LunaAcordo com os primeiros raios de sol atravessando a janela do quarto. Respiro fundo e sinto o ar diferente, o peso de estar aqui, neste lugar que já significou tanto para minha família. Levanto devagar, faço minha higiene matinal e me preparo para enfrentar o dia. Escolho uma roupa terrivelmente espalhafatosa, adequada a minha nova identidade, e solto os cabelos da minha peruca estravagante, deixando minha aparência o mais perua possível.Ao abrir a porta do quarto, me deparo com minha avó Lupita. Ela está impecável, como sempre, com um sorriso que mistura doçura e determinação. Antes que eu diga algo, ela segura minha mão e me conduz pelo corredor até a sala de jantar.— Venha, querida. Preparamos algo especial para você. Quero que conheça um pouco mais sobre as nossas raízes — ela diz, com um brilho orgulhoso nos olhos.Ao entrar na sala, vejo uma mesa farta, repleta de pratos que eu jamais havia experimentado. Tortillas feitas à mão, enchiladas com molho caseiro, tamales, pã
Luna Estou no meu quarto, sentada na beira da cama, tentando organizar meus pensamentos. O silêncio ao meu redor é pesado, mas não me incomoda. O que está prestes a acontecer parece surreal, como se eu estivesse vivendo um sonho confuso e cheio de emoções contraditórias. De repente, ouço uma batida firme na porta. — Entre. — digo, minha voz mais firme do que realmente me sinto. A porta se abre, e meu avô, Arturo, aparece. Ele está sério, como sempre, mas seus olhos não escondem a tensão. — Está tudo pronto, menina insolente! — ele informa, direto. Assinto, levantando-me. — Vou me arrumar. Preciso estar à altura da ocasião. Ele estreita os olhos, como se tentasse entender o que estou planejando, mas não questiona. — Estarei esperando lá embaixo. Não demore. Assim que ele sai, começo minha transformação. Respiro fundo e escolho minha roupa com cuidado. A calça de couro preta ajusta-se perfeitamente, combinada com a blusa de seda preta de mangas longas. Pego um sapato de salto mé
LunaEu concordo com um movimento da cabeça, mas ainda olho para a lápide uma última vez, como se estivesse me despedindo mais uma vez do meu pai.No caminho de volta ao carro, o silêncio reina novamente, mas agora é diferente. É como se uma espécie de entendimento silencioso tivesse se formado entre nós. Arturo caminha ao meu lado, suas mãos cruzadas às costas, e Lupita segura delicadamente meu braço, como se quisesse transmitir o conforto necessário desse momento.Quando entramos no carro, Arturo toma a palavra, algo raro vindo dele.— Você foi corajosa hoje, Luna, ou devo dizer Laisa? — Ele olha para mim pelo retrovisor com uma sobrancelha arqueada.Eu sorrio, mesmo sabendo que ele não está exatamente brincando.— Coragem é uma característica da família, não é, vovô?Ele bufa, como se não quisesse admitir que eu tenho razão, mas Lupita sorri ao meu lado, apertando minha mão de leve.— Você tem razão, querida. Mas lembre-se, coragem sem cuidado pode virar tolice.— Estou sempre cuid
LunaO aroma do café fresco preenche a sala enquanto eu me sento à mesa com Lupita e Arturo para o café da manhã. Como sempre, a mesa está impecavelmente posta, com uma variedade de pratos que poderiam facilmente alimentar um exército.Arturo está concentrado em sua xícara de café, mas não resisto.— Então, Arturo, hoje é dia de que? Vai trabalhar ou vai apenas ficar de olho nos homens suando enquanto você dá ordens?Ele me encara, arqueando uma sobrancelha, e dá uma risada seca.— Melhor eu dar ordens do que me vestir como uma dançarina de cabaré para atrair atenção!Minha boca se abre em um sorriso irônico.— E mesmo assim, continuo sendo mais eficiente do que muito marmanjo que você comanda.Lupita interrompe antes que o embate vire algo mais sério.— Chega vocês dois. Não é possível que não consigam passar um café da manhã sem essas provocações.Arturo bufa e se levanta, ainda resmungando.— Eu tenho coisas mais importantes para fazer do que ouvir as fofocas de vocês.Ele se vira
Luna— Muito bem, minha garota. Agora que você já me lembrou que consegue fazer um belo estrago com armas, vamos para algo mais prático.— Mais prático? — Pergunto, arqueando uma sobrancelha.Ela me puxa pelo braço, me guiando até uma sala ampla com um piso acolchoado. Ali, o silêncio é cortado apenas pelo som de nossos passos. Ao centro, há alguns manequins de treino e sacos de pancada pendurados.— Treinamento de combate. — Lupita diz, batendo as mãos como quem se prepara para a ação. — Você pode ser boa com armas, mas e se, por algum motivo, não puder usá-las?— Mato com as minhas próprias mãos!Respiro fundo e tiro os sapatos, ajustando o rabo de cavalo.— Certo. Vamos lá.O treino começa com movimentos básicos. Nos ajustamos como combatentes, ela tem muito a me ensinar aqui e creio que terei algo a oferecer também. Ela demonstra com uma leveza que me surpreende. Para a idade que tem, minha avó é incrivelmente ágil e precisa.— Agora, defenda-se. — Ela diz, vindo em minha direç
Theo Estou bufando de raiva, andando de um lado para o outro na sala principal da sede da máfia aqui em Buenos Aires. Já são dias sem um sinal, uma ligação sequer daquela mulher. Aquela caipira criada no mato, cercada por cavalos e pasto, que deveria estar rastejando para mim, implorando pela minha atenção, mas não... Luna, ou sei lá que nome está usando agora, resolveu sumir e me ignorar completamente.Pego meu celular pela centésima vez, olho para a tela e nada. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Ela simplesmente desapareceu como fumaça, e o mais revoltante é que não consigo rastreá-la. Eu, Teo Schneider, com todos os recursos possíveis ao meu alcance, não consigo localizar uma caipira filha da putta que resolveu fugir às vésperas do casamento!.A fúria cresce dentro de mim. Como ela ousa? Como alguém como ela, pode ter tanta audácia? Tanto controle? Meu ego grita cada vez que penso no rosto dela, naquele jeito desafiador, como se soubesse algo que eu não sei.— Prepara o jato. Vou
Teo— Eu mesmo não consegui recebi relatórios de Luna, ou seja lá o nome que ela está usando agora, está se movimentando com uma precisão que poucos conseguem.— Relatórios? — Minha voz fica mais alta, minha raiva subindo de novo.— Sim, Theo. Porque enquanto você fica aqui gritando e esperneando, eu estou observando. Estou investigando. E pelo que vejo, você deveria fazer o mesmo. — Ele se levanta, caminhando até a mesa onde um copo de uísque espera por ele.Eu fecho os olhos por um momento, tentando processar tudo isso. Meu orgulho está ferido, mas, ao mesmo tempo, sei que ele tem razão. Se Luna está me ignorando, é porque ela quer que eu me sinta exatamente assim, descontrolado.— Então, o que você sugere que eu faça? — Pergunto, finalmente cedendo, minha voz carregada de frustração.— Jogue o jogo dela. Mas faça isso com calma, inteligência. Não com impulsividade. — Ele dá um gole no uísque, depois me encara novamente. — E lembre-se, Theo, o mais importante, nunca demonstre fraqu
Luna Hoje é meu último dia aqui no México, e eu decido passá-lo agarrada à minha avó Lupita. Estamos no quarto dela, aproveitando cada segundo juntas. Conversamos sobre tudo e nada, rimos de histórias antigas, e, às vezes, só ficamos em silêncio, sentindo a presença uma da outra. É um momento que parece fora do tempo, como se o resto do mundo tivesse parado para nos deixar aproveitar isso. Ela passa os dedos nos meus cabelos enquanto me conta sobre os tempos em que cuidava do meu pai e do meu tio Ernesto quando eram pequenos. Dá para ver o brilho nos olhos dela, uma mistura de saudade e orgulho. Eu escuto com atenção, gravando cada detalhe na minha memória, porque sei que esses momentos vão me sustentar quando a distância começar a pesar de novo. Arturo aparece na porta, sem fazer barulho, mas o peso da sua presença é inconfundível. Quando ele nos vê assim, tão próximas, seus olhos endurecidos se suavizam. Ele tenta disfarçar, mas vejo a emoção tomar conta dele. — Vocês duas... — E