Abri a porta do quarto quando ouvi os sons característicos de passadas fortes, vindo da escadaria. Passei a chave e no momento do surto me vesti com uma roupa qualquer, sem tempo para escolher algo agradável.Enquanto isso, minha mente estava cheia de pensamentos caóticos. — Ana Lis!A voz soou como um relâmpago estrondando a casa toda, o chão estremeceu abaixo dos meus pés. O sinal de alerta perigo ressoou em minha cabeça. O chamado urgente de alguma forma me repreendia. Podia sentir.— Ana, onde você está? Ele se aproximava, eu não tinha para onde correr. Dei passos hesitantes em direção a porta já que era a única saída, os cabelos molhados caiam sobre os ombros, encharcando as mangas do meu vestido velho.Estiquei o braço e segurei a maçaneta de cristal com os dedos trêmulos. A destravei com olhar baixo, não ousei levantar a cabeça, estava tensa com o que estava por acontecer. Não devia nada a ninguém, mas sabia que minha alegria duraria pouco. Mal tinha tempo para expressar mom
Seus lábios tremiam de raiva e como se não bastasse, papai ainda tentou mais duas vezes soltar o braço e executar sua vontade de me bater.Adriel notou que papai havia perdido o equilíbrio da paciência, então apertou seu pulso com mais força, tanto que os nós de seus dedos ficaram brancos.Esta foi a primeira vez que fui agredida pelo meu pai, a dor ardia na minha pele, no entanto, por dentro, o estrago foi bem maior. Meu coração estava dilacerado e incapacitado de amenizar o desgosto que senti por ser sua filha.— Não foi para isso que lhe chamei em minha casa, Duarte.Fala em bom-tom, fazendo o calor de sua expressão esfriar. — Não era isso que você queria, Adriel? Ainda não se sente vingado?Deixei as palavras caírem aos seus pés sem medo, não me importava que sua raiva aumentasse.— O que você fez foi inadmissível, Ana Lis! — Aposto que não! Rebati as acusações. Adriel não imaginava que eu teria coragem para confrontá-lo, a supressa passou por seus olhos e sua testa franziu.—
Estava deitada sobre um colchão velho e sem cobertor para me cobrir nas noites frias. Olhei para as paredes velhas com os olhos entreabertos vendo tudo ao meu redor girar, os fechei para evitar mais fadiga. No entanto, não demorou para sentir a ânsia de vômito contribuir com a dor fina no estômago. Não tinha forças para levantar e sem opção de escolha, tive que virar para o lado, pus a cabeça para fora da cama e vomitei apenas a bile já que eu não comia há algum tempo.A dor aumentou fazendo-me encolher e abraçar minhas pernas na posição fetal. Mamãe dizia ser uma boa posição para acalmar a cólica. Comecei a gemer devido às pontadas lancinantes, porém, a voz era praticamente inaudível. Neste momento, pedi que a morte me levasse de uma vez por todas, para acabar com aquela dor aguda e insuportável. Talvez a morte seria a única saída e eu estaria livre. Ouço uns ruídos e um barulho familiar de chave no miolo da fechadura e a porta foi escancarada abruptamente. Meus olhos estavam sen
Quatro dias depois...— O que aconteceu, dessa vez? Cecília veio até mim, quando ouviu a pancada barulhenta da minha mão se chocando contra a parede.— Cecília, me dê um tempo.Continuei de costas para ela segurando a haste de metal na janela da suíte, inspirando o ar úmido e frio que batia no meu rosto, enquanto eu olhava os prédios se perderem na neblina. Cecília, as vezes, é grudenta.— Ok, só fiquei preocupada.Seus olhos pousaram em minha mão e ela automaticamente se assustou.— Cacete! Está sangrando, Drii. Espere um momento, vou buscar curativos.Tentei conter minha frustração após ouvir o áudio que Filippo Duarte acabou de me enviar, em que Ana Lis confessa que estava tomando anticoncepcional porque tinha nojo só de imaginar um fruto meu em seu ventre.Já não era a primeira vez que ouvi Ana falar ter nojo de mim. A primeira, pensei que ela estivesse falando no momento de raiva, no entanto, ela ressaltou o que sente por mim.Fui até a adega e enchi uma taça com vinho branco se
Ana Lis. Enquanto eu definhava no porão da casa da família Lobo, passando fome, frio e sede, meu marido esbanjava luxos num hotel em Boston com sua amante. Minha sogra fez questão de esfregar na minha cara as imagens do casal feliz, sentados à mesa recheada de iguarias que davam para alimentar uma família inteira. Não iria de forma alguma aceitar o acordo que madame Cíntia me propôs. Entretanto, era pegar ou continuar sendo maltratada por aqueles monstros por tempo indeterminado. A atitude que Adriel tomou depois de ter me castigado daquela maneira, foi apenas uma faísca para que eu aceitasse de vez, que meu lugar não era ao lado dele.Estava a caminho da mansão de Adriel, hoje faz dois dias que chegaram de viagem e também que fui libertada da casa de sua família. Meu corpo ainda estava se recuperando dos maus tratos, mas minha mente tão cedo não irá se recuperar.— Sr.ª Lis! Encontrei Magáh fazendo a limpeza na sala de visitas.— Como a senhora está? Veio em minha direção conten
— Adriel pode nos ver. O tom feminino é desconfortável pertencia à Cecília.— Ah, ele não vai sair daquela sala tão cedo, está em reunião com aquele babaca, Igor Timberg. Fiquei estarrecida, só precisei ouvir mais uma vez para ter certeza de quem era a voz masculina. Era Arthur! Coloquei a mão na boca para evitar qualquer suspiro.— Não pode ser outra hora? Ela tentava negociar, a voz tremulava com o nervosismo. — A noite? Cecília parecia não querer aquilo. Ela respirava profundamente, aparentava não estar nem um pouco à vontade.— Eu já cumpri com minha parte no acordo, agora quero que você me pague ou Adriel vai ficar sabendo o que fez! Tais palavras caíram de sua boca deixando-me completamente atordoada. O que diabos, Cecília fez de tão grave contra Adriel? No último retângulo, lá estava eu, com as pernas falhas e a respiração descompassada, tentando a todo custo não ser pega, como se a errada naquela situação fosse eu. Quanta ironia!— Então vamos, anda logo. Realize o dese
Reprimindo a dor crescente, dei seguimento a nossa apresentação. Enquanto eu caminhava em volta da mesa, olhava de soslaio para o figurão que me fitava com a expressão descontente. Cinco minutos mais tarde, ganhei uma salva de palmas de todos os presentes após dar por encerrado a tortura do meu marido. — Confesso que estou muito surpreso! Adriel finalmente abre a boca ao voltar para si. — Você tem mesmo dezoito anos? Ele estreitou os olhos ao me encarar duvidoso. A julgar pelos traços brincalhões do seu rosto, imaginei estar tentando me constranger para esconder sua frustração. — Profissionalmente falando... — pigarreou afastando o olhar para o lado — seu projeto foi o melhor que vimos este ano. Ele está apto para ser lançado muito em breve em nossas empresas — dessa vez, ele falava sério. — Obrigada, senhor! — sorri amargamente. — Mas, profissionalmente respondendo sua pergunta — arqueei a sobrancelha e ampliei o sorriso. — tenho dezoito anos, sim! E, de resto, ainda estou cur
Quando acordei, estava num quarto de hospital. Um médico idoso e com a aparência simpática, segurava a pequena lanterna focando nos meus olhos. — Siga a luz — fiz o que me pediu. — ela está consciente. Ele avisou para alguém e desapareceu logo depois.— Oh, Deus! Que susto! Respirei aliviada quando vi Tomás ao meu lado. Minha cabeça doía, na verdade, tudo em mim, parecia estar quebrado. — Foi por pouco, Lis. Faltou isso aqui — ele fez um gesto com dois dedos. — Você seria esmagada em público. Seus olhos estavam vermelhos, as laterais inchadas demonstravam que meu primo havia chorado muito. Quando percebi a gravidade da situação, senti um grande nó se formar em minha garganta e fiquei péssima. — Tentaram me matar... — O calor das lágrimas aqueceram meu rosto — não foi um acidente, foi?Virei a cabeça para o lado e o encarei sem ânimo. Estava cansada demais para continuar sendo forte. Tentar ser forte é exaustivo. — Por quê? Não entendo...O frio que sentia foi ficando cada vez ma