LunaAs lágrimas caem livremente enquanto falo. Consegui externar muitas coisas, falar com ela e talvez até sentir a sua presença, eu precisava disso para seguir em frente, foi um grande desabafo, uma necessidade que até o momento em que cheguei aqui, não sabia que tinha.Há uma dor em meu peito que não consigo descrever, mas ao mesmo tempo, sinto que me libertei de algo e cresce uma determinação inexplicável dentro de mim.Fico ali por um tempo, chorando e falando com minha mãe, como se ela pudesse me ouvir. Dinorá não diz nada. Apenas me observa de longe, respeitando o meu momento.Quando finalmente me levanto, enxugo as lágrimas e respiro fundo, é como se ali, naquele túmulo, eu tivesse renascido, diferente, mais forte e mais insensível, agora pronta para os inimigos…— Pronta? — Dinorá pergunta suavemente.— Não — respondo, olhando para o túmulo uma última vez. — Mas eu vou ficar.Ela sorri tristemente, segurando minha mão enquanto voltamos para o carro. O peso da minha decisão é
Marcelo Revelações que Pesam Estou no escritório, mergulhado em papéis e contratos que parecem se multiplicar cada vez que eu tento reduzi-los. O hábito de trabalhar aqui desde a pandemia nunca desapareceu, e é onde consigo manter minha mente ocupada, ou pelo menos tento. Mas hoje, nem isso funciona. Desde que Luna chegou, sinto que estou à beira de um abismo. A cena dela no túmulo de Laís não sai da minha cabeça. Quando ela pediu para ir, precisei sair da sala às pressas, disfarçando minha emoção com a desculpa de que tinha compromissos. Mas a verdade é que precisava agir rápido. Enquanto Dinorá a levava ao cemitério, eu mobilizei tudo o que estava ao meu alcance. Acionei a escolta sem que ela percebesse. Dois carros discretos seguiram à distância, garantindo que nenhum perigo chegasse perto delas. E não foi só isso. Passei a tarde garantindo que todas as câmeras de videomonitoramento que pudessem ter capturado Luna fossem apagadas. Nenhuma imagem da jovem emotiva chorando no
Théo Eu estou sentado no banco da varanda da fazenda, olhando para o horizonte enquanto mastigo cada palavra que ouvi nas últimas horas. O vento quente da tarde não alivia o fogo que arde dentro de mim. Eu não consigo aceitar isso. Não consigo engolir o que Luna fez. "Ela está bem, sob proteção da máfia italiana." Essas palavras ecoam na minha cabeça, ditas por Laura no viva voz. Sob proteção da máfia italiana? Como uma caipira que cresceu no meio do mato, que mal saiu dessa fazenda, conseguiu conexões tão fortes? Eu cerro os punhos, a raiva me consumindo. Eu cresci cercado por poder, por homens e mulheres que controlam impérios, que comandam com autoridade, que fazem o mundo se curvar à nossa vontade. Sempre soube quem eu era, sempre me vi como o mais preparado, o mais inteligente na sala, aquele que nunca seria superado. E, então, aparece Luna. Aquela garota teimosa, com sua atitude simples e seu sotaque carregado, que me enfrentava como se eu não fosse nada. Que me fazia questi
MateusO sol já estava baixo no horizonte, tingindo o céu de laranja e dourado, quando Mateus, com seus olhos atentos, observou as câmeras escondidas ao redor da varanda. Ele estava em seu esconderijo, o quarto cheio de monitores, fios e dispositivos eletrônicos.Seus dedos deslizavam pelas telas, ajustando as imagens e focando em Teodoro, que caminhava de um lado para o outro, visivelmente furioso.–Esse cara está prestes a explodir! comentou Mateus com um sorriso irônico, que logo se transformou em uma expressão mais séria. Ele sempre soube que Teodoro tinha um temperamento quente, mas não imaginava que as coisas chegariam a esse ponto tão rapidamente. O que Luna fizera, no fundo, parecia ter mexido com algo dentro dele, algo profundo. Ele não vai aguentar muito tempo assim, pensou, com a mente já fervilhando de ideias.John, que estava sentado em uma das cadeiras ao lado de Mateus, levantou a cabeça do celular e olhou para ele.–Não é só raiva. Esse cara está obcecado. E quando e
DinoráEnquanto coloco a mesa para o café da manhã, dou uma olhada rápida no espelho da sala de jantar. Gosto de me observar de vez em quando, não por vaidade, mas para me lembrar de quem sou e de onde vim. Sou uma típica italiana, com pele clara, cabelos castanhos escuros que caem em ondas soltas, olhos expressivos que carregam tanto a doçura quanto os segredos que vivi. Sempre me considerei bonita, mas não no sentido óbvio da palavra. Minha beleza está no equilíbrio, nos traços suaves, no sorriso gentil e na forma como minha personalidade transparece.Sou doce e amável, talvez até demais. Marcelo sempre diz que às vezes me deixo levar pelo coração mole, e talvez ele tenha razão. Sou mãezona, do tipo que sempre tem um prato de comida pronto, que coloca todo mundo para sentar à mesa e ouve as histórias do dia com atenção. Amo cuidar da minha família, da casa e, ao mesmo tempo, da empresa que ajudamos a construir. Consegui o equilíbrio entre ser dona de casa e empresária de suces
Dinorá — Você tem o mesmo jeito de olhar para as coisas, como se estivesse sempre pensando no próximo passo. Isso era muito Laís. Ela era uma mulher que pensava rápido, que sempre estava um passo à frente, mas fazia isso com uma leveza que encantava todo mundo ao seu redor.Luna me observa atentamente, e vejo que isso significa muito para ela.— Como ela era? — pergunta, quase sussurrando.Respiro fundo, deixando as memórias virem à tona.— Laís era a definição de simplicidade elegante. Não precisava de roupas caras ou joias extravagantes para ser linda. Ela gostava de vestidos leves, cores suaves... sempre algo que combinasse com o sorriso dela. Porque, sabe, o sorriso da sua mãe era contagiante. Era aquele tipo de sorriso que fazia você acreditar que tudo ia ficar bem, mesmo nos piores momentos.Luna abaixa os olhos por um momento, absorvendo minhas palavras.— E ela e meu pai? Como eles eram juntos?Ah, Gael e Laís. Só de pensar nos dois, meu coração aperta.— Eles eram inseparáve
Dinorá Ao chegarmos lá, Luna é recebida como se fosse realeza. Não consigo evitar o orgulho que sinto. Na sala da presidência, deixo que ela olhe ao redor enquanto Marcelo e eu trocamos olhares cúmplices. — Luna, tudo o que está aqui é seu — digo, rompendo o silêncio. — Seu pai deixou um patrimônio enorme. Não quero que você se sinta pressionada, mas precisa saber que tem direito a isso. Se quiser, pode começar a administrar tudo agora mesmo. Ela me olha com surpresa e, em seguida, balança a cabeça com firmeza. — Dinorá, eu não tenho o menor interesse nisso. Tudo o que eu preciso, meu pai, o Javier, já me dá. Não é por isso que estou aqui. Fico em silêncio por um momento, processando as palavras dela. — Não é que eu esteja desprezando, muito pelo contrário. — ela continua. — Mas minha vida é no Uruguai, na fazenda. É ali que eu me sinto em casa. Não quero administrar empresas. Pelo menos, não agora. Talvez um dia, no futuro, mas... Ela para, como se estivesse buscando as pala
Luna Eu acordo com um sentimento diferente hoje. Uma clareza que não tinha antes. É como se algo tivesse sido encaixado no lugar certo durante a noite. Chegou a hora de voltar. Não posso mais prolongar minha estadia aqui, por mais que esteja sendo acolhida com tanto amor por Dinorá e Marcelo. Eu tenho um compromisso, um noivado que, por mais estranho que seja, carrega um peso que vai além de mim. Além disso, eu preciso enfrentar tudo o que deixei para trás no Uruguai, mas antes, farei uma parada inesperada.Desço para o café da manhã e encontro Dinorá na cozinha, como sempre elegante, até mesmo em roupas simples. Ela me olha com um sorriso caloroso, mas percebe algo diferente na minha expressão.— Alguma coisa aconteceu, Luna? — pergunta, colocando uma xícara de café à minha frente.— Dinorá, eu acho que está na hora de voltar. — digo, sem rodeios.Ela para por um momento, apenas observando meu rosto, antes de dar um leve aceno de cabeça.— Eu sabia que esse momento chegaria. Mas voc