A sonoplastia acompanhava o ritmo e nem parecia estar sendo organizada pelos próprios alunos de tão perfeita a sincronia em que estava. Julian surgira na cena e correndo até onde sua amada se encontrava, ajoelhara-se ao lado dela, tomando-a nos braços. Todos aguardavam o momento final em que ele beberia o veneno e o destino dos amantes seria selado.
Ao invés disso, o Romeu dera um longo beijo na boca da Julieta que tinha em seus braços. Não fora um selinho, mas sim um beijo demorado e profundo. Ashley abrira os olhos no mesmo instante, afinal, aquilo não era o que haviam ensaiado durante as últimas semanas.
—O que pensa que está fazendo? – disse a garota surpresa e irritada, empurrando o rapaz e engatinhando para trás apoiada sobre os cotovelos. No entanto, sua voz não fora ouvida pelo público. O som do microfone de seu vestido havia sido cortado.
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Com exceção ao incidente entre Ash e Julian no final do espetáculo, todas as atividades realizadas por outros grupos de alunos foram um sucesso. A própria peça de teatro repercutira nos jornais da cidade com elogios e rendera uma boa propaganda para o Delphine. Entretanto, assim como prometido, Robert voltara no dia seguinte ao colégio junto da filha e exigira falar com o diretor, que sem escolhas, atendera o pai da garota.Pressionado por um advogado experiente apoiado por um grande escritório, o diretor não tivera escolhas senão chamar os pais de Julian e expor os fatos acerca do ocorrido. O problema era que o pai do rapaz era um influente vereador na cidade e não gostara nem um pouco da intimação, porém, ao ficar cara a cara com Robert o político entendera que aquele homem estava disposto a derrubá-lo nos tribunais e na mídia pela ação do filho.
—Então foi Lizzie que parou de falar com Anna – comentou Ash.—Sim, porque Anna quase a derrubou da roda gigante. Parece que a discussão delas não terminou bem – explicou Lori, escondendo um sorriso – Anna disse também que não falou nada sobre já ter se sentido atraída por outra menina…—Quer dizer, por você – emendou a namorada.—Sim. Ela reforçou que nunca vai falar sobre aquilo com ninguém, apenas para me deixar mais segura sobre isso. Sei lá, posso só estar sendo simpática, mas confio nela sobre isso.—Eu também confio. E entendo que ela goste de você, como alguém pode não gostar? – comentou a menina ao lado esboçando um sorriso ao passo que a loira ruborizava – Lori, eu sei que isso é irrelevante, mas o que você acha, somos lésbicas?
Lori dormira na casa de Ash na noite de sábado para domingo, algo bem comum entre as duas. Todo final de semana uma delas dormia na casa da outra. No dia seguinte as meninas tinham dormido até onze as da manhã, acordando apenas quando Debbie batera à porta do quarto, informando que o almoço logo estaria pronto.Almoçaram na sala, junto com os pais e o irmão de Ash enquanto assistiam um DVD antigo de Bart, do filme Os Sem Floresta. Era uma comédia em animação, um filme divertido e familiar, perfeito para aqueles momentos em que todos esqueciam os problemas e riam juntos. Após o almoço, Robert saíra com Bart para assistirem uma partida de futebol em um campo não muito longe da casa onde agora moravam e as garotas ajudaram Debbie a arrumar a cozinha, deixando tudo em ordem.Ashley levara a loira até o ponto de ônibus era pouco mais que uma da tarde, pois
Depois que a mãe saiu, Ash trancou a porta, se deitou em sua cama e chorou. Não podia desabar na frente de Lori, pois sabia que a amiga esperava que ela fosse forte pelas duas, mas dentro de si, imaginava o que aconteceria se aquele boato se estendesse. Debbie estava amena, entretanto, ela não acreditava realmente que rolasse algo entre a filha e a afilhada.Pensara em ligar para Lori e explicar o que sua mãe havia lhe falado. Acabara desistindo, lembrando-se de que a loira e a mãe iriam assistir a um filme naquela tarde, apenas as duas. Talvez Sarah deixasse para falar com a filha depois do filme. Tudo que podia fazer era confiar que a namorada não cederia, independentemente do que a mãe dissesse.Elas tinham um acordo, resistir não importava o que fosse até que pudessem assumir seus sentimentos para todos. E aquele não era o momento.O som de mensagem no WhatsApp a tirara de seus pensamentos
Ash estremecera. Naquele momento lhe parecia que todo seu mundo estava caindo. Duas pessoas tinham lhe procurado para falar sobre seu relacionamento com a amiga. Como aquilo poderia estar acontecendo? O que elas tinham feito de errado? Vinham se vigiando nos últimos meses, tomando cuidado com cada detalhe…Ela poderia ter controlado a situação com a mãe, mas se outros alunos começassem a falar logo os boatos chegariam ao ouvido de seu pai e aos pais da namorada. E agora Jim Sullivan surgira em sua frente, meses depois que a rejeitara afirmando saber sobre elas.—Como… – começou a dizer a menina chorando – Como você sabia?O rapaz colocara as mãos nos bolsos da calça jeans. Parecia incomodado em falar sobre aquilo com ela. Talvez ele também não aprovasse a relação, talvez por isso não tivesse falado antes. Tudo que Ash temia que pudesse
Ash ficara alguns segundos em silêncio absorvendo as palavras do garoto, captando o que ele tinha acabado de dizer. A proposta realmente fazia sentido sobre tirar os outros de sua cola, mas como ficariam ela e a namorada verdadeira com isso?—Por que você faria isso por mim? Digo, você poderia namorar uma menina para valer, de verdade. Se fizer isso as suas chances com outras vão sumir. E mais, não costumamos sair, não temos fotos juntos nem nada. Nunca colaria – respondeu Ashley.—Se alegarmos que é começo de namoro não precisamos de nada disso. Nem fotos nem nada. E podemos conseguir fotos juntos depois, sem precisar de contato íntimo. Eu não vou me aproveitar de você, pode continuar como está. Ninguém vai saber sobre vocês de mim e não vão ter o que falar mais – explicou o rapaz.—Eu preciso falar com a Lori, mas tenh
Pode entrar! – gritou a garota ao ouvir a mãe bater à porta do quarto. Quando Debbie entrou o som de One of Us, da cantora Joan Osbourne preenchia o aposento. Ash apanhou o controle do aparelho ao seu lado e apontou-o baixando o volume sem sequer se mexer na cama.A morena e Lori estavam deitadas lado a lado olhando para o teto. O ventilador da luminária girava devagar, sem nem mesmo produzir qualquer vento mais forte.—Acabei de chegar e trouxe o jantar. Venham comer, tem aquela macarronada que você adora – disse Deborah – Vocês vão sair?—Vamos ao cinema, mas estávamos esperando você chegar. Como foi no trabalho? – Ash parecia receptiva, mas no fundo queria apenas a atenção da mãe.Havia se passado duas semanas desde o boato do namoro entre as duas na biblioteca e após a conversa entre Debbie e Ash, a mãe da menina tinha f
—Sarah é uma das mulheres mais inteligentes que eu conheço. E apesar de ela não falar muito, ela está sempre atenta a tudo – respondeu Debbie – Acho que ela só quer ver vocês duas em uma faculdade, esse é o sonho dela. E pessoalmente, acho que ela já vive ocupada com as tarefas da comunidade na vizinhança.—Vocês duas levam jeito para lidar com pessoas, sempre admirei isso – elogiou a filha – Não consigo imaginar alguém que não goste de você e de tia Sarah – disse dirigindo-se à mãe.—E falando em pessoas, se demorarmos mais vamos nos atrasar para a sessão – comentou Lori lembrando a amiga de que iriam ao cinema.—Eu levaria vocês, mas estou exausta e amanhã vou ter que levantar cedo – disse Debbie – Vão e se divirtam por mim.Nenhuma das duas contest