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II - Início do Primeiro: Parte 2

Grita seco ao olhar para os lados e perceber que toda a floresta segue com ela, juntos: terra, pedras, raízes e árvores na mesma direção, caminho abaixo. Ainda tenta saltar da bicicleta, agarra os galhos a sua volta, mas tudo desmorona ao seu redor.

Seguia inclinação abaixo. Em seguida, estica os braços para os lados em outra tentativa de se salvar, sente os galhos da margem a sua volta escorregar entre os dedos e o sumidouro ruge impaciente enquanto solta brancas baforadas polvorosas.

Ao despencar, por fim, agarra o primeiro galho da árvore que alcança. Está naqueles momentos onde o desespero faz a pessoa urrar sem parar e todo o seu miserável dia passa como um filme em sua mente. Danu deve ter pensado que deveria ter ficado na cama depois do evento da janela daquela madrugada.

Enquanto isso, na Faz Pão&Cia, a única padaria aberta no bairro neste dia.

— Bom dia, Carlos! Me vê um pingado.

— Dia, José...

Coloca o copo americano sobre o balcão e, antes de realizar a pergunta, escuta a resposta.

— Estamos dando uma pausa devido à chuva. Veja bem, encontramos dois suspeitos “daquela empresa”. Os elementos estão detidos na delegacia.

O senhor de meia-idade, braços grossos e cabeça calva para por um instante. Passa a mão na cabeça e, com os lábios trêmulos, diz:

— Sabem de algo sobre a minha filha e o restante dos meninos?

— Tenho certeza. Por ora, fique quieto! — adverte. — Se forem culpados, será o primeiro a saber... — Coça o nariz como em um tique.

Carlos se vira de costas, aperta a glabela e contém o choro. Apanha a cafeteira e, em um instante, termina de preparar o pedido.

— Eu vi sua filha hoje! Ela veio cedinho, mal tinha aberto a padaria! Queria dois sonhos de creme. Dei de presente, por causa da data. Apesar de ainda não falar nada, parece bem melhor... — Termina a frase acrescentando o fio de leite no copo. É quando se dá conta da expressão séria no rosto do homem fardando trajando colete.

— A minha filha nunca foi de acordar cedo. A única que conseguia fazer isso com ela era a sua filha, a Danila. Agora o senhor me diz que a Danu apareceu aqui cedo, exatamente no mesmo horário daquele dia, só para comprar esses dois exatos pãezinhos? — Ergue o lado direito do lábio superior e estala a língua nos dentes, incrédulo.

Para de limpar o balcão, encara o amigo, e diz:

— Sim... — concorda com o olhar confuso —, mas isso é bom, não é? Afinal, ela saiu de casa, e sozinha! Depois de todo esse tempo! E ainda veio comprar comida! Isso é algo bom, certo? — Termina a frase jogando o pano em cima do ombro.

Com o copo de pingado na mão, caminha até a entrada da padaria que, desde a bancada de atendimento, não é mais de três passos de distância.

— Ela fez exatamente como naquele dia, na mesma data. Até onde isso é bom?

— Está achando que ela vai sair por aí depois de todo esse tempo trancada em casa?

— Não sei — enruga o queixo —, ela está medicada, a terapia parece estar fazendo efeito. Até voltou a comer..., mas realmente não sei — diz, encarando pensativo a estrada que levava direto até o apartamento da filha.

— Relaxa! Aonde ela iria com esse caos? Toda a parte baixa está alagada e estamos sem energia. Ela vai ter ainda mais medo de sair de casa.

— Ou vai se sentir ainda pior, sem poder se distrair dos sussurros... — Com uma golada, termina sua bebida. Põe o copo sobre o balcão, retira da carteira uma nota de cinquenta reais, larga sobre o balcão e sai às pressas. — Fica com o troco! Vou lá, só para ter certeza.

— Qualquer coisa avisa! — grita enquanto vê o amigo partir na viatura.

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