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Planos - Parte 2

Antes que percebesse Ashley estava sentada do outro lado do banco, de frente para ela, enxugando uma das lágrimas de suas sardas com o polegar.

—Seus olhos estão com aquela cor de mel linda que eu amo. Pensando bem, acho que é bom que não tenhamos mudado nosso ponto de encontro. Eu sempre vim aqui com você para ver seus olhos com esse brilho.

—O verde dos seus olhos também muda com as luzes daqui, como se houvesse mais brilho neles. Lembra ainda mais um par de esmeraldas – sorrira Lori inspirando e engolindo o choro de antes – Já contei uma meia dúzia de garotos olhando para nós. Estou surpresa que nenhum veio aqui ou nos chamou para conversar ainda. Será que estamos dando na cara?

Ashley olhou em volta, realmente havia mais de um garoto olhando discretamente para elas.

—Não, claro que não. Acho que são só inseguros ou tímidos mesmo. Homens – riu – Tão seguros de si nos posts do f******k e tão frágeis no mundo real – comentara fazendo com que Lori risse também.

♥♥♥

—A sessão vai começar em cinco minutos, vamos comprar a pipoca e refrigerantes – disse Ash vendo a expressão da namorada torcendo os lábios – E não ouse dizer que vai me deixar comendo sozinha. Já combinamos que não iríamos ficar falando sobre aquela coisa de engordar mais. Você é linda, sabe disso e vai me fazer companhia.

Os lábios torcidos da loira converteram-se em um sorriso de derrota, como ela poderia dizer não para a enérgica Ashley Montgomery?

As meninas, por fim, dirigiram-se à lanchonete e pegaram uma pipoca extragrande para as duas e por insistência de Lori, uma garrafinha de suco cada. Havia muitas meninas do Delphine por perto. Algumas, Ashley sequer conhecia, apenas as tinha visto de relance pela escola, mas todas a encaravam enquanto comprava as guloseimas.

Podia sentir o ar de reprovação estampado no olhar de várias delas e só aguardava que alguma viesse lhe censurar sobre o que comia para soltar boas e más palavras como resposta. Odiava aquele jeito robótico que a maioria das pessoas tinha de seguir tendências ditadas pela mídia e receitas distribuídas na internet. Estar no Delphine de repente a colocara também sob os holofotes e tudo que fazia parecia estar na mira de algum curioso.

Felizmente, logo a luz verde sobre a porta de entrada acendera, anunciando a sala liberada e as garotas avançaram por ela.

—Quantas vezes já assistiu esse filme? – perguntou Lori caminhando logo atrás da outra.

—Em casa umas mil vezes, mas no telão apenas duas, ambas com você, se lembra? Não poderia perder essa reprise por nada. Capitão América – O Soldado Invernal é, de longe, o melhor da trilogia, não que eu não goste do primeiro, claro. Só me frustrei com a adaptação que fizeram de Guerra Civil no terceiro filme. Aquele roteiro é terrível, falas e cenas ruins, parece que andam se preocupando apenas com as cenas de ação.

Lori apenas esboçara um sorriso compreensivo, embora não entendesse metade do que a namorada estava falando. Ash tinha uma coleção de revistas em quadrinhos de heróis que faria qualquer garoto ficar louco ao entrar em seu quarto. Haviam duas estantes cheias delas, que ela costumava chamar de sua biblioteca de ficção. Já tinha lido tudo mais de uma vez e não tinha um filme de heróis que não tivesse assistido ainda.

A sala estava quase vazia, com menos da metade dos assentos ocupados. Além das duas, apenas uma outra garota estava presente junto do namorado, algumas fileiras à frente delas e ambos mais namoravam que assistiam ao filme. Como de costume, haviam se sentado na fileira mais distante do telão, nas primeiras cadeiras da esquerda. Hoje aquele lugar estava deserto, na extremidade oposta um grupo de nerds conversava alto falando sobre os detalhes técnicos, falhas e acertos na adaptação cinematográfica, mas o lanterninha não havia lhes chamado a atenção, parecendo nem se importar. Sem ninguém por perto tinham liberdade para conversar, mesmo que sussurrando.

—Pensou no que eu disse? – indagou Ash com um olho no filme e outro na namorada.

A menina ao lado fingiu estar atenta ao filme, que embora não tivesse assistido tantas vezes quanto a morena, podia se lembrar de pelo menos dez, sendo mais de meia dúzia com a outra.

—O quê? – se esforçara para parecer distraída.

—Você sabe do que estou falando, não se faça de boba, amor…

—Adoro quando diz essa palavra, pode repetir? – sussurrou Lori com um sorriso.

—Continua enrolando – respondeu a morena.

—Tá bom – cedeu Lori, sabendo que nunca ganhava de Ash em qualquer tipo de discussão – Não vou dizer que não pensei, por sinal, pensei até demais, tive até dor de cabeça. Não sei o que dizer, minha mãe sugeriu fazer uma festa em nossa casa e não consigo contrariá-la – aliás, não consigo contrariar nenhuma de vocês duas, pensou a loira – E sei que sua mãe não vai se opor, as duas sempre entram em acordo sobre o que fazer juntas. E também acredito que elas vão aceitar sem problemas a ajuda das suas amigas… das nossas amigas, eu acho – corrigiu – Mas tenho certeza que Lizzie e Anna não virão sós. Debbie não vai perder a chance de convidar os pais delas e todos os pais e amigos que conhecer no Delphine. Vamos nos tornar a manchete da semana e vai ter mais olhos do que nunca sobre nós duas.

—Realmente – comentou Ashley – Isso acaba com os nossos planos de fugir discretamente mais cedo para algum lugar só nosso. Não vai ser fácil encontrar uma desculpa convincente que elas aceitem – continuou voltando o olhar completamente para a garota ao seu lado. Segurando a mão de Lori, levantou-a e a beijou – Mas também acho que é uma noite que deveria aproveitar ao máximo, afinal, só se faz dezessete uma vez.

—Você disse isso ano passado também – respondeu a loira sorrindo – E em todos os outros antes dele. Sempre me convence a aceitar essas festas e o que planejam nelas.

—Alguma vez eu estivesse errada? – indagou Ash sorrindo de volta.

—Vamos dizer que eu vá ceder ao que decidir… O que vamos fazer? – disse a loira.

Ashley sabia que a doce e indecisa Lori precisava dela naquelas ocasiões. O que teria sido das últimas festas de aniversário da menina se não fosse ela por perto? Não tinha vergonha de admitir que levava o sangue da mãe para organizar eventos, embora Debbie sempre entrasse como apoio e assumisse tudo no final das contas.

—Vamos comemorar – disse sussurrando pausadamente – Vamos comer, beber, dançar, vamos tirar fotos com os amigos, com a família. Vamos aproveitar a sua noite como amigas – ressaltou – Com abraços e beijinhos no rosto. Na verdade, isso não vai mudar as coisas, não deixamos de ser aquelas amigas que sempre fomos porque começamos a namorar. Foi o oposto, acho que nos tornamos ainda mais amigas. E no próximo fim de semana comemoramos outra vez, mas de um jeito mais privado e gostoso, entende? – completou sorrindo maliciosamente.

—Entendo e aceito. O que você sugere que eu não aceite? – respondeu a loira.

Ash riu, aquilo era verdade, mas ela sempre pensava no melhor para a amiga.

—Esse filme não acaba nunca – comentou Ash.

—Desde quando você tem pressa que esses filmes acabem? – surpreendeu-se a loira.

—Desde quando tem sorvete e pizza em casa nos esperando. E vou te ter a noite todinha só para mim… – respondeu a namorada torcendo os lábios em outro sorriso.

Lori apenas riu com ela.

—Acabe logo, filme – concordou enquanto riam juntas.

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