Comporte-se, primo

- Eu quero... Que ela goste de Noriah Sul... Que goste do baile do meu tio... – ele disse tentando encontrar as palavras certas.

Eu sorri, encarando-o divertidamente. “Sai desta, príncipe sem coroa”. Minha mãe não é nada fácil. Ele pode ser mil vezes pior que meu pai.

- Certamente Alexia gostará, assim como Pauline e Aimê. Só não quero que ela saia de lá com uma aliança, se é que me entende. – disse ela sorvendo lentamente o licor de morango enquanto o olhava.

- Aquilo foi uma brincadeira de criança, Satini. – ele justificou.

- Você tinha dezesseis anos na época. Não era mais uma criança.

- Já paguei por meus atos, acredite.

- Mãe, não vamos retomar este assunto. Está encerrado, já faz oito anos.

- Se está encerrado, por qual motivo você foi atrás do tal anel de argola de chaveiro agora pouco?

- Eu... Eu...

- Vamos, Alexia. Estou esperando. – ela sorriu ironicamente.

- Queria mostrar para Andrew que ainda guardava... – falei tentando ser convincente.

- E por qual motivo?

Olhei para Andrew, que me encarou e colocou os braços para trás, sem dizer nada e em seguida abaixando o olhar.

Satini olhou ao redor e disse em voz baixa:

- Se tem uma coisa que eu entendo é sobre relacionamentos... Ou sentimentos. Vivi intensamente meu amor com Estevan aos dezessete anos. Eu era muito jovem. Acho melhor vocês tentarem esquecer isso tudo, porque não vai dar certo. Estevan jamais aceitaria qualquer tipo de relacionamento entre vocês, pois ele crê que são parentes, como você mesmo deve ter percebido, Andrew.

- Mãe, você está me deixando envergonhada na frente de Andrew. – falei incrédula com a forma como ela conduzia aquela conversa.

- Cheguei na parte que ele dizia que “você sabia o que ele queria”, Alexia. Então acho que ser clara é a melhor coisa neste momento.

- Tem razão, Satini. – ele falou. – Me desculpe por meus maus modos na sua casa.

- Não julgo maus modos se você realmente tem interesse nela. Mas eu ficaria bem chateada caso estivesse apenas tentando brincar com a minha filha. Você pode olhar para mim e achar que sou apenas uma jovem rainha, mãe de três belas princesas. Mas eu posso acabar com você se fizer Alexia derramar uma lágrima sequer. E não lhe darei chance de defesa, acredite. Só para deixar claro: eu posso ser bem pior que Estevan.

- Mãe, você está entendendo tudo errado. Deus, que vergonha!

- Não... Ela não está entendendo errado. – disse Andrew. – Eu realmente tenho interesse em você.

Fiquei corada, sentindo minhas pernas tremerem, enquanto minha mãe o olhava atentamente.

- Acho que deveria falar isso primeiramente para mim e não para minha mãe. Eu não tenho mais dez anos. – falei.

- E ela tem um namorado. Há mais de um ano. – explicou minha mãe. – Então não pense você que virá para Alpemburg alguns dias, brincará com minha filha, a fará terminar o namoro com um rapaz legal e depois partirá para sua vida... “Agitada”, acho que eu definiria.

- Eu não faria isso. – ele disse seriamente.

Meu pai chegou na conversa e perguntou:

- O que estou perdendo aqui? – ele abraçou minha mãe carinhosamente.

- Nada, querido. Eu só estava falando para Andrew que você considera muito o parentesco que tem com eles.

- Sim... Muito. Considero Magnus e Dereck como meus irmãos.

Andrew sorriu timidamente.

- Querida, foi um dia cheio. Estou cansado. Andrew, se importa se eu me recolher, junto de minha linda esposa?

- De forma alguma, Estevan. Fiquem a vontade.

- Fiquem vocês à vontade. Eu realmente preciso descansar. Amanhã é um longo dia para mim. Se acharem qualquer coisa que não lhes agrade em seus quartos, só avisar.

- Alpemburg, assim como a realeza, são perfeitos. – ele sorriu, abaixando a cabeça educadamente. – Sinto-me quase em casa.

- Deixarei uma serviçal acompanhando vocês na sala, caso precisem de algo.

Meus pais me deram um beijo e fizeram o mesmo com minha irmã, deixando o local. Logo que saíram, uma das empregadas do castelo, de confiança da minha mãe, ficou à porta.

- Estou indo. – disse meu avô.

- Já? – perguntei indo até ele e lhe abraçando.

- Sim, minha princesa. – ele disse dando um beijo no topo da minha cabeça e saindo.

- Ele não se despede de você? – perguntou Henry para Pauline.

- Quando Alexia está perto, ele esquece que tem outras netas. – ela disse rindo. – Eu acho que pode ser porque ela é a única ruiva da família.

- Eu e meu avô somos muito ligados. – expliquei.

Henry sentou-se de frente para Pauline e eu ao lado dele. Andrew ajeitou-se  ao meu lado. Estávamos todos bem próximos e eu conseguia sentir o cheiro gostoso que Andrew exalava.

Todos os olhares se voltaram para a empregada, que disse timidamente:

- Podem fingir que não estou aqui.

- Não podemos. Ela conta tudo para nossos pais. – cochichou Pauline.

- Faremos algo errado? – perguntou Henry. – Ou só iremos conversar? Estou até com medo de vocês duas agora.

Pauline riu:

- Depende do que você julga errado, Henry.

- Eu espero fazer algo errado esta noite. – disse Andrew recostando confortavelmente a cabeça sobre as mãos, no encosto do sofá.

Ele abriu as pernas, que tocaram a minha. Olhei-o e ele estava me encarando novamente. Meu Deus, Andrew Chevalier acabaria comigo nos poucos dias que estivesse em Alpemburg. A forma como ele me olhava, as coisas que ele dizia, era como se...

- Você gosta de Gael? – ele me perguntou, com o rosto voltado para mim, atentamente.

- Gosto. – admiti. – Ele me trata bem, é gentil, faz coisas que eu gosto, mesmo quando sei que não lhe agradam...

- Este seu “gosto” não me convenceu. – disse Henry.

- Esperam que eu diga o que? Que gosto de Andrew? – perguntei, quase não acreditando no que eu disse.

Os três começaram a rir.

- Por que estão rindo? – continuei. – Sabem de algo que eu não sei?

- Fedelha, por que você tenta me convencer que não rola nada entre nós?

- Andrew, você é muito... Arrogante.

- Arrogante? Admitir na frente de todos que sinto algo por você é sinônimo de arrogância?

Eu fiquei ali, imóvel, sem palavras, tentando absorver a frase dele sem perder minha sanidade.

Pauline levantou e convidou:

- Henry, vamos beber algo próximo do bar, do outro lado?

Pauline, por Deus, não me deixe sozinha com ele. Eu não consigo responder à altura. Eu mal consigo ficar respirando normalmente ao lado dele.

- Comporte-se, primo. E você também, fedelha. – Henry disse pegando a mão que Pauline lhe oferecia.

Andrew aproximou-se ainda mais de mim. Estávamos de frente para a empregada, que estava a nos observar.

Nossas pernas se tocavam, fazendo eu ficar tensa. Acho que eu nem tinha mais coração... Provavelmente ele já havia saído pela minha boca e ido embora para nunca mais voltar.

- Você não era tão tímida aos dez anos. – ele observou.

- Nem você tão direto.

- Não gosta?

- Eu... Não tenho certeza.

- Ale, eu pensei em você... Por muito tempo depois de tudo que houve... Há oito anos atrás.

- Andrew... Nós vamos mesmo ter esta conversa?

- Sim... Eu preciso. Quero me desculpar pelo que eu fiz. Eu não devia ter beijado você. Porra, você só tinha dez anos. Meu pai quase me bateu. Minha mãe ficou histérica. Na época eu era um adolescente e sequer me importei. Cheguei inclusive a ficar bravo com a atitude dos meus pais.

- Não foi exatamente um beijo, Andrew. Nossos lábios se tocaram. E não foi com má intenção...

- Este é o problema. Não teve segundas intenções da sua parte. Da minha sim, havia. E você era uma criança.

- Teve segundas intenções da minha parte. – admiti. – Eu... Gostava de você. E levei o nosso “casamento” a sério um tempo. – sorri.

- Eu não levei o casamento a sério. Mas eu também gostava de você. Esperava ansioso pelos verões, quando vocês iam para Noriah nos visitar. Porque eu queria estar com você.

- Eu também... – falei enrubescida.

Ele tocou meu rosto e alisou com seu polegar. Depois se afastou de mim, sentando uns quarenta centímetros longe.

- Se eu fosse Estevan, eu teria batido em mim... Eu queria que ele me socasse, entende? Eu merecia. E então, depois de oito anos, eu venho ao reino dele e seu pai nos recebe de forma tão afetuosa, que me sinto péssimo.

- Acho que meu pai entendeu que foi uma brincadeira de criança... Mesmo nós sabendo que talvez... Não tenha sido.

- Você pode me perdoar por eu ter feito o que fiz? – ele pegou minhas mãos e olhou nos meus olhos.

- Não posso... Porque eu queria aquilo. Eu... Gostei. – confessei.

- São seis anos de diferença entre nós, Ale.

- Naquela época, admito que era muito. Hoje não acho que seja. – me ouvi dizendo.

Ele balançou a cabeça:

- Eu sou um canalha... E me culpo até hoje por isso.

- Eu desculpo você. – coloquei a mão sobre a perna dele.

Ele olhou para a minha mão e colocou a dele em cima. Senti sua pele quente e seus dedos envolverem-na. Fiquei imóvel.

- Pode isso, dona? – perguntou Henry à empregada, fazendo com que eu retirasse a minha mão imediatamente.

A empregada respondeu, num fio de voz:

- Não estou aqui, Altezas.

- Porra, porra, mil vezes porra. – disse Andrew olhando para Henry. – Isso vai ter volta. Aguarde.

Começamos a rir.

- Já que estou perdoado... Deixe-me beijá-la... De verdade. – ele me disse em voz baixa.

- Andrew... Eu não posso. Eu namoro Gael há um ano.

- Um beijo não é traição.

- Você não vai me convencer, por mais que eu queira beijar você de verdade.

- Termine com ele.

- Andrew, você chegou aqui hoje. Não pode aparecer do nada e querer que eu termine meu namoro com uma pessoa que eu gosto, simplesmente porque você quer me dar um beijo.

Ele deitou a cabeça para trás novamente, passando a mão no rosto, confuso, inquieto. O que eu mais queria na minha vida inteira era beijar Andrew. Mas eu não faria aquilo com Gael. Porque eu sabia que ficar com Andrew era algo quase impossível pela questão da não aceitação do meu pai e porque ele não se envolvia com ninguém, pelo que eu via da vida dele na mídia.

- Você já teve uma namorada? – perguntei.

- Não. – ele admitiu.

- Vinte e quatro anos e nunca teve um compromisso com uma garota? É uma por dia, por final de semana? Você ainda beija Laura na boca?

Ele levantou a cabeça novamente, me encarando, ofegante:

- Calma, fedelha. Uma pergunta de cada vez...

- Vejo você com muitas garotas.

- Aonde? Na internet? Nos velhos sites de fofoca? Não acredito que você dá créditos a esta gente.

- Eu vejo as fotos.

- Tenho uma stalker à minha frente? – ele riu.

- Claro que não.

- Não tenho namoradas e nunca me envolvi seriamente com ninguém. Claro que fico com garotas... Talvez muitas. E... Eu não tenho nada com Laura.

- A pergunta não foi se você tem algo ou não com Laura. Eu perguntei se você ainda a beija.

- Bem, eu não a beijo. Mas ela me beija vez ou outra. – ele confessou.

- E seus pais?

- Claro que eles não sabem, fedelha.

- Não me chame de fedelha. – falei rispidamente, deixando o ciúme falar mais alto. – Pervertido. Quer todas as suas primas?

- Não... Eu só quero você.

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