CAPÍTULO DOIS

DEANNA

            Eu gostava de ver o mundo de uma forma mais bela do que ele realmente parecia ser. Gostava de enxergar cores novas todos os dias, de buscar harmonia onde tudo parecia caos.

            Eu gostava de enxergá-lo em sépia, às vezes preto e branco, dependendo do meu humor. Mas, fosse como fosse, tudo era sempre mais simples através da minha lente.

            E o meu mundo passara a ser bem menos complicado desde que eu abri a minha gaiola e aprendi a voar.

            Um sorriso curvou meus lábios enquanto eu passava as últimas fotos que havia tirado. Eu tinha acordado cedo e aproveitado a golden hour da manhã – uma hora antes do nascer do sol – e feito algumas imagens aleatórias no Central Park. Estava vazio, mas a luz que incidia nas folhas das árvores criava uma atmosfera quase de sonho.

            Não que eu fosse aproveitar aquelas fotos para qualquer coisa profissional. Infelizmente, o dinheiro vinha de outra fonte.

            Não que eu não gostasse de fotografar pessoas, mas o tipo de trabalho que eu fazia, dentro de um estúdio, com raras sessões externas, me deixava um pouco entediada.

            Naquela manhã, por exemplo, eu tinha um ensaio marcado para dali a meia hora, e eu sabia que deveria me levantar para partir para o estúdio, que ficava a duas quadras da minha cafeteria favorita, mas pensar em várias horas trancada num espaço confinado, olhando um cara fazer várias poses sem camisa, não era a melhor opção.

            Eu nunca entendia o porquê de uma marca de perfumes exigir homens ou mulheres seminus nas fotografias. O que isso tinha a ver com o produto?

            Mas era o que pagava as minhas contas. E ao menos eu podia trabalhar, o que, sem dúvidas, era uma vitória na minha vida.

            E eu precisava comemorar cada uma delas.

            Ouvi o sininho da porta anunciar a chegada de mais um cliente, então, senti que era a minha deixa para finalmente agir. Levantei-me do banquinho perto do balcão, despedi-me da barista, peguei meu copo de café e preparei-me para sair. Só que fui impedida ao simplesmente colidir com o que pareceu um verdadeiro muro de concreto.

            Ao olhar para cima… era só um homem.

            Calma, Deanna… não sejamos econômicas. Era O homem.

            Suas mãos enormes foram parar nos meus braços, firmando-me quando cambaleei, e eu precisei engolir em seco conforme meus olhos foram deslizando desde o peito, com o qual eu esbarrei, até chegar no rosto.

            Claro que eu reparei que o cara era todo musculoso, com uns braços indecentemente grandes, mas o queixo marcado, com covinha, a boca generosa e os olhos amendoados foram o ápice da situação.

            Seu cabelo era claro, com mechas mais loiras e outras mais puxadas para um tom de areia, e ele sorria.

            Um sorriso que seria capaz de mexer com a cabeça da mulher mais fria do universo.

            — Desculpa — pedi, porque tinha sido eu a culpada, já que nem olhei quando saí do banco como um furacão.

            — Não, eu que peço desculpas. Deixa eu te pagar outro café…

            — O quê?

            Foi só então que olhei para o chão e me dei conta que meu copo tinha caído. E o fato de eu não ter percebido só me dizia que não tinha sido ele a derrubar a bebida. Eu a havia deixado cair, provavelmente no meio do meu momento de transe enquanto eu admirava sua beleza de deus grego.

            — Ah, não… Não precisa. Eu já tinha tomado boa parte dele. — Sorri, tentando ser simpática e parar de agir como uma idiota que nunca tinha visto um homem bonito na vida.

            Eu via homens bonitos quase que diariamente por conta da minha profissão.

            Mas podia jurar que nunca tinha visto um tão bonito quanto ele.

            — Não estraga a minha desculpa para ter a sua companhia enquanto tomo o meu café.

            Ok. Alguns comentários sobre essa frase… Primeiro: sério mesmo que ele queria a minha companhia? Por que um cara como ele iria querer tomar um café com uma mulher como eu?

            E, em segundo lugar: Pelo amor de Deus… o que era aquela voz. Era como se o tom naturalmente sussurrado fizesse cócegas em todas as partes do meu corpo.

            Em todas mesmo.

            Um sentimento completamente novo, levando em consideração que eu dificilmente me sentia atraída por alguém depois de…

            Bem… depois de tudo pelo que passei.

            Mas não importava que ele fosse o cara mais lindo do universo, eu não o conhecia. Aparências enganam, e eu tive provas cabais disso. Até onde eu sabia, ele poderia ser um psicopata.

            — Obrigada pela gentileza, mas não é necessário. Eu acho que…

            No exato momento em que eu ia continuar falando, Maria, a menina que limpava a cafeteria, surgiu perto de nós, pegando o meu copo do chão e trazendo um esfregão. Por sorte, não derramou muito, porque realmente não havia sobrado muito da bebida, mas eu não pude deixar de perceber que ela corou ao olhar para o homem à minha frente.

            — Oi, Kade! — ela cumprimentou com certa timidez.

            Eu te entendo, Maria. O cara realmente era intimidante.

            — Ei, Maria! Como vai? Conseguiu resolver o problema lá na escola?

            Franzi o cenho, surpresa. Eu sabia que Maria tinha voltado a estudar, mas ela não falava sobre isso com qualquer pessoa. Como frequentadora assídua da cafeteria, eu conhecia a todos, mas não eram muitas pessoas que se importavam com Maria ou que lhe davam atenção. Era uma garota latina, que viera do Brasil para tentar a sorte nos Estados Unidos, como muitas outras, e era uma guerreira.

            — Sim, resolvi. Obrigada pela ajuda…

            Outra surpresa.

            Ajuda? Agora eu estava verdadeiramente curiosa.

            Quando Maria se afastou, ele voltou-se para mim, sorrindo.

            — Ela estava com dificuldade para acertar alguns documentos, e eu lhe dei algumas direções. — Ele deu de ombros, como se não fosse nada de mais. E talvez não fosse mesmo, mas poucas pessoas se dariam ao trabalho de ajudar uma moça tão humilde quanto Maria.

            — Foi legal da sua parte.

            Ele colocou as mãos nos bolsos da calça jeans, parecendo tímido.

            — Não, de verdade. Não me custou nada. — Então, ele inteligentemente mudou de assunto: — E aquele café? Vai me fazer companhia.

            Eu ainda não podia descartar a ideia de psicopata, mas o fato de ele ter agido de forma tão gentil com Maria já ganhava pontos comigo.

            Só que ainda tínhamos um problema: meu horário.

            Estava prestes a dizer isso para ele, quando meu telefone tocou, avisando uma mensagem. Peguei-o rapidamente dentro da bolsa, checando, e tratava-se da dona do estúdio onde eu trabalhava.

Dee, nosso modelo das nove vai se atrasar uma hora. Pelo que eu entendi, está passando mal e vai tentar ver se melhora. Se quiser dar um tempinho antes de vir para cá, fique à vontade…

           

            Ao menos eu não podia reclamar da minha chefe. Ela sabia que eu era uma boa profissional, mas não gostava muito do que fazia, então, sempre me dava liberdade.

            Respondi a ela com um OK e um emoji simpático, enquanto tentava não pensar que aquele atraso mais parecia uma intervenção do destino.

            Ergui meus olhos para o homem e o vi aguardando com expectativa – algo que eu não conseguia compreender. Mas se ele queria tanto a minha companhia, não havia mal em um pouco de conversa. Estávamos em um local público, afinal.

            — Tudo bem.

            O sorriso dele se ampliou ainda mais, iluminando-o.

            Então ele estendeu a mão enorme na minha direção.

            — Kade Bowers— ele se apresentou, e eu tentei sorrir também.

            — Deanna Hampton — respondi, aceitando seu cumprimento, não conseguindo ignorar as sensações estranhas que seu toque me provocou.

            Poderia ser coisa da minha imaginação, mas a forma como Kade olhou para mim, perdendo o sorriso e assumindo uma expressão mais séria, quase confusa, me dizia que tivera a mesma sensação.

            Só que ambos decidimos deixar isso para lá quando ele foi ao balcão, fazendo seu pedido e o meu, que lhe informei qual era.

            Dirigimo-nos a uma mesa vazia, onde seríamos servidos depois.

            Kade puxou a cadeira para mim, em um gesto de cavalheirismo, o que novamente me deixou chocada. Aquele homem era mesmo uma caixinha de surpresas.

            Nós nos acomodamos e um silêncio um pouco constrangedor se formou, mas ele se apressou em puxar algum assunto.

            — Você costuma frequentar essa cafeteria?

            — Quase todos os dias. Por quê?

            — Bem, eu me mudei para o bairro tem algumas semanas e também comecei a vir aqui sempre. Como nunca te vi?

            Dei de ombros.

            — Talvez eu tenha passado despercebida — comentei de forma casual, tentando não parecer autodepreciativa demais.

            — Você? — Ele arregalou os olhos, visivelmente surpreso. — Impossível. Eu me lembraria, com certeza. E já teria tentado falar com você antes.

            Daquela vez quem ficou surpresa fui eu. Mas decidi não insistir no assunto, porque era um pouco desconfortável. Por isso, esforcei-me para prosseguir com a conversa, já que ele estava sendo tão simpático, enquanto nossos cafés eram servidos.

            — Então… o que você faz, Sr. Bowers?

            — Kade, por favor… — corrigiu, e antes de me responder voltou-se para a garçonete, com um sorriso matador de agradecimento, e ela chegou a corar também, assim como Maria. Aquele homem era capaz de causar uma explosão nuclear de tanta testosterona e sedução. Segundos depois, voltou-se para mim, dedicando-me toda a sua atenção. — Sou analista de comércio exterior. Trabalho para uma multinacional. E você?

            — Fotógrafa. Estou aqui matando o tempo, aliás, porque o modelo masculino da sessão de hoje está atrasado.

            — Matando o tempo? — indagou, fingindo-se de indignado. — Então eu sou sua segunda opção?

            Não pude evitar uma risadinha.

            — Para ser sincera, só aceitei seu convite por isso. Mas não se sinta mal… eu normalmente não aceitaria, em qualquer circunstância.

            — E por que aceitou, então? — Ele era direto. E o olhar intenso que me dirigiu enquanto perguntava, por cima da borda do copo de café, poderia ter me transformado em gelatina naquela cadeira.

            — Por sua simpatia, talvez.

            — Simpatia? — Ele gargalhou. — Garota, você realmente sabe como acariciar o ego de um homem — ironizou, e eu ri também.

            — Desculpa. Acho que eu não sou muito competente nessa coisa de socializar e…

            Eu pretendia dizer mais alguma coisa, mas fomos interrompidos – felizmente – pelo toque do meu telefone.

            Ergui um dedo, pedindo alguns instantes e verifiquei quem era. O nome de Suzan, a minha chefe, piscava na tela.

            — Dee? — soou aflita. — Estou desesperada aqui. O agente do tal modelo atrasado avisou que ele não vem. Toda aquela história de “passando mal” era historinha, porque ele chegou bêbado em casa há poucas horas e está em um estado deplorável.

            — Não acredito! Precisamos dessas fotos hoje. O que vamos fazer?

            — Não sei! — ela berrou do outro lado do telefone. — Precisamos de um homem, Dee! Um cara bonitão… para ontem! Não podemos perder essa campanha!

            Um homem…

            Bonitão…

            E não é que eu não tinha um bem na minha frente?

            — Suzan, você pode me dar alguns minutinhos? Já te retorno… talvez eu tenha a solução.

            — Mentira? Garota, se você aparecer aqui com o novo Brad Pitt, eu vou te dar aquele contrato que você queria.

            Ah, meu Deus! Eu sabia muito bem do que ela estava falando. Há poucos dias um cliente novo entrara em contato com o estúdio solicitando um ensaio conceitual, porque queria escrever um livro sobre Nova Iorque. A ideia eram fotografias da cidade, de vários ângulos, desde as áreas mais ricas às mais pobres. Seria um trabalho interessante, diferente daquilo que eu estava acostumada a fazer, e a grana era boa.

            Suzan ainda estava receosa de me passá-lo, porque eu era a fotógrafa mais jovem que ela tinha, e por mais que acreditasse no meu potencial, queria que o trabalho fosse feito por alguém mais experiente. Por isso, aquela proposta trazia um brilho aos meus olhos.

            Quando desliguei o telefone, toda a determinação do mundo estava dentro de mim. Eu precisava convencer Kade a me ajudar.

            — Problemas? — ele perguntou assim que coloquei o telefone sobre a mesa.

            — Sim, mas talvez eu tenha uma solução. — Engoli em seco, esperando que o constrangimento também descesse pela minha garganta. — Mas vou precisar da sua ajuda — falei tão baixinho, deixando toda a minha timidez me vencer, e eu quase esperei que Kade não tivesse ouvido, mas era tarde demais.

            — Minha ajuda? — surpreendeu-se.

            — Olha, Kade… desculpa por isso. Acabamos de nos conhecer, mas acabou de surgir uma situação no estúdio… Aquele modelo do qual te falei vai furar conosco e precisamos de outro. Acho que nós dois concordamos que você, por mais que não seja modelo… Bem… É…  — gaguejei de forma patética, buscando uma forma de falar que não me deixasse vermelha como um pimentão. — Acho que você leva jeito para isso.

            Ele ergueu as duas sobrancelhas, mas não pareceu ofendido. Pelo contrário, a situação parecia diverti-lo.

            — Imagino que você deva ter algum compromisso, mas juro que o pagamento será bom e…

            — O que eu vou precisar fazer? — a pergunta dele me surpreendeu. Será que ele estava mesmo cogitando me ajudar?

            — Só posar para as fotos. Algumas serão sem camisa, outras de cueca… Mas caso você fique constrangido, podemos negociar essa parte.

            — E isso vai te ajudar?

            — Nossa, você nem imagina o quanto…

            — Considere feito.

            — Assim? Tão fácil? Mesmo sendo uma coisa completamente fora da sua área de atuação?

            Ele deu um gole mais longo no café e respondeu:

            — Já fiz alguns trabalhos como modelo para pagar a faculdade. Nada grandioso, mas tenho alguma experiência. Além disso, você está com sorte, porque tenho algumas horas livres esta manhã. Estou de folga por alguns dias, porque estou preparando minha mudança.

            Daquela vez quem ficou surpresa fui eu.

            — Mudança?

            — Vou ficar na cidade só por mais alguns meses. Serei transferido pela empresa.        

            — Ah… — Por que será que isso me decepcionava? Eu tinha acabado de conhecer o cara.

            Apesar disso, ele era gentil o suficiente para que eu tivesse vontade de conhecê-lo melhor e ter uma amizade.

            Gentil? Amizade? Deanna… quem você está querendo enganar?

            — Como eu disse… considere feito, mas tenho uma condição — ele completou.

            — Condição?

            — Vai me deixar te levar para jantar hoje à noite.

            Era um convite simples, mas me assustou o suficiente para que eu arrastasse a cadeira em um rompante e me levantasse.

            — Não estou tão desesperada assim, Kade. Não sou um prêmio nem pagamento pelo que vai fazer… Obrigada, de qualquer forma.

            Eu estava pronta para me afastar, mas ele agarrou minha mão por cima da mesa. O gesto também me deixou acuada, porque me trazia lembranças desagradáveis, porém, o desespero em seus olhos e na forma como também se levantou me fizeram parar.

            — Não, Deanna… me desculpa… Não foi com essa intenção, eu juro. Poxa, eu gostei de você e fiz uma brincadeira. Claro que mesmo que você negue meu convite, já prometi te ajudar. Só que realmente quero te ver de novo e te levar para sair. Sem segundas intenções, prometo.

            Hesitei. Ou ele era muito bom ator ou havia alguma verdade em suas palavras.

            Respirei fundo e tentei me acalmar. Nem todo homem era como Charles. Era nisso que eu precisava focar.

            — Eu que peço desculpas, Kade. Acho que exagerei. Esta noite eu não posso jantar com você, porque tenho um evento de trabalho, mas quem sabe um dia? — tentei soar ao máximo evasiva, porque queria que ele entendesse: o cara podia ser lindo de morrer, mas não iria conseguir nada comigo assim tão fácil.

            — Claro. Vamos lá resolver o seu problema?

            Apenas assenti e seguimos.

            Quando chegamos no estúdio, a cara que Suzan fez ao olhar para Kade me mostrava que ela tinha ficado satisfeita com minha solução para o impasse.

            Passei algumas orientações ao nosso “modelo” e lhe indicamos o banheiro para que ele pudesse trocar de roupa para o figurino. Haveria três mudanças de roupa – um terno, uma calça de tactel, sem camisa, e a cueca. Começaríamos pelo mais complexo, que era o terno.

            Foi impressionante o número de mulheres que se amontoou em volta de mim no momento em que ele surgiu, mais parecendo um James Bond. Para a nossa sorte, a empresa de aluguel de roupas nos emprestou três Armani, de números diferentes, exatamente para o caso de precisarmos trocar de modelo. Kade era bem maior fisicamente do que o rapaz que nos deixou na mão, mas a roupa lhe caía como uma luva.

            O burburinho das meninas foi instantâneo. Outras fotógrafas, as meninas da limpeza, a recepcionista, Suzan… todas elas montaram um grupinho nos fundos do estúdio, e eu sabia que seria interrogada depois.

            Como me dissera que já tinha feito alguns trabalhos na área, Kade sabia se movimentar bem e tinha alguma noção de seus melhores ângulos. A câmera o amava, qualquer clique poderia ser bem aproveitado, o que facilitaria o meu trabalho. Ele sabia usar aqueles olhos lindos e dourados que ele tinha para seduzir, o sorriso era de matar e tudo nele gritava confiança. Ele sabia o quanto era lindo.

            A segunda sessão era dele sem camisa. E foi neste momento que quase precisamos chamar uma ambulância para a mulherada ao redor. Jurei que algumas teriam um infarto.

            Bem… eu também.

            Kade era bastante musculoso. Mais até do que eu imaginei. O abdômen sarado e trincado, braços e ombros enormes, peitoral generoso. Era difícil não imaginar como seria incrível passar a mão por todos aqueles contornos, mas, mais ainda, ser abraçada por ele deveria transmitir uma sensação de segurança indescritível, especialmente porque o cara devia beirar um e noventa de altura, e eu não chegava nem a um e sessenta e cinco.

            Ainda assim, nada superou os momentos dele de cueca Calvin Klein. Era uma boxer preta, que valorizava suas pernas torneadas e deixava em evidência as entradas em V de seus quadris.

            Deus, ele era esculpido. Uma perfeição. Um deus. Era difícil não olhar para ele e perder o foco, mas tentei me manter o máximo profissional possível.

            Quando terminamos, e ele voltou para perto de mim, já completamente vestido, quase ouvi um murmúrio de tristeza das mulheres, que rapidamente dispersaram, saindo de perto.

            — Viu, nem doeu — brinquei com ele, desligando a câmera.

            — Espero que tenha te ajudado…

            — Ajudou, é claro. As fotos ficaram ótimas.

            — Imagino que seja por que a fotógrafa é competente. — Ao dizer isso, lançou um olhar para mim que era pura intensidade. O que estava acontecendo? Quem era aquele homem, meu Deus? Por que parecia tão interessado em mim?

            Não importava, eu só tinha certeza de que precisava me afastar. Imediatamente.

            — Kade, mais uma vez, muito obrigada. Vou pedir que Suzan converse com você sobre cachê e outras coisas.

            Pronta para sair de perto dele, tentei parecer confiante e segura, mas novamente segurou meu braço. Apesar de eu me sentir acuada com aquele tipo de contato, ele o fez com delicadeza, apenas para me impedir de me afastar.

            — Mas… e você? Eu não… Você não vai me dar o seu telefone? Como faço para te ver de novo? — ele novamente parecia ansioso. Não era possível que um homem daqueles não estivesse acostumado a ter a mulher que quisesse. Não precisava se fixar em uma garota cheia de problemas, como eu.

            Eu não queria vê-lo de novo.

            Ou queria?

            Deus, eu estava confusa. Tudo parecia acontecer rápido demais.

            Fosse como fosse, eu não poderia lhe negar meu telefone, depois do que tinha feito por mim.

            Então, coloquei a mão dentro do bolso da minha calça, tirando uma pequena carteira e peguei um cartão de visitas, estendendo-o a ele.

            — Aqui está, Kade. Se precisar de alguma coisa, pode…

            — Não, Deanna. Um jantar. Você está me devendo um jantar — novamente aquela carga absurda de intensidade. Será que ele era assim o tempo todo? Meu Deus… seria difícil lidar com ele.

            — Tudo bem. Nós nos falamos. Agora eu preciso ir… — tentei não soar desconfortável demais, mas falhei miseravelmente. E a forma como me afastei, como o diabo que foge da cruz, deve ter deixado bem claro que eu era uma lunática.

            Talvez fosse uma boa forma de ele desistir de mim. Eu não poderia lidar com aquele homem. De jeito nenhum.

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