LunaO Peso da TempestadeO silêncio após a morte do Albanês é esmagador. O sangue escorre pelo chão frio, misturando-se à poeira e ao cheiro metálico da violência. Meus pulmões arfam, e meu peito sobe e desce em uma fúria contida que ameaça transbordar. Odiava admitir, mas minha raiva ainda queimava, insaciável.— Luna... — Théo me chama, sua voz firme, mas baixa.Eu não respondo. Minha mente ainda está processando tudo o que ouvimos. Guadalupe... Minha avó está no centro de algo que nunca compreendi completamente. Algo grande, algo que La Reina cobiça.Sinto a mão de Théo em meu ombro. O calor de seu toque me faz lembrar de que estou viva, mas também me lembra de que estou perdida em uma escuridão que ameaça me consumir.— Vamos sair daqui — ele diz.Olho para ele e vejo determinação em seus olhos. Ele sempre foi meu porto seguro, mesmo quando o caos tentava nos destruir. Engulo seco e apenas aceno.Seguimos para a SUV, e enquanto os outros conversam sobre o próximo passo, Théo mant
LunaUM DIA DE PAZ O sol entra pelas frestas da cortina, banhando o quarto com uma luz dourada. Meus olhos se abrem lentamente, e a primeira coisa que vejo é Théo ao meu lado.Seu braço está jogado sobre minha cintura, e sua respiração lenta me diz que ele ainda está dormindo.Por um momento, apenas o observo. Seu rosto relaxado, seus cabelos bagunçados... Ele parece tão em paz, tão distante da violência que nos cerca.Mas então a realidade retorna como um soco. A lembrança do Albanês, das revelações, da minha fúria incontrolável.Sinto um aperto no peito.Começo a me mover para sair da cama, mas antes que eu consiga, Théo me puxa de volta.— Onde você pensa que vai? — sua voz está rouca, ainda cheia de sono.— Preciso organizar minha mente.Ele abre os olhos, me estudando com atenção.— Você sempre acha que precisa carregar tudo sozinha.Eu o encaro, mas não digo nada. Ele suspira e se senta, passando uma mão pelos cabelos.— Hoje é um dia de descanso.Franzo a testa.— Descanso? De
Luna Luz em Meio à EscuridãoAo sair, sou recebida pelo som de risadas e pela brisa leve da manhã. Mateus está jogando água em Joana, que tenta revidar, enquanto John e Paola observam, rindo.— Achei que vocês só sabiam pegar em armas — comento, cruzando os braços.Joana sorri.— Até soldados precisam de um dia de folga.Théo aparece ao meu lado com uma bandeja de sucos.— Eu disse que ia valer a pena.Reviro os olhos, mas não consigo evitar um pequeno sorriso.Nos sentamos ao redor da piscina, e pela primeira vez em muito tempo, conversamos sobre coisas triviais.— Você lembra daquela vez que tentamos fazer um churrasco e quase incendiamos metade da fazenda? — John comenta, rindo.— Ei! Foi culpa do Mateus! — Joana rebate.— Minha? Eu nem estava perto da churrasqueira!A discussão segue, e eu apenas observo.É estranho como momentos assim se; tornaram raros para nós. Vivemos constantemente entre tiros e sangue, e esquecemos como era simplesmente... viver.Théo se senta ao meu lado e
MateusA EstratégiaA sala de reuniões está mergulhada em um silêncio denso. O único som vem dos meus dedos batendo contra a mesa de madeira, um hábito inquieto que desenvolvi quando estou pensando. O mapa do México está estendido diante de nós, pontilhado com marcações estratégicas, círculos vermelhos e anotações rabiscadas. O peso da missão que estamos prestes a executar paira sobre nós como uma tempestade prestes a desabar.Meus olhos percorrem os rostos ao meu redor: Joana, de braços cruzados, expressão fechada, mas os olhos brilhando com antecipação. Paola, estudando o mapa com o cenho franzido, já calculando os mínimos detalhes. John e Théo, ambos com posturas rígidas, trocando olhares como se já previssem os piores cenários.Respiro fundo e, por fim, quebro o silêncio.— Se queremos pegar La Reina, precisamos nos infiltrar onde ela menos espera — disse Mateus, olhando para cada um de nós.Paola inclinou-se para frente, analisando as informações.— Guadalupe confirmou que po
O Adeus TemporárioA Fazenda Feitiço do Sol Nascente sempre foi nosso refúgio, um lar onde o tempo parecia desacelerar, onde a terra cheirava a vida e o vento carregava a promessa de segurança. Mas, naquela noite, o céu parecia mais escuro, como se pressentisse que algo estava prestes a mudar.Meu coração está pesado enquanto seguro o celular nas mãos, hesitante por um momento antes de iniciar a chamada de vídeo. Assim que a tela pisca, vejo o rosto firme de meu pai, Javier. Seus olhos escuros me estudam com intensidade, mas há algo mais ali—um reconhecimento silencioso de que essa missão era inevitável.— Luna.Seu tom é grave, mas carrega um fundo de orgulho.— Pai, vamos ao México.Do outro lado da tela, há um breve silêncio. Vejo sua mandíbula se contrair antes de assentir lentamente.— Eu imaginei que fariam isso.Antes que eu pudesse responder, minha mãe, Laura, surge ao lado dele, os olhos cheios de preocupação.— Filha, tenham cuidado.Fecho os olhos por um instante, deixan
Paola No Coração do MéxicoO calor seco do México nos envolve assim que descemos do avião, misturando-se à tensão que paira no ar. O cheiro de terra quente e gasolina preenche meus sentidos, e meu coração bate forte no peito. Estamos no território inimigo, mas temos a vantagem da surpresa.Meus olhos se movem rapidamente, analisando o ambiente. Guardas armados se posicionam ao redor da pista privada, seus olhares atentos, mas não agressivos. Eles não sabem quem realmente somos. Para eles, somos apenas representantes do Cartel Castillo.Lupita nos espera à frente, imponente, vestida em um elegante vestido vinho que a faz parecer uma verdadeira rainha. Sua presença exala respeito e autoridade, como se cada passo que ela desse já estivesse previamente calculado. Assim que nos aproximamos, ela nos analisa de cima a baixo antes de abrir um pequeno sorriso discreto.— Sejam bem-vindos.Sua voz, firme e cheia de respeito, carregava uma autoridade silenciosa que poucos ousavam desafiar. Ela
Mateus Identidades FalsasEnquanto nos dirigíamos ao esconderijo temporário, Luna permaneceu em silêncio, observando a paisagem árida do lado de fora da SUV blindada.Passamos a noite revisando nossos papéis e memorizando nossos novos nomes. Guadalupe nos entregou passaportes falsos, documentos e até mesmo históricos fictícios para cada um de nós.A SUV blindada avança pela estrada de terra, levantando poeira no ar seco do México. O silêncio dentro do carro é denso. Olho pelo retrovisor e vejo Luna encostada no vidro, o olhar fixo na paisagem árida. Seu rosto está sereno, mas conheço bem essa expressão. É a calma antes da tempestade.Guadalupe, sentada ao lado de Luna, mantém uma postura imponente, como se sua mera presença fosse suficiente para intimidar qualquer um. O plano está traçado, cada detalhe minuciosamente calculado. Mas mesmo com toda a preparação, há algo incontrolável: a reação de La Reina quando vir Luna.Ela verá um fantasma.Passamos a noite em nosso esconderijo, um
Mateus O Brinde da MorteEstou na sala de controle, cercado por monitores que exibem cada canto do evento. Meu coração martela no peito, mas minhas mãos permanecem firmes no teclado. Não há espaço para erros.Ajusto os fones no ouvido e falo pelo canal de comunicação:— Todos em posição?— Na cozinha, preparando as taças. — a voz de Joana responde, baixa e precisa.Na tela à minha frente, vejo-a de avental branco, concentrada, mexendo delicadamente na borda das taças. Sei o que ela está fazendo. A toxina já foi aplicada. O veneno das rãs-dendrobates, dependendo da quantidade, pode ser mortal e indetectável ao toque, um método silencioso e eficiente. Apenas três taças estão limpas: as de Luna, Guadalupe e Dom Arturo.Joana remove as luvas com cuidado, suas mãos firmes, mas seus olhos carregam um brilho intenso de adrenalina.— Serviço pronto.— Garçons, movam-se. — digo.Théo, John e Paola deslizam pelo salão com bandejas prateadas. As taças de cristal brilham sob as luzes luxuosas.