Fazia quase um mês desde que Henry havia partido de viagem. Nesse intervalo, não recebi nenhuma ligação, o que começava a me inquietar. Retornei à pousada dois dias após os acontecimentos, e mesmo com a insistência de Drake para que eu ficasse em sua casa, não me senti à vontade em invadir sua privacidade. Além disso, a nossa proximidade por vezes me deixava confusa.
Apesar de estar apaixonada por Henry, os sentimentos que Drake despertava em mim eram inegáveis, entretanto, eu não queria prejudicar nossa amizade. Desde o meu retorno, não havia cruzado com Soya; desconhecia se ela estava me evitando. A pedido de Drake, evitei questioná-lo a respeito, respeitando sua orientação, sabendo que ele também buscava me auxiliar. Saí do banho envolta em uma toalha e me deitei na cama, contemplando o teto. Estendi a mão para cima, examinando-a. Desde que Drake levantou a teoria de que eu poderia ser uma bruxa, essa ação se tornou um hábito, na esperança de identifDesci ao saguão para esperá-lo e conversar um pouco com minha amiga.— Uauuu! — Belle falou ao me ver e sorriu. — Dá uma voltinha.Eu sei que apesar de sentir meu rosto corar com o exagero da minha amiga, girei exibindo minha roupa.— Um espetáculo, Kaya. — Ela assobiou e eu tapei meu rosto de vergonha.— Eu definitivamente concordo totalmente com você Belle. — Henry surgiu com um buquê de flores nas mãos, estava com uma camisa polo preta e calça jeans, sem seu sobretudo habitual. — Você está maravilhosa.— Obrigada aos dois. — Agradeci um pouco constrangida pela forma como Henry me olhava.Ele me entregou e afundei meu rosto entre as pétalas inalando o perfume. Sempre adorei flores e, rosas eram minha preferência. Belle se prontificou para as colocá-las em meu quarto, aproveitando a oportunidade para nos deixar a sós.Saímos e seguimos para fora da pousada até o impala preto do Henry que estava consertado. Ele levou sua mão a porta e a abriu, meu olhar p
Henry me guiou até uma mesa onde era possível apreciar o sol com todo seu esplendor ao se pôr. Um espetáculo natural que dava seu último toque ao lugar.— Essa parte é mais nova do que as demais e recentemente foi reformada e basicamente pensava-se que era pertencente ao município vizinho. Em disputas políticas, a atual prefeita conseguiu provar.Ele puxou minha cadeira, eu nunca havia sido tratada assim na minha vida. No mais, os caras com quem saí se limitavam a me levar a uma barraca de hot dog, não que eu não gostasse disso, mas variar e sentir esse cuidado que Henry me proporciona fazia-me sentir bem.Eu sentei e cruzei minhas pernas, e eu pude notar que ele desviou sutilmente e observou minha coxa por breves segundos antes de se dirigir à sua cadeira.O garçom logo se apressou em encher nossas taças vazias assim que nos acomodamos.Henry sorriu e cumprimentou simpaticamente o rapaz. Não pude deixar de pensar se ele vinha muito aqui e com quem? Ou se ele ser
A porta se abriu e eu evitei olhar, quem quer que fosse, eu não estava afim de um papo feminino e casual. Senti as mãos segurarem minha cintura e levantei a cabeça, meu olhar encontrou o de Henry através do espelho. Ele me virou e me encostou na bancada, segurando com força meu quadril, uma onda de energia subiu a linha da minha coluna. Sua testa encostou na minha e sua respiração tocou meu rosto, ele murmurou com seus lábios próximos dos meus: — Eu confio em você... Conseguia sentir que, naquele momento, conseguiria o que desejasse dele. O silêncio só evidenciava que ele esperava um sinal ou resposta, mas eu não desejava mais perguntar, apenas queria o que meu coração pedia a cada toque dele. Os lábios de Henry tocaram os meus. Meu coração bateu mais forte dentro do meu peito e tinha a sensação de que o restaurante iria ouvir. A língua de Henry percorreu ferozmente minha
Henry tirou algumas notas dobradas de sua carteira e as deixou sobre a mesa com um gesto rápido e determinado. Descemos as escadas às pressas, como se fugíssemos de algo invisível, parando ao lado de seu carro estacionado nas sombras da rua mal iluminada.— O que está acontecendo? Quer que eu te leve ao médico? — perguntei, enquanto observava as gotículas de suor brilharem em sua testa, escorrendo lentamente por seu rosto. Tentei sentir sua temperatura, colocando as mãos em sua pele, mas ele estava completamente frio, mais do que qualquer humano deveria estar.— Henry, o que está havendo? Como posso te ajudar? — insisti, minha voz repleta de preocupação genuína.Ele se afastou de mim abruptamente, batendo as mãos no capô do carro com uma violência contida. Um grunhido abafado escapou de seus lábios, assustando-me profundamente.— Não tenho tempo para explicar. — Sua voz soava áspera e tensa, como se estivesse à beira de algo incontrolável. Estendeu os braços trêmulos
Depois de algum tempo dirigindo ele entrou em uma estrada de terra que reconheci, era o caminho que dividia o mundo real de Acácias. Fazia tanto tempo que estava em Acácias que quase não me recordava da minha vida anterior.— Esse é o lugar que conheci o Henry. Por que estamos aqui? — perguntei quando ele estacionou.— Não foi só seu adorável detetive que você conheceu aqui.— Não foi? — Estranhei a afirmação e tentei entender, foi aí que me recordei dos olhos vermelhos. — Você! — Tapei meus lábios surpresa.— Isso aí. — Ele respondeu com um sorriso satisfeito nos lábios.Então era ele o dono dos olhos vermelhos naquela noite em que fiquei amedrontada.Foi impossível não me perguntar o que teria acontecido se o Henry não tivesse aparecido. Será que o Drake iria me acompanhar até a pousada? Teríamos nos tornado amigos ali naquele momento? Isso nunca saberei.Drake sorriu e segurou minha mão, então começamos a andar. A floresta era escura e, quanto mais av
Segurei a maçaneta e girei, tentando abrir. Bati, chutei, fiz tudo o que podia, só queria rever meu pai e abraçá-lo uma última vez. — É a voz do meu pai, não acredito. — Continuei batendo até minhas mãos doerem, e nem assim ninguém me ouviu ou abriu. Foi então que entendi que era uma nova lembrança. Voltei com meus ouvidos na porta, um turbilhão de emoções me invadia e pioraram ao ouvir uma voz feminina, a da minha mãe. — E por que parece tão preocupado, amor? O que me esconde? — Mamãe perguntou aparentando tão preocupada quanto ele, porém parecia querer disfarçar para conseguir dar força a ele. Eu sentia estar à beira de um surto mental; eram as vozes dos meus pais, mas os assuntos não eram nada com o que conversavam quando eu era pequena. — Eu tenho quase certeza de que Wessex nos traiu e negociou a colheita com outro exportador. A multa que pagaremos a eles nos levará à falência, perderemos tudo, inclusive a nossa casa. — Meu pai
Levantei-me devagar, passando minhas mãos na minha roupa para limpá-la e, ao erguer a cabeça, tudo começou a clarear. E agora a grama estava seca, e um sol forte escaldante batia sobre meu rosto. Observei atentamente minhas roupas de épocas diferentes e fui acometida por lembranças e sentimentos de uma vida passada, mesclados com resquícios da atual. Uma vida da qual não lembrava passava diante de meus olhos, meus sentimentos confusos com a mesclagem do eu que um dia fui e de quem sou agora. Henry e Edrick estavam distantes, mas conseguia vê-los discutindo. Por alguma razão aparente, havia algo nisso que não parecia certo. Me machucava ver um agredir o outro; naquele momento, eu possuía sentimentos fortes pelos dois. Tinha a impressão de que as lembranças de minhas vidas se fundiam cada vez mais, aumentando minha confusão. — Seus crápulas miseráveis imprestáveis! Como vocês ousaram? — Amélia falou irritada; o olhar dela era cheio de
Quando acordei novamente, senti uma leveza no ar, como se todo o peso que carreguei tivesse sido dissipado. Drake estava ao meu lado direito, observando-me com um sorriso suave e Belle ao lado esquerdo. Eles me contaram que eu havia dormido por dois dias. Como isso foi possível? Eu não sei. Não tive nenhum sonho, tudo foi uma grande escuridão. Henry havia me procurado, mas Belle e Drake impediram sua entrada. Durante o tempo em que fiquei desacordada, os dois haviam se tornado aliados com a missão de me proteger do Henry e Edrick. — Por que fizeram isso? Eu tenho o direito de escolher quem vem me ver! — reclamei. — Não quando está apagada. — Drake rebateu, e Belle concordou. — Kaya. — Belle sentou ao meu lado e segurou minha mão. — Pelo que Drake contou, Henry poderia tê-la machucado. — Não foi o Henry, e sim o Edrick. — defendi, desviando da mão dela e cruzando os braços. Os dois se entreolharam com cum