Luna Ela beija minha testa antes de se levantar e pegar uma toalha.— Sempre estarei aqui para você, Luna. Não importa o que aconteça. Agora, vamos terminar esse banho e descansar. Você tem um longo caminho pela frente.Sorrio, sentindo uma conexão profunda com ela, como se as peças do meu quebra-cabeça estivessem começando a se encaixar.Lupita me ajuda a sair da banheira, envolvendo-me em uma toalha macia enquanto me guia de volta ao quarto. Ela seca meu cabelo com cuidado, mas consigo perceber que está perdida em pensamentos, talvez lembrando do passado que eu estou prestes a desenterrar. Quando me visto, uma camisa leve de algodão e um short confortável, decido que é o momento de perguntar.Sento-me na cama e olho para ela, que agora está colocando a esponja e os outros itens do banho de volta no carrinho ao lado.— Vó... preciso perguntar uma coisa. — Minha voz sai baixa, mas firme.Ela para no mesmo instante, virando-se para mim com aquele olhar que mistura preocupação e curios
ArturoA madrugada está fria e silenciosa. A casa, envolta em sombras, parece mais viva do que nunca. É como se as paredes sussurrassem histórias antigas, lembranças que nunca conseguimos apagar. Tento dormir, mas é impossível. Algo em mim não me deixa em paz.Levanto-me da cama com um suspiro pesado, calçando meus chinelos e passando a mão pelos cabelos grisalhos. Não sei exatamente o que estou fazendo, mas meus pés me levam automaticamente até o quarto da garota. A insolente.Paro na porta, hesitante, abro com cuidado. Olho para a figura dela deitada na cama, encolhida sob os lençóis. Não parece a mulher confiante e desafiadora que enfrentou todos na cozinha mais cedo. Agora, parece tão pequena, tão vulnerável, tão parecida com Gael.Entro no quarto em silêncio, aproximando-me da cama como se fosse um estranho. Meu coração está pesado, batendo em um ritmo que não sinto há anos. Fico de pé ao lado dela por um momento, apenas observando.Ela dorme profundamente, o rosto relaxado, os l
LunaAcordo com os primeiros raios de sol atravessando a janela do quarto. Respiro fundo e sinto o ar diferente, o peso de estar aqui, neste lugar que já significou tanto para minha família. Levanto devagar, faço minha higiene matinal e me preparo para enfrentar o dia. Escolho uma roupa terrivelmente espalhafatosa, adequada a minha nova identidade, e solto os cabelos da minha peruca estravagante, deixando minha aparência o mais perua possível.Ao abrir a porta do quarto, me deparo com minha avó Lupita. Ela está impecável, como sempre, com um sorriso que mistura doçura e determinação. Antes que eu diga algo, ela segura minha mão e me conduz pelo corredor até a sala de jantar.— Venha, querida. Preparamos algo especial para você. Quero que conheça um pouco mais sobre as nossas raízes — ela diz, com um brilho orgulhoso nos olhos.Ao entrar na sala, vejo uma mesa farta, repleta de pratos que eu jamais havia experimentado. Tortillas feitas à mão, enchiladas com molho caseiro, tamales, pã
Luna Estou no meu quarto, sentada na beira da cama, tentando organizar meus pensamentos. O silêncio ao meu redor é pesado, mas não me incomoda. O que está prestes a acontecer parece surreal, como se eu estivesse vivendo um sonho confuso e cheio de emoções contraditórias. De repente, ouço uma batida firme na porta. — Entre. — digo, minha voz mais firme do que realmente me sinto. A porta se abre, e meu avô, Arturo, aparece. Ele está sério, como sempre, mas seus olhos não escondem a tensão. — Está tudo pronto, menina insolente! — ele informa, direto. Assinto, levantando-me. — Vou me arrumar. Preciso estar à altura da ocasião. Ele estreita os olhos, como se tentasse entender o que estou planejando, mas não questiona. — Estarei esperando lá embaixo. Não demore. Assim que ele sai, começo minha transformação. Respiro fundo e escolho minha roupa com cuidado. A calça de couro preta ajusta-se perfeitamente, combinada com a blusa de seda preta de mangas longas. Pego um sapato de salto mé
LunaEu concordo com um movimento da cabeça, mas ainda olho para a lápide uma última vez, como se estivesse me despedindo mais uma vez do meu pai.No caminho de volta ao carro, o silêncio reina novamente, mas agora é diferente. É como se uma espécie de entendimento silencioso tivesse se formado entre nós. Arturo caminha ao meu lado, suas mãos cruzadas às costas, e Lupita segura delicadamente meu braço, como se quisesse transmitir o conforto necessário desse momento.Quando entramos no carro, Arturo toma a palavra, algo raro vindo dele.— Você foi corajosa hoje, Luna, ou devo dizer Laisa? — Ele olha para mim pelo retrovisor com uma sobrancelha arqueada.Eu sorrio, mesmo sabendo que ele não está exatamente brincando.— Coragem é uma característica da família, não é, vovô?Ele bufa, como se não quisesse admitir que eu tenho razão, mas Lupita sorri ao meu lado, apertando minha mão de leve.— Você tem razão, querida. Mas lembre-se, coragem sem cuidado pode virar tolice.— Estou sempre cuid
LunaO aroma do café fresco preenche a sala enquanto eu me sento à mesa com Lupita e Arturo para o café da manhã. Como sempre, a mesa está impecavelmente posta, com uma variedade de pratos que poderiam facilmente alimentar um exército.Arturo está concentrado em sua xícara de café, mas não resisto.— Então, Arturo, hoje é dia de que? Vai trabalhar ou vai apenas ficar de olho nos homens suando enquanto você dá ordens?Ele me encara, arqueando uma sobrancelha, e dá uma risada seca.— Melhor eu dar ordens do que me vestir como uma dançarina de cabaré para atrair atenção!Minha boca se abre em um sorriso irônico.— E mesmo assim, continuo sendo mais eficiente do que muito marmanjo que você comanda.Lupita interrompe antes que o embate vire algo mais sério.— Chega vocês dois. Não é possível que não consigam passar um café da manhã sem essas provocações.Arturo bufa e se levanta, ainda resmungando.— Eu tenho coisas mais importantes para fazer do que ouvir as fofocas de vocês.Ele se vira
Luna— Muito bem, minha garota. Agora que você já me lembrou que consegue fazer um belo estrago com armas, vamos para algo mais prático.— Mais prático? — Pergunto, arqueando uma sobrancelha.Ela me puxa pelo braço, me guiando até uma sala ampla com um piso acolchoado. Ali, o silêncio é cortado apenas pelo som de nossos passos. Ao centro, há alguns manequins de treino e sacos de pancada pendurados.— Treinamento de combate. — Lupita diz, batendo as mãos como quem se prepara para a ação. — Você pode ser boa com armas, mas e se, por algum motivo, não puder usá-las?— Mato com as minhas próprias mãos!Respiro fundo e tiro os sapatos, ajustando o rabo de cavalo.— Certo. Vamos lá.O treino começa com movimentos básicos. Nos ajustamos como combatentes, ela tem muito a me ensinar aqui e creio que terei algo a oferecer também. Ela demonstra com uma leveza que me surpreende. Para a idade que tem, minha avó é incrivelmente ágil e precisa.— Agora, defenda-se. — Ela diz, vindo em minha direç
Theo Estou bufando de raiva, andando de um lado para o outro na sala principal da sede da máfia aqui em Buenos Aires. Já são dias sem um sinal, uma ligação sequer daquela mulher. Aquela caipira criada no mato, cercada por cavalos e pasto, que deveria estar rastejando para mim, implorando pela minha atenção, mas não... Luna, ou sei lá que nome está usando agora, resolveu sumir e me ignorar completamente.Pego meu celular pela centésima vez, olho para a tela e nada. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Ela simplesmente desapareceu como fumaça, e o mais revoltante é que não consigo rastreá-la. Eu, Teo Schneider, com todos os recursos possíveis ao meu alcance, não consigo localizar uma caipira filha da putta que resolveu fugir às vésperas do casamento!.A fúria cresce dentro de mim. Como ela ousa? Como alguém como ela, pode ter tanta audácia? Tanto controle? Meu ego grita cada vez que penso no rosto dela, naquele jeito desafiador, como se soubesse algo que eu não sei.— Prepara o jato. Vou