Ainda era cedo, então tinha certeza de que não tinha problema ver o Henry. Na noite em que ele se transformou, a preocupação dele no restaurante com horários me fez supor que esse horário significava alguma coisa, e torci para estar certa.
Belle me deu o endereço e insistiu para ir comigo, mas não quis, preferi ir sozinha pois iríamos tratar de assuntos particulares de ambos. Caminhei pelas ruas de Acácias, sentindo uma mistura de apreensão e ansiedade enquanto me aproximava da casa dele. Ao chegar em frente à sua residência, hesitei, criando coragem para bater à porta. Edrick, o atual, me assustava. Ele não era mais o homem que eu amava em outra vida. A maldição o mudou, e por esse motivo, eu tinha medo de estar equivocada sobre os horários, ou de que algo tivesse mudado, deixando Edrick no controle. Bati, e Henry abriu a porta; ele estava acabado, como se tivesse ficado sem dormir, com olheiras fEstava saindo do banho, enrolada em uma toalha, quando dei de cara com Drake. — Hei, não pode ficar entrando no meu quarto assim! — reclamei, mas ele nem se importou e se jogou na cama por cima da roupa que eu iria vestir. — E aí, descobriu alguma coisa? — me perguntou, pegando e olhando a minha calcinha que estava sobre a cama. — Renda, que sexy! — Algumas coisas! — Tirei a calcinha de suas mãos. — Isso aqui é particular. Agora me dê licença! Ele se levantou e virou de costas para mim. Eu sabia que era o máximo que conseguiria dele, então comecei a trocar de roupa. — Se virar, juro que te mato. — Ameacei, e ele riu debochado. — E você, descobriu? — Não conheço muitas bruxas por aqui. — Ele olhou entre os ombros, e eu me cobri rapidamente, atirando a almofada nele, que voltou a ficar de costas. — E? — Você é a única que conhecemos, apesar de parecer que não sabe como usar seus poderes. — Ouvir isso em alto e bom som me surpreendia. Até alguns meses atrás, era apenas um
Estava em frente à casa, e meu coração já batia de forma desordenada. Era tão bom ter apenas a preocupação se ele me acharia bonita ou qualquer outra coisa boba, em vez dos meus problemas atuais. Ergui a mão para bater na porta, e, nesse instante, ele abriu. Estava com calça de moletom e seu peitoral à mostra, seu corpo atlético esculpido de academia, embora não fosse o caso. Me joguei nos braços dele, e ele me apertou contra seus músculos. Era um daqueles momentos em que desejava conforto, um colo, ou um lugar que me desse paz. Inspirei fundo, sentindo o cheiro almiscarado que me lembrava da primeira vez que estive em seus braços, o primeiro dia que cheguei em Acácias, quando não imaginava o quão confusa era minha vida. Ele me pegou no colo, me levando para dentro, e sentou-se comigo em seus braços no sofá. Sentia-me protegida, embora a verdade fosse outra; sabia que qualquer gatilho traria Edrick. — Olá. Tudo em ordem? — sussurrou ao pé do meu ouvido, com sua voz grave e forte
Faltavam apenas cinco dias, e tínhamos um plano. Porém, eu precisava conversar com Edrick, o problema é que à noite ele tem total controle e uma força maior que o natural. Então, precisávamos deixar Henry nervoso a ponto de Edrick aparecer durante o dia, por este motivo eu, Henry e Drake nos reunimos na casa dele. De início foi difícil fazer os dois trabalharem juntos, mas estávamos desesperados e sabíamos que Edrick poderia nos dar pista da minha irmã. Para que Edrick não fugisse assim que aparecesse, nós havíamos amarrado o Henry em uma cadeira, suas mãos acima da cabeça algemadas na janela e seus pés presos com correntes. — Estou começando a achar isso uma péssima ideia. — falei e segurei o rosto do Henry, selando nossos lábios. — É necessário e o último recurso que possuímos, linda. — respondeu, dando outro selo. A cada dia, Henry ficava mais carinhoso; a doçura em sua voz era quase palpável. — É o único jeito. — falou Drake, revirando os olhos e cortando o clima. —
Apenas um dia, e a esperança estava diminuindo dando lugar a uma angústia e um medo que me apavorava. Minha avó tentava feitiços para localizar Amélia todos os dias, porém, mesmo sem seu poder estar completo, ela ainda conseguia dar um jeito de se esconder. Como última tentativa, minha avó lançou um feitiço mensageiro, esperando que uma mensagem escrita aparecesse para minha irmã e que Amélia ouvisse a voz da minha avó. Henry e Drake rompiam a trégua, algumas vezes parecendo prestes a se confrontar. Na pousada, apenas Belle permanecia; embora Soya estivesse livre do controle da Amélia, Charles decidiu mantê-la por perto para garantir que novos desaparecimentos não ocorressem. — Acha que vai dar certo dessa vez? — ergui a colher de sopa, assoprando-a antes de levar à boca. — Como em todas as vezes, Chicletinha, torço para que sim. — respondeu minha avó, provando a sopa de Belle e fazendo careta. — Essa menina exagera no sal. — Eu não tenho dúvidas de que iremos conseguir, ju
Quando desci, minha avó estava à nossa espera, e os três juntos seguimos rumo à mansão antiga. Durante todo o trajeto a sensação de que era um bezerro indo para o abatedouro não me deixava. Eu estava com medo e ao mesmo tempo determinada a dar um fim a essa maldição de um jeito ou de outro. Dessa vez o trajeto pareceu mais rápido do que da outra vez em que fui nessa direção, talvez por passar o caminho preocupada com o que estava por vir e nem mesmo vi o tempo passar. Quando menos esperei estava no lugar onde tudo começou e onde tudo deveria terminar. Inspirei fundo e ergui minhas mãos espalmadas para cima ao sair do carro, não sentia a energia de Amélia. — Vó, não a sinto aqui. — Olhei para minha avó, que ainda descia do carro. Minha avó colocou-se ao meu lado, segurando uma das minhas mãos, enquanto a outra se voltava para a casa. — Tente mais uma vez. — ordenou. Fechei os olhos novamente, canalizei a magia da minha avó e consegui visualizar minha irmã no interior da c
— VÓÓÓ! — gritei e corri até ela temendo o pior e segurei em suas mãos frágeis e frias. Henry tentou fazer o mesmo, mas estava preso no círculo mágico e foi impedido. Meu coração só se aliviou quando sua pele voltou a se aquecer e ela foi abrindo os olhos. Tudo aconteceu em questão de minutos, porém para mim foi como em um filme em câmera lenta. — Estou bem, Chicletinha. — Vovó disse acariciando meu rosto com carinho e isso tranquilizou-me e sorri por alívio. — Patético. — Disse Amélia com riso em sua voz. Ela se divertia com nosso desespero. — Como pode fazer isso com ela. — perguntei sentindo meu coração começar a se encher de raiva. — É o que os traidores merecem. — rebateu indiferente. — Kaya, precisa se concentrar em bons sentimentos. — Murmurou vovó e assenti com a cabeça. Embora eu não soubesse como manter o equilíbrio entre tudo o que eu sentia. — O perdão, somente ele a liberta de maus sentimentos. — Acrescentou vovó e embora o Drake fosse o que lesse pensam
O olhar de vovó fixou nos meus com pesar e dor por minha escolha, então ela correu ao meu encontro envolvendo seus braços em um abraço apertado em mim. — Não, eu não vou permitir. — Sua voz era chorosa e desesperada. Eu a abracei e vi o Henry compartilhando do mesmo desespero que ela e tentando se libertar do círculo, mas não importava o que ele fazia era em vão. Somente magia romperia o círculo e o deixaria livre, porém quando ele atravessasse o Edrick assumiria. — Tem que ser a última vez. Por favor… — Implorei a ela pois não deseja mais pessoas sofrendo ou morrendo por causa de mim e de Amélia. Vovó mesmo contrariada aceitou minha decisão. Ela não tinha muita escolha a não ser torcer para que tudo desse certo dessa vez. Virei para Amélia e me afastei de minha vó. Eu sabia o que devia fazer , repetia mentalmente as instruções da vovó e não era difícil afinal ela já havia explicado que deveríamos realizar a mesma magia do passado, mas desta vez juntas. Mesmo assim fo
Eu conheci Henry aos oito anos, correndo pelo campo atrás de borboletas, acreditando que eram fadas disfarçadas. Era primavera, o campo repleto de flores, girassóis plantados por papai e seu sócio. — Espera, fadinha, quero um desejo. — disse pulando, tentando alcançar uma borboleta monarca que fugia. — Para de ser egoísta, só um pedido bem pequenininho. — Argumentei com a borboleta, fazendo sinal de mínimo. Pulei alto para pegá-la, tropecei e caí de barriga no chão, sujando meu vestido e machucando os joelhos. Com lágrimas nos olhos, procurei meu pai, mas ele estava longe. Tentei engolir o choro, cabeça baixa, chateada por a fada não ter me ajudado. — Você é muito feia, podia ter virado fada e concedido um pedido. — reclamei, olhando para o chão. Repentinamente, uma sombra se aproximou, encheu meu coração de esperança e alegria. “A fadinha me ouviu.” Diante do sol, um menino loiro de olhos azuis, dois anos mais velho, sorria amigavelmente e segurava um pote de vidro com