Estava deitada sobre um colchão velho e sem cobertor para me cobrir nas noites frias. Olhei para as paredes velhas com os olhos entreabertos vendo tudo ao meu redor girar, os fechei para evitar mais fadiga. No entanto, não demorou para sentir a ânsia de vômito contribuir com a dor fina no estômago. Não tinha forças para levantar e sem opção de escolha, tive que virar para o lado, pus a cabeça para fora da cama e vomitei apenas a bile já que eu não comia há algum tempo.A dor aumentou fazendo-me encolher e abraçar minhas pernas na posição fetal. Mamãe dizia ser uma boa posição para acalmar a cólica. Comecei a gemer devido às pontadas lancinantes, porém, a voz era praticamente inaudível. Neste momento, pedi que a morte me levasse de uma vez por todas, para acabar com aquela dor aguda e insuportável. Talvez a morte seria a única saída e eu estaria livre. Ouço uns ruídos e um barulho familiar de chave no miolo da fechadura e a porta foi escancarada abruptamente. Meus olhos estavam sen
Quatro dias depois...— O que aconteceu, dessa vez? Cecília veio até mim, quando ouviu a pancada barulhenta da minha mão se chocando contra a parede.— Cecília, me dê um tempo.Continuei de costas para ela segurando a haste de metal na janela da suíte, inspirando o ar úmido e frio que batia no meu rosto, enquanto eu olhava os prédios se perderem na neblina. Cecília, as vezes, é grudenta.— Ok, só fiquei preocupada.Seus olhos pousaram em minha mão e ela automaticamente se assustou.— Cacete! Está sangrando, Drii. Espere um momento, vou buscar curativos.Tentei conter minha frustração após ouvir o áudio que Filippo Duarte acabou de me enviar, em que Ana Lis confessa que estava tomando anticoncepcional porque tinha nojo só de imaginar um fruto meu em seu ventre.Já não era a primeira vez que ouvi Ana falar ter nojo de mim. A primeira, pensei que ela estivesse falando no momento de raiva, no entanto, ela ressaltou o que sente por mim.Fui até a adega e enchi uma taça com vinho branco se
Ana Lis. Enquanto eu definhava no porão da casa da família Lobo, passando fome, frio e sede, meu marido esbanjava luxos num hotel em Boston com sua amante. Minha sogra fez questão de esfregar na minha cara as imagens do casal feliz, sentados à mesa recheada de iguarias que davam para alimentar uma família inteira. Não iria de forma alguma aceitar o acordo que madame Cíntia me propôs. Entretanto, era pegar ou continuar sendo maltratada por aqueles monstros por tempo indeterminado. A atitude que Adriel tomou depois de ter me castigado daquela maneira, foi apenas uma faísca para que eu aceitasse de vez, que meu lugar não era ao lado dele.Estava a caminho da mansão de Adriel, hoje faz dois dias que chegaram de viagem e também que fui libertada da casa de sua família. Meu corpo ainda estava se recuperando dos maus tratos, mas minha mente tão cedo não irá se recuperar.— Sr.ª Lis! Encontrei Magáh fazendo a limpeza na sala de visitas.— Como a senhora está? Veio em minha direção conten
— Adriel pode nos ver. O tom feminino é desconfortável pertencia à Cecília.— Ah, ele não vai sair daquela sala tão cedo, está em reunião com aquele babaca, Igor Timberg. Fiquei estarrecida, só precisei ouvir mais uma vez para ter certeza de quem era a voz masculina. Era Arthur! Coloquei a mão na boca para evitar qualquer suspiro.— Não pode ser outra hora? Ela tentava negociar, a voz tremulava com o nervosismo. — A noite? Cecília parecia não querer aquilo. Ela respirava profundamente, aparentava não estar nem um pouco à vontade.— Eu já cumpri com minha parte no acordo, agora quero que você me pague ou Adriel vai ficar sabendo o que fez! Tais palavras caíram de sua boca deixando-me completamente atordoada. O que diabos, Cecília fez de tão grave contra Adriel? No último retângulo, lá estava eu, com as pernas falhas e a respiração descompassada, tentando a todo custo não ser pega, como se a errada naquela situação fosse eu. Quanta ironia!— Então vamos, anda logo. Realize o dese
Reprimindo a dor crescente, dei seguimento a nossa apresentação. Enquanto eu caminhava em volta da mesa, olhava de soslaio para o figurão que me fitava com a expressão descontente. Cinco minutos mais tarde, ganhei uma salva de palmas de todos os presentes após dar por encerrado a tortura do meu marido. — Confesso que estou muito surpreso! Adriel finalmente abre a boca ao voltar para si. — Você tem mesmo dezoito anos? Ele estreitou os olhos ao me encarar duvidoso. A julgar pelos traços brincalhões do seu rosto, imaginei estar tentando me constranger para esconder sua frustração. — Profissionalmente falando... — pigarreou afastando o olhar para o lado — seu projeto foi o melhor que vimos este ano. Ele está apto para ser lançado muito em breve em nossas empresas — dessa vez, ele falava sério. — Obrigada, senhor! — sorri amargamente. — Mas, profissionalmente respondendo sua pergunta — arqueei a sobrancelha e ampliei o sorriso. — tenho dezoito anos, sim! E, de resto, ainda estou cur
Quando acordei, estava num quarto de hospital. Um médico idoso e com a aparência simpática, segurava a pequena lanterna focando nos meus olhos. — Siga a luz — fiz o que me pediu. — ela está consciente. Ele avisou para alguém e desapareceu logo depois.— Oh, Deus! Que susto! Respirei aliviada quando vi Tomás ao meu lado. Minha cabeça doía, na verdade, tudo em mim, parecia estar quebrado. — Foi por pouco, Lis. Faltou isso aqui — ele fez um gesto com dois dedos. — Você seria esmagada em público. Seus olhos estavam vermelhos, as laterais inchadas demonstravam que meu primo havia chorado muito. Quando percebi a gravidade da situação, senti um grande nó se formar em minha garganta e fiquei péssima. — Tentaram me matar... — O calor das lágrimas aqueceram meu rosto — não foi um acidente, foi?Virei a cabeça para o lado e o encarei sem ânimo. Estava cansada demais para continuar sendo forte. Tentar ser forte é exaustivo. — Por quê? Não entendo...O frio que sentia foi ficando cada vez ma
Ele gritou amedrontado, o sangue fugindo do seu rosto. Ao constatar que nenhuma enfermeira estava ali por perto, saiu às pressas da sala e logo retornou com a equipe.Fizeram os primeiros procedimentos, mas eu ainda não conseguia respirar, sentia meu rosto pegar fogo, a garganta se fechando à medida que o oxigênio me abandonava levando minha vida embora.— Ela já teve isso quando era criança.Ouço Tomás falar com a equipe. — Pegue uma bombinha, rápido! O médico exige, a enfermeira sai correndo. O primo Tomás me abraçou colando seu peito ao meu, exatamente como mamãe fazia quando eu tinha crises. — Respira comigo. E começou a aspirar e expirar para que eu o acompanhasse, fez umas quatro sequências, no entanto, toda vez que eu lembrava de estar grávida tudo piorava.A enfermeira voltou rápido e colocou a bombinha na minha boca. Segundos depois, senti o ar circular novamente, me trazendo de volta à dura realidade.Finalmente consegui chorar a vontade, a dor no coração expelia com as
Vendo-os assim, tão apaixonados, fico imersa nos pensamentos imaginando se um dia, irei receber aquela atenção e demonstração de amor de algum homem. Quando me dei conta, Adriel já estava em minha mente, seu olhar perspicaz enquanto saciava seus desejos em meu corpo.— Ah, você já acordou! Tomás me tira do estupor. Sua namorada se virou no mesmo instante e sorriu para mim.— Desculpe-me se atrapalhei eu...Abaixei a cabeça um pouco sem graça, e quando fiz menção de voltar para o quarto, Tomás segurou minha mão impedindo que eu saísse. — Preparei o café para nós três! Sou Melissa. Ela veio ao meu encontro e estendeu o braço para me cumprimentar educadamente. — Ana Lis.A cumprimentei envergonhada. Estava usando um pijama confortável que provavelmente era dela.— Tomás me falou sobre você. — ao falar, passou o braço na cintura do namorado — Vamos comer. Nos acomodamos à mesa e começamos a comer enquanto a conversa saudável fluía. Fiquei imensamente feliz por perceber que meu primo