KADE
Fechando o último botão da camisa, dei mais uma olhada no espelho. Deslizei a mão pelos meus cabelos, ajeitando-os e passei um pouco de perfume. Estava pronto.
Aquela era a minha chance. Depois de dois meses desempregado, vivendo das minhas economias, eu finalmente fui chamado para uma entrevista em uma multinacional, com um ótimo salário e um cargo ainda melhor do que eu tinha anteriormente. Era uma oportunidade imperdível, e eu iria dar o meu melhor para agarrá-la com unhas e dentes.
Já estava quase pronto, apenas vestindo o blazer por cima da camisa branca, quando minha campainha tocou.
Péssima hora...
Fosse quem fosse, teria que retornar depois.
Ainda assim, fui até a porta e a abri. Na pressa, nem sequer chequei o olho mágico, o que foi uma escolha muito infeliz da minha parte.
De pé, segurando um bebê no colo, estava Jennifer, uma garota com quem saí. Já tínhamos terminado há alguns meses, e ela nunca mais me procurara. Não fazia ideia do que poderia ser, embora, para ser sincero, meu estômago estivesse dando um nó ao ver a criança em seu colo.
Eu não entendia absolutamente nada de bebês, mas podia jurar que era pequeno o suficiente para ter uns dois meses no máximo.
— Oi, Kade! Podemos conversar?
Dei uma checada no relógio e vi que só tinha no máximo meia-hora. Planejava sair adiantado para não me atrasar, por isso ainda tinha algum tempo, mas não mais do que isso.
— Jen, eu estou um pouco atrasado. Tem que ser agora?
— Essa conversa está atrasada em dois meses. Assim como ficou minha menstruação depois da nossa última… bem… aventura.
O quê?
Mas que diabos…?
Meio atordoado, sem reação, permiti que entrasse.
Sem nem perguntar, Jennifer acomodou-se no meu sofá, ajeitando o bebê, e inconscientemente eu olhei para ele. Seria possível que…
— Desculpa aparecer sem avisar, mas foi um ato de impulso. Você sabe que eu sou boa neles — falou com ironia.
Ela estava certa. Jennifer era um furacão – este foi o motivo pelo qual fiquei tanto tempo com ela, já que o sexo era maravilhoso, mas o mesmo pelo qual terminei. Não dava para acompanhá-la. De jeito nenhum.
— Vá direto ao ponto. Sem rodeios — falei muito sério.
Ela me olhou de cima a baixo, com um sorrisinho malicioso.
— Você está bonito, Kade. Mas isso não é novidade…
— Jennifer… — repreendi. — O que veio fazer aqui?
Ela respirou fundo.
— Acho que você já entendeu, não? Parabéns, papai… você tem um lindo menino.
Sem dizer mais nada, ela entregou a criança a mim, e eu a peguei no susto, porque, mais uma vez, fiquei meio sem ação.
Meus olhos se voltaram para seu rostinho, as pálpebras fechadas começaram a tremer, abrindo-se. Quando olhei em seus olhinhos, já abertos, eles eram uma cópia dos meus, em um tom de castanho quase dourado, como mel. Além disso, em seu pescocinho havia uma marca idêntica à que eu também tinha; um sinal de nascença.
Puta merda… aquele menino era mesmo meu.
— Jennifer! O que aconteceu? O que…
— Você precisa que eu te explique como nascem os bebês? Até onde eu sei, você extremamente competente no ato, mas se não sabe como funciona o resto, posso…
— Para com a ironia, porra! — explodi. Não era típico da minha personalidade perder a cabeça assim, mas a situação era complicada o suficiente. — Por que demorou tanto tempo para me contar?
— Não sei. Eu demorei para descobrir também. Estava enrolada com o trabalho, em viagem, acabei nem percebendo o atraso da menstruação, até porque eu fiquei normal até quase o quarto mês. Quando fiz o exame, já estava com quase seis meses.
— Ainda assim… o menino tem o quê? Dois meses?
— Sim. Quase três.
— Foram seis meses sem eu saber que era…
— Pai. Esta é a palavra que você está procurando, não é?
Meu Deus… que loucura era aquela? Como assim eu era pai? De um dia para o outro? Não era possível…
— Jen… eu não… sinto muito, eu…
— Não, não sinta. Você tem tanta culpa quanto eu. Decidi que não queria te contar, porque achei que daria conta sozinha, mas não dou. Eu não nasci para ser mãe, Kade. Não consigo sentir nada por esse menino, só que ele está atrapalhando a minha vida. Acho que ele merece mais do que posso lhe dar.
Jennifer sempre foi muito sincera. Sempre foi extremamente focada na carreira, tanto que nos conhecemos em um evento, em uma parceria entre a empresa onde eu trabalhava e a dela. Estava em ascensão, concorrendo a uma vaga em uma filial da empresa em Singapura, e eu podia imaginar que um bebê tinha mesmo estragado seus planos.
— Se você não o quiser, podemos pensar em adoção e…
— NÃO! — exclamei, apavorado com a ideia.
O garoto era meu filho. Meu. Ele não seria jogado fora como algo descartável. Nem pensar.
Talvez fosse a pior hora do mundo para eu recebê-lo na minha vida, mas… porra! Eu era pai.
— Não, Jen. Podemos dar um jeito… tem uns dois meses que eu perdi o emprego, mas vou cuidar dele. Não vou te deixar sozinha…
— Kade — ela me interrompeu —, você ainda não entendeu. Eu não quero um filho. Não é assim que os homens fazem? Decidem que não querem e seguem com a vida. Posso pagar uma pensão para ele, mas estou com viagem marcada. Vou me mudar para a Ásia daqui a três meses.
— E se eu não o quisesse… o que você iria fazer?
Ela simplesmente deu de ombros. Como era possível?
— Daria um jeito. Mas você o quer? Vai ficar com ele?
Pela forma como ela falava, parecia que o menino era uma roupa velha que ela estava repassando. Minha vontade de apertá-lo contra mim e protegê-lo só aumentou.
— Quero. Vou cuidar do meu filho. Vou criá-lo. Pode fazer a sua viagem… e não quero porra de pensão nenhuma. Viva sua vida, Jen. Seja feliz… — podia ser o orgulho falando mais alto, mas eu não queria o dinheiro dela. Mesmo desempregado, daria um jeito.
— Ótimo. O nome é William. Passo aqui mais tarde para trazer as coisinhas dele, tudo bem?
Bem… adeus entrevista, não é?
O resto das coisas que Jennifer falou foram como borrões na minha mente, e quando ela saiu pela minha porta, eu ainda estava com o pequeno William no colo.
Sozinhos, enfim, olhei para ele, que ainda me olhava, muito quieto, analisando com seus olhinhos ainda confusos, e disse:
— Vou cuidar de você, pequeno… Seremos só nós agora… Mas vai dar certo.
Tinha que dar.
Só que as coisas complicaram e muito. Contei com algumas ajudas, mas, no final das contas, só encontrei um caminho para mim…
E… bem… essa é a minha história.
KADECompletamente nu, andava em direção à cama, onde ela jazia exausta. Era a terceira vez que me procurava, porque dizia que só eu conseguia deixá-la daquele jeito. Jogada sobre a cama, depois de gozar três vezes – nos meus dedos, na minha boca e no meu pau.Casada, esposa de um magnata do ramo petroleiro, insatisfeita e entediada. As minhas favoritas. Além disso, quarenta anos e muito, muito bonita. Como todas as minhas clientes, aliás.Eu estava há seis meses no ramo, mas já tinha “fama” suficiente para poder escolher. Elas pagavam bem, porque, modéstia à parte, eu era bom no que fazia. E a maioria delas sempre voltava. Stella, a mulher ainda ofegante sobre a cama do hotel, já tinha me encontr
DEANNA Eu gostava de ver o mundo de uma forma mais bela do que ele realmente parecia ser. Gostava de enxergar cores novas todos os dias, de buscar harmonia onde tudo parecia caos. Eu gostava de enxergá-lo em sépia, às vezes preto e branco, dependendo do meu humor. Mas, fosse como fosse, tudo era sempre mais simples através da minha lente. E o meu mundo passara a ser bem menos complicado desde que eu abri a minha gaiola e aprendi a voar. Um sorriso curvou meus lábios enquanto eu passava as últimas fotos que havia tirado. Eu tinha acordado cedo e aproveitado a golden hour da manhã – uma hora antes do nascer do sol &nd
KADE — Sim, Cheryl… eu a conheci — tentei fazer minha voz soar o mínimo entediada possível. Era difícil falar ao telefone naquele momento, mas eu não poderia cortá-la, já que era minha cliente. Com as mãos ocupadas, enquanto trocava a fralda de Will, prendi o telefone ao pescoço e à orelha. — O que achou dela? Porra… o que eu tinha achado de Deanna? Era até difícil expressar. A garota era linda. Não gata, não gostosa, embora fosse tudo isso… mas ela era simplesmente linda, no sentido mais etéreo da palavra. Suave. Delicada. Doce. Sorriso sincer
DEANNA Um casal sorridente, um grande CEO de uma empresa de cosméticos, várias celebridades e muitos influenciadores digitais. Milhares de fotos. Inúmeros sorrisos falsos. Assim a noite começou e foi seguindo. Tinham se passado apenas duas horas desde que comecei a trabalhar, mas eu já sentia as pernas doerem. Péssima ideia aparecer de salto alto, mas o nível do evento requeria algo mais formal. Eu não esperava encontrar Kade por ali. Muito menos contemplá-lo em um smoking, em toda a sua perfeição pecaminosa. Ele era, sem dúvidas, uma visão, e o fato de estar acompanhado não deveria me deixar surpresa. Por mais que tivesse afirmado que Monica não p
KADEPassei o resto da droga da festa inteira com os olhos voltados na direção de Deanna. Quando desaparecia das minhas vistas, eu a buscava por todo o salão, só para encontrá-la posicionada em cima de alguma cadeira ou ajoelhada no chão, buscando o melhor ângulo do palco.Quando estava parada, eu podia sentir seu cansaço e, por mais que o salão fosse refrigerado, cheguei a vê-la usando a mão para se abanar.Ao perceber isso, puxei um garçom e sussurrei em seu ouvido um pedido para que fosse até Deanna para serví-la. Fiquei feliz em perceber que pegou um copo d’água, fartando-se dela, mesmo que sequer imaginasse que eu o tinha providenciado.Aproveitei todo aquele tempo de inércia, enquanto Monica se divertia com outro convidado, que parecia muito interessado nela, par
DEANNAAcordei, sentindo-me um pouco desorientada. Abri os olhos devagar e tentei observar os arredores do quarto onde estava. Era um cômodo impessoal, contando apenas com uma cama, uma cômoda, um armário e outra porta que deveria ser de uma suíte.Tentei forçar minha memória para descobrir onde poderia ter dormido. Lembrava-me da festa, do trabalho e de… Kade.Bem, nem precisei de muito mais esforço para me lembrar onde tinha dormido. O bebê, eu fui a casa de Kade para ajudá-lo com seu filhinho. Deus, ele tinha um filho.Sentindo minha memória um pouco menos enevoada, passei a me recordar da nossa conversa no sofá e do quanto comecei a me sentir sonolenta. Ainda assim não me lembrava de ter chegado na cama. O que me deixava uma alternativa muito desconcertante: Kade tinha me carregado em algum momento daquela noite.Era estranho me sentir
DEANNA Era como acordar de um pesadelo, mas sem a sorte de poder respirar aliviada, porque não se tratava da realidade. Não… a minha vida real era muito mais assustadora. Kade entrou em casa comigo, com Will no colo, e praticamente me conduziu até o sofá, como se eu pudesse despencar a qualquer momento. Seus cuidados eram tão gentis, tão delicados, e isso afundava ainda mais o meu coração no peito, porque ele não poderia ser meu. Nem mesmo para a promessa que deixei em aberto sobre me permitir entregar, mesmo com prazo de validade. E eu estive a um passo de aceitar. Porque queria sentir. Precisava sen
DEANNANão era a primeira vez que ia parar no hospital depois de um embate com Charles. Infelizmente, eu tinha quase certeza de que não seria a última.Considerando os prós e os contras, acho que tive sorte, pois não saí com nada quebrado.Nada além do meu coração.Mas isso exatamente por causa do homem que também estava ajudando a parti-lo. Não porque tivesse me magoado, pelo contrário. Ele era bom demais para ser verdade. Mas porque eu não poderia colocá-lo em risco, então, só poderia me afastar.Só que… antes… eu queria uma lembrança.Assim que chegou o resultado do meu último exame – a tomografia – e foi constatado que nada de mais grave tinha acontecido com os golpes que levei, Kade me amparou at&eacut