2. DIA NUBLADO

Minutos depois o ônibus chega, Marisa sobe e em menos de uma hora chega em casa. Ao abrir a porta é surpreendida por um abraço apertado do filho e um sorriso da mãe que puxa o braço da filha a levando até a cozinha mostrando a grande novidade.

Marisa arregala os olhos assustada quando vê uma geladeira impecável instalada ao lado da pia.

— Mamãe, o que significa isso? — Marisa pergunta retirando a mochila das costas e colocando em cima da cadeira

— Não reconhece mais um refrigerador minha filha? — Soledad pergunta curiosa estranhando a atitude da filha

— Eu... Eu... Preciso de um telefone agora! Urgente!

— Mas pra que Marisa? O que você tem minha filha? Pra quem você está ligando?

— Para a loja onde a senhora comprou essa geladeira. — Marisa duscava o número saindo da cozinha e sua mãe a seguia espantada

— Mas pra que minha filha? Ela está funcionando perfeitamente.

— Pra devolver e desfazer essa loucura que acabou de cometer. — Marisa fala alto assustando a mãe

— Loucura? Como assim filha? Foi você mesma quem autorizou a compra desse eletrodoméstico. E agora reage assim? Não compreendo nada.

— Isso foi antes mamãe... — Marisa fala apreensiva

"¡Mierda! Ellos no contestan. Voy a tener que ir directamente a la tienda para deshacer esta locura"

(Merda! Não atendem. Vou ter que ir diretamente na loja desfazer essa loucura.") — Marisa pensava alto e perde a paciência quando sua mãe a segura pelo braço

— Antes de que Marisa? Estás louca minha hija?

— Antes de eu ser despedida... DEMITIDA!... - Marisa grita encarando a mãe que engole em seco e gagueja na hora

— De.mi.ti.da?

— Isso mesmo! DEMITIDA! ESTOY EN LA CALLE, SIN TRABAJO, SIN DERECHOS... (ESTOU NA RUA, SEM EMPREGO, SEM DIREITOS) E AINDA FUI OBRIGADA A ACEITAR OS TERMOS DOS MARSHALL, OU CASO CONTRÁRIO SAIRIA SEM UM CENTAVO NAS MÃOS. — Marisa grita e desaba no sofá com as mãos sobre a cabeça desolada

Ela ainda tinha alguma esperança da mãe conforta-la, assim como sua amiga Jodie tentou fazer, mas não, ao invés disso Soledad ataca a filha sem um mínimo de consideração, o que faz Marisa ficar ainda mais fora de si.

— Ai meu Deus! O que foi você aprontou dessa vez Marisa? Será que não percebe que esse seu jeito arredio dificulta as coisas? E que você deve agir como empregada e não como patroa?

— Porque ao invés de me apoiar a senhora sempre tem que dizer que tudo que nos acontece de ruim é minha culpa? Porque mamãe? Que mal eu lhe fiz para me odiar tanto? — Marisa fala enquanto lágrimas rolavam pelo seu rosto

— É não é? Estoi a mentir? Por sua culpa não saímos fugidas de Cuba e viemos parar nesse lugar? Largamos tudo porque você se envolveu com o narcotraficante do Cartel mais procurado de Cuba e se não bastasse engravidou daquele marginal.

Soledad num excesso de raiva j**a toda sua fúria em cima de Marisa e sequer percebe a presença de Max, que até o momento imaginava que seu pai havia morrido num acidente de trânsito. Pois Marisa nunca quis j**ar nas costas do filho a culpa por um erro que foi apenas seu.

Marisa olha para a mãe com uma raiva descomunal e se não fosse sua mãe teria lhe dado a lição que tanto merece. Ela olha para o lado e tenta impedir que o filho saia correndo para o quintal, subindo as escadas em direção a sua casa da árvore. Onde sempre se abrigava nos momentos que se sentia só.

— Filho! MAX... MAX... SATISFEITA MAMÃE? MAX FILHO... FILHO... — Marisa dá passos para encontrar o filho, mas ouve algo vindo da mãe, que a deixa furiosa

— Uma coisa é certa Marisa você precisa encontrar outro emprego o quanto antes ou caso contrário darei um jeito do pai do Max saber do filho e assim arcar com suas responsabilidades como progenitor.

— Isso nunca! MAX é meu filho! Só meu! Para ele o pai está morto e assim vai continuar, morto! E se alguém tentar atrapalhar a vida do meu filho eu passo por cima sem piedade. Entendeu Soledad Hernandez? — Marisa grita com toda a força que existia em seus pulmões

— Até mesmo da sua própria mãe? — Soledad pergunta assustada

— SIM! ATÉ MESMO DA MINHA PRÓPRIA MÃE!

Marisa sai da sala batendo a porta com força indo ao encontro do filho que estava sentado no cantinho do seu refúgio, como ele chamava a casa na árvore que havia construído com a ajuda da mãe. Sua cabeça estava escondida por entre as pernas e suas mãos cruzadas o impediam de ver quem se aproximava. Ao perceber que era sua mãe corre para abraça-la chorando muito. Marisa o abraça com tanta força que parecia que o mundo estava prestes a acabar. Afaga seus cabelos e beija várias vezes a sua cabeça.

— Tudo vai ficar bem meu amor, tu mamazita (mãe) está aqui e juntos somos mais fortes. Lembra?

Max levanta a cabeça olhando para Marisa e entre soluços fala:

— Eu quero saber tudo sobre o meu papá (pai) mamazita (mamãe). É verdade o que a minha abuelo (vó) falou?

— Fijo eu... — Marisa tenta falar, mas Max a interrompe entre soluços

— Eu não sou guizo (bobo) mamazita (mamãe), tu me ensinou que sempre devemos dizer la verdad (a verdade). ¿Mi papá está vivo o muerto?

Marisa pigarreia tentando evitar essa conversa, mas era impossível enganar Max. Ele era muito inteligente e a frente da sua idade, já havia sido diagnosticado como super dotado. Portanto, o que ela menos conseguiria era engana-lo com suas frases feitas.

Ela respira fundo vira de frente para o filho e segura com as mãos em seu rosto. Olha no fundo de seus olhos âmbar, que estavam vermelhos por conta das lágrimas, solta um ar pesado pela boca e enfim responde:

— Sí. Tu padre está vivo, hijo mío.

(Sim. Teu pai está vivo meu filho.)

— ¿Es cierto que es parte de un cartel en Cuba? (É verdade que ele faz parte de um cartel em Cuba?)

— Hijo.... (filho) — Marisa sente uma pontada no meio do peito ao ouvir essa pergunta e começa a lembrar de tudo o que passou até conseguir fugir de Cuba, na tentativa de evitar sofrimento para o filho. E agora, justamente o que ela tanto tentou evitar e menos imaginava estava acontecendo, Max saberia de toda a verdade do seu passado que tanto tentou esconder.

— Dime la verdad mamá. Necesito saber toda la verdad. Por favor, no me niegues esto.

(Me diga a verdade mamãe. Eu preciso saber de toda a verdade. Por favor não me negue isso.)

— Si hijo. Tu padre es el jefe del Cártel La Sole y por él salimos de Cuba prófugos, hijo mío. Todavía estabas en mi vientre con solo un mes de edad, y tan pronto como supe que estaba embarazada, corrí, corrí y me escondí lo más que pude para que nadie nos encontrara. No quería que nacieras y crecieras para ser como él... Como tu padre. Por eso mentí diciendo que murió, todo para protegerte. Todo lo que hice fue por ti, hijo mío.

(Sim filho. Teu pai é o chefe do Cartel La Sole e por culpa dele saímos de Cuba fugidos meu filho. Você ainda estava na minha barriga com apenas um mês, e assim que soube que estava grávida eu corri, fugi e me escondi o máximo que pude para que ninguém nos encontrasse. Eu não queria que você nascesse e fosse criado para ser como ele... Como o seu pai. Por isso eu menti dizendo que ele havia morrido, tudo isso para proteger você. Tudo o que eu fiz foi por você meu filho.)

A cada palavra que Marisa dizia, um aperto no meio do peito e uma dor na alma a encontrava com força. Max a abraça apertado, em prantos e com muito medo fala:

— Eu não quero conhecer esse hombre mamazita, não quiero... Não quiero... Não quero ter como padre um bandido. — Max falava desesperado chorando sem parar e Marisa o abraçava ainda mais apertado, como se com isso conseguisse fazer o mundo parar

— Fique calmo meu filho, nada de ruim vai te acontecer meu amor. Eu estarei sempre contigo e para sempre meu filho.

— Eu não tenho pai, nunca tive e assim quero que continue sendo mamãe. Ele nunca me fez falta e agora menos ainda. — Max fala fungando e Marisa acaricia seus cabelos pretos lisos e brilhantes que o deixavam com um rosto ainda mais angelical

— Assim será meu filho. Agora venha e me dê um abraço bem apertado meu amor. Aquele abraço que faz o mundo parar. — Marisa fala o apertando forte

— O abraço de urso mamãe? — Max pergunta erguendo seu rosto e sorrindo com seu olhar que tanto encantava Marisa

— Isso mesmo! O abraço de ursooooo! — Marisa grita e o aperta forte mordendo fraco cada parte do meu rosto e assim diminuindo toda a tensão que existia em momentos atrás

— Ahhhhh mamãe... Tá me sufocando! — Max gritava enquanto tentava se esquivar do aperto da sua mãe

— Eu te amo meu amor e sempre vou estar com você. — Marisa fala carinhosa com seu rosto encostado no ombro do filho

— Eu também te amo mamãe. Obrigada por tudo o que já fez por mim. — Max fala segurando com suas mãos pequenas por entre os braços de Marisa, e ali se aconchega como se fosse o seu refúgio e assim pudesse ficar longe de todo mal

Marisa continua abraçada à Max como se desejasse que o mundo terminasse naquele instante. Ela recosta seu corpo na parede de madeira da casa, coloca Max no meio das suas pernas e deita sua cabeça em cima da sua barriga. Acaricia os cabelos dele enquanto cantavam músicas de Cuba que Max amava. Ali ficaram pelo restante da madrugada e abraçados adormeceram sem perceber.

[...]

O dia amanhece e Marisa sequer perceberia se não fosse pelo toque insistente do seu celular, que por ventura estava dentro do bolso da sua calça jeans. Marisa apoia a cabeça do filho Max no seu colo e atende o celular para receber a notícia que ela jamais poderia esperar ouvir tão cedo e que fez renascer dentro de si uma fagulha de esperança.

Continua...

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