capítulo 4

       *****DARIO*****

Dario: Deixa eu entender essa ideia que estou tentando processar como humano, pois a visão do lobo a considera ridícula. Vocês realmente desejam se misturar com os humanos, conscientes de que eles não nos aceitam? Afinal, eles não apreciam nossa raça, assim como nós não temos afeições pela deles, especialmente por causa das perdas que tivemos, como a de nossos pais e amigos lobos. Mesmo assim, vocês ainda querem estar perto deles?

Rudi: Positivo. De fato, Dario, a sua capacidade de raciocínio como humano parece superar a de um lobo.

Dario: Vocês têm ciência de que somos lobos e não humanos, correto?

Aquela tarde estava quente e, sentindo uma pontada de frustração, percebi que, apesar de amar meus irmãos, eles não conseguem compreender a gravidade de viver entre os humanos. Isso é perigoso para eles e, principalmente, para nós. O homem que matou meus pais e muitos de nós ainda está solto, vivendo livremente por aí. Apenas por enquanto. No momento certo, eu o encontrarei e farei com que ele sofra, assim como ele fez no dia da morte dos meus pais.

Esperei pela resposta dos meus irmãos. Pela expressão em seus rostos, percebi que não aprovaram a minha pergunta — ou melhor, a minha defesa sobre a questão deles sobre viver entre os humanos e agir como se fossem um deles.

Adamastor suspira, visivelmente frustrado, antes de responder:

**ADAMASTOR** — Ah, Dario… Isso foi há tanto tempo. Nós apenas queríamos tentar.

Sinto a raiva se intensificar dentro de mim diante da insistência dele. Meu tom sai mais firme do que eu gostaria:

**DÁRIO** — O que aconteceu com nossos pais já seria motivo suficiente para que vocês se mantivessem afastados. Minha resposta continua sendo não. Compreenderam?

Antes que possam insistir mais, viro as costas e me afasto. Não quero ouvir nada além disso. Eu os amo, mas eles precisam entender que não podemos nos misturar com aquele povo insignificante.

A frustração queima dentro de mim, e meu lobo clama por liberdade. Transformo-me sem hesitar e corro pela floresta. O vento sopra em minha pele, e o chão úmido de folhas e lama desliza sob minhas patas. Corro sem rumo até que um aroma diferente me alcança—doce, intenso, irresistível. Meu instinto me direciona para o sul da floresta, acelerando meus passos, mais vorazes.

O aroma se torna mais intenso. Reduzo a velocidade, agindo com cautela. Entre as árvores, avisto duas pessoas.Um homem está dentro do lago, mas estou certo de que não é dele que provém o cheiro. Então, ela surge.

Eu prendo a respiração.

Ela é deslumbrante. Delicada. Seus longos cabelos negros dançam ao sabor da brisa, e seus olhos escuros — tão curiosos — não transmitem medo. O meu olhar se fixa nela de forma possessiva, como se minha alma reconhecesse algo que minha mente ainda não compreende. Ela se aproxima, mas não pronuncia nenhuma palavra.

O homem no lago a chama, e eu sou puxado de volta à realidade, saindo correndo, irritado. O que foi aquilo? Eu desprezo os humanos. Mas ela… de alguma forma, não despertou meu instinto predador. Ao contrário, meu lobo ficou intrigado. Essa situação me enfurece. Que feitiço essa garota lançou sobre mim? Como consegui não assustá-la? Não posso me permitir estar interessado por uma humana quando há tantas lobas à minha disposição. Sou o lobo alfa da alcatéia Satomi.

Retorno à cabana, agradecido à Deusa por encontrar meus irmãos ausentes. Não estou disposto a participar de mais um debate sem propósito. Transformo-me de volta à forma humana e dirijo-me imediatamente ao banho, na tentativa de eliminar aquele cheiro de minha pele—e da minha mente.

No entanto, ao me deitar no quarto, a imagem dela volta a me assombrar.

Seus cabelos esvoaçantes. A pele tão branca quanto a neve. Os lábios vermelhos como morangos.

Droga, o que essa garota fez comigo?

Permaneci deitado por um bom tempo, olhando para o teto e imerso na confusão dos meus próprios pensamentos. A imagem daquela garota continuava a me assombrar, como se estivesse presa na minha mente contra a minha vontade. O que de fato aconteceu comigo naquela floresta? Minha aversão pelos humanos sempre foi clara e firme. Mas ela… ela me afetou de uma maneira que eu não sabia descrever.

Suspirei, sentando-me na cama e passando as mãos pelo rosto. Meu estômago roncou, lembrando-me que não comia nada desde a manhã. Talvez um pouco de comida ajudasse a dissipar esses pensamentos indesejados. Levantei-me e fui até a cozinha, pegando os ingredientes mais próximos e começando a preparar algo para comer.

Foi nesse momento que percebi a presença deles. Adamastor e Rudi adentrou a cozinha de forma silenciosa, mas suas expressões curiosas eram inegáveis enquanto me observavam. Ignorando-os, continuei a misturar os ingredientes de maneira desordenada, resultando em uma verdadeira mistura de alimentos.

Adamastor: Dario, o que ocorreu com você?

Continuei a misturar os ingredientes, mantendo o olhar fixo na tarefa.

Dário:Do que você está se referindo?

Rudi trocou um olhar significativo com Adamastor antes de se aproximar.

Rudi: Desde que você voltou daquela corrida, está um pouco diferente, distraído e distante. Isso não é comum; normalmente, você estaria tentando nos convencer a desistir de ir à cidade. O que aconteceu?

Sua voz transmitia uma curiosidade persistente.

Minha mandíbula ficou travada por um instante. Eles eram meus irmãos, mas o que aconteceu na floresta não dizia respeito a eles. Não poderia permitir que suspeitassem de algo que eu mesmo não compreendia.

Dário: Não há motivo para preocupação. E vocês? Já desistiram dessa ideia absurda de viver como humanos?

Adamastor estreitou os olhos, percebendo minha tentativa de desviar a atenção. Entretanto, Rudi não se deixou intimidar; esses pequenos lobos eram bastante astutos.

Ele avançou um passo, avaliando meu rosto com aquela expressão sagaz que sempre o caracterizava.

Adamastor: Para você estar assim, certamente encontrou Castiel.

O que ele lhe disse para deixá-lo dessa forma, Dario? Ele sempre tenta provocá-lo, mesmo sabendo que você é o lobo alfa da alcateia.

Soltei uma risada curta e seca. Ótimo. Eles estavam seguindo pelo caminho errado, o que era mais vantajoso para mim. Peguei meu prato com a mistura incomum de alimentos e me voltei para eles, esboçando um sorriso sarcástico.

— Castiel não me amedronta; na verdade, ele é quem deveria temer a minha presença. A qualquer momento, posso expulsá-lo da minha alcateia. A única razão pela qual ainda não fiz isso é por respeito aos pais dele, que eram amigos dos nossos. — murmurei, me afastando da cozinha sem deixar margem para novas perguntas.

Mesmo quando me distanciei, tive a certeza de que aquilo não chegaria ao fim. Meus irmãos não eram do tipo que esquecia com facilidade. E, por mais que eu tentasse negar, havia algo dentro de mim que insistia que aquela garota da floresta... ainda retornaria para me perturbar.

É um sentimento peculiar que sinto por uma garota da cidade. O que está acontecendo com meu lado lobo? Eu sempre estive rodeado de lobas. Será que ela poderia ser a minha predestinada? Não, isso não faz sentido... uma humana não poderia ser.

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