Lorena já havia desenhado mais de cem corações na folha de caderno. Seus pensamentos estavam distantes, em um lugar acolhedor onde ela podia ser ela mesma com a única pessoa que queria estar naquele momento. O único som que ouvia era o tic tac do relógio de parede na sala de aula. Estava contando os segundos para dar logo meio-dia e poder sair daquele lugar. No meio daqueles quarenta alunos agora sentia-se sufocada, sentia algo lhe apertando dentro do peito, algo do qual precisava extrapolar para conseguir respirar de novo.
Lembrara-se da amiga e do dia anterior. Ela havia dito que a amava? Não se lembrava, mas se não tivesse dito precisava dizer, precisava colocar para fora o que sentia, ao menos para a responsável por aqueles sentimentos. E se já tivesse dito faria questão de repetir mais um milhão de vezes para ter certeza que sua amada não se esqueceria.
Pensara em sair corre
Lorena havia arregalado os olhos e corado. Permanecera imóvel e silenciosa como se fosse uma estátua. Seu olhar baixou devagar para as mãos das duas.—Você está tremendo e gelada. Aconteceu alguma coisa? Está bem? – indagou Ash.Ouvir aquela pergunta da professora era plausível, mas da amiga já era exagero – pensou a menina. Ashley sabia que os alunos de qualquer escola adoravam falar e inventar histórias.—É que… você está segurando minha mão e todos estão olhando…—Você está com vergonha porque vim lhe esperar na saída e por estar segurando sua mão agora? – perguntou a morena baixando a cabeça para mirar diretamente o olhar da amiga.—Claro que não sinto vergonha de você, mas vão começar a falar… você sabe – Lorena n&a
—Você é doida, se alguém passar e nos ver…—Sabe, eu queria poder gritar para todo mundo que você é minha – respondeu a morena – Ou que sou sua, o que você preferisse, juro.—Mas… – começara a amiga. Ash a cortara no início da frase.—Mas eu sei que não podemos e mesmo assim te quero, entende?—Eu também te quero…Lorena abraçou a outra e repousou sua cabeça em seu ombro, sentindo o choque entre suas peles, sentindo o perfume do cabelo molhado da outra e da colônia em seu pescoço lhe invadindo e lhe anestesiando. Sentia-se confortável e segura, queria não precisar mais sair dali.Ficaram por vários minutos assim, os braços de Lori entrelaçados pela cintura de Ashley enquanto a companheira colava sua testa à dela e permitia que seus narizes
—E pensar que ontem você estava lamentando porque o Jim Sullivan lhe deu um fora. E fui eu quem lhe estimulei a ir se declarar para ele – disse Lorena rindo – Não acredito que fiz isso.—Não finja que não estava carente também – riu Ashley – Nós duas estávamos naquela bad, acho que crise de existência na adolescência existe, afinal.—Estou confusa, mas feliz que isso tudo tenha acontecido. Me desculpe por ter saído correndo daquele jeito sem dizer nada. Eu queria ficar, mas não sabia o que dizer ou fazer.—Eu sei, e entendo. Depois que saiu também fiquei confusa. Deveria ter corrido atrás, ter te seguido, mas não tive coragem. Acho que nós duas precisávamos refletir, pensar em tudo.Lorena suspirou de novo.—Daqui dois anos eu faço dezoito e vou dizer para todo mundo – disse
30 dias. Hoje faz exatamente 30 dias.Calma, acho que é melhor começar dizendo quem eu sou.Então, lá vamos nós.Eu me chamo Ashley Juliet Montgomery. Tenho dezessete anos e sou do signo de touro. Como toda taurina que se preze sou leal, segura, sensual, possessiva e um pouco teimosa. Claro que tudo isso em doses bem saudáveis e claro também que nunca vou admitir nada disso para ninguém em uma entrevista. Quem eu sou interessa apenas a mim mesma.Meus pratos preferidos são pizza e sorvete, amo Sundaes. Eu não sou antissocial, mas sou aquele tipo de pessoa que prefere evitar multidões, não gosto de ter muitos desconhecidos à minha volta. Gosto de roupas folgadas e casuais, o que tiver à mão. Eu sou feminina sim! Mas isso não significa que eu tenha que andar vestida como uma patricinha ou uma piriguete, não sigo tendênci
Passei a noite em claro pensando, estudando, analisando, avaliando todas as chances, todas as possibilidades de como seria dali em diante entre nós. Eu aceitaria namorá-la, pouco me importa se minha mãe, a mãe dela, todos das nossas famílias se opusessem. Mesmo que chamassem o Papa eu não desistiria. Se ela quisesse, nós ficaríamos juntas. Vou confessar, não dormi com medo de ter pesadelos. Pesadelos onde eu me declarava, onde eu confessava o que havia sentido e ela me dava um fora, me dispensava com aquelas palavras do tipo “Me perdoe, mas não é de mulheres que eu gosto, entende?”. Bom, eu entenderia, mas não ficaria feliz. Por trás da minha clássica postura taurina objetiva, forte, firme e decidida, eu tenho também os meus medos, meus receios, aquela insegurança diante do que não entendo bem.Mas ninguém precisa saber disso (
É incrível como o mundo muda quando se está apaixonado.As coisas mudam de cor, o dia começa mais cedo, acaba mais cedo e milhares de coisas mudam de forma e lugar. De repente, começamos a ver tudo com outros olhos e quando as coisas não remetem à pessoa que amamos, simplesmente percebemos que não importa o que fazemos, lá estamos nós perdidos em pensamentos que nos trazem a pessoa a mente.Vamos dizer que a já distraída Lorena Silverstone estivesse passando por isso.Lá estava a garota de olhos castanhos perdida em devaneios observando os pássaros na árvore bem ao lado da janela de sua sala de aula, no segundo andar. Pela manhã, horário em que estudava, os pássaros reuniam-se em seus ninhos antes de sair à procura de alimentos para os filhotes e a garota dividia sua atenção entre a aula e observá-los. Normalme
—Você devia comer mais, nem mexeu na comida – exclamara Sarah, a mãe de Lori à mesa do almoço – Na sua idade precisa se alimentar para repor todas as energias que gasta.A menina agradeceu e disse que estava satisfeita. De certa forma sua mãe tinha razão, ela realmente gastava muita energia, por outro lado, comer mais não era a solução. Estavam apenas as duas como acontecia quase todos os dias. O pai de Lori trabalhava como Chefe de Cozinha em um famoso hotel na cidade de San Dimas, o Venatores et Luna e normalmente passava o dia fora, pegando apenas um dia por semana para folga. Sendo filha única, ela e a mãe eram a companhia uma da outra nos cafés da manhã e almoços.—Posso lavar a louça mais tarde? Combinei de sair essa tarde com a Ash e umas amigas e pretendia dar uma olhada no guarda-roupa, ainda não me decidi sobre o que usar.
As amigas encontraram-se duas ruas antes do shopping, como planejado. Ash pretendia alertar Lori sobre as garotas que estariam com elas naquela tarde. Apesar de todos no Delphine posarem de bons samaritanos, a verdade por trás da maioria era que não passavam de filhinhos de papai ostentando o uniforme da escola.Não entendia como sua mãe havia conseguido encaixá-la. Haviam muitos nomes na lista de espera por uma vaga. Aparentemente os contatos que Debbie tinha com gente rica e famosa tinham valido a pena naquela questão. Ainda assim não gostava do colégio e seu enorme manual de regras. Sentia falta do tom mais livre da escola onde Lori ainda estava.Praticamente arrastando a loira pela mão, Ash a levara até um banco de jardim solitário e recostara-se com ela nas costas do mesmo. Ainda faltava vinte minutos para o horário marcado com Lizzie e Anna na entrada do shopping e elas tinham aqu