Já faz um tempo que venho à clínica Sant’s. Essa clínica e a doutora Aurora foram indicadas pela Evelyn. Ela tem me ajudado muito e me sinto bem cuidada por ela. Nós nos aproximamos muito desde que acordei naquele dia no hospital. Às vezes me irrito com ela, mas a entendo… Sou tirada dos meus pensamentos pela voz da doutora.ㅡ Embora a lei tenha completado alguns anos, grande parte das vítimas ainda não consegue identificar o ciclo da violência doméstica, que começa de maneira sutil. A violência contra a mulher é caracterizada por qualquer ato de violência baseado em gênero, que tem como consequência algum tipo de dano ou sofrimento, incluindo ameaças, coerção ou privação da liberdade. Muitas mulheres não conseguem enxergar que fazem parte de um ciclo abusivo, por diversos motivos. Ou entendem o amor de uma forma distorcida, ou possuem uma referência de relações violentas, naturalizando assim a violência. A manifestação pode se dar por meio de violência física como agressões ou lesões
Algum tempo depois…O Kaléo passou semanas falando na minha cabeça para que eu aceitasse a sua proposta. Ele realmente quer que eu fique do seu lado 24/7 e por isso me deu o cargo de arquiteta-chefe em sua empresa. Tenho uma sala para mim, é bem aconchegante. O Kaléo colocou alguns quadros na parede que eu nem imaginava que ele ainda os tinha, são da época da faculdade em que desenhei a nossa casa. Iríamos morar nela com as nossas famílias, sendo assim uma grande família com os que mais amamos ao nosso redor. Meu telefone toca me tirando dos meus pensamentos.— Oi, April. — Digo apertando o botão do ramal que estava vermelho. — O senhor Calvin está aqui para vê-la.— Ah, sim, deixe-o entrar. — Digo já desligando e pegando o controle para que os vidros da sala escureçam. Minha sala é toda de vidro inteligente, mas antes de chegar há um corredor com algumas salas abertas, onde posso ver os arquitetos trabalhando em suas mesas. Aperto o botão do controle deixando os vidros escuros. Ou
Já se foram algumas semanas e Kaléo continua irritado comigo, sem que eu tenha culpa de nada. Na verdade, ele age como um menino mimado. Paro o carro em frente à casa do Mayke e saio. Mal atravesso o pequeno portão e a porta se abre. Ele me recebe com um sorriso em uma roupa casual. — Que bom que veio, meu amor, entre! — Ele segura a minha mão e me leva para dentro, sorrio ao entrar. — Quer comer algo?— Sim, mas antes… — Envolvo o seu pescoço com o meu braço e ele me aperta contra si e me beija. Um beijo suave que se intensifica aos poucos, ele me conduz para trás e me encosta na parede com o seu corpo, eu o afasto com um leve empurrão. — Me perdoe, eu… — Ele recua baixando a cabeça, alisa os cabelos e eu me aproximo o abraçando. — Tudo bem, eu ainda não estou pronta para esse passo. — Falo e ele me acolhe em seus braços.— Eu que estou sendo apressado, mas serei mais cuidadoso, juro. — Diz e me dá um beijinho. — Agora vamos comer que ainda temos que ir à clínica.— Ok. — Respondo
Passaram-se alguns dias desde então, e o teste de DNA confirmou o vínculo entre nós. A senhora Ruth estava radiante com o resultado, embora ela já soubesse que eu era sua filha. Desde que nos encontramos, ela tem sido uma presença constante em minha vida, enchendo-me de amor e carinho. É incrível como meu relacionamento com Mayke floresceu. Ele me trata com gentileza, cuidado e finalmente conheci o que é ser amada, cuidada e verdadeiramente feliz.Na semana passada, Mayke decidiu levar-me para uma cidade encantadora chamada Tijuana, localizada na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Percorremos cerca de trinta e cinco quilômetros a partir do centro de San Diego, adentrando não apenas em uma nova cidade, mas também em outro país. Era como realizar um sonho de estar em dois lugares ao mesmo tempo, e Mayke tornou isso possível, já que Tijuana marca a divisa entre as duas nações. Assim, acrescentei mais um país à minha lista de lugares visitados, uma vez que sou apaixonada por vi
Assim voltamos para San Diego e com a promessa de que voltaríamos a Tijuana para ficar mais que uma semana. Olho mais uma vez para uma das milhares de fotos que tiramos e sorrio. Foi uma semana maravilhosa e realmente Mayke é a melhor companhia. Coloco o celular em cima da mesinha e vou para a cozinha preparar algo para comer. Kaléo está em uma viagem de trabalho e quando contei a ele que estava em Tijuana ficou muito bravo. Falou que eu poderia tê-lo esperado voltar para poder ir e quando contei estar com o Mayke, foi pior. Ele disse que estou andando muito com o Mayke, o deixando de lado. Não, eu realmente ainda não contei sobre nós, ninguém sabe que estamos juntos e quando nós todos estamos reunidos, nos tratamos como sempre foi, apenas amigos. Sei que não é certo, mas ainda não me sinto pronta para assumir um relacionamento para todos. Pego a lasanha no congelador e a tiro do plástico, colocando no micro-ondas. Meu celular toca e aperto o botão para descongelar o alimento, corro p
Tudo ultimamente me aborrece, parece que eu já não consigo controlar minhas emoções ou atitudes. Para mim, não é normal ficar nervoso ou alterado como vem acontecendo, mas, aparentemente, é mais forte que eu! Tudo bem, em parte isso é uma grande mentira, eu me exaspero fácil às vezes, mas não com a Yumi e isso é o que mais vem me incomodando. Não vou deixar que ela se afaste de mim novamente, muito menos serei posto para escanteio ou descartado de sua vida. Só não sei ainda como controlar esses atos impulsivos que acabam magoando mais ainda minha Myu-Myu.Entro em casa ansioso com a ideia de ver Yumi, de me entender com ela de uma vez por todas e mostrar para todos que sou seu melhor amigo e que meu lugar ninguém toma — não só o lugar de melhor amigo, mas o de ser a pessoa mais importante em sua vida. Pelo menos uma delas… — Contudo, para minha surpresa, Yumi não está sozinha e, mais uma vez, sinto meu corpo congelar irradiando sucessões de sentimentos ao observá-los, ao ver Mayke faze
— Fica quietinho aí. — Eu já estou melhorando, só preciso de um pouco de água. — Não se nega água a um moribundo, já dizia a minha avó: um copo d'água não se nega a ninguém. — Não podemos fazer nada até a ambulância chegar.— Eu já estou melhor, só quero ir para o meu quarto e tomar um banho para morrer em paz.— Não senhor, fique aí quietinho. Não tenho escolha a não ser esperar a equipe médica. A conversa à minha volta está engraçada, apesar de estranha, por um momento penso que enquanto Ayumi quer me socorrer, sua mãe parece desejar minha morte.— Filho — ouço a voz desesperada da minha mãe —, meu bebê! — Diz ajoelhando-se ao meu lado.— Mãe, a morte está perto, eu estou vendo coisas, acho que tenho um aneurisma ou algo do tipo. As alucinações que tenho foram tão fortes que tive um princípio de infarto. — Bebê não é princípio de infarto, ou você infarta e morre ou você infarta e consegue se salvar, mas infarto é infarto, meu amor.— Então eu não estou morrendo? — Não, provave
Estou em casa assistindo a um filme com o Thom, Paul está na empresa. Do nada, o Thom começa a falar que tem foto da tia Ayumi. Sorrio para ele, que se levanta do sofá e vai correndo para o quarto. Ele volta e está com um porta-retrato em cada mão. Olho para ele, que diz sorridente: — Tia Ayumi, mamã! — Pego os porta-retratos de sua mão e, assim que olho, vejo uma mulher igual à Ayumi, só que de cabelos loiros.A existência é uma estrada sinuosa: às vezes tem altos, às vezes tem baixos. Num momento tudo vai bem e é como se caminhássemos sobre nuvens macias e coloridas. Mas noutro momento tudo pode piorar e essas nuvens se tornarem em areia movediça, que nos quer tragar. É assim que me sinto nesse exato momento: como se eu tivesse levado um soco na boca do estômago. Não consigo acreditar no que vejo em minhas mãos e elas começam a tremer.Como é possível? Respiro fundo para não demonstrar a minha confusão para o meu pequeno.— Amor, onde você achou essas fotos? — No vovô. Não briga com