Luna O sol ainda nem nasceu direito quando Giovana desce as escadas animada para ir à escola. Eu a espero na sala, já com minha mala pronta, tentando disfarçar o nó na garganta. Assim que ela me vê, corre até mim, toda elétrica, como sempre. — Você vai mesmo embora hoje? — pergunta, cruzando os braços e fazendo um bico, como se fosse uma criança de cinco anos. — Vou sim, Giovana. Mas não se preocupe, logo nos veremos de novo. Você tem que estar no meu casamento, lembra? Ela abre um sorriso enorme e me abraça forte. — Promete que não vai sumir de novo? — Prometo. — Aperto-a ainda mais, tentando conter as lágrimas. Giovana me solta e pega sua mochila. Antes de sair pela porta, se vira para mim mais uma vez. — Vou contar para todo mundo que tenho uma prima incrível que vive numa fazenda enorme e está se casando! Rimos juntas, e ela se despede com um último abraço. Assim que a porta se fecha, o silêncio toma conta da casa. Dinorá entra na sala, com os olhos já marejados. — Está
Luna Sento novamente na poltrona, com a mala já arrumada, e aguardo o pouso. Quando o jato toca o chão, sinto a adrenalina correr pelas veias. Assim que descemos na pista clandestina, um carro preto elegante já me espera. — Senhorita Intiz? — pergunta o motorista, descendo para abrir a porta. — Sou eu. — Respondo em um italiano impecável, sem hesitar. Entro no carro e dou o endereço que encontrei. Durante o trajeto, olho pela janela, absorvendo cada detalhe do caminho. Minutos depois, vejo a mansão se erguer diante de mim. Imponente e majestosa, ela é ainda mais impressionante do que imaginei. Ao sair do carro, ajusto o óculos e caminho até a entrada principal. Lá, identifico-me como Laisa Intiz e falo em italiano, mantendo o disfarce. Isso parece confundir os funcionários, que me olham desconfiados, mas acabam liberando meu acesso. Uma empregada me recebe na cozinha, simpática e educada. Ela me oferece algo para beber, mas antes que eu responda, um homem entra na cozinha.
Luna Lupita e Arturo se entreolham, claramente pegos de surpresa. — Casar? — Lupita pergunta, sua voz carregada de preocupação e curiosidade. — Com quem? — Teodoro, o filho de Teodoro. É um acordo entre famílias... Vocês sabem como essas coisas funcionam. Arturo estreita os olhos. — Máfia? — Claro. — Respondo, direta. — Não poderia ser diferente. Esse acordo foi feito assim que o Mateus nasceu, para evitar certos problemas. Faço uma pausa, avaliando suas reações antes de continuar. — Gostaria muito que vocês fossem ao casamento, mas sei que pode ser perigoso. Entendo se decidirem não ir. Lupita segura minha mão, sua expressão suave, mas firme. — Luna, minha neta, vamos fazer o possível. Não prometo nada, mas, se pudermos, estaremos lá. Arturo suspira, cruzando os braços novamente. — Isso tudo é uma loucura, mas não esperaria menos de uma Hernandez. Sorrio, satisfeita com a resposta. Passamos o resto da conversa discutindo detalhes, mas no fundo, sinto um alívio. Não
Luna Lupita se aproxima e me ajuda, tirando com cuidado a peça que agora está úmida de suor, provavelmente do calor e do nervosismo acumulado. Ela tira a peruca com delicadeza, como se estivesse ajudando a revelar quem eu realmente sou por baixo daquela fachada de "Laisa Intiz". Em seguida, retiro as sandálias de salto, as joias falsas que completavam o disfarce e, por fim, deslizo a pistola e as duas adagas para fora do corpo.Fico apenas de calcinha e sutiã enquanto Lupita me observa com um sorriso que mistura ternura e melancolia.— Você é tão parecida com sua mãe... — Ela comenta, quase para si mesma. — Mas tem o fogo de Gael nos olhos. Depois que soube da sua existência, investiguei algumas coisas e consegui até alguns vídeos deles juntos…Ela me conduz com cuidado até o banheiro, onde a banheira já está quase cheia. Antes de eu entrar, ela pega uma esponja macia e um frasco de sabonete líquido, como se quisesse fazer daquele momento algo especial, quase um ritual.— Entre, que
Luna Ela beija minha testa antes de se levantar e pegar uma toalha.— Sempre estarei aqui para você, Luna. Não importa o que aconteça. Agora, vamos terminar esse banho e descansar. Você tem um longo caminho pela frente.Sorrio, sentindo uma conexão profunda com ela, como se as peças do meu quebra-cabeça estivessem começando a se encaixar.Lupita me ajuda a sair da banheira, envolvendo-me em uma toalha macia enquanto me guia de volta ao quarto. Ela seca meu cabelo com cuidado, mas consigo perceber que está perdida em pensamentos, talvez lembrando do passado que eu estou prestes a desenterrar. Quando me visto, uma camisa leve de algodão e um short confortável, decido que é o momento de perguntar.Sento-me na cama e olho para ela, que agora está colocando a esponja e os outros itens do banho de volta no carrinho ao lado.— Vó... preciso perguntar uma coisa. — Minha voz sai baixa, mas firme.Ela para no mesmo instante, virando-se para mim com aquele olhar que mistura preocupação e curios
ArturoA madrugada está fria e silenciosa. A casa, envolta em sombras, parece mais viva do que nunca. É como se as paredes sussurrassem histórias antigas, lembranças que nunca conseguimos apagar. Tento dormir, mas é impossível. Algo em mim não me deixa em paz.Levanto-me da cama com um suspiro pesado, calçando meus chinelos e passando a mão pelos cabelos grisalhos. Não sei exatamente o que estou fazendo, mas meus pés me levam automaticamente até o quarto da garota. A insolente.Paro na porta, hesitante, abro com cuidado. Olho para a figura dela deitada na cama, encolhida sob os lençóis. Não parece a mulher confiante e desafiadora que enfrentou todos na cozinha mais cedo. Agora, parece tão pequena, tão vulnerável, tão parecida com Gael.Entro no quarto em silêncio, aproximando-me da cama como se fosse um estranho. Meu coração está pesado, batendo em um ritmo que não sinto há anos. Fico de pé ao lado dela por um momento, apenas observando.Ela dorme profundamente, o rosto relaxado, os l
LunaAcordo com os primeiros raios de sol atravessando a janela do quarto. Respiro fundo e sinto o ar diferente, o peso de estar aqui, neste lugar que já significou tanto para minha família. Levanto devagar, faço minha higiene matinal e me preparo para enfrentar o dia. Escolho uma roupa terrivelmente espalhafatosa, adequada a minha nova identidade, e solto os cabelos da minha peruca estravagante, deixando minha aparência o mais perua possível.Ao abrir a porta do quarto, me deparo com minha avó Lupita. Ela está impecável, como sempre, com um sorriso que mistura doçura e determinação. Antes que eu diga algo, ela segura minha mão e me conduz pelo corredor até a sala de jantar.— Venha, querida. Preparamos algo especial para você. Quero que conheça um pouco mais sobre as nossas raízes — ela diz, com um brilho orgulhoso nos olhos.Ao entrar na sala, vejo uma mesa farta, repleta de pratos que eu jamais havia experimentado. Tortillas feitas à mão, enchiladas com molho caseiro, tamales, pã
Luna Estou no meu quarto, sentada na beira da cama, tentando organizar meus pensamentos. O silêncio ao meu redor é pesado, mas não me incomoda. O que está prestes a acontecer parece surreal, como se eu estivesse vivendo um sonho confuso e cheio de emoções contraditórias. De repente, ouço uma batida firme na porta. — Entre. — digo, minha voz mais firme do que realmente me sinto. A porta se abre, e meu avô, Arturo, aparece. Ele está sério, como sempre, mas seus olhos não escondem a tensão. — Está tudo pronto, menina insolente! — ele informa, direto. Assinto, levantando-me. — Vou me arrumar. Preciso estar à altura da ocasião. Ele estreita os olhos, como se tentasse entender o que estou planejando, mas não questiona. — Estarei esperando lá embaixo. Não demore. Assim que ele sai, começo minha transformação. Respiro fundo e escolho minha roupa com cuidado. A calça de couro preta ajusta-se perfeitamente, combinada com a blusa de seda preta de mangas longas. Pego um sapato de salto mé