Antes que percebesse Ashley estava sentada do outro lado do banco, de frente para ela, enxugando uma das lágrimas de suas sardas com o polegar.
—Seus olhos estão com aquela cor de mel linda que eu amo. Pensando bem, acho que é bom que não tenhamos mudado nosso ponto de encontro. Eu sempre vim aqui com você para ver seus olhos com esse brilho.
—O verde dos seus olhos também muda com as luzes daqui, como se houvesse mais brilho neles. Lembra ainda mais um par de esmeraldas – sorrira Lori inspirando e engolindo o choro de antes – Já contei uma meia dúzia de garotos olhando para nós. Estou surpresa que nenhum veio aqui ou nos chamou para conversar ainda. Será que estamos dando na cara?
Ashley olhou em volta, realmente havia mais de um garoto olhando discretamente para elas.
—Não, claro que não. Acho que são só inseguros ou tímidos mesmo. Homens – riu – Tão seguros de si nos posts do f******k e tão frágeis no mundo real – comentara fazendo com que Lori risse também.
♥♥♥
—A sessão vai começar em cinco minutos, vamos comprar a pipoca e refrigerantes – disse Ash vendo a expressão da namorada torcendo os lábios – E não ouse dizer que vai me deixar comendo sozinha. Já combinamos que não iríamos ficar falando sobre aquela coisa de engordar mais. Você é linda, sabe disso e vai me fazer companhia.
Os lábios torcidos da loira converteram-se em um sorriso de derrota, como ela poderia dizer não para a enérgica Ashley Montgomery?
As meninas, por fim, dirigiram-se à lanchonete e pegaram uma pipoca extragrande para as duas e por insistência de Lori, uma garrafinha de suco cada. Havia muitas meninas do Delphine por perto. Algumas, Ashley sequer conhecia, apenas as tinha visto de relance pela escola, mas todas a encaravam enquanto comprava as guloseimas.
Podia sentir o ar de reprovação estampado no olhar de várias delas e só aguardava que alguma viesse lhe censurar sobre o que comia para soltar boas e más palavras como resposta. Odiava aquele jeito robótico que a maioria das pessoas tinha de seguir tendências ditadas pela mídia e receitas distribuídas na internet. Estar no Delphine de repente a colocara também sob os holofotes e tudo que fazia parecia estar na mira de algum curioso.
Felizmente, logo a luz verde sobre a porta de entrada acendera, anunciando a sala liberada e as garotas avançaram por ela.
—Quantas vezes já assistiu esse filme? – perguntou Lori caminhando logo atrás da outra.
—Em casa umas mil vezes, mas no telão apenas duas, ambas com você, se lembra? Não poderia perder essa reprise por nada. Capitão América – O Soldado Invernal é, de longe, o melhor da trilogia, não que eu não goste do primeiro, claro. Só me frustrei com a adaptação que fizeram de Guerra Civil no terceiro filme. Aquele roteiro é terrível, falas e cenas ruins, parece que andam se preocupando apenas com as cenas de ação.
Lori apenas esboçara um sorriso compreensivo, embora não entendesse metade do que a namorada estava falando. Ash tinha uma coleção de revistas em quadrinhos de heróis que faria qualquer garoto ficar louco ao entrar em seu quarto. Haviam duas estantes cheias delas, que ela costumava chamar de sua biblioteca de ficção. Já tinha lido tudo mais de uma vez e não tinha um filme de heróis que não tivesse assistido ainda.
A sala estava quase vazia, com menos da metade dos assentos ocupados. Além das duas, apenas uma outra garota estava presente junto do namorado, algumas fileiras à frente delas e ambos mais namoravam que assistiam ao filme. Como de costume, haviam se sentado na fileira mais distante do telão, nas primeiras cadeiras da esquerda. Hoje aquele lugar estava deserto, na extremidade oposta um grupo de nerds conversava alto falando sobre os detalhes técnicos, falhas e acertos na adaptação cinematográfica, mas o lanterninha não havia lhes chamado a atenção, parecendo nem se importar. Sem ninguém por perto tinham liberdade para conversar, mesmo que sussurrando.
—Pensou no que eu disse? – indagou Ash com um olho no filme e outro na namorada.
A menina ao lado fingiu estar atenta ao filme, que embora não tivesse assistido tantas vezes quanto a morena, podia se lembrar de pelo menos dez, sendo mais de meia dúzia com a outra.
—O quê? – se esforçara para parecer distraída.
—Você sabe do que estou falando, não se faça de boba, amor…
—Adoro quando diz essa palavra, pode repetir? – sussurrou Lori com um sorriso.
—Continua enrolando – respondeu a morena.
—Tá bom – cedeu Lori, sabendo que nunca ganhava de Ash em qualquer tipo de discussão – Não vou dizer que não pensei, por sinal, pensei até demais, tive até dor de cabeça. Não sei o que dizer, minha mãe sugeriu fazer uma festa em nossa casa e não consigo contrariá-la – aliás, não consigo contrariar nenhuma de vocês duas, pensou a loira – E sei que sua mãe não vai se opor, as duas sempre entram em acordo sobre o que fazer juntas. E também acredito que elas vão aceitar sem problemas a ajuda das suas amigas… das nossas amigas, eu acho – corrigiu – Mas tenho certeza que Lizzie e Anna não virão sós. Debbie não vai perder a chance de convidar os pais delas e todos os pais e amigos que conhecer no Delphine. Vamos nos tornar a manchete da semana e vai ter mais olhos do que nunca sobre nós duas.
—Realmente – comentou Ashley – Isso acaba com os nossos planos de fugir discretamente mais cedo para algum lugar só nosso. Não vai ser fácil encontrar uma desculpa convincente que elas aceitem – continuou voltando o olhar completamente para a garota ao seu lado. Segurando a mão de Lori, levantou-a e a beijou – Mas também acho que é uma noite que deveria aproveitar ao máximo, afinal, só se faz dezessete uma vez.
—Você disse isso ano passado também – respondeu a loira sorrindo – E em todos os outros antes dele. Sempre me convence a aceitar essas festas e o que planejam nelas.
—Alguma vez eu estivesse errada? – indagou Ash sorrindo de volta.
—Vamos dizer que eu vá ceder ao que decidir… O que vamos fazer? – disse a loira.
Ashley sabia que a doce e indecisa Lori precisava dela naquelas ocasiões. O que teria sido das últimas festas de aniversário da menina se não fosse ela por perto? Não tinha vergonha de admitir que levava o sangue da mãe para organizar eventos, embora Debbie sempre entrasse como apoio e assumisse tudo no final das contas.
—Vamos comemorar – disse sussurrando pausadamente – Vamos comer, beber, dançar, vamos tirar fotos com os amigos, com a família. Vamos aproveitar a sua noite como amigas – ressaltou – Com abraços e beijinhos no rosto. Na verdade, isso não vai mudar as coisas, não deixamos de ser aquelas amigas que sempre fomos porque começamos a namorar. Foi o oposto, acho que nos tornamos ainda mais amigas. E no próximo fim de semana comemoramos outra vez, mas de um jeito mais privado e gostoso, entende? – completou sorrindo maliciosamente.
—Entendo e aceito. O que você sugere que eu não aceite? – respondeu a loira.
Ash riu, aquilo era verdade, mas ela sempre pensava no melhor para a amiga.
—Esse filme não acaba nunca – comentou Ash.
—Desde quando você tem pressa que esses filmes acabem? – surpreendeu-se a loira.
—Desde quando tem sorvete e pizza em casa nos esperando. E vou te ter a noite todinha só para mim… – respondeu a namorada torcendo os lábios em outro sorriso.
Lori apenas riu com ela.
—Acabe logo, filme – concordou enquanto riam juntas.
As garotas tinham voltado para casa pouco depois das dez, mais de uma hora antes do combinado com a mãe de Ash. Deborah costumava permitir que elas chegassem até onze e meia nos finais de semana, mas a dupla nunca chegara no prazo limite. Tinham costume de ficar mais em casa que na rua e sempre voltavam mais cedo.Agora tinham um motivo maior para querer estar na privacidade do quarto da morena.Naquela noite, após voltarem, Debbie assara uma pizza para as duas e como de costume, Ash comera quase tudo. Lori ficava se perguntando como a namorada era capaz de comer cinco pedaços de pizza e não engordar. Ela mesmo comera dois porque fora forçada, duplamente forçada, uma vez que Ash e a mãe insistiam para que ela desencanasse da ideia de que estava engordando demais. Não eram as duas que sentiam o soutien apertando toda vez que tinha de vesti-lo. E não queria admitir que precisava comprar um númer
Lori escorregara preguiçosamente o corpo para cima, começando a beijar desde o pescoço da amante, traçando uma linha de carinhos até que seus lábios se encontrassem.—Não aconteceu nada demais – disse Ash por um instante em que param para respirar – Não fique encucada com mais isso. Vamos tomar mais cuidado daqui em diante, tudo bem? Eu prometo que vou cuidar de você. Eu te amo, sua menina complicada e medrosa.Lori era realmente a mais insegura entre as duas, mas isso não fazia com que Ash fosse cem por cento segura de tudo. Claro que se a namorada tivesse se confessado, mesmo dizendo ter sido um sonho, a mãe ficaria desconfiada das duas com segredos e portas trancadas.Sem dizer o que realmente pensava, Ashley apenas abraçara a outra mais forte, apertando seu corpo junto do dela. Ela tinha de parecer sempre forte, pois sabia que desde crianças, Lor
O restante do domingo fora tranquilo. Lori respondera à mensagem de Anna explicando que tinha combinado de passar o dia com Ash, mas que elas se veriam na segunda em sua festa de aniversário. Quando as duas voltaram para casa era já quase uma da tarde, atrasadas para o almoço, como sugerira Debbie naquela manhã. Estranhamente não havia ninguém em casa, mas Ashley ligara para a mãe, que explicara ter um compromisso do trabalho naquela tarde e que depois iria se encontrar com Sarah para combinarem os detalhes da festa no dia seguinte. Bart, irmão mais novo de Ash e Robert, seu pai, estavam com a mãe a passeio.Embora Debbie vivesse para o trabalho, não deixava de ser apegada à família e a morena sabia que eles estavam planejando o que aconteceria no dia seguinte. Sua tarefa era manter a garota loira distraída, coisa que ela faria com prazer.A mãe da menina dissera qu
A garota abaixo da morena virou a face na direção da janela, ainda fechada. Escorregou as mãos atrevidas até o bumbum de Ash e subiu deslizando os dedos pelo contorno das curvas da menina, subindo de sua cintura até suas costas. Puxou-a mais para baixo, deitando devagar o corpo da namorada sobre o seu próprio, sentindo seu calor, abraçando-a apertado. Beijou seu pescoço e mordeu sua orelha de leve.—É o melhor aniversário que já tive – respondeu – Posso passar o dia aqui com você?—Você nem faz ideia do quanto eu queria poder dizer que sim – respondeu a garota – Mas temos que sair, precisamos resolver umas coisinhas – emendou sorrindo e revelando o cartão de crédito de sua mãe em suas mãos.—Podemos passar por perto da minha casa para espiar o que podem estar aprontando? – sugeriu Lori com um s
A notícia de que a festa não seria na casa da garota pegara não apenas Lori, mas também Ash de surpresa. Debbie explicara que não tinham contado para Ash, fazendo-a também pensar que a festa seria, como nos anos anteriores, na casa de Lorena para que ela não revelasse nada antes da hora. Não que ela fosse contar, mas sem saber não havia risco de ela soltar sem querer.—Todos os anos fazemos sua festa em sua casa ou na minha – explicara a mãe de Ashley – Então pensamos em lhe fazer uma surpresa esse ano. Algo mais especial.A única coisa que Debbie não contara durante o trajeto era para onde estavam se dirigindo, o que tornava cada minuto mais angustiante para a ansiosa Lori.Quando a morena ao volante reduzira a velocidade, a loira no assento do passageiro quase fugira correndo pela janela ao ver o letreiro luminoso da fachada. Estavam se aproximando da e
Seguindo a mulher por um corredor de paredes vermelhas com diversas luminárias que pareciam ser ornamentos caríssimos retirados de algum castelo, além de quadros grandes e belos retratando paisagens e pessoas em trajes medievais, as meninas logo se viram diante de uma grande porta de madeira. Debbie batera duas vezes e então abrira, entrando e estendendo a mão para elas a seguissem.O interior do aposento era iluminado por luzes de neon no alto desenhando um L na ampla sala retangular. As paredes brancas eram limpas e vazias. Havia alguns armários de arquivos em um canto, um bar repleto de taças, copos e diversas garrafas de bebidas e ao longe, próxima à uma grande janela de vidro que ocupava toda a extensão da parede, uma mesa de escritório com caixas, papeis, monitores de computador e outros pequenos objetos.O homem sentado em uma grande cadeira atrás da mesa levantou-se e sua imagem
Ao saírem, Ash e a namorada contemplaram um céu salpicado de estrelas brilhantes com uma grande lua cheia iluminando vários prédios ao longe. A visão era tão bela que elas tinham até se esquecido do vento frio por um instante.—Cuidado ou o vento irá fazer mágica com seus cabelos – disse Debbie sorrindo.Havia outro daqueles grandes homens de terno ali que cumprimentara Deborah assim que a vira. A mulher aproximara-se e lhe dissera alguma coisa. O mesmo então abrira uma caixa de fusíveis e acionando alguns interruptores meia dúzia de luzes em alguns postes se acenderam. No meio do terraço um grande helicóptero surgira e as garotas ficaram boquiabertas apreciando a bela aeronave azul e branca.—Apresento-lhe o Eurocopter EC130 T2 L2 – disse Deborah vendo a clara curiosidade nos olhos das garotas – Lucius o deixa sempre aqui, aba
A festa no Black Night Hip Hop Clube acabara depois das quatro da manhã e as garotas voltaram para casa exaustas, cada qual com seus pais. Lori havia sido informada por Lucius, que se retirara antes das três, de que no dia seguinte um motorista levaria todos os seus presentes até sua casa e que ela ficasse tranquila, pois tudo que ganhara estaria em perfeito estado.E no fim das contas, foi quase tudo perfeito – pensou a garota deitada em sua cama, ainda com os olhos fechados e um sorriso nos lábios carnudos – Só me faltou um beijo de despedida.Lori abriu a boca em um grande e demorado bocejo enquanto espreguiçava esticando os braços. Abrira os olhos devagar, com o quarto ainda escuro. Sobrevivera a mais um aniversário organizado por sua mãe e tia Debbie. Porém, não havia do que reclamar. Muito embora dessa vez elas tivessem passado dos limites, tudo fora feito co