O Adeus TemporárioA Fazenda Feitiço do Sol Nascente sempre foi nosso refúgio, um lar onde o tempo parecia desacelerar, onde a terra cheirava a vida e o vento carregava a promessa de segurança. Mas, naquela noite, o céu parecia mais escuro, como se pressentisse que algo estava prestes a mudar.Meu coração está pesado enquanto seguro o celular nas mãos, hesitante por um momento antes de iniciar a chamada de vídeo. Assim que a tela pisca, vejo o rosto firme de meu pai, Javier. Seus olhos escuros me estudam com intensidade, mas há algo mais ali—um reconhecimento silencioso de que essa missão era inevitável.— Luna.Seu tom é grave, mas carrega um fundo de orgulho.— Pai, vamos ao México.Do outro lado da tela, há um breve silêncio. Vejo sua mandíbula se contrair antes de assentir lentamente.— Eu imaginei que fariam isso.Antes que eu pudesse responder, minha mãe, Laura, surge ao lado dele, os olhos cheios de preocupação.— Filha, tenham cuidado.Fecho os olhos por um instante, deixan
Paola No Coração do MéxicoO calor seco do México nos envolve assim que descemos do avião, misturando-se à tensão que paira no ar. O cheiro de terra quente e gasolina preenche meus sentidos, e meu coração bate forte no peito. Estamos no território inimigo, mas temos a vantagem da surpresa.Meus olhos se movem rapidamente, analisando o ambiente. Guardas armados se posicionam ao redor da pista privada, seus olhares atentos, mas não agressivos. Eles não sabem quem realmente somos. Para eles, somos apenas representantes do Cartel Castillo.Lupita nos espera à frente, imponente, vestida em um elegante vestido vinho que a faz parecer uma verdadeira rainha. Sua presença exala respeito e autoridade, como se cada passo que ela desse já estivesse previamente calculado. Assim que nos aproximamos, ela nos analisa de cima a baixo antes de abrir um pequeno sorriso discreto.— Sejam bem-vindos.Sua voz, firme e cheia de respeito, carregava uma autoridade silenciosa que poucos ousavam desafiar. Ela
Mateus Identidades FalsasEnquanto nos dirigíamos ao esconderijo temporário, Luna permaneceu em silêncio, observando a paisagem árida do lado de fora da SUV blindada.Passamos a noite revisando nossos papéis e memorizando nossos novos nomes. Guadalupe nos entregou passaportes falsos, documentos e até mesmo históricos fictícios para cada um de nós.A SUV blindada avança pela estrada de terra, levantando poeira no ar seco do México. O silêncio dentro do carro é denso. Olho pelo retrovisor e vejo Luna encostada no vidro, o olhar fixo na paisagem árida. Seu rosto está sereno, mas conheço bem essa expressão. É a calma antes da tempestade.Guadalupe, sentada ao lado de Luna, mantém uma postura imponente, como se sua mera presença fosse suficiente para intimidar qualquer um. O plano está traçado, cada detalhe minuciosamente calculado. Mas mesmo com toda a preparação, há algo incontrolável: a reação de La Reina quando vir Luna.Ela verá um fantasma.Passamos a noite em nosso esconderijo, um
Mateus O Brinde da MorteEstou na sala de controle, cercado por monitores que exibem cada canto do evento. Meu coração martela no peito, mas minhas mãos permanecem firmes no teclado. Não há espaço para erros.Ajusto os fones no ouvido e falo pelo canal de comunicação:— Todos em posição?— Na cozinha, preparando as taças. — a voz de Joana responde, baixa e precisa.Na tela à minha frente, vejo-a de avental branco, concentrada, mexendo delicadamente na borda das taças. Sei o que ela está fazendo. A toxina já foi aplicada. O veneno das rãs-dendrobates, dependendo da quantidade, pode ser mortal e indetectável ao toque, um método silencioso e eficiente. Apenas três taças estão limpas: as de Luna, Guadalupe e Dom Arturo.Joana remove as luvas com cuidado, suas mãos firmes, mas seus olhos carregam um brilho intenso de adrenalina.— Serviço pronto.— Garçons, movam-se. — digo.Théo, John e Paola deslizam pelo salão com bandejas prateadas. As taças de cristal brilham sob as luzes luxuosas.
JoanaO CaosO primeiro grito rasga o ar.Um dos conselheiros solta a taça e leva as mãos à garganta. Seu corpo treme, os olhos reviram.Outro cambaleia, tentando falar, mas sua voz é engolida pelo nada.O salão mergulha no caos.Cadeiras são derrubadas. Taças caem e se estilhaçam no mármore. Homens poderosos, temidos no submundo, agora lutam por ar, suas bocas se contorcendo em espasmos involuntários.Da minha posição, observo tudo.Os sintomas surgem rápido. Paralisia. Arritmia. O veneno age cortando os sinais nervosos. Seus corpos falham, um a um.Luna não se move. Seu olhar está cravado em La Reina, que recua, pálida, trêmula.— Maldita… — ela sussurra, a voz falha.Guadalupe sorri.— Gostaria de um gole, minha querida?La Reina avança, mas suas pernas fraquejam. Seu desespero é palpável. Ela se vira para os poucos que ainda não caíram, mas ninguém pode ajudá-la.— O que você fez?! — sua voz vem carregada de fúria e medo.— O que você fez primeiro. — Luna responde, sua voz fria co
Os Segredos de SangueNarração de MateusEstou diante dos monitores, observando os últimos instantes do império de La Reina ruir. Mas nossa missão ainda não terminou.— John, você tem as imagens? — pergunto pelo comunicador.— Transmissão pronta.Na tela principal, aparecem os rostos destroçados de Dardan Basha e Albán Kelmendi, líderes dos albaneses. Estão amarrados a cadeiras de aço, seus corpos cobertos de hematomas e cortes profundos. As marcas da tortura são evidentes.Eles já não têm arrogância nos olhos. Apenas o desespero de quem sabe que a morte é a única saída.Os conselheiros, ainda imóveis devido ao veneno, assistem à cena em silêncio absoluto. Alguns tentam se mover, mas seus corpos não respondem. Suas esposas, ao lado, murmuram orações ou simplesmente choram.Guadalupe está ao meu lado, sua postura ereta, imponente.La Reina, sentada na cadeira que mais parece um trono improvisado, mantém a respiração controlada. Mas vejo seus dedos apertando os braços do assento.Ela es
A Coroa Manchada de Sangue Mateus O silêncio no salão pesa como uma sentença de morte. Todos observam La Reina, sentada no trono improvisado, enquanto seus crimes desfilam diante dos olhos dos conselheiros. O rosto dela está pálido, mas os olhos ainda brilham com uma mistura de ódio e desafio. — Vocês não entendem nada. — ela murmura, mas sua voz carrega uma frieza perigosa. — Eu fiz o que era necessário. Arturo avança, sua raiva finalmente transbordando. — Você destruiu minha família! Matou meu filho e minha nora por ambição! Ela ri, um riso sem alegria. — Você nunca enxergou além do seu próprio nariz, Arturo. Gael era fraco. Ele nunca teria forças para comandar este império. — E por isso você o matou? — Luna corta, sua voz afiada como lâmina. La Reina a encara por um longo momento antes de desviar o olhar. — Ele se colocou no meu caminho ao se apaixonar pela Laís, não sei como não fui informada sobre você senão a teria matado também sem dúvida nenhuma. Eu fiz o que qual
O Julgamento dos TraidoresMateusA escuridão do porão da máfia mexicana sempre teve um cheiro característico: umidade, ferrugem e sangue seco. O silêncio aqui é diferente. Ele pesa, gruda na pele, pressiona o peito como um aviso de que ninguém que entra sai da mesma forma.Descemos as escadas lentamente. Arturo caminha à frente, seus passos firmes ecoando pelo chão de concreto. Ele não fala, mas a raiva contida em seu corpo diz tudo. Suas mãos estão cerradas, os ombros tensos, cada músculo rígido como se estivesse segurando o impulso de avançar sobre aqueles que o traíram.Jonh, Théo e eu o seguimos em silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Mas no fundo, todos sabemos o que vai acontecer. Não há espaço para misericórdia. Ramón Ortega e Alejandro Montoya traíram nosso sangue. Agora, pagarão por isso.As luzes piscam quando entramos no corredor de aço. As portas reforçadas de cada cela estão alinhadas como túmulos esperando seus ocupantes. Arturo para diante da última