um guarda-chuva até entrar no transporte público. O segundo, que ela estava com frio e meu paletó foi parar em seu corpo.Meus pensamentos neste momento? Ah, doutor, eu queria fugir co
Doutor, não posso dizer que não pensei nas consequências daquela noite. Na verdade, após a euforia inicial, a parte racional de minha mente divagava sobre a loucura que estávamos iniciando.Lógico que estava extremamente feliz em ter beijado aqueles tão desejados lábios. Sabe o quanto tinha sonhado com aquele momento? Era como se fosse algo quase inalcançável e agora... agora era real. Os lábios dela tinham o gosto de paixão, gosto de conquista, gosto doce da loucura que invadia nosso ser.Porém, eu sabia que o nosso próximo encontro poderia se iniciar com ela dizendo que não poderíamos prosseguir com aquilo e que tudo foi apenas um erro. E, por um lado, pensava se seria melhor que ela me dissesse essas palavras. Eu pediria desculpas, e a vida prosseguiria normalmente. Não exatamente “normalmente”, mas fingiria que o beijo não acontec
Doutor, o senhor já se sentiu frustrado de uma forma tal que pensou em desistir de algo? Já se sentiu esperançoso e essa esperança foi arrancada em minutos? Já sentiu que tudo daria certo e logo depois tudo deu errado? Já transitou entre o querer, o poder e o precisar e por fim terminou só?Pois é, em meio a essa loucura que se tornou minha vida, senti tudo isso em um dia. Senti tudo isso num mesmo momento, por um mesmo motivo, dentro de uma das situações mais comuns da minha vida, mas que envolveria uma pessoa: Joana Gabriela. Ah, ela estava realmente mexendo comigo.Era só um dia comum, mas um dia que eu tinha a esperança de encontrá-la, pois participaria de uma palestra relacionada ao treinamento que ela deveria participar também. Não que precisasse participar, mas poderia. Era aberta a todos que fizeram parte do treinamento.No dia anterior, eu conversava
Os dois dias que sucederam essa noite onde não encontrei Joana Gabriela foram angustiantes. Não tinha notícias dela, nenhum contato, e talvez só a encontrasse depois das festas de fim de ano, quando o treinamento iria retornar.Não seria desesperador? Teria que esperar aproximadamente um mês inteiro para encontrar com aquela que fazia meu coração bater mais forte. Pior de tudo é que nem ao menos uma mensagem eu recebia dela. O que poderia estar acontecendo?Entenda, doutor, devido ao meu louco dia a dia, devido a meu emprego e a vida corrida que levo, sou propenso a sofrer de ansiedade. Passo cada momento da minha vida tentando controlar esse problema, um mal que já atrapalhou até a minha saúde. Sim, doutor, eu sou uma pessoa extremamente ansiosa.Por que sou ansioso? Não sei. Sempre trabalhei buscando resultados, querendo tudo pronto naquela hora, tenso em saber o que outr
Sabe o que não entendo na humanidade? Passam a vida em brigas, reclamando dos outros e de si próprio. Quando chega a véspera de Natal, começam a desejar felicidades e distribuir sorrisos para todos.Sorrisos hipócritas de uma sociedade mais hipócrita ainda. Pessoas tolas que simplesmente não sabem valorizar aquilo que realmente é importante.Ando nas ruas por esses dias um pouco mal-humorado, pois não consigo ser tão falso quanto esses, que te desejam um “feliz Natal” depois de um ano que nem ao menos ligaram uma vez para você, nem ao menos perguntaram se você estava bem, nem mesmo lembram quem você é.Mas aquele dia, aquela véspera de Natal, era especial para mim, pois encontraria Joana Gabriela e teríamos um tempo só nosso.Pelo menos foi o que achei. Pelo menos foi o que nós dois achamos. Era o momento certo para eu con
Quando éramos crianças, Natal era uma data legal. Reuníamos a família, comíamos, brincávamos e todos ficavam alegres. Aguardávamos ansiosos essa data para recebermos tolos presentes que usaríamos por um tempo e provavelmente ficariam jogados pelos cantos da casa.Parece que o tempo foi tirando de mim esse brilho do Natal. Será que foi porque a infância se foi?E tenho que admitir, meu Natal começou nebuloso neste ano. Foi a forma mais estranha que uma data como esta poderia se iniciar.Naquele dia, tudo estava dando errado dentro da casa. Coisas que quebraram, aparelhos que não funcionavam, serviço que não rendia. Parecia que nada daria certo naquele dia. Talvez por chateação, por cansaço. Não sei. Só sei que, ao acordar, coloquei meu smartphone para carregar. Queria saber de Joana Gabriela. E sabe o que aconteceu? O carregador simp
É muito estranho como reagimos às mais adversas situações. Principalmente depois de passarmos determinada etapa de nossas vidas. Parece que cada momento vivido nos transforma e reagimos diferente às situações.Veja, doutor, esse é nosso encontro de número 21. Desde o primeiro que falo dos meus desejos, das minhas angústias e do louco sentimento que surgiu entre Joana Gabriela e eu. Sinceramente, não é uma loucura?Tudo foi ficando tão intenso que era mais do que esperado vivermos um momento onde estaríamos só os dois e nos amaríamos de uma maneira tão mágica e intensa que, só de falar, consigo sentir a pele dela tocando na minha. E isso precisava acontecer justamente no dia de Natal?E sabe o que senti depois disso? Paz. Tranquilidade. Era como se eu recebesse o prêmio principal, se alcançasse o meu maior objetivo.
Mais um dia amanheceu, doutor, e eu estava ainda mais tranquilo em relação ao que tinha acontecido entre Joana Gabriela e eu.Pensei nela, sim, a noite toda. Parecia que este, que era o segundo dia sem contato com ela (lembre-se, ela foi viajar logo depois do Natal), minha mente procurava reviver cada detalhe daquela maravilhosa tarde. O objetivo? Não sei se era me castigar por estar longe ou me fazer desfrutar mais uma vez dessa incrível sensação.A única certeza que eu tinha naquele momento era que os dias, que nem eu mesmo sabia quantos, em que eu estaria separado dela, seriam bons. Seria bom para que ela seguisse seu caminho e para que eu pensasse menos nesse louco sentimento.Sim, doutor, uma parte de mim dizia que seria bom. E naquele dia essa parte estava me dominando. Eu quase não dormi, como se estivesse com ela na cama novamente naquela tarde. Sentia a presença dela tão forte ali que