Alisson Smith
Assim que me sentei na cadeira e abri o e-mail, lá estava uma lista de coisas que eu deveria fazer. Ir na casa dele quando fosse necessário, que absurdo é esse? Eu não seria uma secretária, e sim uma escrava. E sinceramente, eu não tinha esse tempo ocioso. Mas se eu negasse, seria demitida. E isso é algo que não pode acontecer.Podia muito bem pedir ajuda aos meus amigos. Mas não, eu não vou. Preciso caminhar com minhas próprias pernas. Quando eu pensei nessa frase, pensei que fosse no sentido figurado. E como se o destino tivesse me ouvido.Lemi, meu novo chefe, pediu que eu tirasse cópias de alguns documentos importantes, fizesse algumas ligações para agendar reuniões e também fui incumbida de buscar uma encomenda na farmácia do outro quarteirão. Tudo isso antes mesmo do horário do almoço.Corri de um lado para o outro, como uma louca com esses saltos que estão me matando, pois o sapato é da minha amiga, tentando cumprir todas as tarefas com agilidade e eficiência.No entanto, cada vez que eu voltava para minha mesa para tentar me concentrar em outras atividades, Lemi me pedia para fazer algo novo. Era como se eu não conseguisse ter tempo para respirar. Ele está parado na porta da sala dele e caminha até rápido demais para alguém que usa uma bengala."Preciso que faça uma coisa.""Ah, de novo não! Será que ele está se vingando de mim?" Resmungo baixinho."Disse alguma coisa?""Não, senhor. Só me deu uma tosse", finjo tossir.Faltavam alguns minutos para a hora do almoço, eu pensei que poderia ter um momento de descanso. Mas Lemi me pediu para buscar comida japonesa para ele. Mais uma tarefa adicionada à lista que parecia não ter fim."Pegue este cartão", ele j**a na minha mesa "Ele ficará com você para cobrir as minhas despesas. Agora vá buscar o meu almoço." Eu acabei de vir de lá e passei praticamente na frente do restaurante que estava cheio. "Vá logo e não demore, tenho uma reunião depois do almoço.""Claro, sem problemas, já estou indo", respondi com um sorriso forçado. Eu não queria mostrar o quanto eu estava irritada.Enquanto eu saía para buscar o almoço, uma sensação de frustração e cansaço me atingiu. Eu mal tinha conseguido fazer alguma coisa da m*****a lista que ele havia me passado. Como eu poderia ser eficiente se ele continuava me dando novas tarefas a todo momento?Ao chegar no restaurante, uma fila enorme para fazer o pedido, e pelo jeito iria demorar um bom tempo ali. Respirei fundo e me esforcei para manter a calma. Até que chegou a minha vez, e o meu pedido foi perdido, e fizeram a comida de algumas pessoas na minha frente, só viram o erro quando eu reclamei.Sai do restaurante, praticamente correndo, e quando estava na frente da empresa ao atravessar a rua o salto do sapato enroscou e eu quase caí, derrubando as sacolas no chão, o salto quebrou e tive que voltar com o sapato na mão.Subi pelo elevador com o almoço japonês em uma mão e o sapato na outra, mas quando fui bater na porta do escritório dele. Berna que estava saindo da outra sala me diz:"Ele saiu faz uns dez minutos.""Eu não acredito que aquele cretino me fez ir buscar a comida dele e simplesmente saiu para almoçar fora." Meus olhos parecem querer pular para fora de tanta raiva."Ele está te testando, eu acho?" Foi uma pergunta. "Calma amiga, respira é assim mesmo. John, o meu chefe também fez algumas coisas idiotas comigo, e tive vontade de matá-lo, mas depois ele foi gentil.""Se eu não me demitir até o fim do dia.""Você sabe que pode vir morar comigo. Pelo menos não pagaria aluguel e eu teria companhia", Berna me fala."Obrigada, mas não posso aceitar. Eu preciso me virar sozinha, sabe que não posso te colocar em perigo""Vamos comer comida japonesa?" Ela me convida e eu digo que não, pois não posso gastar, mas ela olhou para o pacote em cima da minha mesa. "Vamos sim, já temos um prato esperando.""Mas não podemos…""Claro que podemos, ele não vai se lembrar dessa comida quando voltar."Depois de um almoço movimentado, finalmente consegui me concentrar e terminar a imensa lista de tarefas que Lemi havia me passado. Foi um alívio poder trabalhar com tranquilidade, mas confesso que não conseguia tirar da cabeça a imagem de Lemi.Próximo ao fim do expediente, o elevador da presidência se abriu, e lá estava ele, o homem mais lindo que eu já havia visto em toda a minha vida. E a bengala que agora ele usava o deixava ainda mais charmoso. Meu coração disparou enquanto o observava caminhar com confiança, seu olhar fixo em algum ponto no fim do corredor. Eu não podia negar, ele exalava poder e elegância."Você pode vir até a minha sala," ele me disse, e eu prontamente peguei uma agenda e uma caneta antes de correr atrás dele. Meu coração estava acelerado.Já dentro da sua sala, Lemi estava sentado, com os cotovelos apoiados na mesa, me encarando de forma intensa. Ele me passou alguns trabalhos e eu anotei tudo. Ele disse que eu podia ir."Alisson?" Ele me chama quando estou de costas, será que tinha esquecido de me dizer alguma coisa."Sim, senhor.""Você sempre teve o cabelo loiro?" Eu não posso acreditar que ele está me perguntando isso."Sim, desde a adolescência," respondi com um sorriso cuidadosamente ensaiado. "O senhor vai precisar de mais alguma coisa? Posso ir embora?" "Não, pode ir embora. Eu não vou mais precisar de você." E eu saí de lá o mais rápido que pude.Arrumei as minhas coisas e seguimos para o elevador, que subia pacientemente. Berna estava comigo, pois nosso expediente já havia terminado."Quando o Luca vai voltar?" Ela me pergunta, procurando seu celular em sua bolsa.Ouvimos um limpar de garganta e Lemi estava atrás de nós, mesmo com a bengala, ele não fez sequer o mínimo barulho. As portas se abriram e nós três entramos na caixa metálica. Berna vê que seu telefone não está lá, e me olha com tristeza."Vou buscar meu celular. Ele ficou em minha mesa." Fico segurando a porta, mas Lemi se movimenta rapidamente e aperta o botão para que o elevador desça.Ele se aproxima de mim como uma fera que quer devorar sua presa, o olhar possessivo dele me deixa tonta, o perfume entra em minhas narinas e encosto o corpo na parede gelada."Quem é Luca?"Lemi Murabak"Quem é Luca?" A raiva toma conta de mim."Eu não lhe devo…", ela perde totalmente o foco quando eu aproximo o meu nariz do seu pescoço, mas não o toco."Explicação?" Eu termino a frase que ela começou e sussurro no ouvido dela. "Tenha em mente, senhorita Smith, que seu tempo agora é meu. Quando aceitou ser minha secretária, assinou um contrato com o diabo.""Não me disseram nada disso, senhor Murabak" sua respiração está descontrolada."Mas eu estou falando que o seu tempo será todo meu e terá que ficar à minha disposição. Sempre. Entendeu? Ou quer ser demitida?" Nossos corpos têm somente proximidade, mas não encosto nela."Não me disseram que eu seria assediada, no primeiro dia de trabalho.""E não está sendo" me distancio dela. "Só estou deixando claro que você é minha… Secretária" falo a última palavra bem devagar para que ela entenda, pois eu estava realmente passando dos limites. E se continuasse não sei a que ponto chegaria.Quando decidi vir para Londres, eu não i
Lemi MurabakSeu sorriso ao me ver era enigmático, despertando em mim uma mistura de curiosidade e preocupação. Intrigado, me aproximei o mais rápido que pude, com a minha bengala batendo no chão."Lemi, quanto tempo?" Ela já estava na minha frente."Aisha, você está diferente", fui pego de surpresa."Gostou?" Ela passa a mão nos cabelos. "Mudei um pouco, estava precisando ficar mais bonita.""Você já era bonita, mas agora está linda. Mas, imagino que você não tenha vindo até aqui para me mostrar seu cabelo novo", ainda estava confuso com sua presença ali. "Aconteceu alguma coisa?""Se você atendesse o maldito telefone, eu não precisaria deixar meu marido e meus filhos para vir atrás de você."Aisha, minha amada irmã. Já faz mais de dois anos que eu fui embora, depois de tudo o que aconteceu naquele maldito dia, deixei todos distantes da minha vida. Mas algo estava acontecendo? E aquilo me preocupou."E por que você veio atrás de mim?"Sem esperar uma resposta, ela abriu a porta do ca
Lemi Murabak Assim que o avião pousou em Kudsi, meu coração começou a bater mais rápido. A ansiedade, misturada com a expectativa, tomava conta de mim, pois sabia que iria me reencontrar com pessoas que amava profundamente. Empurrei a porta do avião e, com minha bengala apoiada em uma das mãos, comecei a descer as escadas.Eu já estava acostumado com os olhares das pessoas, o fato de ser manco chamava a atenção de todos ao meu redor. Antes, eu me importava com os olhares curiosos e julgadores, mas agora, com o passar dos anos, eu tinha aprendido a não permitir que essas opiniões alheias me afetassem.Contudo, quando avistei minha mãe e meu irmão esperando por mim, meu coração se encheu de emoção. Os olhos marejados de mamãe, que não conseguia conter as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. O nó em minha garganta parecia maior do que nunca, e só consegui soltar uma única palavra: "Mãe".Ela correu em minha direção e nos encontramos em um abraço apertado. O calor do seu corpo contra o
Lemi MurabakDesde o fatídico acidente que deixou minhas pernas deformadas, eu me isolara do mundo. A dor física era insuportável, mas a dor emocional era ainda maior. Eu não queria que ninguém visse minha fraqueza, minhas imperfeições. Vivia em um torpor constante, perdido entre os escombros do meu passado.No entanto, o destino sempre parece encontrar uma maneira de nos puxar de volta à vida. Meu pai, governante de Karilink, tomou uma decisão que mudaria tudo para mim. Ele fez de mim o próximo governante e, para honrar sua promessa, eu precisava arranjar uma esposa. Uma esposa de mentira, para ser mais preciso.Nunca me passou pela cabeça que um dia eu precisaria recorrer a tal artifício. A solidão, para mim, era uma escolha deliberada. Mas meu pai, com sua sabedoria, não pensava dessa forma. Ele queria que eu firmasse uma família. E como sempre diziam, o amor pode vir com o tempo.Ao tomar conhecimento dessa promessa, meu irmão Aslan veio até mim. Seus olhos revelavam preocupação e
Alisson SmithUma pergunta não saía da minha cabeça: Quem era aquela mulher? O encontro inusitado de Lemi com aquela misteriosa mulher loira abalou minhas estruturas. Sentia-me traída e chateada pela forma como ele me deixou plantada na porta da empresa. Aquela imagem, a provocação do luxuoso carro à frente da empresa, era como um golpe direto no meu coração.Eu sabia que não deveria estar sentindo isso; isso me irritava a cada minuto que eu voltava a pensar que ele havia saído com ela. E ainda por cima, antes de entrar no carro, me olhou e sorriu, como se debochasse de mim."Que ódio", foi o que gritei entre dentes, apertando as minhas mãos. Eu estava tendo um ataque de raiva bem na frente da empresa onde eu trabalhava.Entrei no elevador e apertei o botão do andar da presidência. Quando olhei a lista de coisas que ele tinha me mandado, fiquei ainda mais furiosa, pois eu passaria a noite toda trabalhando. Assim que voltei para o escritório, encontrei Berna falando ao telefone. Ela me
Alisson SmithCheguei ofegante ao aeroporto, ainda processando a ligação inesperada de seu chefe. Enquanto esperava na área de embarque, seus pensamentos foram interrompidos pelo surgimento de um homem estranho. Seu rosto sem expressão a assustou profundamente, fazendo-a questionar se aquele monstro a encontrara.Sem pedir permissão ou dizer uma palavra sequer, o homem se aproximou de Alisson e a alertou para segui-lo. O medo que invadiu cada partícula de seu corpo era quase palpável. Ela considerou correr e tentar fugir, mas a presença do homem parecia impedi-la de tomar qualquer ação impulsiva."Para onde você está me levando?" Não houve resposta.Com um terno impecável, o homem caminhava ao meu lado, sua expressão impassível. Cada passo que dava aumentava a ansiedade e a respiração ofegante de Alisson. Seria possível escapar dele? Ela se questionava, procurando possibilidades em meio àquele corredor diferente do fluxo de pessoas indo e vindo.A sensação de estar completamente perdi
Alisson SmithAquele beijo com Lemi Murabak foi um terrível erro, um deslize que eu jamais deveria ter cometido. Um breve momento de fraqueza despertou um turbilhão de sentimentos dentro de mim. Remexeu em antigas feridas, reacendeu dores e sofrimentos que eu preferia manter ocultos, profundos no âmago da minha alma. Porque minha vida depende desse disfarce.Alisson Smith, uma mera contadora britânica, uma funcionária corriqueira e sem graça, só isso que deveria ser. Eu não posso me dar ao luxo de ser vulnerável, de permitir que sentimentos me desviem do meu papel nessa farsa. Mais do que isso, um beijo como aquele colocaria tudo a perder. Poderia destruir minha nova vida e revelar minha verdadeira identidade.Não posso apagar meu passado, mas posso guardá-lo a sete chaves. E é exatamente isso que estou determinada a fazer. Não vou repetir o erro de me envolver com Lemi Murabak, nem com qualquer outra pessoa. O risco é grande demais, as consequências seriam imprevisíveis.Enquanto sig
Alisson SmithEu olhava para Lemi através do espelho, com uma mistura de confusão e curiosidade estampada em meu rosto. A proposta de um acordo ainda ecoava em minha mente, enquanto eu tentava compreender o que ele realmente significava. Eu precisava de proteção, e a presença de Juninho na outra sala só aumentava minha insegurança. Será que ele já sabia quem eu era?Lemi me virou, segurando meus ombros e me forçando a olhar com intensidade para ele. Seus olhos penetrantes pareciam ler minha alma, em busca de uma resposta. Eu sabia que estava diante de uma decisão crucial, que poderia mudar o rumo de minha vida. Engoli em seco antes de respondê-lo:"Lemi, essa é uma decisão importante para mim. Preciso de tempo para pensar e entender todas as consequências envolvidas. Será que você poderia me dar esse tempo?" Ele soltou um suspiro, aparentemente frustrado com minha hesitação. "Entendo que é uma decisão que não pode ser tomada de forma precipitada. Mas você precisa se proteger daquele