Segurei a maçaneta e girei, tentando abrir. Bati, chutei, fiz tudo o que podia, só queria rever meu pai e abraçá-lo uma última vez.
— É a voz do meu pai, não acredito. — Continuei batendo até minhas mãos doerem, e nem assim ninguém me ouviu ou abriu. Foi então que entendi que era uma nova lembrança. Voltei com meus ouvidos na porta, um turbilhão de emoções me invadia e pioraram ao ouvir uma voz feminina, a da minha mãe. — E por que parece tão preocupado, amor? O que me esconde? — Mamãe perguntou aparentando tão preocupada quanto ele, porém parecia querer disfarçar para conseguir dar força a ele. Eu sentia estar à beira de um surto mental; eram as vozes dos meus pais, mas os assuntos não eram nada com o que conversavam quando eu era pequena. — Eu tenho quase certeza de que Wessex nos traiu e negociou a colheita com outro exportador. A multa que pagaremos a eles nos levará à falência, perderemos tudo, inclusive a nossa casa. — Meu paiLevantei-me devagar, passando minhas mãos na minha roupa para limpá-la e, ao erguer a cabeça, tudo começou a clarear. E agora a grama estava seca, e um sol forte escaldante batia sobre meu rosto. Observei atentamente minhas roupas de épocas diferentes e fui acometida por lembranças e sentimentos de uma vida passada, mesclados com resquícios da atual. Uma vida da qual não lembrava passava diante de meus olhos, meus sentimentos confusos com a mesclagem do eu que um dia fui e de quem sou agora. Henry e Edrick estavam distantes, mas conseguia vê-los discutindo. Por alguma razão aparente, havia algo nisso que não parecia certo. Me machucava ver um agredir o outro; naquele momento, eu possuía sentimentos fortes pelos dois. Tinha a impressão de que as lembranças de minhas vidas se fundiam cada vez mais, aumentando minha confusão. — Seus crápulas miseráveis imprestáveis! Como vocês ousaram? — Amélia falou irritada; o olhar dela era cheio de
Quando acordei novamente, senti uma leveza no ar, como se todo o peso que carreguei tivesse sido dissipado. Drake estava ao meu lado direito, observando-me com um sorriso suave e Belle ao lado esquerdo. Eles me contaram que eu havia dormido por dois dias. Como isso foi possível? Eu não sei. Não tive nenhum sonho, tudo foi uma grande escuridão. Henry havia me procurado, mas Belle e Drake impediram sua entrada. Durante o tempo em que fiquei desacordada, os dois haviam se tornado aliados com a missão de me proteger do Henry e Edrick. — Por que fizeram isso? Eu tenho o direito de escolher quem vem me ver! — reclamei. — Não quando está apagada. — Drake rebateu, e Belle concordou. — Kaya. — Belle sentou ao meu lado e segurou minha mão. — Pelo que Drake contou, Henry poderia tê-la machucado. — Não foi o Henry, e sim o Edrick. — defendi, desviando da mão dela e cruzando os braços. Os dois se entreolharam com cum
Ainda era cedo, então tinha certeza de que não tinha problema ver o Henry. Na noite em que ele se transformou, a preocupação dele no restaurante com horários me fez supor que esse horário significava alguma coisa, e torci para estar certa. Belle me deu o endereço e insistiu para ir comigo, mas não quis, preferi ir sozinha pois iríamos tratar de assuntos particulares de ambos. Caminhei pelas ruas de Acácias, sentindo uma mistura de apreensão e ansiedade enquanto me aproximava da casa dele. Ao chegar em frente à sua residência, hesitei, criando coragem para bater à porta. Edrick, o atual, me assustava. Ele não era mais o homem que eu amava em outra vida. A maldição o mudou, e por esse motivo, eu tinha medo de estar equivocada sobre os horários, ou de que algo tivesse mudado, deixando Edrick no controle. Bati, e Henry abriu a porta; ele estava acabado, como se tivesse ficado sem dormir, com olheiras f
Estava saindo do banho, enrolada em uma toalha, quando dei de cara com Drake. — Hei, não pode ficar entrando no meu quarto assim! — reclamei, mas ele nem se importou e se jogou na cama por cima da roupa que eu iria vestir. — E aí, descobriu alguma coisa? — me perguntou, pegando e olhando a minha calcinha que estava sobre a cama. — Renda, que sexy! — Algumas coisas! — Tirei a calcinha de suas mãos. — Isso aqui é particular. Agora me dê licença! Ele se levantou e virou de costas para mim. Eu sabia que era o máximo que conseguiria dele, então comecei a trocar de roupa. — Se virar, juro que te mato. — Ameacei, e ele riu debochado. — E você, descobriu? — Não conheço muitas bruxas por aqui. — Ele olhou entre os ombros, e eu me cobri rapidamente, atirando a almofada nele, que voltou a ficar de costas. — E? — Você é a única que conhecemos, apesar de parecer que não sabe como usar seus poderes. — Ouvir isso em alto e bom som me surpreendia. Até alguns meses atrás, era apenas um
Estava em frente à casa, e meu coração já batia de forma desordenada. Era tão bom ter apenas a preocupação se ele me acharia bonita ou qualquer outra coisa boba, em vez dos meus problemas atuais. Ergui a mão para bater na porta, e, nesse instante, ele abriu. Estava com calça de moletom e seu peitoral à mostra, seu corpo atlético esculpido de academia, embora não fosse o caso. Me joguei nos braços dele, e ele me apertou contra seus músculos. Era um daqueles momentos em que desejava conforto, um colo, ou um lugar que me desse paz. Inspirei fundo, sentindo o cheiro almiscarado que me lembrava da primeira vez que estive em seus braços, o primeiro dia que cheguei em Acácias, quando não imaginava o quão confusa era minha vida. Ele me pegou no colo, me levando para dentro, e sentou-se comigo em seus braços no sofá. Sentia-me protegida, embora a verdade fosse outra; sabia que qualquer gatilho traria Edrick. — Olá. Tudo em ordem? — sussurrou ao pé do meu ouvido, com sua voz grave e forte
Faltavam apenas cinco dias, e tínhamos um plano. Porém, eu precisava conversar com Edrick, o problema é que à noite ele tem total controle e uma força maior que o natural. Então, precisávamos deixar Henry nervoso a ponto de Edrick aparecer durante o dia, por este motivo eu, Henry e Drake nos reunimos na casa dele. De início foi difícil fazer os dois trabalharem juntos, mas estávamos desesperados e sabíamos que Edrick poderia nos dar pista da minha irmã. Para que Edrick não fugisse assim que aparecesse, nós havíamos amarrado o Henry em uma cadeira, suas mãos acima da cabeça algemadas na janela e seus pés presos com correntes. — Estou começando a achar isso uma péssima ideia. — falei e segurei o rosto do Henry, selando nossos lábios. — É necessário e o último recurso que possuímos, linda. — respondeu, dando outro selo. A cada dia, Henry ficava mais carinhoso; a doçura em sua voz era quase palpável. — É o único jeito. — falou Drake, revirando os olhos e cortando o clima. —
Apenas um dia, e a esperança estava diminuindo dando lugar a uma angústia e um medo que me apavorava. Minha avó tentava feitiços para localizar Amélia todos os dias, porém, mesmo sem seu poder estar completo, ela ainda conseguia dar um jeito de se esconder. Como última tentativa, minha avó lançou um feitiço mensageiro, esperando que uma mensagem escrita aparecesse para minha irmã e que Amélia ouvisse a voz da minha avó. Henry e Drake rompiam a trégua, algumas vezes parecendo prestes a se confrontar. Na pousada, apenas Belle permanecia; embora Soya estivesse livre do controle da Amélia, Charles decidiu mantê-la por perto para garantir que novos desaparecimentos não ocorressem. — Acha que vai dar certo dessa vez? — ergui a colher de sopa, assoprando-a antes de levar à boca. — Como em todas as vezes, Chicletinha, torço para que sim. — respondeu minha avó, provando a sopa de Belle e fazendo careta. — Essa menina exagera no sal. — Eu não tenho dúvidas de que iremos conseguir, ju
Quando desci, minha avó estava à nossa espera, e os três juntos seguimos rumo à mansão antiga. Durante todo o trajeto a sensação de que era um bezerro indo para o abatedouro não me deixava. Eu estava com medo e ao mesmo tempo determinada a dar um fim a essa maldição de um jeito ou de outro. Dessa vez o trajeto pareceu mais rápido do que da outra vez em que fui nessa direção, talvez por passar o caminho preocupada com o que estava por vir e nem mesmo vi o tempo passar. Quando menos esperei estava no lugar onde tudo começou e onde tudo deveria terminar. Inspirei fundo e ergui minhas mãos espalmadas para cima ao sair do carro, não sentia a energia de Amélia. — Vó, não a sinto aqui. — Olhei para minha avó, que ainda descia do carro. Minha avó colocou-se ao meu lado, segurando uma das minhas mãos, enquanto a outra se voltava para a casa. — Tente mais uma vez. — ordenou. Fechei os olhos novamente, canalizei a magia da minha avó e consegui visualizar minha irmã no interior da c