ANA MARIA O prédio era opulento e exalava bom gosto. Não era muito alto, mas pelo visto era todo da agência de Mariana. Um “N” enorme, na frente de um flash que parecia ser de câmera, em vidro, adornava acima da porta, também de vidro fumê, logo na entrada. — Uau, tô chocado. — Muito bonito, né? — Vem, vamos entrar com o pé direito, por favor. Porque daqui, você vai sair uma nova mulher. Felipe e eu seguimos para o balcão, onde uma loira muito bem vestida nos sorriu. — Em que posso ajudá-los? — Mariana Noronha, por favor? — Ela espera vocês? — A cara de incredulidade que ela fez foi desprezível. — Sim, ela nos aguarda, eu sou Ana Maria Garcia. — Um momento. Ela ligou para alguém e citou meu nome. Enquanto isso, eu reparei o lugar, tudo muito claro e pelo fato das paredes serem de vidro, o sol da manhã resplandecia por todo canto. — Aqui está o crachá de acesso, é só pegar o elevador até o oitavo andar, Rebeca espera vocês lá. Agradeci e seguimos pelo elevador, cada vez ma
MIGUEL Estava no meu escritório, na sede da Polícia Federal em São Paulo, analisando alguns casos administrativos, já que os meus superiores me pediram para ir com calma. Eles também são muitos dos que não sabem, e é bom, quanto menos pessoas souberem, melhor. Eu estava próximo de desmascarar o maior esquema de drogas e prostituição do Brasil, envolvendo alguns políticos de grande nome, quando fui atacado. E o pior é que lembro absolutamente de tudo, de cada um deles. Sempre fui um cara obstinado, o que eu quero, eu consigo. Não enxergo os obstáculos, eu simplesmente vou lá e pego o que é meu. Nesse momento eu quero desmascarar essa grande quadrilha. Quando entrei para a polícia federal, entrei com um objetivo: ser leal ao meu país. Obedecer e fazer as leis serem obedecidas, custe o que custar. E foi assim que eu passei um longo período longe da minha família. Não que eu sentisse falta. Com certeza eu preferia estar em qualquer operação, do que na companhia da minha mãe. Sem co
ANA MARIA Coloquei algumas trocas de roupa minha e da Malú numa mochila, algumas coisas que minha filha ia precisar e fui. Ainda era oito horas da noite, se desse muita sorte, chegaria antes das onze na cidade e como o hospital que meu pai está é próximo, Doni poderia me pegar. Liguei para Mariana e perguntei se ela precisaria de mim por esses dias, graças a Deus, só a partir de segunda-feira. ............................................................. Cheguei na cidade quase uma da manhã. O ônibus quebrou no caminho e tivemos que esperar um outro chegar, o que demorou demais. As mulheres com criança eles dispensaram na frente. Agradeci imensamente por isso. Enfim, chegamos na rodoviária com um imenso deserto, apenas o nosso ônibus lá parado. — Ana. Ouvi Doni me gritar e apenas virei o corpo para ver de onde vinha, estava do lado da caminhonete cinza, como Malú estava dormindo no meu colo e ainda tinha o peso da mochila, não consegui dar um passo além. Ele correu até onde eu
FELIPE Sexta-feira... — Vai querer o que para o almoço, menino? — Qualquer coisa Cida, o que você preparar está gostoso, Pedro não vem hoje. — Você come doce, vou fazer. Você tá muito magro, precisa comer. Senão daqui a pouco meu menino diz que eu não tô te dando comida direito. — Não se preocupa. Sou magro de ruim mesmo. — Não fala besteira. É ruim onde? Faz meu menino sorrir, nunca vi ele sorrindo assim. Depois que os pais dele morreram, ele se tornou sério, e agora é um sorriso mais lindo que o outro. — Ele deve estar amando, Cida. — Você faz bem pra ele. E disso eu gosto, melhor do que aquela Barbie chiliquenta. Eu ri. Estava no escritório do Pedro, estudando para o vestibular, ainda estou em dúvida de qual curso fazer, mas as luzes já estão brilhando em uma profissão. E Pedro super apoia. Sempre que chega, pergunta se eu estudei, ou se tenho alguma dúvida. Sem contar a Cida. Um amor de pessoa. Como Pedro me confessou nunca ter se relacionado com homem antes, pensei qu
ANA MARIA — Tem certeza, minha filha. Não quer passar um tempo aqui para ficar melhor, dizem que colo de mãe cura tudo, e essa velha adoraria mimar você. — Tudo que eu mais queria, mãe. Mas, tenho que ir, tem esse novo trabalho que vou começar amanhã e não posso faltar com a palavra. — Eu não vou sair daqui, espero que você venha me visitar mais vezes, agora que estou só. — Tudo vai dar certo e eu vou levar você comigo, mãe. — Eu estou velha, meu amor, e amo meu cantinho aqui. Não precisa se incomodar comigo. — Mãe eu andei de cavalo, o tio me colocou no cavalinho. Ela entrou na cozinha, onde estava com minha mãe, ofegante, suada e descabelada, rindo no colo do Doni, que ostentava um sorriso orgulhoso. — Cavalinho? — Uma égua anã, é sucesso com a criançada das redondezas. Ela estava tristinha e eu queria animar um pouco. — Obrigada, Doni, muito gentil de sua parte. — Faço com prazer — sorriu gentilmente. Ficamos aguardando Felipe chegar e não demorou muito, chegou de cara f
MIGUEL Gabriela não quis ir embora por nada, então, enquanto tomava banho, mandei mensagem para que Dante deixasse a encomenda na casa de Pedro, ele saberia guardar. Depois enviei uma mensagem para meu amigo, avisando sobre a encomenda. “— Está em casa? — Sim, por quê? — Uma encomenda vai chegar até você, quero que dê uma olhada e guarde até eu conseguir pegar. — Sobre o acontecido? — Sim. — Ok.” Deixei o celular na bancada e entrei no jato de água que caía forte. Toda essa história tem me deixado exausto, um peso nas costas que me tira o sossego dia e noite, a impressão que tenho cada vez mais é que coloquei a mão num vespeiro e a qualquer momento eu vou perdê-la. Estava de olhos fechados quando senti mãos me rodearem. — Gabriela, estou atrasado. Faltava uma hora para o horário que Ana me falou que iria sair. Eu não pretendia deixar essa oportunidade passar. Não quero correr o risco de ela desistir de ter essa conversa. — Amor, você nunca me negou, nem mesmo depois de e
ANA MARIA — Eu te deixo uma rua antes e você diz que veio de carro de aplicativo. — Não quero ter que começar a mentir para os meus amigos. Miguel queria me levar até a casa do Rodrigo para pegar a Malú. Esta, que ele não aguentava mais de saudade. Como queria prolongar os nossos momentos juntos, aceitei. Ele com certeza sabe o que está fazendo, não iria se arriscar se não houvesse perigo. Fomos pelo em caminho em silêncio, apenas nos curtindo. Eu me sentia tão fantástica ao seu lado, como se não precisasse de mais nada. Depois do nosso amor, estava tão satisfeita que não conseguia pensar em nada, estava no país da alegria e nada poderia me tirar dele. ...................................................... — Vai guentar ir só? Quer que eu te leve? — Não precisa, Rodrigo. Eu vou passar ali na padaria e vou pedir um outro carro. — Ele me entregou a Malú e a bolsa no portão da casa. — Tá bonitona, hein. — Obrigada. — Tá bem, né? Vai ficar lá na casa sozinha, vai pensar besteira
ANA MARIA Atualmente... — Hoje eu posso levar um brinquedo? É dia do brinquedo. — O que você quer levar? — A boneca que o tio Pedro me deu. — Pega, enquanto eu termino de arrumar sua bolsa. Depois de tudo organizado, coloquei ela no transporte. E então eu pude ir atrás da organização da sua festa. Rodrigo e Pedro entraram num consenso e ambos vão dividir os gastos, claro que o salão Pedro fez questão de pagar, como não conheço muitas crianças, mandei convites para alguns amiguinhos da escola, e outros deixei para que Kátia chamasse. A família dela tem bastante criança, não sei porque ela também não quer ter uma. Depois de uma manhã de correria, consegui falar com Miguel no horário do almoço. Não pude me encontrar com ele porque sempre dá alguma coisa errada nesses últimos dois dias. Quando não sou eu, é ele. Esse final de semana mesmo não poderei vê-lo, tenho um evento de divulgação no salão do Hilton Hotel. Mariana disse que eu não preciso me preocupar com nada, ela cuidaria